Guia para professores e alunos - Vídeo nas Aldeias
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A ayahuasca, que significa “cipó dos espíritos”, é uma bebida sagrada<br />
derivada da mistura entre duas plantas amazônicas, o cipó e a chacrona,<br />
e seu uso se dá dentro de contextos ritualísticos específicos, tanto em<br />
sociedades indíge<strong>nas</strong> quanto não-indíge<strong>nas</strong>. É amplamente difundida entre<br />
países como Equador, Peru, Colômbia, Bolívia e Brasil. Acredita-se que seu<br />
uso tenha se dado primeiramente entre os incas e as populações indíge<strong>nas</strong><br />
amazônicas, difundindo-se, a partir do processo de colonização da Amazônia,<br />
<strong>para</strong> a sociedade ocidental. Entre os homens brancos, a ayahuasca foi<br />
apropriada e associada a elementos da cultura cristã, criando diferentes<br />
grupos religiosos e espiritualistas. No Brasil, os grupos mais conhecidos são a<br />
União do Vegetal, Santo Daime, Barquinha e Natureza Divida, espalhados em<br />
todo território nacional e, principalmente, na Amazônia. Cercada de mitos,<br />
essas religiões e as comunidades indíge<strong>nas</strong> que fazem uso da ayahuasca em<br />
seus rituais e cerimônias tradicionais, são vítimas<br />
de preconceito e incompreensão, e têm, muitas<br />
vezes, sua prática associada ao consumo de drogas<br />
ilícitas. Sobre a legalidade da ayahuasca, cabe<br />
ressaltar que, no Brasil, o CONAD (Conselho<br />
Nacional Antidrogas) legalizou o uso religioso<br />
da ayahuasca e a retirou da lista de drogas<br />
alucinóge<strong>nas</strong> conforme portaria publicada no<br />
Diário Oficial da União em 10/11/2004. Além disso,<br />
PadiM sebastião, a Suprema Corte norte-americana decidiu (em<br />
f u n d a d o R d a c o l ô n i a<br />
5 Mil da igReja<br />
20/02/2006) que o governo estadunidense não<br />
do santo daiMe<br />
pode impedir a filial da União do Vegetal no Estado<br />
foto: Vincent caRelli<br />
do Novo México de utilizar o chá ayahuasca em<br />
seus rituais religiosos. O veredicto atesta que o grupo religioso está<br />
protegido pelo Religious Freedom Restoration Act, aprovado pelo congresso<br />
em 1993, e que foi peça jurídica fundamental no processo que legalizou o<br />
uso ritual do cacto peiote (cujo princípio ativo é a mescalina) pela Native<br />
American Church — congregação que reúne descendentes de algumas<br />
etnias indíge<strong>nas</strong> norte-america<strong>nas</strong>. Também a ONU emitiu um parecer<br />
favorável recomendando a flexibilização das leis em todos os países do<br />
mundo no que se refere à ayahuasca. Entre os Huni Kuĩ, a bebida está<br />
associada aos seus rituais coletivos e faz parte da construção do pensamento<br />
e das visões de mundo deste povo. O filme Huni Meka, Cantos do Cipó,<br />
apresenta uma conversa sobre o cipó, “mirações” e os cantos Huni Kuĩ.<br />
O espiritual ou a força vital (yuxin) permeia todo o fenômeno vivo na terra,<br />
<strong>nas</strong> águas e nos céus. A pessoa <strong>para</strong> os Huni Kuĩ é concebida por três partes:<br />
o corpo ou a carne (yuda), o espírito do corpo ou a sombra (yuda baka yuxin)<br />
e o espírito do olho (bedu yuxin).<br />
Na vida diária vemos um lado da realidade onde este parentesco universal<br />
das coisas vivas não se revela: vemos corpos e sua utilidade imediata.<br />
Em estados alterados de consciência, porém, o homem se defronta com o<br />
outro lado da realidade, em que a espiritualidade que habita certas plantas<br />
ou animais se revela como yuxin, huni kuin, “gente nossa”.<br />
Na região do Purus, os próprios Huni Kuĩ traduzem yuxin por alma<br />
quando se referem aos yuxin que aparecem de noite ou no crepúsculo da<br />
mata em forma humana. O uso desta palavra vem da convivência com os<br />
seringueiros, que também vêem e falam de almas. Quando se fala do yuda<br />
baka yuxin ou do bedu yuxin da pessoa, usa-se mais espírito: “É o espírito<br />
da gente que vê, né?, e que fala”. Outra tradução usada pelos Huni Kuĩ é<br />
“encantado”.<br />
A atividade do xamã que procura conhecer e relacionar-se com os yuxin<br />
é indispensável <strong>para</strong> o bem estar da comunidade. A causa última de todo<br />
mal-estar, doença ou crise tem suas raízes neste lado yuxin da realidade,<br />
em que o xamã, como mediador entre os dois lados, é necessário.<br />
O pensamento xamânico entre os Huni Kuĩ atua de forma permanente.<br />
Embora não se tenha mais sessões de cura e rituais públicos como<br />
houvera no passado, é preciso considerar sua cosmovisão no âmbito<br />
maior das práticas de seus vizinhos (Yaminawa, Kulina, Kampa), com<br />
quem mantêm relações cada vez mais intensas, porque deixaram de ser<br />
inimigos declarados. O intercâmbio ali é grande e pode se tornar um estímulo<br />
<strong>para</strong> os Huni Kuĩ revitalizarem seus poderes espirituais, guardados<br />
na memória da floresta.<br />
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