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o Barbalho e o Sanches, como podia da afeição do Alves desterrar-me uma légua.<br />
Dependia tudo do adiantamento.<br />
Como compensação destas desvantagens havia os telégrafos e a<br />
correspondência de mão em mão. Os fios telegráficos eram da melhor linha de<br />
Alexandre 80, sutilíssimos e fortes, acomodados sob a tábua das carteiras, mantidas<br />
por alças de alfinete. Em férias desarmavam-se. Dois amigos interessados em<br />
comunicar-se estabeleciam o aparelho; a cada extremidade, um alfabeto em fita de<br />
papel e um ponteiro amarrado ao fio; legitimo Capanema. Tantas as linhas, que as<br />
carteiras vistas de baixo apresentavam a configuração agradável de citaras<br />
encordoadas, tantas, que às vezes emaranhava-se o serviço e desafinava a citara<br />
dos recadinhos em harpa de carcamano.<br />
Havia o gênio inventivo no <strong>Ateneu</strong>, esperanças de riqueza, por alguma<br />
descoberta milagrosa que o acaso deparasse à maneira do pomo de Newton.<br />
Ocorre-me um perspicaz que contava fazer fortuna com um privilégio para explorar<br />
ouro nos dentes chumbados dos cadáveres, uma mina! Foi assim a invenção<br />
malfadada do telégrafo-martelinho. Tantas pancadinhas, tal letra; tantas mais, tantas<br />
menos, tais outras. Os inventores achavam no sistema dos sinais escritos a<br />
desvantagem de não servir à noite. O elemento base desta reforma era uma confiança<br />
absoluta na surdez dos inspetores; aventuroso fundamento, como se provou.<br />
As primeiras pancadinhas passaram; apenas os estudantes mais próximos<br />
sorriam disfarçando. Mas o martelinho continuou a funcionar e ganhou coragem. No<br />
silêncio da sala, gotejavam as pancadas, miúdas, como o debicar de um pintainho<br />
no soalho.<br />
No alto da tribuna, o Silvino coçou a orelha e ficou atento; começava a<br />
implicar com aquilo. Silêncio... silêncio, e as pancadinhas de vez em quando.<br />
Foi o diabo. Inesperadamente precipitou-se do alto assento como um abutre,<br />
e com a finura do oficio foi cair justo sobre o melhor de um despacho. Seguiu-se a<br />
devastação. Examinando a carteira, descobriu a rede considerável dos outros<br />
telégrafos. Foi tudo raso. Brutal como a fúria, implacável como a guerra — oh Havas!<br />
— o Silvino não nos deixou um fio, um só fio ao novelo das correspondências! De<br />
carteira em carteira, por entre pragas, arrancou, arrebentou, destruiu tudo, o<br />
vândalo, como se não fosse o fio telegráfico listrando os céus a pauta larga dos<br />
hinos do progresso e a nossa imitação modesta uma homenagem ao século.<br />
A violência não fez mais que aumentar o tráfego dos bilhetinhos e suspender<br />
temporariamente a telegrafia.<br />
De mão em mão como as epístolas, corriam os periódicos manuscritos e os<br />
romances proibidos. Os periódicos levavam pelos bancos a troça mordaz, aos<br />
colegas, aos professores, aos bedéis: mesmo a pilhéria blasfema contra Aristarco,<br />
uma temeridade. Os romances, enredados de atribulações febricitantes, atraindo no<br />
descritivo, chocantes no desenlace, alguns temperados de grosseira sensualidade,<br />
animavam na imaginação panoramas ideados da vida exterior, quando não há mais<br />
compêndios, as lutas pelo dinheiro e pelo amor, o ingresso nos salões, o êxito da<br />
diplomacia entre duquesas, a festejada bravura dos duelos, o pundonor de espada à<br />
cinta; ou então o drama das paixões ásperas, tormentos de um peito malsinado e<br />
sublime sobre um cenário sujo de bodega, entre vômitos de mau vinho e palavradas<br />
de barregã sem preço.<br />
Com a proximidade das férias de ano, tudo desaparecia. O aborrecimento<br />
imperava.<br />
A impaciência da expectativa de livramento fazia intolerável a reclusão dos<br />
últimos dias.<br />
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