fazer download - Aduff
fazer download - Aduff
fazer download - Aduff
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
o tema está na pauta, nos papos, já não é mais<br />
considerado um mal menor. Mas, paradoxalmente,<br />
quadros como Cristiano Girão (PMN)<br />
(que chegou a admitir durante seu depoimento<br />
à CPI que na “sua” área ele não permitia “maconheiros<br />
e cheiradores”) e o já citado Elton<br />
Babu figuram na leva de 40% de renovação do<br />
parlamento municipal do Rio de Janeiro. Isso<br />
para ficar no crime de milícias - que até recentemente<br />
sequer tinha tipificação no código penal<br />
brasileiro - porque, se giramos o foco para<br />
outro tipo de crime representado na Câmara,<br />
temos Claudinho da Academia, do PSDC, suspeito<br />
de ser o candidato apoiado pelo tráfico<br />
varejista de drogas na favela da Rocinha, na<br />
zona sul do Rio, eleito com 11.513 votos.<br />
Ok, Carminha Jerominho teve sua candidatura<br />
impugnada e, caso o recurso dela seja<br />
rejeitado, seus votos serão considerados nulos.<br />
Tudo bem. Mas o fato é: ela recebeu 22 mil votos.<br />
De eleitores. Pessoas físicas, como eu e como<br />
qualquer cidadão, não é isto? Canso de ouvir falar<br />
sobre a responsabilidade do eleitor, coisa e<br />
tal. Outro dia era o motorista do táxi. Acabava de<br />
dar no rádio que os dados na cidade davam conta<br />
de cariocas votando em uma candidata presa,<br />
um suspeito de integrar milícias e outro de ser<br />
o candidato apoiado pelo tráfico de drogas na<br />
Rocinha. Ele, o motorista, revoltado com a configuração<br />
do novo legislativo carioca e naquela<br />
de que “o povo tem o que merece porque dá seu<br />
voto a esses bandidos para se representar, e não<br />
é porque não sabe, pois os jornais estão aí”. Discurso<br />
que você quase absorve. Quase.<br />
Porque, nem que seja intuitivamente,<br />
você se dá conta de que ser humano algum<br />
quer ser representado por um corrupto. E não<br />
é difícil concluir que a política é produto de um<br />
processo que não é individual, do meu ou do<br />
seu voto. E o que prevalece é a idéia de sustentação<br />
política clientelista - seja legal ou criminosa,<br />
seja oficial ou paralela, utilizando-se ou<br />
não do Estado - é que permite que essas pessoas<br />
sejam eleitas. O motorista de táxi já estava<br />
longe a essa altura da minha lenta reflexão, e<br />
já não era mais possível compartilhar com ele<br />
a opinião do cientista político Eduardo Alves:<br />
“Não há diferença POLÍTICA entre o<br />
clientelismo de Estado e outros tipos de clientelismos.<br />
As diferenças são legais e morais.<br />
Algumas morais assimilam o clientelismo de<br />
Estado e não o clientelismo ilegal. Outras morais<br />
assimilam o clientelismo consentido, mas<br />
rechaçam o clientelismo feito por meio da coerção.<br />
Mas do ponto de vista POLÍTICO não há<br />
diferença entre esses modelos de clientelismo. A<br />
política clientelista das milícias, do tráfico, dos<br />
chamados centros sociais, do setor privado, das<br />
organizações assistenciais mantidas por vários<br />
políticos ou do Estado (em qualquer dos seus<br />
níveis), possui como objetivo manter o controle<br />
sobre um determinado setor da sociedade;<br />
justamente o setor mais penalizado pelo empobrecimento,<br />
mais sacrificado pela prática da<br />
exploração, mais discriminado por sua condição<br />
social. É esse setor que está mais suscetível<br />
às políticas clientelistas. E como tais políticas<br />
fazem diferença concreta, real, objetiva para<br />
a reprodução da vida dessas pessoas, que são<br />
maioria na sociedade brasileira, as conseqüências<br />
dessa política nos processos eleitorais são<br />
das mais profundas perversidades”.<br />
CLASSE – Revista da Associação dos Docentes da UFF – OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO/2008 57