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Vamos ubuntar? Um convite para cultivar a paz; Coleção abrindo ...

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<strong>Vamos</strong> Ubuntar?<br />

Durkheim, “um sistema de regras de ação que predeterminam o comportamento”, modelam nossa<br />

convivência e, uma vez internalizadas, nos fazem agir conforme elas, sem questionamentos, sem<br />

sequer percebê-las. É a ética, como reflexão racional sobre a moral, que nos permite questionar e,<br />

se necessário, mudar aquilo que funda a moral, que perpetua costumes, instituições, modos de<br />

relacionamento social, justifica práticas, impõe critérios e valores. Na cosmovisão do povo navajo –<br />

da qual falamos anteriormente –, a ética estaria representada pela abertura do círculo que contém<br />

as tradições, abertura essa que sempre admite renovações, transformações e atualização. Vida<br />

é mudança. Nas palavras do astrofísico Marcelo Gleiser: “todas as coisas fundamentais que existem<br />

dependem de um desequilíbrio, o próprio Universo se originou do desequilíbrio. Quando o sistema<br />

está equilibrado, não se transforma. Sem transformação não há criação, nada acontece”. E nada<br />

teria acontecido se ainda estivessem operando as velhas estruturas de regulamentação societária<br />

que deram origem ao humano. Se a nossa espécie houvesse vingado desse modo, o que é pouco<br />

provável, não passaríamos de animais, que sempre sabem o que fazer.<br />

Obedecer sem refletir é abdicar da própria capacidade de fazer escolhas, de tomar decisões, de<br />

correr riscos no ato de criar e planejar o inusitado, é abrir mão do pensar que articula e relaciona<br />

idéias produzindo significados. Nossos sentidos são inca<strong>paz</strong>es de elaborar uma sinergia a partir das<br />

informações que nos oferece a realidade. É necessário convocar a inteligência (inter=dentro e<br />

legere=ver), que não só estabelece relações entre as coisas do real como também está dotada do<br />

poder de observar os próprios processos de pensamento, orientá-los em uma direção e retificar a<br />

rota se avaliamos que incorremos em erro.<br />

Mas desobedecer sem ter razões, argumentos, porquês, apenas <strong>para</strong> atender conveniências,<br />

interesses privados, oportunismos, caprichos, <strong>para</strong> obter privilégios, é igualmente desarrazoado, pois<br />

viola o pacto social que me torna depositário de direitos e me legitima como um ser confiável, isto<br />

é, um cidadão.<br />

“Moral é o conjunto de comportamentos e normas que você, eu e algumas das pessoas que nos<br />

cercam costumamos aceitar como válidos; ética é a reflexão sobre por que os consideramos válidos<br />

e a com<strong>para</strong>ção da nossa com outras morais de pessoas diferentes”, 18 salienta o filósofo Fernando<br />

18. SAVATER, F. Ética <strong>para</strong> meu filho. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 57.<br />

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