Cultura Republicana e Brasilidade - Arquivo Nacional
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R V O<br />
Hiléia amazônica, a coberto dos nódulos<br />
fronteiriços, partindo de uma base avançada<br />
constituída no Centro-Oeste, em<br />
ação coordenada com a progressão Leste-Oeste<br />
seguindo o eixo do grande rio”. 19<br />
Esse tamponamento, proposto em 1952,<br />
partia do pressuposto de que havia naquela<br />
região um despovo. Uma ausência<br />
de povo, ou mais precisamente, a ausência<br />
de um determinado padrão de povo.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Surpreende notar que as propostas<br />
de integração da região pelos<br />
grupos aqui tratados não se<br />
obstaculizam, mas se complementam.<br />
Comungando posturas semelhantes, as<br />
formulações relativas à segurança nacional<br />
e à questão mineral engrossam as fileiras<br />
daqueles que defendiam a incorporação<br />
da região.<br />
A região, agora, é área a ser ocupada<br />
para a defesa do território e da economia<br />
nacional. A fronteira se torna nação.<br />
Não bastaria, simplesmente, ocupar a<br />
região de acordo com as necessidades<br />
geradas pelo núcleo central. A região,<br />
que ainda hoje tem uma baixa densidade<br />
populacional, deveria ser ocupada<br />
civilizadamente. Se a região foi descrita,<br />
tratada e produzida sem considerar<br />
a população local, é porque no local<br />
existia algo considerado um despovo,<br />
uma espécie de antibrasilidade.<br />
O processo migratório a partir dos anos<br />
de 1970 foi fruto dessas concepções. A<br />
região foi consolidada não como uma<br />
área integrada, mas, sim, incorporada a<br />
um projeto nacional hegemônico que determinou<br />
seu papel.<br />
A ironia da história reservaria para a Amazônia,<br />
porém, um novo momento de reprodução<br />
da região e readequação no projeto<br />
nacional. A produção da região tinha na<br />
selva o obstáculo para a civilização, e sua<br />
superação dependia o projeto desenvolvimentista<br />
ardorosamente defendido.<br />
Durante os anos de 1980 e 1990, um novo<br />
elemento foi introduzido no projeto nacional:<br />
o elemento ecológico. A Amazônia<br />
passou a ter outro papel na nação: o lugar<br />
da preservação. Ou, como disse um seringueiro<br />
entrevistado em Rondônia: “Mata<br />
virgem, terra prostituta”. 20<br />
N O T A S<br />
1. Cf. Eric Hobsbawm, Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade, Rio<br />
de Janeiro, Paz e Terra, 1990.<br />
2. Marilena Chauí, O que é ideologia, São Paulo, Abril <strong>Cultura</strong>l/Brasiliense, 1984, p. 69.<br />
3. Cornelius Castoriadis, A instituição imaginária da sociedade, Rio de Janeiro, Paz e Terra,<br />
1982.<br />
4. Eunice Caldas, O melhor meio de divulgar o ensino primário no país, São Paulo, Est.<br />
Graph. Cyro Massetti & Cia., 1923, p. 29. A autora era diretora de uma escola municipal<br />
Acervo, Rio de Janeiro, v. 19, nº 1-2, p. 123-136, jan/dez 2006 - pág.135