13.04.2013 Views

O grande ditador - Fonoteca Municipal de Lisboa

O grande ditador - Fonoteca Municipal de Lisboa

O grande ditador - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

tanto invoca Pitágoras como parodia<br />

Chandler ou cita o Talmu<strong>de</strong>. Mas a<br />

erudição vem sempre aliada a uma<br />

multiplicação <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong><br />

vida. Mesmo que sejam vidas<br />

imaginadas.<br />

A princípio, o romance parece<br />

razoavelmente “realista”, a história<br />

<strong>de</strong> um homem que tem uma loja <strong>de</strong><br />

pássaros, Bonifaz Vogel, <strong>de</strong> um<br />

rapaz ju<strong>de</strong>u que se escon<strong>de</strong> na cave<br />

do comerciante, Isaac Dresner, e <strong>de</strong><br />

uma judia com chagas que se junta<br />

àquela família improvisada, Tsilia<br />

Kacev. A acção passa-se em Dres<strong>de</strong>n,<br />

arrasada pela aviação dos Aliados<br />

em Fevereiro <strong>de</strong> 1945.<br />

Rapidamente percebemos, no<br />

entanto, que não haverá “acção”, e<br />

que mesmo o tema “Dres<strong>de</strong>n” serve<br />

apenas como ícone da existência do<br />

mal no mundo. A verda<strong>de</strong> é que a<br />

narrativa avança, quase sempre em<br />

capítulos curtos, e já estamos com<br />

Mathias Popa, um escritor sem<br />

sucesso que um dia roubou um<br />

manuscrito a Thomas Mann e o<br />

publicou como se fosse seu. Seguese,<br />

paginado quase como um livro<br />

<strong>de</strong>ntro do livro, uma obra <strong>de</strong> Popa,<br />

acerca <strong>de</strong> família chamada Varga. E<br />

o último terço <strong>de</strong> “A Boneca <strong>de</strong><br />

Kokoschka” é precisamente sobre a<br />

família Varga.<br />

As personagens procuram-se<br />

umas às outras, e tudo acaba sempre<br />

nalguma forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>sencontro. Às<br />

vezes não é claro o que é real ou<br />

ficcionado, porque surgem várias<br />

profissões <strong>de</strong> fé na ficção como<br />

melhor amiga do homem. Nalguns<br />

casos, isso funciona, <strong>de</strong>ntro da<br />

narrativa, como estratégia literária,<br />

igual à daquele editor que<br />

encomenda biografia imaginárias,<br />

<strong>de</strong>pois encomenda livros fictícios<br />

dos biografados e até encomenda<br />

biografias dos biógrafos. Cruz faz a<br />

apologia da escrita labiríntica, em<br />

que realida<strong>de</strong> e ficção se<br />

confun<strong>de</strong>m; mas também nos diz<br />

que a visão do mundo é uma<br />

acumulação <strong>de</strong> visões parciais<br />

sobrepostas. E algumas <strong>de</strong>las<br />

imaginadas.<br />

O livro lê-se pois como uma<br />

sucessão <strong>de</strong> invenções ficcionais e<br />

ficcionadas, em registo geralmente<br />

poético ou irónico. È às vezes<br />

frustrante seguir os percursos<br />

cruzados ou interrompidos das<br />

personagens, tanto há<br />

caracterização psicológica como<br />

falta <strong>de</strong>la, mas nunca escasseiam<br />

boas i<strong>de</strong>ias e observações insólitas.<br />

Há pessoas classificadas como notas<br />

musicais, a morte que é uma<br />

máquina que lê códigos <strong>de</strong> barras,<br />

uma prostituta que faz <strong>de</strong>scontos a<br />

homens <strong>de</strong> esquerda. E perguntas.<br />

Quem sepultará o último homem?<br />

Porque não crescem árvores <strong>de</strong>ntro<br />

dos pássaros? Porque é que uma<br />

frágil folha só se dobra no máxim máximo<br />

quatro vezes?<br />

“A Boneca <strong>de</strong> Kokoschka” é uma um<br />

espécie <strong>de</strong> livro-jogo, recomendável<br />

recomendá<br />

pela sua feição imaginativa e lúdi lúdica,<br />

não obstante a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

paixões tristes que conta. Talvez seja<br />

um romance falhado, mas sobretudo sobret<br />

revela alguma inaptidão do género géne<br />

romanesco para este tipo <strong>de</strong><br />

ficção borgesiana. Borges, já j se<br />

sabe, nunca escreveu<br />

romances.<br />

Pedro Mexia<br />

umas às outras, e tudo acaba sempre Porque não crescem árvores <strong>de</strong>n<br />

Afonso Cruz<br />

é realizador<br />

<strong>de</strong> fi lmes <strong>de</strong><br />

animação,<br />

ilustrador,<br />

músico,<br />

agricultor,<br />

e os seus<br />

textos seguem<br />

sempre pelas<br />

mais diversas<br />

direcções<br />

21:00 SALA SUGGIA<br />

Emilio Pomàrico direcção musical<br />

Noa Frenkel contralto<br />

Jonathan Ayerst piano<br />

Obras <strong>de</strong> Wolfram Schurig,<br />

Mark André, Emmanuel Nunes<br />

e Franco Donatoni<br />

MECENAS CASA DA MÚSICA<br />

APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA<br />

SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL COMPLETO NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM<br />

CONVITE DUPLO PARA ESTE CONCERTO. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES.<br />

www.casadamusica.com | T 220 120 220<br />

Ípsilon • Sexta-feira 5 Novembro 2010 • 49

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!