1 Continuidade e descontinuidade: o debate ao ... - Viverpontocom
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<strong>Continuidade</strong> e des<strong>Continuidade</strong><br />
literatura hebraica e da Septuaginta, disponível para a igreja, numa<br />
dupla classificação: literatura canônica e apócrifa. Jerônimo sugeriu<br />
a natureza secundária dos livros que formaram a literatura apócrifa,<br />
recomendando que ficassem entre os Testamentos, mas que fossem<br />
usados para a edificação moral, não como doutrina. Muitas de suas<br />
sugestões, como a segregação do cânon dos apócrifos, não foram<br />
colocadas em prática até o tempo da Reforma. Autor de numerosos<br />
comentários bíblicos, Jerônimo recebeu influência de Orígenes. Ele<br />
deu uma interpretação espiritual a muito do AT, buscando alinhá-lo<br />
com o NT, e, por meio disso, tratou de aparentes antropomorfismos,<br />
inconsistências e erros. Seus comentários sobre Oseias e Apocalipse<br />
revelam certa dificuldade com o primeiro e temor do literalismo<br />
judaico no último. No fim da vida, cresceram as dúvidas de Jerônimo<br />
quanto a Orígenes e <strong>ao</strong> alegorismo em geral. 11<br />
Agostinho (354-430) domina o período. Sua compreensão da<br />
Escritura e perspectiva da história darão forma à igreja medie val.<br />
Vários estágios marcaram a passagem de Agostinho à fé em Cristo.<br />
Cada um deles deixou sua marca sobre a interpretação do texto. No<br />
começo, submetido pelos arcaísmos e infelicidades do tex to, Agostinho<br />
foi impelido para o dualismo maniqueísta com a denegação do AT.<br />
Isso foi seguido por um período de ceticismo acadêmico anterior<br />
<strong>ao</strong> seu despertar cristão (386), o qual foi estimulado pelo neoplatonismo<br />
de Ambrósio de Milão (c. 339-397). A interpretação alegórica<br />
de Ambrósio ajudou Agostinho a aceitar a Escritura sem dificuldade.<br />
Em sua própria obra, Agostinho fazia uso frequente do alegorismo.<br />
Esse tom sobre o valor espiritual do texto (2Co 3.6) enfatizava<br />
a verdade subjacente por trás dos símbolos de expressão. Essa<br />
verdade podia ser vista por meio de múltiplos significados no texto,<br />
dados pelo Espírito e discernidos pelo exegeta espiritual.<br />
O neoplatonismo aparente na obra inicial de Agostinho seria<br />
desafiado em suas premissas filosóficas em virtude do grande<br />
respeito desse teólogo pela Escritura. As palavras da Escritura,<br />
sinais que apontavam para a única coisa verdadeira (Deus), foram<br />
necessárias desde a queda. Somente elas davam conhecimento verdadeiro<br />
do caminho para Deus e, daí, à plenitude do amor. A importância<br />
do texto da Escritura, junto com o crescente corpo da igreja<br />
de conclusões metafísicas, foi ordenada por Agostinho, que adotou<br />
as regras de interpretação de Ticônio. Estas buscaram relacionar a<br />
Bíblia toda a Cristo, à igreja ou a seus opostos. Agostinho resumiu<br />
seu ponderado pensamento hermenêutico na obra Sobre a doutrina<br />
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