Guia para professores e alunos - Vídeo nas Aldeias
Guia para professores e alunos - Vídeo nas Aldeias
Guia para professores e alunos - Vídeo nas Aldeias
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Se os Ashaninka partici<strong>para</strong>m da extração do caucho, não integraram,<br />
no entanto, a economia extrativista da seringa como mão de obra seringueira,<br />
contrariamente aos outros grupos indíge<strong>nas</strong> do Acre. A organização<br />
do trabalho e o crescimento populacional dos seringais necessitavam mãode-obra<br />
exterior que pudesse abastecer os barracões em alimentos e outros<br />
produtos. Os Ashaninka do rio Amônia integraram a economia da borracha,<br />
oferecendo novos serviços aos patrões, integrando-se assim ao sistema<br />
do aviamento que regulava as transações comerciais na região. Além do<br />
caucho progressivamente em declínio, a principal atividade desempenhada<br />
pelo grupo até a década de 1970, em troca de mercadorias, era a caça de<br />
animais silvestres que fornecia tanto a carne como as peles.<br />
Abundantes em seringa, as margens do curso inferior do Amônia, do<br />
município de Marechal Thaumaturgo, foram progressivamente ocupadas<br />
pelos seringueiros nordestinos, a partir do final do século XIX. Além<br />
de ser rico em caça, pesca e madeiras nobres, o médio e alto Amônia brasileiro,<br />
caracteriza-se pela ausência de seringueiras, sendo essa parte<br />
pouco cobiçada pelos brancos até a década de 1970 e a intensificação da<br />
exploração madeireira.<br />
exploração madeireira e luta pela terra<br />
Distantes dos centros urbanos e dos eixos rodoviários, os Ashaninka não<br />
sofreram diretamente e de maneira intensiva os efeitos da expansão com a<br />
economia agropecuária que caracterizou a “segunda conquista” do Acre na<br />
década de 1970. No Médio e Alto rio Amônia, sofreram a invasão da exploração<br />
madeireira. Essa atividade<br />
desenvolveu-se a par tir<br />
da década de 1970 e intensi-<br />
ficou-se nos anos 80, multi-<br />
plicando o contato dos Ashaninka<br />
com a sociedade branca<br />
regional.<br />
A abundância de madeira<br />
de lei, principalmente na<br />
parte ocupada pelos Asha-<br />
ninka, valeu regionalmente ao Amônia o apelido de “rio da madeira”. A intensificação<br />
da exploração madeireira na década de 1980, com invasões<br />
mecanizadas e cortes em grande escala, trouxe conseqüências desastrosas<br />
<strong>para</strong> o meio ambiente e a população nativa. Os Ashaninka e os posseiros<br />
brancos atuavam na base desse sistema como simples mão-de-obra, e os<br />
Ashaninka afirmam que uma tora de mogno podia ser trocada por um quilo<br />
de sal ou de sabão.<br />
Os Ashaninka referem-se a essa época como um período de penúria e de<br />
fome, contrapondo-a à situação de fartura que existia no Alto Amônia quando<br />
eles viviam mais isolados dos brancos. Durante a década da madeira, o ritual<br />
do piyarentsi era freqüentemente invadido pelos posseiros, acusados de<br />
embriagar os índios com cachaça e de abusar sexualmente das mulheres.<br />
Em razão da presença dos brancos, a freqüência do piyarentsi e do kamarãpi<br />
diminuiu; alguns Ashaninka também deixaram de usar a kushma e<br />
passaram a vestir-se como os regionais; a língua nativa era discriminada e<br />
muitos homens, constantemente solicitados no corte de madeira ou em<br />
outras tarefas a serviço dos brancos, deixaram progressivamente de fazer<br />
seu artesanato, de tal forma que certas peças, exclusivamente produzidas<br />
por eles, como o arco, as flechas e o chapéu, quase desapareceram.<br />
Todavia, se os índios se referem ao “tempo da madeira” como um período<br />
de grandes dificuldades, eles ressaltam também que foi ele que deu origem<br />
à organização da comunidade e à união do grupo na luta pelos seus<br />
direitos. Nesse processo, a luta pela demarcação da terra é considerada um<br />
momento decisivo que lhes permitiu livrar-se da dependência dos patrões<br />
e reconquistar sua liberdade.<br />
O indigenismo oficial começa realmente a atuar no Amônia a partir de<br />
meados da década de 1980, no auge da exploração madeireira. Nesse contexto,<br />
a intervenção da Funai é vista como o início de uma nova era: “o tempo<br />
dos direitos”, marcado pela conscientização política, a luta territorial e a<br />
expulsão dos brancos.<br />
No início de 1985, uma equipe do órgão indigenista, vinda de Brasília, é<br />
enviada à área <strong>para</strong> dar prosseguimento ao trabalho de delimitação e demarcação<br />
da Terra Indígena, iniciado alguns anos antes. Por coincidência, o Grupo<br />
de Trabalho (GT) chega ao local no momento da segunda invasão madeireira.<br />
120 121