s301[online]
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é que faria a Elisabete mais feliz, em termos
de ocupação profissional?
E.: Um projeto familiar.
Você é benfiquista e o seu marido, portista.
Como é que se arbitra essa questão lá
em casa?
E.: É uma forma de apimentar a coisa [risos].
Um puxa para um lado, outro puxa para
outro, surge mais como uma forma de brincadeira.
Segundo a crença e os ditos populares,
chego à conclusão que o José António
Garcês não deve de ser um bom pai de
família...
E.: É, é.
Os benfiquistas é que são bons pais de
família, segundo o ditado [risos]...
E.: Ele tem uma costela benfiquista! [risos]
Enquanto trabalho de autarca que, brilhantemente,
já vem desempenhando há
8 anos e meio, qual é, neste momento, a
maior frustração que tem de algo que não
tenha concretizado enquanto presidente
da Câmara Municipal?
J.A.: Digo sempre uma coisa que é: a minha
maior mágoa quando deixar este trabalho,
não é não ter feito obra, não ter ajudado as
pessoas, não ter ajudado a desenvolver a
minha terra, não ter cumprido o meu manifesto
eleitoral, que vai ter que ser concretizado.
A minha maior mágoa é não ter conseguido
mudar mentalidades. A questão da
mudança de mentalidades é importante em
matéria de desenvolvimento local e, infelizmente,
não é fácil mudá-las. Já se consegue,
aos poucos, mudar algumas, mas para
haver um maior desenvolvimento, e mais
rápido, toda a gente tem de remar para o
mesmo lado e, para isso, é preciso a mudança
de mentalidades. Portanto, a minha maior
mágoa quando sair é não ter conseguido
concretizar algumas prioridades devido à
mudança de mentalidade.
Quando fala da mudança de mentalidade,
está a falar em relação a quê?
J.A.: Refiro-me, por exemplo, a que se continue
a pensar da mesma forma como se pensava
há anos, que era aquela ideia de que
os políticos só aparecem na altura das eleições
e quando precisam, que os políticos são
todos corruptos, que os políticos são mentirosos,
que os políticos prometem e não cumprem.
Mas na verdade cada caso é um caso
e, efectivamente, nem todos os políticos são
iguais.
Mas basta haver meia dúzia de casos para
estragar tudo.
J.A.: Sim. Falo com as pessoas e, sobretudo
agora, em que há projetos para terminar e
não posso falhar os compromissos que assumi
perante as pessoas, mas há sempre aquela
desconfiança por parte das pessoas quanto
à concretização das promessas. E depois
outras situações do dia-a-dia, por exemplo
na questão da água. As pessoas continuam
a pensar que São Vicente tem água em abundância.
E tem, na verdade, o concelho tem
muita água, mas é um bem que tem de ser
bem gerido e tem de ser pago por todos, ou
seja, por quem tem em casa água potável.
Quando cheguei à Câmara de São Vicente,
tínhamos trezentos mil euros de água para
cobrar e o Tribunal de Contas questionou-
-nos a razão de não cobrarmos a água! Há
uns que pagam e outros que não pagam, e
eu sou o próprio a explicar às pessoas que a
água é um bem essencial e que toda a gente
pode, e deve, pagar. Uns justificam com o
esquecimento, outros por outra razão qualquer,
isto para dar um exemplo de que se
continua a pensar da mesma forma. Se dá
vento na ponta do calhau a culpa é do presidente
da câmara...
É o que tem as costas largas [risos]
J.A.: É um bocadinho isso [risos]. É isso, mas
há uma relação muito próxima com toda a
população – posso dizer que mais de metade
da população local tem o meu número de
telefone – e a restante não é difícil arranjar o
número e, portanto, qualquer coisa ligam-me
a qualquer hora do dia e eu atendo para tirar
uma dúvida e explicar uma situação, muitas
vezes sobre assuntos corriqueiros, como a
simples colocação de um ‘muppie’ eletrónico.
Houve um senhor da freguesia de Boaventura
que me ligou sobre a colocação de um
“muppie” cuja colocação ele achava que estava
mal, e eu que ficava no lugar indicado porque
era o melhor lugar (não quer que deixe
à frente da sua garagem? Então vai ficar em
Ponta Delgada). Isto para dar um exemplo
em relação à mentalidade das pessoas, que
acham que é como querem. Há vários exemplos,
como uma estrada que dava acesso ao
cemitério que era empedrada e que foi asfaltada,
o que para dois ou três foi uma confusão
porque o empedrado era uma coisa histórica,
mas, na prática, dificultava a deslocação
e tornava-se incómodo para as pessoas
que ali circulavam de cadeiras de rodas, com
carrinhos de bebé, as senhoras de sapatos
de salto. O empedrado reflete este tipo de
mentalidade e que é que se confunde um
bocadinho ao nível da decisão política. É neste
aspeto que me entristece o facto de não
ter conseguido mudar certas mentalidades.
Mas penso que com o tempo vou conseguir
mudar mais algumas.
Colocando a hipótese dos vossos filhos, ou
um deles, entender seguir a carreira política…Se
se alistar na Juventude Socialista,
o pai tem algum problema relativamente
a essa decisão?
J.A.: A coisa que mais quero na vida é que
os meus filhos sejam felizes. Se eles, ou ele,
entenderem ser do Benfica, vamos ao futebol
em que eles vão com a camisola do Benfica
e eu com a camisola do Porto e não há
nenhum problema em relação a isso – é a
democracia. A nível partidário, se algum
deles for para a Juventude Socialista e se for
essa a sua convicção, terá o meu apoio. Independentemente
de ser de direita e ter pensamentos
sociais democratas, respeito. Há
famílias sociais democratas madeirenses que
exerceram cargos políticos, em que os pais
são de direita e os filhos são de outra força
política. Em relação aos meus quero que
sejam felizes e respeitarei quaisquer decisões,
agora, no que eu poder influenciar não
vou esconder, quer a nível partidário, quer a
nível clubístico [risos].
Achei curioso uma coisa que a Elisabete
há pouco disse e que tem a ver com o nascimento
do segundo filho, que terá sido
premeditado. Até que ponto a matemática,
a finança, a economia entra na equação
de ter o segundo filho?
E.: Sempre quisemos ter dois filhos. Depois
do primeiro filho partimos para a possibilidade
de termos um segundo filho e assim foi.
Mas havia que dar um espaço de tempo para
manter o equilíbrio da economia doméstica.
[daí o lapso de tempo entre o nascimento
de ambos]
É fácil ser mulher do presidente da Câmara
de São Vicente, publicamente falando?
E.: É. Somos pessoas simples. Somos uma
família de hábitos simples.
Há aquela coisa de ir na rua e de alguém a
28 saber junho 2022