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Guia para professores e alunos - Vídeo nas Aldeias

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No filme “O dia em que a lua menstruou” vemos a comunidade se aproveitar<br />

do eclipse lunar <strong>para</strong> utilizar os serviços de cura dos xamãs, que ficam<br />

mais baratos na ocasião. O xamã guarda um rico conhecimento astrológico<br />

a respeito de constelações e estrelas, e, assim como em muitas culturas do<br />

mundo, o corpos celestes ocupam um lugar central na cosmologia Kuikuro.<br />

Sol e Lua são irmãos gêmeos criadores. A observação do céu e acompanhamento<br />

das épocas do ano também orienta os trabalhos de plantio, colheita,<br />

e guia o ciclo anual de rituais.<br />

O Pajé Huni Kuĩ é quem tem o conhecimento do preparo e da utilização<br />

da Ayahuasca, como vemos em “Os cantos do Cipó”. A Ayahuasca, ou “professor<br />

da floresta”, como é chamada por várias etnias do Acre, permite visões<br />

de auto-conhecimento, e tem um valor terapêutico importantíssimo.<br />

O personagem Agostinho Muru, que aparece em “Xina Bena – Novos Tempos”<br />

é um exemplo de Pajé Huni Kuĩ. Tanto em Xina Benã, como nos filme “Já<br />

me transformei em imagem” e “Huni Meka”, vemos sua função como conhecedor<br />

das tradições, dos cantos, e também da história e trajetória do<br />

seu povo. Ele, assim como muitos dos personagens que vemos nos outros<br />

filmes da série, é também o que <strong>nas</strong> culturas africa<strong>nas</strong> chama-se de um<br />

griot, um contador de histórias – um historiador tradicional.<br />

No complexo universo cosmológico Ashaninka, marcado por uma intensa<br />

dualidade entre bons e maus espíritos – entre o bem e o mau – há um<br />

mundo invisível por detrás do mundo visível. O xamã Ashaninka é encarregado<br />

de fazer a mediação entre esses dois mundos. O xamã também conhece<br />

o uso correto Kamárampi – como chamam a Ayahuasca – e de outras<br />

plantas medicinais, com diversas finalidades.<br />

Para o xamã Xavante a comunicação com o mundo espiritual se dá através<br />

do sonho, e ele exerce uma função de cura fundamental <strong>para</strong> a comunidade. A<br />

transmissão dos conhecimentos xamanísticos e de utilização das plantas tradicionais<br />

se dá normalmente de pai <strong>para</strong> filho, demarcando uma área bastante<br />

secreta do saber. Para os Xavante em geral o sonho ocupa um lugar central, como<br />

vemos no filme sobre o ritual de iniciação espiritual do “Wai’ á”. Podemos<br />

pensar nesse papel do sonho como análogo à forma em que <strong>para</strong> vários grupos<br />

indíge<strong>nas</strong> outros estados alterados de consciência permitem o encontro com o<br />

mundo metafísico e espiritual – o uso da Ayahuasca é um exemplo disso.<br />

O universo de conhecimentos espirituais é também um universo de co-<br />

nhecimentos medicinais, de cura. A saúde entre os grupos indíge<strong>nas</strong> parte<br />

de uma conexão fina entre corpo e mente; enquanto a medicina ocidental<br />

muitas vezes está somente preocupada com o corpo. Um conhecimento<br />

não exclui o outro, e como sabemos, mesmo a medicina dita moderna sempre<br />

busca outras fontes menos alopáticas (isto é, baseadas em remédios<br />

químicos) de tratamentos, como é o caso do comum interesse por acupuntura,<br />

plantas medicinais etc, nos meios urbanos. No filme Panará “De Volta<br />

à Terra Boa” ouvimos do impacto da desestruturação do universo tradicional<br />

de cura após o contato com os não-índios: “Os brancos começaram a<br />

trazer doenças que os nossos pajés não sabiam curar.”<br />

Todas as culturas do mundo tem complexos universos mitológicos associados<br />

à experiência religiosa. É sempre perigoso generalizar, mas algo<br />

de comum que podemos identificar nos filmes da Série Cineastas Indíge<strong>nas</strong><br />

é a forte presença do mundo animal, como referência cosmológica<br />

fundamental. Trata-se de uma valorização e simbiose com a natureza.<br />

Uma forma de entender, e de vivenciar o mundo à volta. Esses animais mitológicos,<br />

divindades pertencentes a outros planos de realidade, muitas<br />

vezes são responsáveis por transferência de conhecimentos importantes<br />

aos seres humanos.<br />

Assim como na mitologia grega o fogo foi dado aos homens pelo deus<br />

Prometeu, filho de Zeus, Pawa, o deus criador dos Ashaninka lhes dá a coca,<br />

como ouvimos no filme “Shomõtsi”. O jacaré está na origem do pequi, tão<br />

importante <strong>para</strong> os Kuikuro, como aprendemos em “O Cheiro de Pequi”. Para<br />

os Huni Kuĩ, a aranha ensina a colher o algodão, e a jibóia é quem ensina<br />

a fazer os desenhos tradicionais – os Kene – que vemos pintados nos corpos<br />

das pessoas e feitos <strong>nas</strong> roupas. A cotia dá o amendoim <strong>para</strong> os Panará, (“O<br />

Amendoim da Cotia”) e o rato dá a semente do o milho.<br />

Nessas culturas indíge<strong>nas</strong>, há uma rica e constante transformação de<br />

gente em animais míticos, de animais míticos em deuses, de deuses em<br />

gente, e de animais em gente. Os seres humanos são muitas vezes formados<br />

a partir do “consórcio entre divindades e animais”. Devemos apreciar<br />

essas sofisticadas elaborações, classificações e associações cosmológicas,<br />

como formas de filosofia indígena. São conhecimentos e interpretações so-<br />

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