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A política de direitos<br />
humanos que esse governo<br />
vem efetivando é pífia.<br />
É uma política semelhante à<br />
de FHC, ou seja, é<br />
para‘ inglês ver’”<br />
zaram como sendo só para a pobreza e não para a<br />
classe média e a elite. Se há horror da sociedade, é<br />
só em relação a isso, mas temos de nos horrorizar<br />
independente da classe social.<br />
Classe – Por que está cada vez mais comum<br />
pensar que falar em direitos humanos é “querer<br />
passar a mão na cabeça dos bandidos”?<br />
Cecília – Por que está sendo disseminado na sociedade<br />
através dos grandes meios de comunicação de<br />
massa, mas não só eles, isso é uma construção histórica<br />
no Brasil. Ou seja, vai se ligando indissociavelmente<br />
e naturalmente pobreza e criminalidade.<br />
Ou seja, onde está o pobre, está o perigo. Onde está<br />
o pobre, está o crime. É o que o psicanalista francês<br />
Félix Guattari fala quando se refere a produção de<br />
subjetividades. Ou seja, tão importante como a produção<br />
do aço, das riquezas, é a produção de modos<br />
de viver e de existir. Através dessas subjetividades<br />
produzidas, você domina. A ligação entre pobreza e<br />
criminalidade é algo que está naturalizado em cada<br />
um de nós. Essas forças nos atravessam. E isso, na<br />
Europa, começa em meados do séc. XIX e, no Brasil,<br />
chega no final do século XIX e início do XX.<br />
Classe – No livro, outro conceito com<br />
o qual você trabalha bastante é o de<br />
periculosidade, do Foucault...<br />
Cecília – É, o Foucault falava que no século XIX<br />
emerge um dispositivo presente entre nós chamado<br />
de periculosidade. Ou seja, tão perigoso quanto<br />
aquilo que o sujeito fez é aquilo que ele poderá vir<br />
a <strong>fazer</strong>, dependendo da essência desse sujeito. Aí<br />
você dá uma essência para a pobreza, de perigosa e<br />
de criminosa, uma coisa perversa.<br />
Classe - Se pensarmos que os empresários financiaram<br />
a ditadura e a tortura, isso define o<br />
caráter de classe da Ditadura Militar brasileira.<br />
Esse ainda é o caráter de classe que marca<br />
a tortura contra os pobres em nosso país?<br />
Cecília – As Madres da Praça de Maio têm uma:<br />
“Da Ditadura Militar à ditadura de mercado”.<br />
Obviamente sabemos que os militares foram testasde-ferro<br />
das multinacionais. Os golpes militares<br />
na América Latina, nos anos 60 e 70, servem à implantação<br />
das multinacionais. Vários empresários<br />
deram dinheiro para a formação dos DOI-CODIS<br />
para a Operação Bandeirantes, o laboratório que<br />
começou a funcionar em 69 em São Paulo, onde se<br />
unificou toda a repressão. Daí é que se originaram<br />
os DOI-CODIS. É por isso que muitos historiadores<br />
afirmam que não devemos usar o termo Ditadura<br />
Militar, e sim civil-militar. Os empresários deram<br />
um apoio muito grande à tortura. Raros não fizeram<br />
isso. Portanto, o caráter de classe está presente<br />
CLASSE – Revista da Associação dos Docentes da UFF – OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO/2008 41