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tações contra a violência reúnam mães que<br />
perderam seus filhos. Consolam-se mutuamente<br />
os pais de João Hélio, comerciantes;<br />
os pais de Gabriela Prado, psicólogos (a<br />
mãe faleceu recentemente); a mãe da menina<br />
Alana, morta no Morro dos Macacos,<br />
empregada doméstica; a mãe de Hanry da<br />
Silva, morto por policiais no Lins. O que<br />
une e o que separa essas pessoas?<br />
José Damião – A dor comum as une. E a dor humana<br />
é território sagrado. Consegue, durante certo<br />
tempo, diluir as fronteiras de classe que separavam<br />
essas pessoas. Mas se a dor e a revolta não se<br />
amalgamarem com um projeto de democratização<br />
profunda das nossas corporações policiais, a dor<br />
que hoje arma vozes acabará, por falta de resultados,<br />
se cansando e se calando. Já aconteceu antes.<br />
Classe - No dia 22 de agosto de 2007, a tropa<br />
de choque invadiu a Faculdade de Direito<br />
da USP. Em artigo, na ocasião, você<br />
disse que o ato, além de configurar, por si<br />
mesmo, uma agressão à autonomia universitária,<br />
pôs a nu sua natureza de preconceito<br />
de classe, já que, dentre os presos<br />
naquela madrugada, somente os ativistas<br />
de movimentos sociais foram fichados<br />
na delegacia de polícia.<br />
José Damião – É verdade, os estudantes foram<br />
liberados sem fichamento. A ideologia dominante<br />
até admite que os filhos das classes dominantes<br />
às vezes cometam alguns “excessos”, como protestar,<br />
denunciar, participar de ocupações simbólicas.<br />
Coisa de juventude: quando começarem a ganhar<br />
dinheiro isso passa, é o que dizem – e geralmente<br />
passa mesmo. O patrimônio familiar, a consciência<br />
No capitalismo, não há mais nenhuma<br />
esperança de melhoria social significativa,<br />
o movimento é regressivo, aponta<br />
para a supressão de direitos que,<br />
em alguns casos, os trabalhadores<br />
haviam conquistado já no<br />
final do século dezenove”<br />
de pertencer à elite econômica ou de estar em suas<br />
imediações, quase ingressando nela, acaba se impondo,<br />
salvo as exceções de plantão. Mas pobres, negros,<br />
índios, camponeses, favelados, desempregados<br />
ocuparem por algumas horas o pátio de uma faculdade<br />
pública para protestar contra as injustiças da<br />
sociedade, isso é intolerável: chamem a polícia!<br />
Classe – Como você vê a crescente criminalização<br />
dos movimentos sociais,<br />
em especial, do MST?<br />
José Damião – Vejo com temor devido à falta<br />
de uma reação apropriada, enérgica, da sociedade.<br />
Os movimentos sociais ainda padecem de desnorteamento<br />
político-ideológico, muitos estão paralisados<br />
pela cooptação institucional de seus líderes ou depositam<br />
esperanças em bolsas assistenciais. O movimento<br />
sindical chegou ao fundo do poço, encolhido, desmobilizado,<br />
com uma parcela imensa corrompida.<br />
Mas as contradições sociais, a desigualdade brutal e<br />
a concentração de renda continuam operando, geran-<br />
CLASSE – Revista da Associação dos Docentes da UFF – OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO/2008 49