ENTREVISTAHelena MarujoO que é mais humano,verdadeiramentehumano, como oAmor, não se podesubstituir pornenhuma automaçãoDulcina Brancogentilmente cedidas pela entrevistadaNo âmbito do Projeto “Agenda Educação: Colaborar eConstruir - Jaime Moniz Escola UNESCO”, o liceu JaimeMoniz promoveu uma palestra que teve como oradoraa professora e investigadora portuguesa pioneirada Psicologia Positiva. Professora da Faculdade dePsicologia da Universidade de Lisboa e Investigadorae membro do ‘Board of Directors da InternationalPositive Psychology Association’, Helena Marujotem vasto currículo na formação de professores,educadores, pais, psicólogos, técnicos de saúde ede intervenção social. Acompanhámos a palestra e,no final da mesma, falámos com Helena Marujo e oresultado foi agradavelmente transformador - comonão poderia deixar de ser.4 saber junho 2022
É professora, investigadora, palestranteconvidada em inúmeras iniciativas nacionaise internacionais. O que é a que levoua ir pela Psicologia e como tem sido estepercurso?- Desde miúda que soube que queria serpsicóloga. Entender e melhorar o comportamentohumano. Estar do lado de quem precisa,no início como Psicóloga Clínica - procurandoajudar no processo de reequilibropsicológico, e depois através da PsicologiaPositiva - para ajudar a prevenir e limitarquantas pessoas sofrem sem necessidadepor não terem os tais recursos psicológicos.Tem sido uma viagem maravilhosa. Não podiater escolhido melhor profissão, melhorformação. Tive a felicidade de poder fazero caminho com o meu esposo-colega, tambémpsicólogo e psicoterapeuta que, infelizmente,partiu da vida terrena há pouco maisde um ano, após doença prolongada, e comquem palmilhei o mundo, de mãos dadas, alevar a esta consciência e prática do melhordos seres humanos. Poder fazê-lo hoje emtantos contextos, das empresas aos hospitais,da educação à ação comunitária e, até,de politicas publicas, é uma bênção que todosos dias celebro, agradecendo aos meuspais a visão que tiveram de me mostrar aeducação e as relações afetuosas como caminho.Quando realiza uma palestra num ambientede comunidade escolar, que ideiasprocura transmitir?- Sobretudo que, a ciência é hoje, mais doque nunca, um recurso fulcral para vivermoscom mais qualidade. Gosto de fazer as pessoassentir que a relação interpessoal é o coraçãoda vida – e da saúde, e da longevidadee da felicidade, como os estudos mostram– e de termos tempo e oportunidade paraouvir, abraçar (metafórica ou efetivamente),empatizar, sentir com o Outro. E gosto quepercebam o poder de três coisas: da linguagem,que transforma as nossas realidades,e por isso precisamos de ser especialistasnuma linguagem de apreço, as boas emoções,pois são fundamentais para a saúdedas relações, do corpo e da mente, e o poderde uma vida contributiva para a polis,como os Gregos lhe chamavam – a cidade, acomunidade, o que nos une.Nesta palestra falou em humor, gratidão,felicidade, alegria, positividade. Nummundo em convulsão como o que vivemos,não será uma utopia apelar-se a estessentimentos?- Não sei quem disse que que esta não éuma boa altura para ser pessimista, convidandoa que deixemos o pessimismo paramelhores alturas. Quanto mais a vida estáEmoções como o medo,a tristeza, a raiva, sãofundamentais para anossa sobrevivência,mas não podemosficar presos nelascomplexa, mais precisamos de ir buscar forçasàs virtudes humanas, individuais e coletivas,às emoções positivas que nos protegemo sistema imunitário das consequências nefastasdas emoções negativas continuadas...Quem é mais feliz tem melhor saúde?- A investigação é muito clara: é resiliente ecompetente na gestão dos mais complexosacontecimentos pessoais e coletivos quemconsegue não ficar preso na negatividade ena dor, mas dar-lhe um significado, resignificar,e atuar de forma que faça a pessoa ouo grupo sentir que tem algum controlo, mesmoque parco, sobre a situação. As emoçõesdifíceis – o medo a tristeza, a raiva, etc. – sãofundamentais (e foram sempre) para a nossasobrevivência, mas não podemos ficarpresos nelas, seja no passado, seja na antecipaçãoansiosa do futuro, pois isso fragilizaainda mais. O poder do humor, da gratidão,da alegria, não é um processo superficial eque nos desconecta com a dor. É, sim, umatrampolim para sermos capazes de lidarcom ela. Pensemos no problema crescenteda doença mental e percebemos bem comoé fundamental aprender e praticar aquiloque a ciência da felicidade tem vindo a comprovar.Houve sempre convulsões e trágicascomplexidades. E sempre nos levantámos.Apesar de tudo o que está a acontecer – epara além do que está a acontecer nas nossasatuais sociedades – nunca tivemos períodostão longos de paz na Europa, tantalongevidade, tanta redução na pobreza, tãobaixa mortalidade infantil. Neste sentido,esta palestra teve esta ideia subjacente queé a necessidade de trazer o tema do bem--estar e da saúde – mental, física, relacional,emocional – para o centro das conversassobre Educação. Educar não é mais apenasa preparação para uma profissão e para omercado de trabalho. É educar para a formade sermos humanos juntos, é educar para aresiliência, para a esperança, para a relacionalidadesolidária e fraterna. É educar paraa felicidade e para a paz.A Educação ainda é a grande ferramentapara tornar o mundo um lugar melhor?- A Educação continua a ser um caminhoessencial para transformarmos o mundo.Aprender a pensar criticamente, conhecer,aprofundar e integrar conhecimentos, bemcomo valores e perspetivas - ações que aciência e a pedagogia facilitam através dainstrução, formal e não formal - são vitais.E são realizadas em relação interpessoal,o que é fundamental para que o mundomelhor – o Encontro com o Outro. Mas háoutras ferramentas a despontar, ligadas àEducação, como o desenvolvimento de estruturase práticas comunitárias, familiares,empresariais... Mais igualitárias e menoshierarquizadas, mais participativas e menosfocadas em lideres isolados/as, de verdadeiracolaboração, interdependência, interdisciplinaridadee co-constução, que nosaproximam de formas de vida coletiva maisconsonantes com os desafios das sociedadesatuais, mais rizomáticas.No final da palestra, as pessoas vieramfalar consigo. O que é que, habitualmente,lhe dizem no final das suas palestras?- Muitas vezes sentem que nunca estivemostão mal como humanidade. Queixam-se defalta de condições profissionais, de falta devalorização e reconhecimento, de serem vítimasde formas de violências que podem serde excesso de trabalho administrativo emdetrimento da dedicação aos alunos, comoacontece na educação, ou de assédio moralno trabalho, queixam-se de desperdíciodos seus talentos, de lideranças tóxicas, domedo, ansiedade do futuro, etc.. Os mediaA ciência é um recursofulcral para vivermoscom mais qualidadesaber junho 20225