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Guia para professores e alunos - Vídeo nas Aldeias

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na serra do Cachimbo, divisa com o Pará. Da mesma maneira, os Xavante,<br />

que viviam mais próximos ao litoral, foram se refugiando <strong>para</strong> o interior.<br />

Assim, deixaram o que é hoje o estado de Goiás, atravessaram o rio Araguaia,<br />

e vieram se refugiar na região do Rio das Mortes, no Mato Grosso.<br />

Então, o que muitas vezes é contado como “o descobrimento” do Brasil,<br />

pode ser compreendido a partir de todos esses pontos de vista, ainda<br />

mais se ouvirmos o que essas comunidades tem a dizer e a contar sobre<br />

os seus passados.<br />

Da mesma forma, os famosos Bandeirantes, que muitas vezes são apresentados<br />

como heróis nacionais, na visão de muitos índios eram cruéis<br />

assassinos. Se por um lado os vemos como aqueles que entraram pelos<br />

sertões <strong>para</strong> descobrir mi<strong>nas</strong> de ouro e outros minerais, por outro lado sabemos<br />

que nesse processo mataram e escravizaram índios. Assim, a tradição<br />

oral dos Kuikuro lembra ainda desses Bandeirantes que chegavam até<br />

as suas aldeias, matavam seus chefes e capturavam jovens <strong>para</strong> escravizálos.<br />

Podemos então pensar momentos fundamentais da “história oficial do<br />

Brasil” a partir da forma como eles interceptam, ou interpelam as populações<br />

indíge<strong>nas</strong>.<br />

Os povos Ashaninka e Huni Kuĩ, que hoje vivem no estado do Acre, que já<br />

foi da Bolívia, foram atingidos pela exploração do caucho e da borracha. Os<br />

Ashaninka foram perseguidos e mortos pelos caucheiros peruanos que<br />

queriam explorar os espaços que eles ocupavam. Alguns Ashaninka fugiram<br />

dos sanguinários patrões no Peru, e passaram <strong>para</strong> a Bacia do Rio Juruá<br />

no Brasil e ocu<strong>para</strong>m as cabeceiras dos rios onde não havia seringa. Os<br />

Huni Kuĩ, que também foram vítimas das “correrias”, as expedições dos caucheiros<br />

peruanos <strong>para</strong> matar índios, foram em seguida, “amansados” e escravizados<br />

no trabalho da seringa, além de arregimentados na perseguição<br />

de outros índios.<br />

Para o governo de Getúlio Vargas, a “Marcha <strong>para</strong> o Oeste”, nos anos<br />

1940, significava um movimento de desbravamento e ocupação do Brasil<br />

Central, que era visto como um grande espaço vazio. Mas essa expansão<br />

estava fadada a encontrar os povos Xinguanos, entre eles os Kuikuro, que<br />

viviam na região do Xingu, e os Xavante que viviam na região do Rio das<br />

Mortes, e que depois de muita resistência, se renderam ao contato.<br />

A idéia de ocupar “espaços vazios” da nação persistiu por muito tempo.<br />

Com o golpe militar que tomou o governo brasileiro em 1964, a doutrina de<br />

“Segurança Nacional e Desenvolvimento” foi instaurada. Nessa doutrina os<br />

militares pretenderam unificar as partes do Brasil, mas o fizeram sem qualquer<br />

respeito ou cuidado com as populações indíge<strong>nas</strong>. Assim, começou a<br />

colonização da Amazônia, nos anos 1970, e com ela a construção de grandes<br />

estradas, como a Rodovia Transamazônica e a Cuiabá-Porto Velho, que cortaram<br />

no meio territórios indíge<strong>nas</strong>. Para os Panará, que se renderam ao<br />

contato nessa época, com a abertura da BR-163, a Cuiabá-Santarém, esse<br />

processo de “desbravamento” significou o contato com doenças ferozes trazidas<br />

pelos brancos, e <strong>para</strong> as quais eles não tinham anti-corpos com que se<br />

defender. A ocupação trouxe a busca descontrolada por ouro, que destruiu<br />

os solos tradicionais Panará, e também trouxe criação de gado extensiva e<br />

extração de madeira, que por sua vez modificaram completamente os territórios<br />

onde viviam os Xavante.<br />

2. cosMologia e Religião<br />

Cada grupo indígena tem a sua forma de religião, com distintas práticas,<br />

rituais, mitos e conjuntos de crenças, e com autoridades religiosas dedicadas<br />

ao conhecimento espiritual e metafísico. Os filmes da série Cineastas<br />

Indíge<strong>nas</strong> estão perpassados por temáticas desses universos religiosos e<br />

mostram a interação entre ritual, mito, cura, divindades, cotidiano, e as forças<br />

da natureza.<br />

Da mesma maneira em que no universo afro-brasileiro existem pessoas<br />

especialmente pre<strong>para</strong>das <strong>para</strong> fazer a conexão entre o mundo físico e o<br />

plano espiritual, e assim como no mundo religioso europeu existem padres<br />

e pastores, e, ainda, do mesmo modo que em todas as culturas existem indivíduos<br />

que se dedicam à saúde mental e física das pessoas, <strong>nas</strong> várias<br />

sociedades indíge<strong>nas</strong> existem xamãs, pajés e médicos tradicionais.<br />

Um xamã Kuikuro passa por um árduo processo de aprendizado, no qual<br />

convive com um xamã mais velho, e é uma peça fundamental na vida social.<br />

Seus conhecimentos e saberes são muito valorizados, e às vezes caros.<br />

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