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<strong>Vinho</strong> na Academia<br />
Nem só de Malbec<br />
vive a Argentina<br />
Carlos Arruda<br />
Academia do <strong>Vinho</strong><br />
arruda@jornalvinhoecia.com.br<br />
Visitando a 12ª edição do salão<br />
Wines of Argentina em Belo<br />
Horizonte, decidi me concentrar<br />
nos vinhos brancos.<br />
Detentores do monopólio dos vinhos<br />
da uva Malbec no mundo, os vinicultores<br />
argentinos se encontram hoje em uma<br />
situação ao mesmo tempo difícil e confortável:<br />
se por um lado as boas condições de<br />
produção garantem Malbecs interessantes<br />
a preços muito competitivos, a profusão<br />
de vinícolas com produtos similares nas<br />
faixas inferior e mediana de preço é um<br />
desafi o para quem quer se destacar.<br />
Em uma mostra com 16 vinícolas, pelo<br />
menos 100 Malbecs estavam disponíveis,<br />
mas os destaques não são muitos. Nãaao,<br />
eu não disse que os demais não eram bons,<br />
mas que se destacar não é fácil.<br />
Pois neste ano eu me dediquei a conhecer<br />
em detalhes os brancos argentinos<br />
(pelo menos os que estavam disponíveis)<br />
e as conclusões foram interessantes e<br />
relativamente surpreendentes.<br />
Apenas para não perder a oportunidade,<br />
volto a insistir no comportamento<br />
ideal em uma mostra de vinhos: aproveite<br />
a diversidade, experimente o que você não<br />
conhece (mesmo que os bons conhecidos<br />
estejam lá), converse com os enólogos que<br />
viajaram para te servir vinho de graça, informe-se,<br />
e, sobretudo - não beba demais,<br />
não peça apenas o “Top” não insista em<br />
repetir aquele Gran Reserva, não seja<br />
inconveniente!<br />
Já na abertura do salão havia alguns<br />
“malas” falando alto, batendo papo,<br />
bebendo rapidamente tintos opulentos<br />
e alcoólicos, como se estivessem numa<br />
14<br />
festa de família. Em meia hora já estavam<br />
bêbados e passaram as restantes 3 horas<br />
piorando seu estado, chateando a todos e<br />
envergonhando nossa cidade... O recado<br />
está dado!<br />
Fui procurar os Chardonnays presentes,<br />
pois imaginei ser a tônica entre os<br />
brancos. Primeira surpresa: a maioria de<br />
brancos era de Sauvignon Blanc, seguida<br />
dos autóctones Torrontés, Viognier, Chenin<br />
e Sémillon.<br />
Segunda surpresa: diversos espumantes,<br />
e logo pensei na forte liderança de<br />
nossas bolhas em relação às portenhas.<br />
Pois honra seja feita, os espumantes<br />
argentinos melhoraram muito. Te cuida,<br />
Serra Gaúcha!<br />
Vejamos então os vinhos que me<br />
agradaram.<br />
Alta Vista Torrontés Premium (R$35),<br />
com 14% de álcool (!) mostrou-se fresco,<br />
com boa estrutura e persistência, frutas<br />
maduras, um novo estilo. Fazem três<br />
colheitas, precoce, normal e tardia e<br />
misturam os resultados para obter frescor,<br />
estrutura e complexidade. Bastante<br />
moderno e atípico!<br />
Benvenuto de la Serna mostrou um<br />
Viognier (R$ 31) bastante fl oral, aromático<br />
e elegante e também um rosé de Cabernet<br />
Sauvignon e Malbec, com fruta bem<br />
elegante, leve fl oral, bom para comidas.<br />
Ambos por R$31, super honestos.<br />
Bodegas Septima mostrou um espumante<br />
de Chardonnay-Sémillon de boa<br />
cremosidade, com leveduras e tostados,<br />
um tanto doce na boca, mas agradável.<br />
Já o seu branco do mesmo corte estava<br />
bem típico, sem madeira, suculento e<br />
fresco, ótimo equilíbrio. Por R$19 é ótima<br />
pedida.<br />
A cooperativa Fecovita encantou com<br />
um Chardonnay rico, elegante, franco,<br />
com boa persistência e frutas frescas,<br />
que por R$ 19 é o campeão do custobenefício.<br />
A Finca El Origen mostrou um Torrontés<br />
- vinhedos em Salta a 1300m<br />
- bastante aromático e fresco, leve, mais<br />
típico. Já o seu Viognier do Valle de Uco<br />
(1200m) é untuoso, denso, com notas<br />
de madeira (repousa em chips), bastante<br />
gastronômico.<br />
La Riojana, ainda não representada<br />
por aqui, mostrava um inusitado espumante<br />
de Torrontés elaborado com método<br />
Asti (7,8% álcool) fl oral, bom equilíbrio<br />
entre frescor e doçura e boa persistência.<br />
Inovação! Também deles um Torrontés<br />
bastante fl oral, com boa acidez, persistente,<br />
mas um pouco “duro”.<br />
Nieto Senetiner mostrou competência<br />
com um Chardonnay-Viognier (R$63),<br />
persistente, pleno de frutas maduras e<br />
leve madeira, ótima estrutura. O preço é<br />
um pouco alto para um branco em nosso<br />
mercado, mas está correto. Já seu Espumante<br />
Nature (R$36) tem ótimo custo<br />
benefício: bolhas abundantes, bastante<br />
enxuto e persistente, com frutas maduras<br />
e acidez equilibrada. Honestíssimo.<br />
Bodega Norton surpreendeu com seu<br />
lançamento, um espumante Chardonnay<br />
(R$45) muito cremoso, com boa estrutura,<br />
acidez elegante. Seu Sauvignon Blanc estava<br />
bastante típico, com acidez elegante<br />
e bom equilíbrio.<br />
A Trapiche mostrou um espumante de<br />
Chardonnay, Sémillon e 10% de Malbec,<br />
com aromas de pão tostado, bastante<br />
fresco, muitas bolhas e cremosidade e<br />
um curioso fi nal de boca que lembra um<br />
vinho tinto.<br />
Saldo positivo para brancos argentinos:<br />
as principais descobertas foram<br />
os Torrontés estruturados (fugindo da<br />
tipicidade) e os bons espumantes, o que<br />
mostra uma evolução dos produtores para<br />
produtos além do Malbec.<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 41