Vamos ubuntar? Um convite para cultivar a paz; Coleção abrindo ...
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<strong>Um</strong> <strong>convite</strong> <strong>para</strong> <strong>cultivar</strong> a <strong>paz</strong><br />
Como chegamos a isso? Em grande parte porque temos confiado mais no mapa do que no terri-<br />
tório, nas teorias e representações do que seja a realidade mais do que na base concreta que as<br />
inspirou. <strong>Um</strong> desses mapas nos fez acreditar que a Terra, com todas as formas de vida vegetal e<br />
animais aéreos, aquáticos e terrestres, foi criada apenas <strong>para</strong> usufruto de nossa espécie. Outro<br />
desses mapas afirmava a condição inesgotável dos recursos naturais. <strong>Um</strong> terceiro assemelhava a<br />
natureza a uma máquina, portanto, objeto mecânico de fácil controle por parte do homem, que<br />
passava assim à condição de sujeito totalmente dissociado de seu meio, um ser não-natural, fora<br />
e acima da natureza.<br />
Bastou um passo <strong>para</strong> chegarmos à Revolução Industrial – viabilizada por uma série de invenções<br />
como o motor a vapor, a mecanização da agricultura, a máquina de fiar rotativa, a locomotiva, o<br />
telégrafo, o telefone e a bateria elétrica – iniciada na Grã-Bretanha no século XVIII e mundializada<br />
no século seguinte. Isto provocou uma mudança nos meios de produção que resultou no deslocamento<br />
das populações rurais <strong>para</strong> as cidades, na formação de massas humanas assalariadas<br />
e na primazia da idéia de progresso científico e tecnológico baseados na noção quantitativa do<br />
crescimento econômico, com a conseqüente centralização das decisões no sistema produtivo e na<br />
estrutura do poder político.<br />
A doutora Elisabet Sahtouris, bióloga e consultora das Nações Unidas <strong>para</strong> povos indígenas, assinala que:<br />
A confusão de modelos com a realidade tem origem na incapacidade de compreender<br />
que cientistas criam abstrações, da mesma maneira que os artistas. Se considerassem os<br />
modelos da natureza como abstrações, não os confundiriam mais com a realidade do que<br />
artistas confundem seus quadros ou esculturas com os sujeitos reais que retratam. [...]<br />
Podemos entender agora que o perigo real de confundir modelos científicos com a<br />
realidade é que os aspectos da natureza que não podemos medir e, por conseguinte, não<br />
podemos abstrair, talvez sejam os aspectos mais essenciais. 5<br />
Ou seja, a capacidade complexa de auto-organização, mudança ou renovação constante que a<br />
perpetua, e na qual estamos imersos como sistemas vivos, de onde cada ser humano é uma unidade<br />
5. SAHTOURIS, E. A dança da terra, sistemas vivos em evolução: uma nova visão da biologia. Rio de Janeiro: Editora Rosa<br />
dos Tempos, 1998. p. 204-205.<br />
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