Revista dependências - Novembro 2007
Revista dependências - Novembro 2007
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10 | Dependências | Reunião científica internacional sobre salas de consumo<br />
E.H. – Entendo que este seja um tema que<br />
cria polémica entre os diferentes profissionais.<br />
O que é para mim claro é que temos<br />
que conjugar as nossas actuações e trabalhar<br />
directamente relacionados e entendendo-nos<br />
com todos os agentes sociais, forças<br />
de segurança incluídas. Há que procurar<br />
estratégias que permitam que cada um<br />
cumpra o seu papel mas que nos permitam<br />
igualmente entender que cada um desempenha<br />
um papel claramente diferente.<br />
E dou um exemplo: eu tenho uma mesa de<br />
trabalho com o intendente da polícia da Catalunha<br />
e os responsáveis por um grupo de<br />
intervenção numa comunidade onde existem<br />
utilizadores que, inevitavelmente, vão<br />
cometendo delitos e têm problemas pendentes<br />
com a justiça. E eu tento negociar<br />
com o intendente - porque a polícia pode<br />
entrar em qualquer sítio – no sentido de<br />
que, quando a polícia intervém, não o faça<br />
de uma forma traumática, nem para os profissionais,<br />
nem para os utilizadores. Se sei,<br />
por exemplo, que houve uma morte e que<br />
um utilizador esteve implicado na mesma,<br />
eu tenho a obrigação moral de transmitir<br />
a informação. Então, quando algo acontece,<br />
a polícia chama-me a mim directamente<br />
porque há que facultar um interlocutor e<br />
tentamos perceber o que sucedeu e de que<br />
forma podemos colaborar. Mas imagine,<br />
por outro lado, que em determinada esquina<br />
de um bairro se começava a constatar<br />
que havia ajuntamentos porque algumas<br />
pessoas traficavam e consumiam constantemente<br />
várias substâncias, criando alguns<br />
problemas junto de alguns vizinhos e pessoas<br />
que por lá passavam… Na nossa mesa<br />
de trabalho com a polícia, decidimos que,<br />
nestes casos, primeiro interviriam os educadores,<br />
que se não funcionasse veríamos<br />
o que fazer e, se fosse necessário, interviria<br />
a polícia. Mas hoje também tenho claro<br />
que necessitamos do apoio e suporte das<br />
forças de segurança para que tudo funcione<br />
melhor.<br />
Dep – Sabendo-se que o ideal seria que<br />
ninguém fosse dependente, mas constatando-se<br />
que este ideal é mais uma utopia,<br />
até que ponto podemos afirmar que o ideal<br />
seria dispensar heroína ou cocaína aos<br />
utentes que delas realmente precisam?<br />
E.H. – Seria estupendo! Apesar de não ser médica<br />
e de tentar ser o mais cautelosa possível<br />
nestes aspectos, creio que os programas de heroína,<br />
mais cedo ou mais tarde, se hão-de colocar<br />
em prática. Mas também sei que não se-<br />
rão úteis ou adequados a todos os consumidores<br />
e que haverá alguns que decidirão até não<br />
ingressar nos mesmos. O que me parece é que<br />
temos que saber satisfazer as necessidades<br />
das pessoas e as salas de consumo são apenas<br />
mais um serviço que satisfaz as necessidades<br />
de algumas delas. E creio que os dispositivos<br />
de baixa exigência devem continuar a existir<br />
porque sempre existirão pessoas nesta situação<br />
e que todos os serviços que tenham a ver<br />
com o tratamento devem dispor de um dispositivo<br />
de consumo, desde os CAT aos albergues,<br />
todos aqueles que acolhem ou contactam com<br />
toxicodependentes.