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Vamos ubuntar? Um convite para cultivar a paz; Coleção abrindo ...

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<strong>Vamos</strong> Ubuntar?<br />

Portanto, a não-cooperação com o ignominioso é um dever. Cooperar seria participar da violência<br />

que condenamos. Mas esse dever, diz Gandhi, pode realizar-se unicamente por meios não-violentos.<br />

Sejam quais forem os instrumentos usados <strong>para</strong> acabar com a exploração e as injustiças, eles devem<br />

estabelecer um compromisso com a não-violência – princípio soberano de transformação pessoal e<br />

social – cujo objetivo é restaurar a dignidade tanto do agressor como da vítima. Conseqüentemente,<br />

a ação re<strong>para</strong>dora deve estar dirigida à agressão e nunca ao agressor.<br />

Nesse sentido, a não-violência é uma linguagem, uma modalidade de ser e de estar no mundo<br />

que se aprende com a prática, com o exercício cotidiano inspirado no compromisso de não causar<br />

sofrimentos gratuitos nem alimentar ressentimentos. Se o que se busca é estabelecer relações mais<br />

justas e libertárias, então é necessário concentrar o poder re<strong>para</strong>dor da ação na própria situação que<br />

gerou e sustenta a beligerância. Inverter a situação entre opressor e oprimido, tornando este último<br />

ganhador e o outro perdedor seria inútil, porque preservaria o círculo vicioso de vingança que<br />

retroalimenta vítima e o carrasco, corrompendo e bestializando ambos.<br />

A respeito disto Gandhi afirma: “Podemos ter certeza de que um conflito foi solucionado segundo<br />

os princípios da não-violência se não deixa nenhum rancor entre os inimigos e os converte<br />

em amigos”. Isto revela uma ousadia intelectual que amplia nosso entendimento da condição humana,<br />

ao mesmo tempo em que promove a criação de um número maior de alianças <strong>para</strong> fortalecer<br />

o tecido social sobre bases de convivência confiáveis que, por sua vez, abrem caminho <strong>para</strong> a <strong>paz</strong>.<br />

É oportuno lembrar que Gandhi testou suas idéias nos tribunais, em meio a manifestações populares<br />

inflamadas, no cárcere, com dissidentes políticos, entre parlamentares e até com representantes<br />

da coroa britânica. Não é um teórico nem um acadêmico de gabinete, mas um político,<br />

um cientista social e articulador paciente e persistente. Tampouco é um romântico que ignora a<br />

sedução que a sede de poder, de reconhecimento e de riquezas exerce sobre todos nós. Todavia,<br />

acredita firmemente na condição transformadora das forças espirituais que desencadeiam o legado<br />

das religiões, independentemente da cultura onde tenham florescido. Ele diz a respeito de si mesmo:<br />

“Não sou um santo que se tornou político. Sou um político que está tentando ser santo”.<br />

A centralidade ética da sua experiência política foi continuada por quase todos os “revolucionários”<br />

pacifistas do século XX. Notadamente Martin Luther King Jr., Desmond Tutu, Nelson<br />

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