1 Continuidade e descontinuidade: o debate ao ... - Viverpontocom
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<strong>Continuidade</strong> e des<strong>Continuidade</strong>: o <strong>debate</strong> <strong>ao</strong> longo da história da igreja<br />
cristã (427), um texto que se tornaria o guia hermenêutico padrão<br />
para os mil anos seguintes. Como ele escreveria em outra parte: “O<br />
NT está escondido no AT, e no NT o AT está revelado”. 12<br />
Da experiência pessoal de Agostinho e da compreensão da interrelação<br />
dos Testamentos cresceu uma visão da história, esboçada em<br />
A cidade de Deus (XV–XXII), que moldaria a vida da igreja. Agostinho<br />
percebeu na Escritura uma linha progressiva da his tória divina e da<br />
profecia movendo-se por meio de uma série de períodos históricos e<br />
culminando no período de Cristo, o sexto período da igreja. Ao longo<br />
desse tempo existiram dois grupos de pessoas que formavam duas<br />
cidades – uma dedicada <strong>ao</strong> amor deste mundo. A outra, a Deus. O<br />
último período histórico, o da igreja, continuaria até o dia do julgamento.<br />
Agostinho, <strong>ao</strong> lutar com o entendimento tradicional do<br />
milênio (Ap 20.3), um tempo em que as promessas a Israel seriam<br />
realizadas, rejeitou o que sentiu ser o literalismo crasso de muitos<br />
de seus predecessores. Em vez disso, ele seguiu Orígenes, oferecendo<br />
uma interpretação espiritual. Foi o tempo simbolizado pela<br />
vida presente da igreja, experimentada por aqueles que, tendo<br />
aceitado a Cristo, vivem sob sua influência geral. Esse milênio<br />
espiritualizado diferiu em suas implicações políticas das ideias<br />
antes apresentadas por Eusébio de Cesareia (c.260-c. 340), no<br />
Oriente cristão. Ali, as promessas dadas a Israel pareciam ser mais<br />
imediata e diretamente aplicáveis à existência do império eclesial<br />
já estabelecido. 13<br />
Agostinho argumentou que a Escritura é melhor compreendida<br />
dentro da igreja. A disposição impositiva aqui promovida<br />
oferecia pouco espaço para mais exploração exegética, pelo menos<br />
no futuro imediato. A atitude predominante foi resumida por Vicente<br />
de Lérins († c. 450) em seu Commonitorium [O Comunitório]: “Quod<br />
ubique, quod semper, quod ab omnibus creditum est” (O que é crido<br />
em toda parte, sempre, e por todo mundo). A obra exegética de<br />
Jerônimo, a teologia de Agostinho e o propósito moral encontrado<br />
nos comentários de Gregório, o Grande (c. 540-604) conferiram<br />
uma marca confiável para uma visão geralmente alegórica do AT<br />
em relação <strong>ao</strong> NT e um senso suavemente progressivo da história.<br />
O AT tornou-se frequentemente um repositório de instrução moral<br />
e fonte de informações de textos comprobatórios, proféticos e alegóricos<br />
para a verdade do cristianismo. Esse estilo de interpretação<br />
é particularmente evidente nos comentários de Gregório sobre Jó,<br />
Ezequiel, 1 e 2Reis e partes dos Evangelhos. 14<br />
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