Guia para professores e alunos - Vídeo nas Aldeias
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atividades produtivas O Alto Xingu é um exemplo de como<br />
tecnologias ameríndias podem sustentar populações numerosas e sedentárias.<br />
Apesar de que o uso do território parece ter sido mais intenso nos tempos<br />
pré-históricos, os padrões xinguanos fornecem um modelo importante de como<br />
uma agricultura diversificada, complexo e de longa duração<br />
é possível em um meio ambiente amazônico. É um<br />
modelo que representa uma alternativa aos padrões destrutivos<br />
de exploração da terra comumente aplicados<br />
com o uso das tecnologias ocidentais na Amazônia.<br />
As plantas cultivadas, sobretudo a mandioca, constituem de<br />
85 a 90% da alimentação. O pequi, plantado próximo das roças, é uma fonte<br />
sazonal importante de alimento e dele se extrai o óleo de pequi utilizado<br />
<strong>para</strong> embelezar e proteger a pele. Urucum, jenipapo, argila branca, carvão<br />
vegetal e resi<strong>nas</strong> servem <strong>para</strong> a pre<strong>para</strong>r pigmentos utilizados na pintura<br />
tanto do corpo como de artefatos.<br />
A caça não é importante; os alto-xinguanos não comem nenhum “bicho<br />
de terra ou de pêlo”, com exceção do<br />
macaco. Jacus e mutuns, alguns tipos<br />
de pomba, tracajás e macacos<br />
substituem o peixe quando o consumo<br />
deste é interditado. O consumo<br />
de peixe representa 15% da alimentação<br />
e os Kuikuro conhecem cerca<br />
de cem espécies de peixes comestíveis.<br />
O Alto Xingu é um mundo de<br />
águas, entre rios, igarapés e lagoas.<br />
Hoje, a fabricação de um variado<br />
e abundante artesanato – reproduzindo<br />
e inovando objetos e padrões<br />
tradicionais – é uma fonte de dinheiro<br />
fundamental <strong>para</strong> a compra<br />
de bens que se tornaram indispen-<br />
djawaPá tecendo uMa esteiRa<br />
sáveis, como combustível, material coM desenHo de jacaRé<br />
de pesca, munições, miçangas, gêneros alimentícios que entraram na dieta<br />
(arroz, sal, açúcar, óleo, etc.), ape<strong>nas</strong> <strong>para</strong> mencionar os mais importantes.<br />
Tempo considerável é atualmente gasto na produção de objetos “étnicos”<br />
vendidos no atacado e no varejo do mercado de “arte indígena” das cidades<br />
ou a compradores que chegam até as aldeias.<br />
organização social e política Pode-se inferir a continuidade<br />
do tipo de organização política e ritual característico do período préhistórico<br />
pela continuidade de organização espacial da aldeia, cujo centro<br />
é a praça. Na praça se realizam as atividades cerimoniais, sobretudo aquela<br />
relacionadas aos principais ritos de passagem que caracterizam a trajetória<br />
dos chefes. O complexo sistema de “donos” e “chefes” regula a dinâmica<br />
política e a vida ritual, ou seja a própria existência e reprodução do<br />
grupo local (aldeia).<br />
Há mais de um chefe e mais de uma categoria de chefia na aldeia como<br />
‘dono (oto) da praça’, ‘dono da aldeia’, ‘dono do caminho’. Mulheres podem<br />
ser chefes. Tornar-se chefe tem um componente hereditário, mas é, sobretudo,<br />
o resultado de uma trajetória política individual, do esforço de um<br />
indivíduo <strong>para</strong> acumular e manter prestígio através da generosidade na<br />
distribuição de suas riquezas, da habilidade enquanto líder e representante<br />
da aldeia, assim como pelo conhecimento ritual, dos discursos cerimoniais<br />
e da oratória.<br />
cosmologia, xamanismo e cura As narrativas tradicionais,<br />
que os brancos chamam de ‘mitos’ e que os Kuikuro chamam de<br />
akinháekugu (narrativas ‘verdadeiras’), contam como o universo existe tal<br />
como ele é e explicam a origem de cantos, festas (rituais), bens culturais,<br />
plantas cultivadas, categorias de seres. Tudo o que existe e merece explicação<br />
está associado a uma ou mais narrativas.<br />
Giti, Sol, é o herói cultural por excelência, criador, junto com seu irmão<br />
gêmeo Aulukuma, Lua. Os demiurgos, contudo, incluem uma galeria de antepassados<br />
de Sol e Lua e são eles os descendentes do casamento entre<br />
Atsiji, Morcego, e Uhaku, uma árvore. O tempo da criação era (e é) o tempo<br />
em que humanos e não humanos se comunicavam, em que todos falavam,<br />
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