Guia para professores e alunos - Vídeo nas Aldeias
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O traçado do Parque indígena do xingu estabelecido em 1961, excluiu os<br />
territórios tradicionais de vários grupos indíge<strong>nas</strong>, entre os quais os Aruak<br />
(Waurá e Mehináku) e os Karib (Kuikuro, Kalapalo, Matipu e Nahukwá). O<br />
Decreto de 1968, modificou seus limites meridionais, reconhecendo parcialmente<br />
o erro do decreto anterior. Permaneceram, porém, seccionados os<br />
territórios dos grupos aruak e karib, finalmente incorporados – não em sua<br />
integridade – ao Parque pelo Decreto de 1971, que traçava a fronteira acima<br />
da confluência dos rios Tanguro e Sete de Setembro. Sítios antigos e pequizais<br />
karib ficaram fora da fronteira sul do PIX.<br />
A partir dos anos de 1960, a população indígena do Alto Xingu foi se recuperando<br />
rapidamente em termos demográficos, novas aldeias foram surgindo<br />
distanciando-se dos Postos da Funai e re-ocupando os locais de antigas<br />
aldeias. Protegidos das doenças e dos invasores, donos de um grande<br />
território com campos e florestas, donos de muitos rios, lagoas e igarapés,<br />
os Kuikuro, como todos os povos alto-xinguanos, se orgulham por estar preservando<br />
suas festas, suas artes, suas línguas, sua maneira de viver, seu<br />
meio-ambiente.<br />
Preocupam-nos o desmatamento desenfreado que cerca o Parque do<br />
Xingu, como todas as áreas indíge<strong>nas</strong> no Estado de Mato Grosso, bem como<br />
a poluição crescente dos rios que atravessam suas terras e onde eles<br />
procuram uma das bases de sua alimentação, o peixe. Preocupam-nos a<br />
chegada de novas doenças trazidas pela comida dos brancos, como sal,<br />
açúcar e gorduras.<br />
Hoje, as jovens gerações vivem na fronteira entre a tradição, ainda intacta<br />
<strong>nas</strong> mãos e <strong>nas</strong> cabeças dos mais velhos, e o fascínio pela cidade, roupas, tecnologias,<br />
máqui<strong>nas</strong>, motos, carros, televisão, DVDs, Internet, gravadores, filmadoras,<br />
todo o infinito mundo das invenções e das mercadorias dos brancos.<br />
Muitas coisas mudaram, de modo acelerado, nos últimos 20 anos. Os pajés<br />
convivem com agentes de saúde, médicos, enfermeiros, injeções e remédios<br />
de farmácia. Há uma escola em cada aldeia e nos Postos da Funai, todas com<br />
<strong>professores</strong> indíge<strong>nas</strong> formados até o ensino superior ou em formação; os conhecimentos<br />
não-indíge<strong>nas</strong> e a língua portuguesa invadem as casas pelas<br />
mídias, pelos papéis escritos. Joga-se futebol diariamente em cada aldeia. O<br />
tempo de contar e conversar começou a ser tomado pela televisão. Todos têm<br />
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que lidar com projetos, reuniões, políticas dos brancos, documentos, salários,<br />
aposentadorias e, sobretudo, dinheiro, cada vez mais dinheiro.<br />
Mudanças complexas e que, não poucas vezes, parecem apontar <strong>para</strong><br />
caminhos divergentes. Assim, a escola, as viagens e a Internet, que ocupam<br />
um tempo considerável da vida dos jovens, substituindo ou enfraquecendo<br />
processos de ensino-aprendizagem tradicionais, com os seus conteúdos,<br />
estimulam o uso da escrita das línguas indíge<strong>nas</strong> e lançam produtos culturais<br />
tradicionais mundo afora. Os jovens Kuikuro são cinegrafistas, escritores<br />
e pesquisadores de mãos cheias. O século XXI começou com a criação de<br />
uma Associação Indígena, com a captação de muitos recursos <strong>para</strong> projetos<br />
de fortalecimento cultural, com a realização de vídeos premiados. “o cheiro<br />
dos brancos é muito forte [...] os nossos filhos já viraram brancos”, dizem os<br />
mais velhos, mas as novas tecnologias parecem estar reaproximando-os<br />
por caminhos imprevisíveis de seus filhos e netos.<br />
os KuiKuRo ReVisitaM a sua HistóRia | foto: Vincent caRelli