O grande ditador - Fonoteca Municipal de Lisboa
O grande ditador - Fonoteca Municipal de Lisboa
O grande ditador - Fonoteca Municipal de Lisboa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
SÃO<br />
LUIZ<br />
NOV~1O<br />
8 A 13 NOV<br />
BLIND DATE<br />
OLGA RORIZ coreografia e interpretação<br />
CLÁUDIA VAREJÃO filme<br />
IRENE LIMA violoncelo<br />
JARDIM DE INVERNO<br />
CO-PRODUÇÃO DUPLA CENA<br />
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA A DEFINIR<br />
Genesis<br />
P-Orridge<br />
(à direita)<br />
abandonou<br />
o grupo, mas nos Throbbing Gristle, agente infiltra-<br />
não há nada do dos artistas num outro meio, mais<br />
a temer: Fanni distante das galerias <strong>de</strong> arte, mais...<br />
Tutti, Peter pop – Orridge estava encantado com<br />
Christopher a fama tal como Warhol a entendia.<br />
son e Chris Levaram com eles as mesmas fixações<br />
Carter actuam com a violência sobre todas as formas<br />
hoje no Porto (dominação sexual, “serial killers”,<br />
sob a<br />
pedofilia, imagens e referências na-<br />
<strong>de</strong>signação zis).<br />
X-TG Tácticas <strong>de</strong> choque? Não, respon<strong>de</strong><br />
Cosey Fanni Tutti, por e-mail: “Os<br />
Throbbing Gristle usaram esse material<br />
como fonte para vários projectos,<br />
mas <strong>de</strong> forma muito honesta e com<br />
fins humanitários. O lado feio da raça<br />
humana é tão importante como o belo.<br />
Enten<strong>de</strong>r o nosso uso <strong>de</strong>ssas imagens<br />
como tácticas <strong>de</strong> choque é um<br />
equívoco e po<strong>de</strong> ser visto como uma<br />
falta <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> para enfrentar<br />
as realida<strong>de</strong>s da nossa cruelda<strong>de</strong><br />
para os outros. Na altura, muito da II<br />
Guerra e outras atrocida<strong>de</strong>s foram<br />
varridas para <strong>de</strong>baixo do tapete. É<br />
importante não negar a história e a<br />
cruelda<strong>de</strong> inexplicável e apren<strong>de</strong>r<br />
com ela. Apren<strong>de</strong>r não é possível se<br />
a ignorarmos”.<br />
Psica<strong>de</strong>lia invertida<br />
O jornalista inglês Simon Reynolds<br />
BLIND<br />
e é, na maior parte dos casos, pouco<br />
<strong>de</strong>safiante, uma mera forma <strong>de</strong> rock<br />
com a qual os Gristle não se i<strong>de</strong>ntificam.<br />
“O tipo <strong>de</strong> música que as pessoas<br />
enten<strong>de</strong>m como ‘industrial’ não<br />
tem nada a ver com a forma como nós<br />
vemos a música industrial. Para nós,<br />
industrial não são sons maquinais duros<br />
metidos numa construção básica<br />
<strong>de</strong> rock’n’roll martelada numa audiência.<br />
Temos uma subtileza na nossa<br />
abordagem ao som que tem mais a<br />
ver com a construção <strong>de</strong> música clássica<br />
do que com o rock’n’roll”, acrescenta.<br />
DATE<br />
Segunda vida<br />
Em 1981, os Gristle anunciaram que a<br />
“missão estava acabada” e partiram<br />
para outros projectos, como os Psychic<br />
TV e os Coil. Em 2004, o longo silêncio<br />
foi interrompido, com “TG Now”, uma<br />
edição limitada. Em 2007, lançaram<br />
“Part T wo” e no ano seguinte voltaram<br />
aos concertos. E eis os outrora<br />
“<strong>de</strong>struidores da civilização”, com a<br />
aura <strong>de</strong> respeitabilida<strong>de</strong> que os anos<br />
costumam dar, a serem convidados<br />
para tocar em instituições como o Institute<br />
of Contemporary Arts, <strong>de</strong> Londres,<br />
que 34 anos antes os tinha banido<br />
<strong>de</strong>vido ao escândalo “Prostitution”<br />
tem uma tese, que incluiu no livro<br />
essencial sobre o pós-punk “Rip It and<br />
Start Again”: “a música industrial do<br />
final dos anos 70 foi o segundo <strong>de</strong>sa-<br />
dos COUM Transmission.<br />
“Os Throbbing Gristle e eu sempre<br />
nos infiltramos no ‘establishment’ <strong>de</strong><br />
qualquer forma, estar envolvido com<br />
ensaios públicos apresentações finais<br />
8 A 1O NOV<br />
12 E 13 NOV<br />
SEGUNDA A QUARTA SEXTA E SÁBADO<br />
ÀS 21H00<br />
ÀS 23H30<br />
brochar <strong>de</strong> uma ‘psica<strong>de</strong>lia’ autênti- ele não é nada <strong>de</strong> novo. O que é novo<br />
ca”. “A <strong>gran<strong>de</strong></strong> diferença (e o que tor- é que eles agora aceitam a nossa conna<br />
o industrial uma ‘psica<strong>de</strong>lia’ ‘autêntica’<br />
e não um mero revivalismo)<br />
tribuição para a cultura, mesmo que<br />
retrospectivamente. Foi sempre isso<br />
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL<br />
RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA<br />
GERAL@TEATROSAOLUIZ.PT; TEL: 213 257 640 www.teatrosaoluiz.pt<br />
BILHETEIRA DAS 13H00 ÀS 20H00<br />
TEL: 213 257 650<br />
BILHETEIRA@TEATROSAOLUIZ.PT<br />
é que o industrial substituiu beijar o<br />
céu por fitar um abismo cósmico. O<br />
industrial é a ‘psica<strong>de</strong>lia’ invertida:<br />
uma longa ‘trip’ <strong>de</strong>primente”, escreveu.<br />
No “ethos” industrial, como os Gristle<br />
o concebiam, não cabia o domínio<br />
que aconteceu com trabalho <strong>de</strong>safiante.<br />
Não nos comprometemos, somos<br />
ainda os mesmos, as instituições é que<br />
mudaram, talvez haja novo sangue<br />
nas curadorias. Vemos tocar nesses<br />
sítios como uma oportunida<strong>de</strong> para<br />
disseminar as nossas i<strong>de</strong>ias, como<br />
SÃO<br />
LUIZ<br />
NOV~1O<br />
co-produção<br />
técnico. Trinta e cinco anos <strong>de</strong>pois, sempre fizemos. Não restringimos as<br />
ainda não sabem tocar nenhum ins- nossas plataformas operacionais”.<br />
trumento (pelo menos segundo os Os tempos duros da Inglaterra <strong>de</strong><br />
livros). É uma questão vital para o<br />
grupo continuar a ser <strong>de</strong>safiante, reflecte<br />
Tutti. “Liberta-te das formas<br />
estabelecidas <strong>de</strong> pensar e construir<br />
música. Conheço músicos que apren<strong>de</strong>ram<br />
música convencionalmente<br />
para quem é impossível improvisar.<br />
Margaret Thatcher que os Gristle encontraram<br />
quando puseram a cabeça<br />
<strong>de</strong> fora encontram “semelhanças”<br />
com a austerida<strong>de</strong> prometida por David<br />
Cameron, diz Tutti. “De certa forma<br />
há semelhanças entre a situação<br />
política que temos hoje no Reino Uni-<br />
se fores apanhado<br />
nos sonhos dos<br />
outros, estás feito.<br />
Quando não têm uma partitura agarram-se<br />
a acor<strong>de</strong>s que apren<strong>de</strong>rem e<br />
que estão metidos no seu subconsciente.<br />
Isso é incrivelmente restritivo<br />
do ponto <strong>de</strong> vista criativo. Gosto <strong>de</strong><br />
respon<strong>de</strong>r a um som na sua forma<br />
essencial, não da forma como foi categorizado”.<br />
Esta atitu<strong>de</strong> levou os Gristle a criar<br />
o seu equipamento, tornando-se pioneiros<br />
na utilização e manipulação <strong>de</strong><br />
sons pré-gravados em palco. A cave<br />
do grupo em Londres tornou-se um<br />
laboratório, no qual experimentavam<br />
com diferentes frequências sonoras,<br />
sempre com o volume a níveis brutais.<br />
“Não existia equipamento que produzisse<br />
os sons que ouvíamos nas<br />
do, que é volátil como era nos anos<br />
1970. Agora temos um governo conservador<br />
a meter a sua i<strong>de</strong>ologia pela<br />
garganta abaixo da <strong>gran<strong>de</strong></strong> maioria<br />
que não votou neles”, lamenta. “O<br />
lado positivo <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> austerida<strong>de</strong><br />
política e social é que historicamente<br />
está provado ser um ambiente<br />
fértil para a inovação artística em todas<br />
as formas”.<br />
Para Tutti, há ainda um “lado <strong>de</strong><br />
lá”, o lado dos “outsi<strong>de</strong>rs”, como eles,<br />
“porque a natureza humana não se<br />
presta à homogeneida<strong>de</strong>”. “Da forma<br />
que eu vejo, os Throbbing Gristle são<br />
ainda radicais, da mesma forma que<br />
éramos nos anos 1970. Ainda não nos<br />
conformamos com as <strong>de</strong>finições ha-<br />
Encontros<br />
<strong>de</strong> Novas<br />
Dramaturgias<br />
Contemporâneas<br />
15 a 17 Novembro<br />
segunda a quarta a partir<br />
das 10h00 e pela noite <strong>de</strong>ntro<br />
nossas cabeças. Acontece o mesmo<br />
hoje. Temos equipamento que não<br />
está disponível comercialmente e usabituais<br />
<strong>de</strong> ‘música’”, diz. “Penso que<br />
o termo [“radical”] é ainda válido e<br />
provavelmente muito apto consi<strong>de</strong>-<br />
sala principal e jardim <strong>de</strong> inverno<br />
entrada livre m/12<br />
mos computadores e programas informáticos<br />
<strong>de</strong> formas que não é surando<br />
a situação mundial. Seria <strong>de</strong><br />
esperar que o radicalismo pusesse a<br />
programação em www.teatrosaoluiz.pt e http://colectivo84.blogspot.com<br />
posto fazer. Acontece o mesmo com cabeça fora do parapeito e <strong>de</strong>sse um<br />
qualquer equipamento, é a forma co- bom abanão a alguns dos loucos que<br />
mo usas que importa”, refere. exercem o po<strong>de</strong>r”.<br />
O exemplo dos Throbbing Gristle<br />
inspirou artistas a fazerem música<br />
Seja como Throbbing Gristle, X-TG<br />
ou outro nome, po<strong>de</strong>mos contar com<br />
apoios<br />
Projecto<br />
financiado<br />
com o apoio<br />
da Comissão<br />
Europeia<br />
O Colectivo 84<br />
é uma estrutura<br />
financiada por<br />
industrial. Contudo, o resultado era eles para isso.<br />
Ípsilon • Sexta-feira 5 Novembro 2010 • 19