Edição 29 - Revista Algomais

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Capa Não há remédio doce para conter a inflação É opinião recorrente entre os estudiosos da cena política brasileira que a reeleição de Lula foi resultado do crescimento do consumo das famílias de baixa renda, que migraram da Classe D para C. Como adiantado na edição nº 24 de <strong>Algomais</strong>, mais de 20 milhões de brasileiros fazem parte desse movimento. O problema é que toda essa ascensão deve ser freada. O plano econômico traçado pelo Governo está sendo destruído pelo dragão da inflação, que a cada dia pressiona mais os preços. Para colocar os números no eixo planejado pelo Banco Central (BC), que é de 4,5%, com tolerância até 6,5%, Lula anda pisando em ovos. Até agora, a expectativa dos analistas é de que o IPCA chegue a 6,48% no fim do ano, se aproximando do teto estipulado pelo BC. Mas, em compensação a perspectiva para 2009 é de que ela fique em 5%. Para conter o mal, o remédio não deve ser nada doce para a população. Para driblar o dragão, as medidas devem ser impopulares, como redução do crédito e aumento da taxa básica de juros, Selic, alerta o economista Josué Mussalém. Crescimento ameaçado Com a redução do poder de compra da população, espera-se que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional registre uma queda na evolução que vem conseguindo nos últimos anos. Os mais pessimistas acreditam que possa atingir até 3%, frente aos 5% calculados pelo governo no início de 2008. Pernambuco não deve sair ileso desse impacto. Apesar de possuir uma característica diferente na composição de seu PIB, que vem evoluindo devido aos investimentos estruturado- 38 > > agosto Pelo visto, o Banco Central não deve esperar tanto tempo para colocar em ação essas medidas. O presidente da instituição financeira, Henrique Meirelles, já adiantou que soluções enérgicas serão tomadas para controlar o IPCA. A expectativa é de que a Selic atinja a marca de 14,25% até o final do ano. Atualmente, o índice está na casa dos 12,25%. Segundo o economista Jorge Jatobá, além de reduzir o crédito, outras atitudes precisam ser tomadas pelo Governo Federal. Os gastos públicos não podem ser esquecidos. “A inflação é destruidora e de fato ela deve ser controlada, mas é necessário um conjunto de ações que tenham efeito real para manter a economia estável”, disse lembrando que os prazos para pagamento de dívidas também devem ser revistos. O que o governo poderá fazer: u Reduzir os gastos públicos u Aumentar a taxa de juros u Reduzir os créditos res, como refinaria, estaleiro, siderúrgica, pólo farmacoquímico e de hemoderivados. “Na medida em que Pernambuco não ficará isento do aumento dos juros e cortes de crédito, o crescimento será desacelerado”, disse a coordenadora das contas regionais da Agência Condepe/Fidem, Cláudia Pereira, responsável pelo cálculo do PIB pernambucano. Ela lembra ainda que a perspectiva nacional, atualmente, está em 4,5% e acredita que o Estado feche o ano em 7%. A culpa economista Josué Mussalém ex- O plica que a inflação dos alimentos no país é impulsionada pela inserção de 600 milhões de consumidores asiáticos e alerta: “a especulação talvez seja pior que o problema real”. <strong>Algomais</strong> |Quais os principais vetores que estão impulsionando a inflação no Brasil? Josué Mussalém |Sem dúvida, o petróleo e os alimentos. O primeiro porque influencia toda a cadeia produtiva, entrando na produção e nos transportes, aumentando o custo da logística e, consequentemente, do produto final. O segundo fator se deve prioritariamente a incorporação de 600 milhões de pes- Alexandre Albuquerque n Petróleo influencia toda a cadeia produtiva de alimentos Feijão Preto Melancia Arroz 46,85% 36,9% 36,43% Números para o acumulado no ano até junho
é da China Rodrigo Moreira soas no mercado alimentício mundial, vindas da China e da Índia. Am | Além dessa, existe outra razão para os preços dos alimentos subirem tanto no país? JM | Acredito que o universo da especulação. Há um componente psicológico fundamental na inflação. À medida que começam a circular notícias todos os dias sobre a alta dos preços, é normal que exista um movimento inflacionário. Mas não podemos confundir com a crise dos anos 80/90 e começar a estocar comida em casa. Esse talvez seja um dos maiores perigos dessa tendência especuladora. Am | Alguns alimentos pesam mais na mesa do pernambucano. Isso influencia diretamente no cálculo do IPCA para o Recife? JM |Sim. Para calcular esse índice, é levada em conta uma Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), que estuda o perfil de consumo de uma sociedade. Dependendo da quantidade de pessoas que consomem certo produto, ele terá um preço maior. Mas é preciso entender que isso é uma média. Cada pessoa tem uma inflação diferente, de acordo com os seus hábitos de consumo. Carne 32,88% 31,28% de Porco -6,77% Pão Doce Fígado Fonte: Dados IBGE – Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) Am | Por que uns produtos sobem mais que os outros? JM |Apesar das particularidades de cada tipo de bem, sujeitos a diversas variáveis, temos dois patamares. De um lado, os produtos básicos, que têm seus preços mais afetados por serem essenciais e não terem seu consumo tão ligado ao custo; e aqueles complementares, que diminuem drasticamente as vendas de acordo com a mudança dos preços. Am | Quais as medidas que não devem ser tomadas? JM | Sobretudo, o congelamento dos preços. Além de não ter necessidade, aprendemos com o passado que a inflação após o descongelamento é pior do que o motivo da ação. Não se pode querer resolver tudo com passes de mágica. O remédio é aumentar a taxa de juros, reduzir os prazos e, consequentemente, diminuir o poder de compra da população. agosto > > 39
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