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Vamos ubuntar? Um convite para cultivar a paz; Coleção abrindo ...

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<strong>Um</strong> <strong>convite</strong> <strong>para</strong> <strong>cultivar</strong> a <strong>paz</strong><br />

reguladoras do comportamento e das relações intrafamiliares, sociais e institucionais. E é neste<br />

espaço da ética onde podemos verificar sua convergência mais inspiradora.<br />

Ecoando a unanimidade da Regra de Ouro, Kant propôs o seguinte princípio: “Aja somente de<br />

acordo com uma máxima que você possa desejar que seja simultaneamente transformada numa lei<br />

universal”. Ora, não posso desejar que o dentista que está cuidando da minha boca tenha colado<br />

na prova que se referia justamente ao tratamento que estou fazendo com ele. Tampouco posso<br />

desejar que o motorista que está trafegando nas mesmas ruas pelas quais transito tenha subornado<br />

um funcionário público e comprado sua carteira de motorista, que lhe tinha sido negada por falta<br />

de habilidade na condução de veículos. Será que em sã consciência eu desejaria que alguém me<br />

envergonhasse na frente de meus colegas de estudo ou trabalho, fazendo troça de mim ou<br />

ridicularizando particularidades corporais ou comportamentais que possuo? Gosto de ser xingado,<br />

humilhado, ludibriado ou cair na rede de uma intriga que afasta meus amigos? “Usar de violência<br />

contra os outros”, aponta o prof. Jean-Marie Muller, “<strong>para</strong> satisfazer minhas próprias necessidades,<br />

não é algo que posso desejar que se torne lei universal [...] pelo simples fato de que não quero que<br />

os outros usem a violência contra mim <strong>para</strong> satisfazer suas necessidades”. 26<br />

As inquietações éticas hoje pairam em todas as áreas do fazer e saber humanos. Saíram dos<br />

redutos acadêmicos e teológicos a que estiveram confinadas por séculos e agora estão na internet,<br />

nos noticiários, nos laboratórios, nas discussões do bar da esquina, no seio das famílias. Porém,<br />

nenhum desses espaços poderia hoje, como outrora as tradições espirituais fizeram, falar profeticamente<br />

em nome de um deus, uma visão transistórica ou intuição de uma verdade inquestionável<br />

e válida de modo universal. A coexistência de múltiplas culturas, de repertórios de valores<br />

diversos e às vezes excludentes, tornariam essa empreitada um fracasso.<br />

Neste início de milênio, a iniciativa de uma ética global que assegure a sobrevivência, promova a<br />

convivência, respeite a transcendência e consiga lidar com os avanços/desafios da tecnociência, não<br />

vêm do alto, mas de nós e entre nós, da condição humana que reconhece sua interdependência<br />

e sabe que o seu saber é provisório, passível de erro e aperfeiçoamento. Foi com essa disposição de<br />

26. MULLER, J.-M. Não-violência na educação. São Paulo: Palas Athena Editora, 2007. p. 85.<br />

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