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Sapeca n° 39

Nº 39 – Setembro/2022 – Editor: Tonico Soares e-mail: ajaimesoares@hotmail.com

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Mas é enganoso pensar que os seus produtos sejam meros intermediários

entre a poesia culta e o público. Os críticos que assim pretendem minimizar a sua

importância aplicam-lhe padrões exclusivamente literários, de forma simplista e

linear. Não percebem que se trata de uma arte com parâmetros próprios – ainda

que porosa, mas uma arte com parâmetros próprios – ainda que porosa às demais

–, de uma poesia-ação, que não se faz só com palavras, mas com sons, voz, corpo.

Poesia mais próxima da conversa que do verso.

Não. Se quiserem compreender esse período extremamente criativo de

nossa vida artística, os compêndios literários terão que se entender com o mundo

discográfico. Nesse novo capítulo da poesia brasileira que se abriu a partir de 1967,

tudo ou quase tudo existe para acabar em disco. “Nem todos sabem cantar. Não é

dado a todos ser maçã para cair aos pés dos outros”, cantou o bardo Iessiênin. Nos

discos de Caetano, o poeta-cantor, até o vento canta-se, compacto no tempo. Quem

vai dizer onde termina a música e começa a poesia?

O homem que aprendeu o Brasil

Resenha de Euler de França Belém (resumo)

Li e viajei na biografia de Paulo Rónai, por Ana Cecilia Impellizieri. Dele,

seu livro Não perca o seu latim muito me valeu para empregar expressões da língua,

hoje aposentado pela internet, valendo também para outros idiomas. E durante

temporada que passei no Fórum, quando, a fim de ajudar alguns estagiários que

estudavam Direito, copiei todas as expressões relativas àquela disciplina. Um deles

bolou uma capa, tirou várias cópias em xérox, grampeou e vendeu como se fosse

uma apostila. Malandrinho maneiro, não tanto quanto outro que, tranquilo, disse

que traficava, era preso, pagava fiança etc. e tal. Ambos, futuros advogados.

E vamos ao que interessa: Pál Rónai nasceu na Hungria (1907) e renasceu

Paulo Rónai no Brasil (1941). Estudante cultor de poesia e idiomas, traduzia o

poeta alemão Heine. Depois, estudou filologia e línguas neolatinas e começou a

traduzir Virgílio, Horácio, Catulo, que através dele ficaram conhecidos em húngaro.

“O deslumbramento veio com Virgílio no dia em que logrei escandir sozinho

um hexâmetro. Comecei a encontrar prazer quase sensual naqueles versos que,

aparentemente iguais, eram de extrema variedade musical” e quando leu Balzac,

este virou seu predileto. Havia uma carreira auspiciosa para Pál Rónai, mas no

meio do caminho tinha Adolf Hitler e a extrema direita da Hungria. Preocupado,

ele tentou escapar, o que um de seus irmãos logo logrou, na Turquia.

A primeira menção à língua portuguesa foi no seu diário, em 1938 e Dom

Casmurro, de Machado de Assis, em francês, lhe despertou grande interesse:

“Uma literatura que tinha romancistas daquele porte não podia deixar de interessar-me”.

E começou a traduzir poetas portugueses e brasileiros, achando que nossa

língua parecia latim falado por banguelas. Borges também disse que o Português

é uma língua desossada, seja como for, Lúcio Cardoso afirmava que se buceta falasse,

falaria espanhol. No consulado do Brasil em Budapeste, deu aulas de francês

para o nosso cônsul, querendo vir para cá, mas as forças nazistas iam apertando o

cerco sobre os judeus. Havia a hipótese de se refugiar com a família no Paraguai,

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