ARQUITETURA
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de burocracia e de pouco planeamento, ficaram a arrastar-se e que,<br />
finalmente, estão em construção. Estou a terminar um que também<br />
durou não sei quantos anos, por razões que se inventam, por<br />
obstáculos, por burocracias, que é o da Fundação Júlio Pomar, em<br />
Lisboa, mas tenho dois outros edifícios a meio da construção. Espero<br />
que se terminem. Até porque são financiados pela Comunidade<br />
Europeia, não totalmente, mas julgo que até 80 por cento, que estão<br />
em construção e lá vão indo. Bem, embora sempre com o sobressalto<br />
de que o construtor não aguente até ao fim, porque uma das coisas<br />
a que se assiste é ao atraso dos pagamentos, o construtor tem<br />
subempreiteiros a que, por vezes, não pode pagar e é toda esta cadeia<br />
a que estamos a assistir. Mas, enfim, esses estão em construção.<br />
Tenho um em Espanha e, portanto, o escritório mantém-se, embora<br />
tenha de haver contenção, houve uma redução do número de<br />
pessoas a trabalhar, e espero que seja possível mantê-lo, até por essas<br />
pessoas que estão a trabalhar aqui, algumas há muitos anos. Aqui há<br />
pouco tempo, numa entrevista, falaram-me sobre este assunto e se eu<br />
achava que seria possível manter o escritório, porque estariam outros<br />
a fechar. Eu disse que admitia que tivesse de fechar o escritório;<br />
«NÃO ACREDITO NA EXTINÇÃO<br />
DO ARQUITETO PORTUGUÊS.<br />
O MUNDO É MUITO GRANDE»<br />
não disse que ia fechar o escritório. No dia seguinte, havia muitas<br />
notícias de que eu ia fechar o escritório. Admitia – evidentemente,<br />
temos todos de admitir. Se a atividade baixa ou falta, não há mesmo<br />
outra solução, e eu, como alguns outros arquitetos, estou a tentar o<br />
trabalho fora. Eu diria fora da Europa. Na Europa, o único sítio que<br />
eu conheço onde se pode trabalhar com convicção é a Suíça.<br />
Cx: Porquê a Suíça?<br />
Á. S. V.: A começar, talvez, por não pertencer à Comunidade<br />
Europeia, quem sabe. E porque, na Suíça, está a construir-se<br />
muitíssimo. A Suíça recebe bem estes jovens arquitetos portugueses,<br />
porque tem consciência e conhecimento da sua qualidade. Eu fiz um<br />
trabalho na Suíça, recentemente, e foi voltar aos velhos prazeres da<br />
arquitetura, porque realmente não há este sufoco que sucede cá<br />
nos últimos anos, que é a pressa, o improviso, a insegurança na<br />
capacidade de os construtores se manterem, as possíveis interrupções<br />
de obra, etc. Um panorama tenebroso, uma dificuldade de controlo<br />
da obra. Sabe que um arquiteto tem de assinar um documento<br />
a dizer que se responsabiliza por tudo; sem isso, o projeto não<br />
é aceite. Responsabiliza-se por tudo: pelo seu próprio trabalho,<br />
pelo trabalho de toda a restante equipa, engenheiros de diferentes<br />
especialidades, a construção, a qualidade de construção. E na obra<br />
pública, sobretudo embora, por vezes, também aconteça em obras<br />
particulares, paga-se a uma equipa de gestão da obra, que é nomeada<br />
pelo dono da mesma, e que acaba por ter mais poder no controlo<br />
da obra do que o arquiteto que assinou aquele papel. Isto é uma<br />
situação que eu só conheço em Portugal – deve haver noutros países,<br />
mas, na Europa, não creio que haja. Em Espanha, quem autoriza e<br />
assina os pagamentos ao construtor é o arquiteto; aqui não, são as<br />
equipas de gestão de obra. Nós [arquitetos], por vezes, nem sabemos<br />
qual é o custo da obra. Quando eu digo período de reflexão e de<br />
reorganização também refiro coisas deste tipo. O estatuto e a relação<br />
entre os diversos intervenientes na construção estão nas ruas da<br />
amargura.<br />
Cx: Neste contexto, como explica a nova vaga de jovens arquitetos<br />
premiados no estrangeiro, como os 14 projetos finalistas e os três<br />
prémios atribuídos pelo Arch Daily ou do Ateliermob, distinguido, na<br />
Bienal de Veneza, com o prémio Future Cities?<br />
Á. S. V.: Antes de mais, explica-se por haver bons arquitetos jovens.<br />
Depois, há uma maior atividade nesse campo. Há muito mais<br />
prémios do que havia há anos. Na geração antes da minha, era<br />
coisa que, praticamente, não havia. Prémios internacionais eram<br />
poucos e os portugueses não tinham acesso, por razões sabidas,<br />
estavam cá num cantinho. Há toda uma geração antes da minha que<br />
Cx<br />
a revista da caixa<br />
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