Sapeca n° 39
Nº 39 – Setembro/2022 – Editor: Tonico Soares e-mail: ajaimesoares@hotmail.com
Nº 39 – Setembro/2022 – Editor: Tonico Soares
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porém, Rónai preferia o Brasil e continuou traduzindo, e gostou do poema A moça
da estaçãozinha pobre, de Ribeiro Couto, de quem ficou amigo.
Conseguiu publicar suas traduções e até uma antologia de poetas brasileiros,
a primeira vez que foram lidos na Hungria. Em 1940, foi preso e posto a trabalhar
como escravo. Deram-lhe uma licença e mexeu os pauzinhos a fim de se mandar
para o nosso país, o que conseguiu, com escalas. Em Portugal, ouviu a língua que
lia com facilidade, mas, falada, nada entendeu. No Rio, bebeu água de coco pela
primeira vez e deu entrevista ao jornal Correio da Manhã. Conheceu Aurélio Buarque
de Holanda e todos os bons escritores, e Drummond lhe conseguiu uma
bolsa, tendo as autoridades exigido que aportuguesasse o seu nome. Então virou
Paulo, que escrevia em jornais e começou a apresentar a literatura húngara para os
brasileiros, além de dar aulas de francês e latim, economizando tudo que podia
para trazer a família. Antes desta, a amada Magda Péter.
E Drummond conseguiu um visto para ela, porém, foi assassinada pelos
nazistas, junto com sua mãe. Paulo, é óbvio, sofreu muito. Otto Maria Carpeaux,
outro judeu exilado, também se tornou seu amigo, assim como Mário e Oswald de
Andrade, enquanto, na Europa em guerra, o pai de Paulo morria e outro de seus
irmãos desaparecia. Em 1943, ele e o dicionarista Aurélio decidiram traduzir contos
para publicar uma antologia universal, que deu na excelente coleção Mar de
Histórias, de 1945, com Paulo traduzindo do grego, latim, italiano, alemão, inglês,
russo e húngaro. Aurélio, em francês e espanhol. Paulo também coordenou a tradução
da obra completa de Balzac, chamada A comédia humana, em 17 volumes,
12 mil páginas e 7 mil notas de rodapé, tarefa para vinte tradutores.
Com a ajuda dos diplomatas Ribeiro Couto e João Guimarães Rosa saíram
vistos para o resto da família e seis membros chegaram, para alegria de Paulo, que
admirava cada vez mais o Brasil, tendo se naturalizado. Ele e Antonio Candido
foram os primeiros a perceber a grandeza de Sagarana, do citado Rosa e, numa
crítica posterior, Paulo Rónai declarou: “Rosa submeteu o idioma a uma atomização
radical, da qual só encontramos precedentes em Joyce”. E multiplicou o entusiasmo
quando saiu Grande Sertão: Veredas, colocando o autor ao lado de Machado
de Assis. Sobre Drummond, disse que ele e Rosa tornaram o Brasil mais
moderno. Entre muitos compromissos, traduziu o clássico húngaro Os meninos da
Rua Paulo, de Ferenc Molnár, um best seller, como em outras terras.
Em 1951, aos 44 anos, Paulo conheceu a arquiteta Nora Tausz, que chegara
de Fiume, na Itália (hoje, na Croácia), em 1941, dois meses depois dele. Aos 28
anos, ela falava húngaro, era inteligente e perspicaz. Os dois se casaram em 1952
e tiveram as filhas Cora, jornalista, e Laura, flautista barroca e professora de música.
Aprovado em concurso, ele passou a lecionar latim e francês no Colégio Pedro
II, e, além de traduções, escreveu os livros Escola de tradutores, Gramática completa
do francês, A tradução vivida, Como aprendi o português e outras aventuras, Não
perca o seu latim, Dicionário francês-português, Gradus primus e Gradus secundus, dos
quais sua biógrafa disse: “O estilo de Paulo é avesso a formalismos, impostações;
seu texto estabelece um contato direto com o leitor, convida a uma conversa em
que ele se coloca sempre como narrador e personagem”.
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