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ARQUITETURA

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elação. Tive de fazer concursos para sair do carimbo de habitação<br />

económica, não porque não gostasse, mas por sentir a necessidade<br />

de experimentar outra escala, outra expressão de trabalho. De resto,<br />

nunca andei ansiosamente à procura de fazer este ou aquele projeto.<br />

Cx: Tem um ambiente preferido para trabalhar?<br />

Á. S. V.: Aqui, no Porto, onde estou [edifício com vistas para o<br />

estuário do rio Douro e para o mar]. Mas este não é o meu primeiro<br />

escritório, já estive no centro da cidade. Aqui cria-se, quer dizer, um<br />

estúdio tem um determinado ambiente, que envolve uma equipa,<br />

que está aberta, também, aos demais elementos que estão fora:<br />

engenheiros, especialistas, etc., toda a variedade de técnicos que<br />

participam no projeto.<br />

Cx: Qual considera ter sido o maior desafio profissional da sua<br />

carreira?<br />

Á. S. V.: Cada obra é um desafio. Não há obras fáceis. Todas têm<br />

a sua especificidade, os problemas não são iguais. Muitas vezes,<br />

o ambiente onde se constrói é muito diferente; outras vezes, no<br />

mesmo ambiente, as circunstâncias são diferentes. Todas são difíceis<br />

e todas são um desafio, se se quiser pensar em fazer o melhor que<br />

se pode e que se sabe. Em certos aspetos, há programas que exigem<br />

uma maior coordenação, em que as equipas são mais vastas, o que<br />

é um estímulo, mas pode incluir dificuldades. Depois, há casos em<br />

que a urgência é tal que há uma aceleração no trabalho que é difícil<br />

controlar. Mas todos os trabalhos são um desafio e exigem uma<br />

grande concentração e empenho.<br />

Cx: O que se aprende a ensinar?<br />

Á. S. V.: Aprende-se muito. É fundamental. Nem toda a gente chega<br />

ou pode ou quer chegar ao ensino. É uma atividade complementar<br />

do trabalho profissional, mais direto. Por várias razões. Uma delas<br />

é que é mais presente a ideia do estudo; é preciso estudar para<br />

transmitir alguma coisa. Se houver uma certa preguiça profissional<br />

em manter-se atualizado, ali é mais premente manter-se atualizado.<br />

Depois, porque todos os anos se encontra gente diferente e gente<br />

nova. Na escola, há uma renovação permanente e isso cria, todos os<br />

anos, um período novo de entusiasmo, de sonho, etc.<br />

Cx: Que herança gostaria de deixar?<br />

Á. S. V.: Não gostaria de deixar, gostaria de ficar… mas é impossível.<br />

Não tenho nenhum desejo especial. A alegria de viver, os arquivos<br />

com desenhos, umas obras... Da maneira como estão as coisas, não<br />

ficarão muitas, porque há muitas. E, agora, agravado pela situação<br />

presente, abandonadas, degradadas... Em Portugal, perdeu-se a<br />

cultura da manutenção. Deixa-se que os edifícios entrem em ruínas<br />

e, depois, quando se pensa que há que fazer alguma coisa porque<br />

estão mesmo a cair ou a meter água, já é muito tarde e ou é muito<br />

caro ou é mesmo já inviável. De maneira que não sei se ficam<br />

muitos. Não me preocupo muito com isso. Há muitos abandonados,<br />

o Pavilhão de Portugal, duas obras antigas aqui em Matosinhos,<br />

que estão num estado desgraçado… Há muita coisa muito mal<br />

conservada.<br />

Cx: O que o faz sorrir?<br />

Á. S. V.: O convívio com as pessoas, basicamente, e também,<br />

eventualmente, os momentos de solidão que roçam por coisas<br />

divertidas, mas, sobretudo, o convívio com os amigos e com a família.<br />

Cx: Na Bienal de Arquitetura de Veneza, mencionaram, a propósito<br />

do seu trabalho, que «aparenta seguir numa direção oposta à do resto<br />

da profissão, mas parece estar sempre na frente, intocado e destemido<br />

com os desafios intelectuais e de trabalho que coloca a si mesmo».<br />

Revê-se nesta afirmação?<br />

Á. S. V.: É uma referência muito simpática e generosa, mas não me<br />

sinto numa posição oposta. Há muita gente que trabalha não no<br />

mesmo sentido, do ponto de vista do que faz esteticamente, mas<br />

trabalha no sentido de tentar uma enorme atenção ao problema que<br />

em cada caso encara. Há muita gente assim. Não me sinto nada um<br />

isolado. Em Portugal, há muita gente em relação à qual eu vejo uma<br />

grande identificação.<br />

Cx<br />

a revista da caixa<br />

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