1 Continuidade e descontinuidade: o debate ao ... - Viverpontocom
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<strong>Continuidade</strong> e des<strong>Continuidade</strong>: o <strong>debate</strong> <strong>ao</strong> longo da história da igreja<br />
O desenvolvimento da teologia escolástica pode ser reconhecido<br />
desde as leis carolíngias, de acordo com as quais as catedrais<br />
tinham a incumbência de prover educação para o clero de sua<br />
diocese. Seu aspecto é claramente discernível a partir do século XIV.<br />
Sem investigar seu desenvolvimento, é suficiente notar que a partir<br />
desse ponto as interpretações do texto da Escritura ficam reunidas<br />
nos comentários da primeira sentença, ou teologias, das quais as<br />
Sentenças de Pedro Lombardo (1100-1160) são notáveis. Além da<br />
Bíblia, fontes de conhecimento cada vez mais crescentes ocasionaram<br />
questionamento mais profundo do texto. A crítica dialética de<br />
Pedro Abelardo (1079-1142) representa essa evolução. Um interesse<br />
específico pelo AT, sua história e interpretação literal da Escritura<br />
é perceptível entre os cânones de São Vítor, em Paris. Certo autor<br />
argumentou que o período de tempo entre 1100 e 1350 é marcado<br />
por um crescente estudo dos textos originais hebraicos da Escritura,<br />
comparável apenas com a obra da Renascença, que focou os textos<br />
originais gregos. Esse interesse é visível em Hugo de São Vítor (1096-<br />
1141). Ele enfatizou as artes liberais como propedêutica à exegese<br />
literal, o ambiente para o desenvolvimento da doutrina. A descoberta<br />
correta da alegoria e da verdade divina veio em seguida, de forma<br />
adequada. Um sentido histórico do texto foi promovido mais radicalmente<br />
por André de São Vítor († 1175). Orientado pela erudição<br />
judaica contemporânea, sua pesquisa o levou a contestar profecias<br />
tipicamente messiânicas como Isaías 7.14-16. Aqui, André seguiu a<br />
interpretação judaica, acreditando não ser “virgem”, e sim “jovem”,<br />
a tradução adequada. Embora muito criticado nesse ponto por seu<br />
contemporâneo Ricardo de São Vítor († 1173), pode-se perceber um<br />
interesse marcante numa leitura histórico-gramatical do AT. 17<br />
A chave para a interpretação foi a capacidade para compreender<br />
o adequado sentido de um texto. Uma terminologia instável,<br />
diferenças no gênero de literatura encontrado e questões sobre<br />
onde terminava a exegese literal e começava a alegórica, tudo<br />
fazia parte do <strong>debate</strong> hermenêutico na Alta Idade Média. Além<br />
disso, quando se juntava os dois Testamentos da Escritura, surgiam<br />
questões sobre as passagens proféticas. O que constituía seu<br />
sentido literal diante da interpretação espiritual? Se a interpretação<br />
literal era básica, em que ponto poder-se-ia ler com legitimidade<br />
uma mensagem profética ou cristológica num texto, uma questão<br />
composta pela retórica antijudaica. Questões como essa levaram<br />
mentes escolásticas a desenvolver abordagens convencionais do<br />
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