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ARQUITETURA

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54<br />

e<br />

educação<br />

MOBBING<br />

Carga no trabalho<br />

Para lá dos limites físicos, a pressão psicológica exercida<br />

sobre trabalhadores não tem de ser suportada como uma inevitabilidade.<br />

Quando a carga não dá tréguas, há que não se deixar abater<br />

SÓ A ENTRADA, espiada pelos ponteiros do<br />

relógio a anunciar as 9 horas, dá conta da<br />

presença de João. Para lá do limiar da porta<br />

do 2.º andar, tudo o resto grita a ausência.<br />

A secretária e a cadeira há muito que foram<br />

expulsas do espaço que chamava seu, um<br />

entre tantos no labirinto de cubículos. Do<br />

computador e do telefone, só resta a memória<br />

que ficou gravada na fotografia que a parede<br />

ainda não largou, em tributo a tempos mais<br />

felizes. O serviço que durante anos a fio lhe<br />

coube, dizem, deixou de lhe servir, para ir cair<br />

em novos braços. Só ficou o vazio, talhado à<br />

medida de um desespero sem tamanho.<br />

Apesar de fictícia na identidade do<br />

protagonista, a história que aqui se conta<br />

cabe na realidade de um sem-número<br />

de trabalhadores, seja qual for o setor de<br />

atividade. Funcionários que, por mais<br />

empenhados que sejam e capacidades<br />

demonstrem, esbarram numa espiral de<br />

violência que sobre eles se exerce.<br />

Embora essa violência não costume<br />

assumir contornos de maus-tratos físicos,<br />

conhecem-se as mossas que as agressões<br />

psicológicas sistemáticas podem deixar. Se<br />

o fenómeno em causa é, geralmente,<br />

descrito pelo estrangeirismo<br />

mobbing (em inglês, «to<br />

mob» pode significar<br />

Cx<br />

a revista da caixa<br />

Por Ana Rita Lúcio<br />

agredir com violência), em bom português<br />

ele é sinónimo de um ambiente de coação<br />

moral ou psicológica que se abate sobre os<br />

trabalhadores. Muito além das situações em<br />

que o stresse organizacional se intensifica<br />

pontualmente, trata-se de uma gestão das<br />

relações profissionais instilando o terror<br />

psicológico, através de comportamentos<br />

continuados que, inclusivamente, se tendem<br />

a tornar cada vez mais agressivos com o<br />

passar do tempo. Ainda que, habitualmente,<br />

um cenário de mobbing seja protagonizado<br />

por superiores hierárquicos em relação aos<br />

seus subordinados, também podem surgir<br />

casos entre colegas, conduzindo, em todo o<br />

caso, à degradação óbvia das condições de<br />

trabalho e pondo, ainda, em perigo a saúde<br />

física e psicológica do trabalhador.<br />

Precariedade gera (mais) violência<br />

As vítimas desta violência laboral gratuita<br />

são, não raras vezes, alvo de um ataque<br />

que esconde razões mais profundas: forçar<br />

os funcionários a abandonar o seu posto<br />

de trabalho e a organização. Uma pressão<br />

que é tanto mais forte numa conjuntura<br />

económica que tende a enfraquecer as<br />

condições de trabalho, facilitando o abuso<br />

de poder por parte de alguns empregadores,<br />

que, por exemplo, podem pretender reduzir<br />

MOBBING É<br />

SINÓNIMO DE<br />

UM AMBIENTE<br />

DE COAÇÃO<br />

NO TRABALHO<br />

Print<br />

DORES LABORAIS<br />

Se só recentemente ouviu a<br />

expressão mobbing, saiba que<br />

atrás dela se esconde uma<br />

realidade antiga, reconhecida<br />

pela Organização Mundial<br />

de Saúde e pela maioria das<br />

autoridades nacionais para<br />

as condições do trabalho. As<br />

consequências desta forma de<br />

terrorismo laboral são graves<br />

e podem traduzir-se em:<br />

> Baixa autoestima;<br />

> Ansiedade;<br />

> Apatia;<br />

> Problemas de concentração;<br />

> Depressão;<br />

> Isolamento social;<br />

> Alterações de humor;<br />

> Comportamentos<br />

disfuncionais, como<br />

distúrbios alimentares ou<br />

aumento de consumo de<br />

álcool e drogas;<br />

> Suicídio (em casos<br />

extremos).<br />

o número de assalariados sem terem de<br />

recorrer ao despedimento.<br />

O modus operandi neste tipo de situações é<br />

variável. No entanto, mobbing pode traduzir-<br />

-se, como no exemplo fictício do João que<br />

aqui se retratou, no isolamento da vítima, no<br />

esvaziamento do seu conteúdo de trabalho<br />

ou na atribuição de funções para as quais é<br />

sobrequalificada. Ou mesmo na humilhação<br />

perante os colegas, no ataque à sua esfera<br />

profissional ou privada e, ainda, na agressão<br />

verbal ou física, em casos extremos. Ferido<br />

na dignidade e no profissionalismo, é<br />

importante, porém, que quem trabalha saiba<br />

que não está sozinho e que resistir é possível:<br />

o Código do Trabalho proíbe o assédio moral<br />

que crie um «ambiente intimidativo, hostil,<br />

degradante, humilhante ou desestabilizador»<br />

e confere à vítima «o direito a uma<br />

indemnização por danos patrimoniais e não<br />

patrimoniais». Perante uma pressão que não<br />

cede, há que não baixar os braços.<br />

Foto: iStockphoto

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