Di.rio fim-de-semana 4876 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico - Sapo
Di.rio fim-de-semana 4876 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico - Sapo
Di.rio fim-de-semana 4876 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico - Sapo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
6 | Outlook | Sábado, 24.4.2010<br />
SUCESSO<br />
É um merry little queque<br />
Vimo-los na televisão e no cinema. Os cupcakes não são só bolos,<br />
são uma espécie <strong>de</strong> Feira Popular da pastelaria. Agora chegaram a<br />
Lisboa, com a Merry Cupcakes. Os pastéis <strong>de</strong> nata que se cui<strong>de</strong>m<br />
TEXTO ÂNGELA MARQUES / FOTO PAULA NUNES<br />
Podíamos chamar-lhes queques<br />
e não estaríamos a<br />
mentir. Mas os cupcakes são<br />
a prova <strong>de</strong> que quando uma<br />
coisa é realmente boa temos<br />
<strong>de</strong> a insultar. Porque não<br />
basta dizer que um cupcake é bom – para<br />
sermos honestos connosco e com o ‘gourmand’<br />
que há em nós, temos <strong>de</strong> dizer que<br />
ele é estupidamente bom. Se Londres e<br />
Nova Iorque já sabiam disto há anos, Lisboa<br />
só o <strong>de</strong>scobriu agora. E graças a três<br />
amigas muito viajadas e com vocação para<br />
a cozinha “na óptica do utilizador”.<br />
Quem diz é quem é – e é Adriana Albuquerque,<br />
31 anos, uma das proprietárias<br />
<strong>de</strong>sta primeira loja <strong>de</strong> cupcakes do País, a<br />
Merry Cupcakes, quem o diz. Com ela,<br />
atrás do balcão, pelo menos virtualmente,<br />
estão a irmã Clara Albuquerque e a<br />
amiga Bárbara Pinto. As três que se conhecem<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tempo da escola são agora<br />
responsáveis pela nova moda gastronómica<br />
<strong>de</strong> Lisboa (primeiro Lisboa, <strong>de</strong>pois<br />
o País, avisam já): queques como pequeno-almoço,<br />
almoço, jantar e sobremesa<br />
(e snack, também). Deve ser pelo<br />
menos nisso que acreditam as <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
pessoas que todos os dias fazem fila num<br />
corredor do Centro Comercial do Campo<br />
Pequeno para escolher quais e quantos<br />
querem levar para casa.<br />
<strong>Di</strong>ssemos fila? Fila faz-se na caixa da<br />
Fnac. No Campo Pequeno fazem-se pequenas<br />
manifestações <strong>de</strong> <strong>de</strong>slumbramento<br />
e gula. Po<strong>de</strong>mos jurar que há quem<br />
se babe em cima da montra. Bárbara e<br />
Adriana (que são quem está em Lisboa a<br />
gerir o negócio, enquanto Clara está no<br />
México a gerir outros negócios) ainda se<br />
surpreen<strong>de</strong>m com o impacto que a sua<br />
i<strong>de</strong>ia (não foram as primeiras a fazer<br />
cupcakes em Portugal, mas foram as primeiras<br />
a abrir uma loja <strong>de</strong> cupcakes) está<br />
a ter sobre os clientes. Até porque o<br />
quiosque (perdão, “mini-loja”, como<br />
preferem chamar-lhe) só está aberto <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
15 <strong>de</strong> Março. “Este sucesso apanhou-<br />
-nos <strong>de</strong>sprevenidas. Até um bocadinho<br />
“Vimos o sucesso<br />
que os cupcakes<br />
faziam em No+va<br />
Iorque e em<br />
Londres,<br />
gostávamos muito<br />
e sempre que nos<br />
encontrávamos lá<br />
comprávamos<br />
alguns. Como já<br />
falávamos há muito<br />
tempo em abrir um<br />
negócio, pensámos<br />
que talvez fosse<br />
interessante trazer<br />
os cupcakes para<br />
Portugal.” E assim<br />
fizeram<br />
assustadas. Tínhamos pensado estar a<br />
ven<strong>de</strong>r 300 a 400 cupcakes por dia. Neste<br />
momento, ven<strong>de</strong>mos em média 1500, às<br />
vezes mais.” É a prova final <strong>de</strong> que os portugueses<br />
são mais bolos.<br />
“Temos clientes que voltam três e<br />
quatro vezes e issoéomelhorsinal<strong>de</strong>que<br />
está a correr bem. Temos um cliente que<br />
todos os dias cá vem. E entretanto já <strong>de</strong>scobrimos<br />
que os homens portugueses<br />
afinal são muito românticos. Há muitos<br />
homens a virem aqui comprar cupcakes<br />
para oferecer às mulheres. E pais que<br />
compram aos filhos mas que na verda<strong>de</strong><br />
querem é provar, mas disfarçam comprando<br />
para as crianças. Também ven<strong>de</strong>mos<br />
cupcakes para festas <strong>de</strong> empresas e<br />
para <strong>de</strong>spedidas <strong>de</strong> solteira”, contam. A<br />
propósito, já têm até uma história para<br />
contar: a <strong>de</strong> um namorado que tinha a<br />
namorada chateada. Flores? Já eram.<br />
“Foi levar-lhe cupcakes ao escritó<strong>rio</strong>.”<br />
Ela? Só po<strong>de</strong> ter amolecido.<br />
A verda<strong>de</strong> é que Adriana e Bárbara tinham<br />
a convicção <strong>de</strong> que os cupcakes iam<br />
pegar, mas não tanto e não tão <strong>de</strong>pressa.<br />
“Nós vimos o sucesso que faziam em Nova<br />
Iorque e em Londres, gostávamos muito e<br />
sempre que nos encontrávamos comprávamos<br />
alguns. Como já falávamos há<br />
muito tempo <strong>de</strong> abrir um negócio, pensámos<br />
que talvez fosse interessante trazer<br />
os cupcakes para Portugal.” E foi.<br />
Mas também foi difícil. “Não é fácil entrar<br />
em centros comerciais em Portugal e<br />
não é fácil encontrar um pasteleiro que<br />
queira trabalhar assim – é que os<br />
cupcakes dão muito trabalho, é tudo feito<br />
à mão, e nós nem sequer quisemos mexer<br />
muito na receita nem adaptá-la à pastelaria<br />
portuguesa”, explica Bárbara. E é<br />
preciso dizer que esta empresa é completamente<br />
portuguesa: “A maior parte das<br />
pessoas acha que é franchising. Aliás, temos<br />
recebido 15 a 20 emails por dia a perguntar<br />
se somos franchising e até se po<strong>de</strong>m<br />
ser nossos franchisados, o que é bom<br />
sinal.” Mas não: “A Merry Cupcakes é<br />
uma cópia fiel do que se faz lá fora, mas é<br />
portuguesa.” A <strong>de</strong> Lisboa é uma loja-piloto,<br />
<strong>de</strong>pois virão outras. “E queremos ter<br />
uma cozinha central, para fazer distribuição<br />
pelo país inteiro.”<br />
<strong>Plano</strong>s não lhes faltam. Agora, porque<br />
no dia em que a SIC <strong>de</strong>cidiu exibir uma<br />
peça sobre a nova loja do Campo Pequeno,<br />
Adriana e Bárbara não tinham nada<br />
planeado (aliás, não se importam <strong>de</strong> dizer<br />
que até agora nunca foram elas quem procurou<br />
os media, mas o contrá<strong>rio</strong>). “Não<br />
foi nesse dia, mas no dia seguinte. A peça<br />
passou no domingo à noite e na segunda<br />
tivemos filas <strong>de</strong> 70 pessoas. E como não<br />
estávamos preparadas para isso, houve<br />
clientes a reclamar pela <strong>de</strong>mora.”<br />
É que nesta mini-loja há uma regra<br />
valiosa: o atendimento tem <strong>de</strong> ser doce.<br />
“Nenhum cliente <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser bem atendido<br />
para a fila andar mais <strong>de</strong>pressa.” E<br />
como os cupcakes ainda não se ven<strong>de</strong>m<br />
como os pastéis <strong>de</strong> Belém, a loja ainda<br />
não entrou no modo “são seis para levar”.<br />
Pelo menos para já, o cliente da<br />
Merry Cupcakes tem muitas perguntas<br />
para fazer: o que são os cupcakes, <strong>de</strong> que<br />
éfeitoocreme,ocremeéduro,amassaé<br />
fofa? E enquanto os portugueses não se<br />
habituarem a ter na mão aquilo que antes<br />
só viam nos filmes (e no “Sexo e a Cida<strong>de</strong>”),<br />
vai ser assim.<br />
A contar com isso, Bárbara e Adriana<br />
já mexeram na estratégia: reforçaram o<br />
número <strong>de</strong> cupcakes e <strong>de</strong> funcionárias na<br />
loja. “Não queremos ser apanhadas <strong>de</strong>sprevenidas.<br />
Mesmo que isso signifique<br />
ter <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar cupcakes para o lixo – porque<br />
é isso que acontece se sobrarem, não<br />
são vendidos no dia seguinte. Levamo-<br />
-los para casa, distribuímo-los pelos vizinhos,<br />
mas não são vendidos com mais<br />
<strong>de</strong> um dia.” Até porque a i<strong>de</strong>ia é que<br />
quando o cliente coma um cupcake se<br />
sinta, dizem, feliz (daí o “Merry” em<br />
Merry Cupcakes). E a verda<strong>de</strong> é que ninguém<br />
fica realmente feliz com um bolo<br />
ressequido. “E o cupcake não é um bolo<br />
qualquer, é um bolo chique.” Nunca os<br />
queques pensaram.