8 <strong>Di</strong>á<strong>rio</strong> <strong>Económico</strong> Sábado 24 Abril 2010 DESTAQUE CRISE NA GRÉCIA Pedido <strong>de</strong> ajuda grego fez subir o risco <strong>de</strong> incumprimento nacional Atenas confirmou que Portugal lhe terá que emprestar 774 milhões e os CDS da dívida voltaram a subir. Luís Reis Pires luis.pires@economico.pt Nodia11<strong>de</strong>Abril,oministrodas Finanças, Teixeira dos Santos, anunciava que Portugal iria emprestar 774 milhões <strong>de</strong> euros à Grécia, se fosse necessá<strong>rio</strong>. O “se” caiu em apenas 12 dias. Ontem, Atenas pediu oficialmente a Bruxelas e ao FMI para activarem o fundo <strong>de</strong> 45 mil milhões <strong>de</strong> ajuda financeira e Portugal vai mesmo ter que <strong>de</strong>sembolsar a sua parte. Mas está a economia nacional a arriscar dar ajuda à Grécia, para <strong>de</strong>pois ter que pedir ajuda para si própria? Os economistas contactados pelo <strong>Di</strong>á<strong>rio</strong> <strong>Económico</strong> admitem que a economia portuguesa está a sofrer nos mercados, mas rejeitam qualquer cená<strong>rio</strong> em que tais dificulda<strong>de</strong>s resvalem para uma crise <strong>de</strong> financiamento semelhanteà<strong>de</strong>Atenas. “Não há um único argumento que sustente o cená<strong>rio</strong> <strong>de</strong> falência em Portugal”, avança Augusto Mateus, economista e ex-ministro da Economia, para quem Portugal apenas tem que “gerir bem o que há para gerir nas contas públicas”, para começar a acalmar os mercados”. Já Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI, vai mais longe e rejeita, quer um risco <strong>de</strong> falência, quer um risco <strong>de</strong> crédito na economia nacional. “Em Portugal, nem um, nem outro”, remata. Depois <strong>de</strong> Papandreou oficializar ontem o pedido <strong>de</strong> ajuda, o ‘spread’ helénico respirou finalmente um pouco <strong>de</strong> alívio. A ‘yield’ grega recuou para 8,672%. A ‘yield’ nacional também recuou, mas a um ritmo mais lento, passando <strong>de</strong> 4,958% para 4,925%. “O que se vê aqui é que os prémios caíram mais para a dí- TRÊS PERGUNTAS A... SILVA LOPES Economista e ex-ministro das Finanças “Não saímos disto sem parar com o endividamento externo” vida grega, do que para a portuguesa. Mas caíram na mesma”, explica Cristina Casalinho, que acredita que o risco da dívida nacional “não vai agravar” <strong>de</strong>pois da ajuda europeia à Grécia. “Se os prémios estivessem a cair na mesma dimensão”, acrescenta ainda, também haveria uma leitura perversa, porque “significava uma colagem” <strong>de</strong> Portugal à economia grega. Mas os ‘credit <strong>de</strong>fault swaps’ (CDS) nacionais, que ajudam a medir a percepção dos investidores para com o risco <strong>de</strong> incumprimento <strong>de</strong> Portugal, estavam on- Augusto Mateus Ex-ministro da Economia “Não há um único argumento que sustente o cená<strong>rio</strong> <strong>de</strong> falência em Portugal. Tem é que se gerir bem o que há para gerir nas contas públicas”. Cristina Casalinho Economista-chefe do BPI “A informação do PEC já está incorporada nos mercados. Com o que está hoje em cima da mesa, tem que se lançar alguma coisa nova”. Portugal não vai sair do radar dos mercados sem resolver o endividamento externo e outros problemas estruturais, diz Silva Lopes, que critica também a actuação política durante este momento difícil da zona euro. <strong>Di</strong>sse que as lutas partidárias estão a contribuir para o agravar do risco da dívida. Estamos em negação, ou sem noção do que passa? Em gran<strong>de</strong> parte, não temos mesmo noção. Os políticos mostram <strong>de</strong>masiada incapacida<strong>de</strong> para perceber o que se está a passar. Mas há aqui dois factores. Uns são tem em subida, atingindo os 275 pontos base. Já os da Grécia recuaram quase 30 pontos. Ou seja, os investidores aliviaram os receio <strong>de</strong> incumprimentonaGréciaeaumentaram face a Portugal. Po<strong>de</strong> a economia nacional convencer os mercados que não vai seguir o mesmo caminho <strong>de</strong> Atenas? “Sinceramente, já não está só nas mãos <strong>de</strong> Portugal”, diz Filipe Garcia, economista da IMF. E explica: “O país já é percepcionado como endividado, algo indisciplinado e com economia pouco dinâmica”. Já Cristina Casalinho acha que é possível, mas não apenas com o PEC,porqueainformaçãododocumento “já está incorporada nos mercados” e “com o que está hoje em cima da mesa, tem que se lançar alguma coisa nova, ainda não incorporada”. O que também gera consenso é que Portugal não terá problemas em colocar dívida daqui para a frente. Augusto Mateus diz que “não há qualquer perigo” <strong>de</strong> isso acontecer. “Até agora não houve [problemas]enãoé<strong>de</strong>esperar que haja. Po<strong>de</strong>mos é ter que pagar um preço mais elevado”, concorda Filipe Garcia. O economista da IMF acrescenta ainda, sobre o empréstimo <strong>de</strong> 774 milhões, que caso a economia nacional não o fizesse, isso sim seria “um convite claro ao mercado para ven<strong>de</strong>r Portugal”, porque era “um sinal <strong>de</strong> clara <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> não ter 770 milhões para emprestar”. O <strong>Di</strong>á<strong>rio</strong> <strong>Económico</strong> tentou ainda obter uma reacção das Finanças ao pedido <strong>de</strong> ajuda grego. Mas, ao contrá<strong>rio</strong> do que se passou com Espanha, por exemplo, on<strong>de</strong> a ministra Elena Salgado se apressou em refutar os perigos <strong>de</strong> contágio, o gabinete <strong>de</strong> Teixeira dos Santos remeteu-se ao silêncio. ■ mesmo <strong>de</strong>masiado incapazes para perceber os problemas. Outros estão mais preocupados em criar problemas ao Governo. E isso revela uma inconsciência que já não vem <strong>de</strong> agora. Des<strong>de</strong> a revolução, nunca conseguimos ser responsáveis nas contas públicas. Mas neste momento que vivemos, esta inconsciência ainda é mais grave. O PEC chega para evitar o contágio a Portugal? O que digo é que Portugal está a ser atacado não é só por causa das finanças públicas, que são más, mas não são assim tão <strong>de</strong>sastrosas à escala europeia. Tivéssemos nós uma economia ECONOMIA PORTUGUESA É MAIS SÓLIDA Portugal Grécia 0,3% Este ano, Portugal já registará um crescimento <strong>de</strong> 0,3% segundo as últimas previsões do FMI. Em 2011, <strong>de</strong>verá acelerar para 0,7%. -8,7% Portugal <strong>de</strong>verá ter um défice <strong>de</strong> 8,7% este ano , <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sequilíb<strong>rio</strong> <strong>de</strong> 9,4% em 2009. Para 2011,oFMIprevêumdéfice<strong>de</strong>7,5% mais sã e promissora, e não éramos tão atacados. A tragédia toda não está só no défice. Está, por exemplo, na taxa <strong>de</strong> poupança, queéamaisbaixadoeuroaolado da Grécia. E isto sem crescer, porque se nos estivéssemos a endividar para investir, para crescer, a coisa não era tão má. Mas foi sempre para consumir ou para investir sem crescer. Não vamos sair disto enquanto não pararmos com o endividamento externo. E há também o problema da competitivida<strong>de</strong>, mas esse não é só <strong>de</strong> Portugal. Nós temos é três problemas e não só um, como se pensa. E neste momento não se CRESCIMENTO EM 2010 -2% A Grécia <strong>de</strong>verá manter-se no vermelho este ano e no próximo. Apesar da ligeira aceleração, em 2011 haverá uma contracção <strong>de</strong> 1,1%. DÉFICE ORÇAMENTAL EM 2010 86% A dívida pública <strong>de</strong>verá atingir 86% do PIB, este ano, e agravarse para 89,4% em 2011 <strong>de</strong> acordo com as previsões do Governo. 11% O FMI espera que o mercado <strong>de</strong> trabalho recupere para 2011, com uma taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego <strong>de</strong> 10,3%. O FMI tem as previsões mais pessimistas DÍVIDA PÚBLICA EM 2010 DESEMPREGO EM 2010 -8,7% AGrécia<strong>de</strong>verácortar,esteano, 4,9 pontos percentuais ao seu défice, segundo o FMI. Mas no ano seguinte <strong>de</strong>verá subir para -8,8%. 120,4% A dívida, segundo o Executivo helénico, pouco vai mudar. Dos 120,4% que <strong>de</strong>verá atingir este ano passará para 120,6%, em 2011. 12% Na Grécia, a situação será ainda pior em 2011 com a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego a subir para os 13%, segundo o FMI. está a dar atenção a nenhum. O PEC po<strong>de</strong> ser a solução para, pelo menos, um <strong>de</strong>les? Este projecto do Governo, apesar <strong>de</strong> tudo, é um esforço. Talvez não seja suficiente, mas é um esforço. Estou convencido que em Portugal precisamos <strong>de</strong> um PEC ainda mais restritivo que este, mas só por si isso não resolve o problema. Enquanto não atacarmos os outros problemas todos, não estamos livres disto. E há uma coisa: as medidas restritivas vão obviamente criar problemas no <strong>de</strong>semprego e travar o crescimento. Agora, nós é que pusemos nesta situação, em que só já temos duas escolhas. L.R.P.
FMI volta a ser o pronto-socorro dos países em risco da falência Sábado 24 Abril 2010 <strong>Di</strong>á<strong>rio</strong> <strong>Económico</strong> 9 Des<strong>de</strong> os anos 90, o Fundo foi por diversas vezes chamado a salvar vá<strong>rio</strong>s países. Depois <strong>de</strong> um período em que a sua influência se <strong>de</strong>svaneceu, está <strong>de</strong> novo na ribalta com a ajuda à Islândia e agora à Grécia. Infografia: Susana Lopes | susana.lopes@economico.pt
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