edição de 16 de janeiro de 2023
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ESG NO MKT<br />
Jonathan Meyer/Unsplash<br />
O marketing quer paz<br />
Os acontecimentos do dia 8 são um contrapé<br />
a tudo o que se esperava neste início <strong>de</strong> ano<br />
Alexis Thuller PAgliArini<br />
As principais associações do setor <strong>de</strong><br />
marketing e comunicação a<strong>de</strong>riram<br />
rapidamente às manifestações <strong>de</strong> repúdio<br />
aos atos <strong>de</strong> vandalismo e <strong>de</strong> ataque à <strong>de</strong>mocracia<br />
e Brasília, no fatídico dia 8 <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong>,<br />
que ficará para a história como um<br />
momento triste da nossa existência.<br />
A reação das instituições se justifica em<br />
qualquer setor da economia – ninguém<br />
quer instabilida<strong>de</strong> e um ambiente <strong>de</strong> riscos<br />
para atrapalhar o bom andamento <strong>de</strong><br />
negócios. Ao contrário, o que todos querem<br />
é a tal pacificação prometida pelos<br />
novos governantes e o fim da polarização<br />
odiosa que dividiu o país.<br />
Os acontecimentos do último dia 8,<br />
portanto, são um contrapé a tudo o que se<br />
esperava neste início <strong>de</strong> ano. No meu artigo<br />
da semana anterior, aqui nesta coluna,<br />
eu já celebrava a chance <strong>de</strong> esperançar<br />
por dias melhores, mais pacíficos.<br />
Para o setor <strong>de</strong> marketing, porém, o clima<br />
<strong>de</strong> insegurança e instabilida<strong>de</strong> é ainda<br />
mais cruel. Sob ameaça, os anunciantes se<br />
retraem e engavetam planos, à espera <strong>de</strong><br />
momento mais propício. Lançamentos <strong>de</strong><br />
produtos e serviços são adiados e investimentos<br />
são represados, gerando retração<br />
em toda a ca<strong>de</strong>ia, das agências aos veículos<br />
<strong>de</strong> comunicação.<br />
O marketing precisa <strong>de</strong> paz para atuar<br />
na sua plenitu<strong>de</strong>. Mais do que isso, o<br />
marketing e a boa comunicação po<strong>de</strong>m<br />
contribuir fortemente para criar um clima<br />
positivo na socieda<strong>de</strong>.<br />
Com o aumento do engajamento das<br />
empresas às questões sociais, as ações <strong>de</strong><br />
marketing têm adotado um tom ativista<br />
pela adoção <strong>de</strong> práticas que beneficiam as<br />
pessoas e o planeta, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado o<br />
impulso às vendas e o lucro.<br />
Cada vez mais, as empresas estão adotando<br />
um capitalismo consciente, em benefício<br />
não só <strong>de</strong> si próprias, mas <strong>de</strong> todos<br />
os stakehol<strong>de</strong>rs.<br />
Estão se alinhando aos princípios ESG,<br />
olhando para as questões ambientais, sociais<br />
e <strong>de</strong> governança ética e respeitosa.<br />
Pesquisas realizadas pelo E<strong>de</strong>lman Group<br />
mostram que as empresas são a única ins-<br />
tituição com índices <strong>de</strong> confiança acima<br />
do mínimo aceitável (60%). Nem ONGs<br />
ou – muito menos – os governos conseguiram,<br />
em 2021, um nível <strong>de</strong> respostas<br />
positivas que os coloquem em patamares<br />
mínimos <strong>de</strong> confiança.<br />
Isso é bom para as empresas, mas tem<br />
um efeito colateral importante: quanto<br />
maior o índice <strong>de</strong> confiança, mais se espera<br />
daqueles que confiamos.<br />
Lembra <strong>de</strong> Saint-Exupéry? “Tudo te<br />
tornas eternamente responsável por aquilo<br />
que cativas”, diz autor no seu best-seller<br />
O Pequeno Príncipe.<br />
É assim com o governo. O nível <strong>de</strong> confiança<br />
causa um efeito positivo em todo o<br />
mercado, que se entusiasma em investir<br />
mais, mas exige dos governos manifestações<br />
inequívocas <strong>de</strong> que cumprirão as<br />
promessas e os planos <strong>de</strong>senhados.<br />
O novo governo se iniciou com manifestações<br />
emocionadas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o governante<br />
maior até seus ministros, com promessas<br />
<strong>de</strong> mais paz, justiça e, principalmente,<br />
mais respeito pelas pessoas e pelo<br />
meio ambiente.<br />
Quando dissemos, em artigo anterior,<br />
que era a hora <strong>de</strong> esperançar, era com base<br />
nesse novo clima <strong>de</strong> paz que nos fiávamos.<br />
Os fatos recentes, porém, foram um<br />
bal<strong>de</strong> <strong>de</strong> água fria nesse entusiasmo.<br />
Mas a rápida reação dos governantes,<br />
apoiados pelas instituições, traz <strong>de</strong> volta<br />
a esperança. O ataque à <strong>de</strong>mocracia conseguiu<br />
atrair a a<strong>de</strong>são até daqueles <strong>de</strong><br />
posições mais divergentes, trazendo um<br />
clima <strong>de</strong> união e cooperação pelo estabelecimento<br />
da paz tão almejada.<br />
Não teremos céu <strong>de</strong> briga<strong>de</strong>iro tão cedo<br />
como gostaríamos porque as forças contrárias<br />
ainda existem e mostraram um lado<br />
violento surpreen<strong>de</strong>nte.<br />
Mas o importante é estarmos todos<br />
atentos e confiantes. Que esse episódio<br />
recente fique na história como algo isolado<br />
e <strong>de</strong>stoante do <strong>de</strong>sejo da maioria.<br />
Que a paz volte e, com ela, melhores<br />
dias para o mercado, ainda combalido pelos<br />
efeitos da pan<strong>de</strong>mia e da polarização<br />
política dos últimos tempos.<br />
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4<br />
alexis@criativista.com.br<br />
jornal propmark - <strong>16</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2023</strong> 31