62 > > agosto Pano rápido Outra coisa No Hospital da Restauração, um médico-residente descrevia os sintomas do paciente e os procedimentos adotados até então: medicação, exames, evolução, essas coisas. Dr. Aurino Dantas interveio: - Você fez um toque retal? - Ligeiramente, Dr. Aurino. - Meu filho, toque retal ligeiramente é dedada. Dúvida atroz Com alguma regularidade, o poeta Jairo Lima liga de Natal para o pintor José Cláudio, que mora em Olinda, para trocarem opiniões e críticas sobre o que estão lendo. Na semana anterior, Jairo ligara para consultar Zé sobre uma passagem da Odisséia, de Homero. Mas naquele domingo o assunto que inquietava Jairo tinha outra natureza. - Zé, gargalhada a gente solta ou dá? - Rapaz, eu acho que tanto solta quanto dá. - E peido? Solta, não é? Ninguém dá peido. - Dá, também. Ouve só esse estribilhozinho: “Eu dei um peido/lá na porta do fuá/ que chegou quilarear”. A escolha de Zora O cronista Rubem Braga era casado com Zora. E até onde se sabia, Rubem inclusive, bem casado. Um belo dia, Zora comunica que iria deixá-lo. E viver com o escritor Antônio Olinto. - Zora, você pode até estar melhorando de homem, não entro nesse mérito. Agora, tá piorando muito de escritor. Sei lá O compositor Paulo Vanzolini (autor de Ronda e Volta por cima) perguntou a Adoniran Barbosa por que no samba Trem das Onze ele botou “moro em Jaçanã” e não “no Jaçanã”, como o povo que mora lá diz. - Sei lá! Não sei nem onde fica Jaçanã. Tiro pela culatra A Vigilância Sanitária fechou a casa de Maria Pé de Bombo, o puteiro mais famoso de Natal. Maria pediu uma audiência ao governador Dinarte Mariz. Dinarte, velha raposa política, imaginou capitalizar o episódio. Maria foi à audiência com três meninas, escolhidas a dedo e vestidas a caráter. No dia seguinte, o jornal Tribuna do Norte, de Aluízio Alves, adversário de Dinarte, estampou na primeira página a foto de Dinarte com Maria e as três meninas. Manchete: MARIA PÉ DE BOMBO, DÊ-SE AO RESPEITO! Dê-se ao respeito! Joca Souza Leão jocasouzaleao@gmail.com Incontinência Lourdes e Zé Maria Pereira Gomes, Maria Amélia e Luiz Otávio Cavalcanti foram ao cinema e depois jantar no La Cuisine, no Pina. Papo sobre cinema. Zé Maria cita Os Pássaros, de Hitchcock. Dá branco, não consegue lembrar o nome da atriz. Branco geral, ninguém lembra. Zé vai pra casa grilado. De madrugada, é acordado pela memória, o nome na cabeça: Suzanne Pleshette! Não se contém. Incontinente, digita uma mensagem no celular pra Luiz Otávio, com o nome da atriz. Maria Amélia acorda. Lê a mensagem. - Luiz Otávio, quem é Suzanne? E não adianta querer me enrolar. Recompensa Dr. Antônio de Queiroz Galvão ia na estrada a caminho de uma de suas fazendas. O motorista percebeu pelo retrovisor que estavam sendo seguidos. Súbito, à frente, outro carro parou, o que o obrigaria a parar também. Seqüestro, pensou. “Se segure aí, Dr. Antônio, que tamos a perigo”. Numa manobra brusca e precisa, saiu da estrada e emburacou por dentro de um canavial, a toda velocidade. Já no terraço da casa da fazenda e refeito do susto, Dr. Antônio mandou chamar o motorista. - O que o senhor quer como recompensa? - Posso dizer mesmo, Dr. Antônio? - Não só pode como deve. - Eu quero minhas contas. Ser ou não ser Marcus Accyoli era adolescente. Sua poesia engatinhava e gravitava entre o leitor erudito que já era e a vivência com poetas populares na feira de Aliança, sua terra. Chegado ao Recife, procurou o primo mais velho, o escritor Renato Carneiro Campos, e lhe submeteu alguns versos. Renato os leu, releu, fez anotações de pé de página, silenciou por um tempo e, com voz grave e solene, devolveu o poeta às suas incertezas. - Você quer ser Dante ou o Cego Aderaldo? Tem que se decidir. Joca Souza Leão é publicitário e cronista.
agosto > > 63