Cultura Republicana e Brasilidade - Arquivo Nacional
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A C E<br />
preensão desta nova relação política, instaurada<br />
a partir de uma concepção republicana,<br />
que Hobsbawm, 1 com base em<br />
uma análise lingüística da nação, destaca<br />
elementos que possibilitem a compreensão<br />
de como se dá a relação entre povo<br />
e Estado numa República.<br />
Hobsbawm observou que nos EUA recémindependentes<br />
o termo nação era<br />
comumente substituído, nos discursos<br />
presidenciais, por expressões como<br />
“povo”, “união”, “confederação”, “nossa<br />
terra comum”, “público”, “bem-estar público”<br />
ou “comunidade” – artifício que visava<br />
contornar a luta dos estados<br />
federados por maior força centralizadora.<br />
Tal discurso repetiu-se nas nações que<br />
se constituíram como Repúblicas.<br />
Formalmente, a República consagrou-se<br />
como sistema baseado na representatividade<br />
política capaz de construir um<br />
espaço público, que foi, no entanto, rapidamente<br />
subsumido pelo Estado. No<br />
âmbito da prática política republicana, a<br />
luta pela construção do espaço comum<br />
foi freqüentemente substituída pelo projeto<br />
de formar um “espírito público” que,<br />
realizando a ambição ideológica de qualquer<br />
poder, participasse deste magma<br />
que fez existir a sociedade como tal, fornecendo-lhe<br />
sua identidade.<br />
É a partir da construção desse conjunto<br />
de significações imaginárias como elementos<br />
identitários e unificadores para<br />
a nação, que lançamos um olhar especial<br />
sobre a República brasileira, tentando<br />
buscar a unidade que se desejou formar.<br />
Questão já superada pelos estudos<br />
políticos da história brasileira, nossa<br />
pág.124, jan/dez 2006<br />
República foi proclamada por uma elite<br />
econômica agroexportadora carente de<br />
símbolos e projetos para a constituição<br />
da nação brasileira. Os modelos utilizados<br />
foram espectros de modelos europeus<br />
falsamente adaptados a uma<br />
falsa realidade brasileira. Entretanto, o<br />
poder político e econômico esteve concentrado<br />
nas mãos dessa elite por mais<br />
de trinta anos.<br />
O FRACASSO DA FORMAÇÃO<br />
DO SENTIDO DA BRASILIDADE<br />
O Estado aparece como a realização<br />
do interesse geral […], mas na realidade<br />
ele é a forma pela qual os interesses<br />
da parte mais forte e poderosa<br />
da sociedade (a classe dos proprietários)<br />
ganham a aparência de<br />
interesses de toda a sociedade.” 2<br />
Partindo deste princípio, Marilena Chauí<br />
entende o surgimento das novas relações<br />
de pertencimento no mundo ocidental<br />
balizadas pelo sistema capitalista. Assim,<br />
a organização dos povos em torno do<br />
Estado-nação teria como base de sustentação<br />
a lógica introduzida pelo capitalismo<br />
e, como significação central e estruturante,<br />
o capital. A unidade conferida à<br />
nação e a força do sentimento nacionalista<br />
do povo lutando pela autonomia do<br />
seu Estado foram, sem dúvida, elementos<br />
indispensáveis para a construção da<br />
economia capitalista, mas as relações de<br />
causa e efeito entre nacionalismo e capitalismo<br />
mostram-se insuficientes para<br />
explicar a permanência da nação no momento<br />
contemporâneo, quando a lógica<br />
do mundo globalizado impõe sua destrui-