70 Diálogos com a Cidade Aldeia Imbuhy: clima de tensão com o Exército há mais de uma década Carolina Barreto da Silva Gaspar OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO/2008 – Revista da Associação dos Docentes da UFF – CLASSE
Fotos: Luiz Fernando Nabuco Nesta segunda edição de nossa seção “Diálogos com a cidade”, fizemos uma matéria com os moradores da Aldeia Imbuhy, comunidade tradicional situada junto à praias paradisíacas, no interior de fortaleza militar que leva o mesmo nome. Ao contrário do que se poderia pensar num primeiro momento, morar na Aldeia Imbuhy não é assim tão maravilhoso quanto parece. Isso porque há mais de 10 anos ,os moradores do local vivem em verdadeiro clima de guerra com o Exército. Tudo começou em 1995, quando o Coronel Paulo Roberto Bueno Costa proibiu a passagem de moradores, visitantes e convidados pela Guarda do Forte Barão do Rio Branco. Desse modo, a única passagem liberada era a do portão situado na Guarda da Lagoa. Essa determinação se tornou sinônimo de um grande transtorno para os moradores do local, que decidiram então entrar com uma ação na Justiça para reabrir a outra passagem. Simultaneamente, entraram com uma ação de interdito proibitório. Isso abriu espaço para que o Exército entrasse com um pedido de reintegração de posse e obtivesse vitórias judiciais em 1ª e 2ª instâncias. Por decisão da Justiça, os moradores da Aldeia Imbuhy, que lá vivem há décadas, devem desocupar a área, uma vez que supostamente “constituem ameaça à segurança nacional”. Dessa contenda judicial de 1995 para cá, a relação dos moradores da Aldeia com o Exército se deteriorou progressivamente. Em nossa visita ao local, conversamos com diversos aldeões e não faltaram denúncias de arbitrariedades que teriam sido cometidas pelos militares nesse período. Também existem denúncias de omissão de socorro. Num dos casos, uma ambulância que chegou ao Forte para socorrer moradora em trabalho de parto teria sido simplesmente barrada na entrada do local. Por conta disso, um morador teve que levá-la em seu carro até o hospital. Em outro episódio semelhante, a moradora Vanda Leão Barbosa passou mal na calçada do Forte Rio Branco, mas não pôde ser socorrida porque um tenente do Exército impediu que lhe fosse prestado qualquer tipo de auxílio. Esse caso gerou registro de ocorrência na 79ª DP por omissão de socorro, ameaça e constrangimento ilegal. Resultado: não deu em nada. Segundo o morador Fábio Ferreira da Silva, eles agora sequer têm registrado queixa contra esse tipo de abuso, já que nunca dá em nada. Fábio nos contou que, em 95, foi agredido por soldados quando voltava para casa. O caso gerou um IPM, mas, nas palavras dele, “ficou tudo por isso mesmo. Toda a situação que ocorre aqui com a gente eles transformam em problema. Hoje, sou surdo e mudo por aqui.” Se engana, no entanto, quem pensa que acabou a lista de arbitrariedades. Só para se ter uma idéia, os moradores da Aldeia Imbuhy só podem entrar no Forte se estiverem munidos da chamada “permissão de morador”, único documento que os habilita a ter acesso ao local onde moram há anos. Como se não bastasse, eles só podem receber em suas casas cinco visitantes de cada vez, devendo ainda assim comunicar ao Exército os nomes dos mesmos com pelo menos 48 horas de antecedência. Nas palavras de Aílton Nunes Navega, presidente da Associação de Moradores do Forte Imbuhy, “nem o Elias Maluco tem limite de visitas, mas CLASSE – Revista da Associação dos Docentes da UFF – OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO/2008 71
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