Edição 29 - Revista Algomais
Edição 29 - Revista Algomais
Edição 29 - Revista Algomais
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Entrevista<br />
me sentir um privilegiado. Sonhei em me<br />
tornar um jogador de futebol e consegui.<br />
Quando conheci o Lar do Neném fiquei emocionado<br />
com o trabalho que é feito. Imagine<br />
crianças que sofreram maus tratos, violência<br />
sexual, abandono dos pais, tudo reflexo<br />
do péssimo investimento na educação que<br />
é feito no nosso país. Acho que é o mínimo<br />
que eu posso fazer. Gostaria de ter criado<br />
uma instituição como outros profissionais.<br />
Mas faço o que posso: cedo minha imagem<br />
para anúncios, dou entrevistas, autógrafos<br />
e apresento o projeto aos amigos que podem<br />
ajudar. Faço tudo com muito prazer.<br />
Acho que todo mundo que está conquistando<br />
certo sucesso na vida deve ajudar os que<br />
necessitam. Principalmente os jogadores de<br />
futebol que passaram por dificuldades.<br />
Am | Você continua ligado afetivamente<br />
ao Sport do Recife?<br />
Juninho | Eu sempre fui torcedor do Sport.<br />
Foi o time que escolhi para torcer. Toda minha<br />
família é rubro-negra. Passei pela escolinha de<br />
futebol do clube quando tinha 12 anos. Joguei<br />
no júnior, de onde sai para o profissional. Mas<br />
depois que a gente se torna profissional perde<br />
um pouco essa relação do torcedor.<br />
Am | Que achou da vitória do Sport na<br />
Copa do Brasil?<br />
Juninho | Talvez tenha sido a maior conquista<br />
do Sport. O time provou que ganhou<br />
merecidamente em campo. Depois daquela<br />
confusão com os times do sul houve o reconhecimento<br />
de todo o Brasil.<br />
Am | Sete anos na França, um país que<br />
tem a Cultura como um grande valor.<br />
Você aprimorou-se culturalmente em<br />
Lyon, fez cursos? Como tem sido a sua<br />
vida nesta cidade?<br />
Juninho | Cheguei à França, em 2001, sem<br />
nunca ter estudado francês. Mas coloquei<br />
como prioridade o futebol. Não adiantava<br />
nada usufruir da cultura francesa se não<br />
jogasse bola. Eles me mandariam de volta.<br />
Então me preparei para me adaptar ao estilo<br />
de jogo, ao time. Tive aulas particulares<br />
do idioma para me virar no básico e aprendi<br />
mais com os colegas do time. O francês<br />
valoriza muito um estrangeiro que domina<br />
sua língua. Depois que comecei a falar sem<br />
problemas tudo foi mais fácil. Além do mais<br />
12 > > agosto<br />
Alexandre Albuquerque<br />
“Fui criado no Recife<br />
e gosto de comer<br />
feijão, arroz e purê<br />
de batatas”<br />
tive a sorte do Lyon ser campeão no meu<br />
primeiro ano. Hoje conheço muito bem a<br />
cidade de Lyon, que tem um milhão de habitantes,<br />
é a terceira da França e que abriga<br />
só um time de futebol na primeira divisão.<br />
Por conta da última questão a gente perde<br />
um pouco a privacidade.<br />
Am | Você é assediado por onde passa<br />
em Lyon?<br />
Juninho | A população de Lyon me conhece.<br />
Não só eu, mas todos os jogadores<br />
do clube. O lado positivo é que não preciso<br />
reservar mesas em restaurantes, o maitre<br />
sempre arranja um bom lugar para mim. Mas<br />
eu não vivo futebol 24 horas. Quando acaba o<br />
jogo ou treino sou um cidadão comum. Isso,<br />
porém, não acontece com outros jogadores.<br />
Am | Como é seu dia-a-dia em Lyon?<br />
Juninho | A vida de um jogador que leva a<br />
sério sua carreira chega a ser monótona. No<br />
início da temporada a gente treina de manhã<br />
e de tarde. Quando começam as competições,<br />
treinamos menos, mas o desgaste<br />
é maior. E temos que nos recuperar para<br />
o próximo jogo. Fico em casa, vou buscar<br />
as crianças na escola. Nessas horas sinto<br />
mais falta do Brasil. Temos uma boa base<br />
familiar, o que considero muito importante.<br />
Já as famílias européias não são tão<br />
próximas, os jovens saem de casa cedo. O<br />
que tem demais aqui em segurança pública<br />
e educação, falta em calor humano. O<br />
europeu é muito frio, difícil de fazer amizades.<br />
Mesmo depois de sete anos em Lyon<br />
percebo o distanciamento. E, na verdade,<br />
ainda sinto falta do sol do Recife durante<br />
11 meses por ano. Em Lyon, são três meses<br />
de calor. Viver no inverno não é fácil.<br />
Mas são desafios da vida que temos que<br />
superar.<br />
Am | Quais os pontos da cidade francesa<br />
que você costuma freqüentar?<br />
Juninho | Vou muito à Lyon Velha. É como<br />
Olinda, cheia de ladeiras, casas antigas.<br />
Am | E quantas vezes você já foi a<br />
Paris, que está a 400 quilômetros de<br />
distância de Lyon ou a duas horas de<br />
trem de alta velocidade, o TGV?<br />
Juninho | Poucas vezes nesses sete anos<br />
de França. Só em passeios com a família.<br />
Não conheço bem a cidade.<br />
Am | Você vive numa cidade que tem uma<br />
das melhores escolas de gastronomia da<br />
França. Qual seu prato predileto?<br />
Juninho | Arroz com feijão. Sempre me<br />
fazem essa pergunta. Acho que é pelos vinhos<br />
e queijos franceses. Mas eu fui criado<br />
no Recife e gosto de comer arroz, feijão, purê<br />
de batatas. Encontro o feijão em supermercados<br />
portugueses de Lyon. E como atleta<br />
tenho que comer carboidrato, muita massa,<br />
tudo balanceado. Quando posso, nos finais<br />
de semana, (os jogos geralmente são nos<br />
sábados) vou com a família comer massas<br />
italianas.<br />
Am | O que vai fazer quando deixar<br />
o futebol?<br />
Juninho | Ainda não sei. Vou me preparar<br />
para jogar bem esses dois anos e se tiver condição<br />
física e motivação jogo mais um ano.<br />
Hoje não me passa pela cabeça voltar a jogar<br />
no Brasil. Já dei minha contribuição. A minha<br />
intenção é parar de jogar na França, enquanto<br />
vivo um bom momento profissional. Minha família<br />
está acostumada com Lyon, temos dupla<br />
nacionalidade O que vou fazer depois não sei.<br />
Tudo indica que eu vá continuar no futebol,<br />
passando o que aprendi. n