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Vários conselheiros protestaram denunciando<br />
evidente conflito de interesses, mas as contas<br />
acabaram sendo aprovadas, assim mesmo,<br />
em uma reunião subseqüente.<br />
A crise que levou à exoneração do reitor<br />
da UNB, cujo emblema foi a lixeira adquirida<br />
pela FINATEC, já exaustivamente debatida e<br />
denunciada, revelou de forma maiúscula não<br />
só até onde pode chegar o arbítrio subjetivo<br />
na aplicação do dinheiro público quando gerido<br />
na lógica de uma instituição privada, mas<br />
também como, em pouco tempo, consolidouse<br />
uma cunha de poder a partir da fundação<br />
a controlar o funcionamento da instituição<br />
pública que deveria ser apoiada. O rodízio<br />
estabelecido nos cargos de mando financeiro<br />
da universidade e da fundação, nos últimos<br />
quinze anos, de um núcleo de poucos nomes,<br />
e o controle que passaram a exercer, estabeleceu<br />
uma situação na qual dificilmente alguém<br />
chegaria ao cargo de reitor sem o beneplácito<br />
desse núcleo, mesmo que processos eleitorais<br />
viessem a ser promovidos.<br />
Uma lição importante recolhida da experiência<br />
recente é a relação entre nível de promiscuidade<br />
da rés-pública com organismos privados<br />
patrocinado por determinadas reitorias<br />
na administração das universidades e nível de<br />
autoritarismo no exercício dos seus mandatos.<br />
Ao crescimento das denúncias, ao vazamento de<br />
evidências das falcatruas com dinheiro público,<br />
aos sinais de manipulação dos órgãos superiores<br />
das universidades, os gabinetes se fecham<br />
em comportamento despótico e passam a criminalizar<br />
o simples direito de divergir, reprimido<br />
com violência, como se divergir fosse elemento<br />
18<br />
estranho ao ambiente acadêmico. Percebe-se<br />
uma perniciosa e crescente mudança de sentido<br />
no exercício do poder institucional, praticado<br />
cada vez mais ostensivamente de cima para baixo<br />
e relegando tarefa apenas homologatória aos<br />
conselhos e colegiados.<br />
Muitos anos de denúncias emanadas do<br />
movimento docente, dos estudantes e dos funcionários<br />
não sensibilizaram o reitor, fechado<br />
em sua cidadela que parecia inexpugnável, na<br />
Universidade Federal de São Paulo, a antiga<br />
Paulista de Medicina, até que as ilegalidades<br />
apontadas pelos órgãos de fiscalização, a maioria<br />
vinculadas às fundações privadas, foram<br />
publicadas com destaque em jornais de grande<br />
circulação nacional. Aquele que até a véspera<br />
usava mão-de-ferro para reprimir quem não lhe<br />
atendesse as conveniências foi forçado a pedir<br />
demissão, juntamente com todo o gabinete, e<br />
responde a vários processos.<br />
Os exemplos generalizam-se de norte a<br />
sul do país. Citá-los restringe-se simplesmente<br />
à necessidade de destacar algum aspecto<br />
específico, pois parece que a única diferença é<br />
o momento em que as máculas vieram ou virão<br />
a público, quanto à perniciosa relação das<br />
universidades públicas com as suas fundações<br />
privadas ditas de apoio. O quadro é nítido e<br />
desfaz, por si, qualquer possibilidade de buscar<br />
aperfeiçoamentos daquela relação gerada como<br />
uma aberração incorrigível. Caberá às próprias<br />
universidades públicas, em primeiro lugar, reacender<br />
a força de sua mobilização interna e,<br />
em decorrência disso, pressionando as administrações,<br />
retomar o papel que paulatinamente foi<br />
delegado às fundações privadas.<br />
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO/2008 – Revista da Associação dos Docentes da UFF – CLASSE