fazer download - Aduff
fazer download - Aduff
fazer download - Aduff
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A esquerda está<br />
“condenada” a<br />
defender os direitos<br />
humanos ou capitula<br />
miseravelmente”<br />
ras de agressão da maior potência imperial? Qual<br />
o significado da covarde conivência/complascência<br />
da “comunidade internacional” em relação a tais<br />
violações? A esquerda está “condenada” a defender<br />
os direitos humanos ou capitula miseravelmente.<br />
Classe – O senhor também explica que a Declaração<br />
de 1948 tentou conciliar liberalismo<br />
e socialismo, mas manteve o direito de<br />
propriedade ilimitado. Os socialistas porém<br />
querem socializar os meios de produção.<br />
Como resolver a contradição?<br />
José Damião – Essa contradição é reveladora<br />
do duplo discurso existente sobre direitos<br />
humanos. Um discurso hipócrita, para uso<br />
político e diplomático, e outro discurso inescapavelmente<br />
libertador. O discurso hipócrita<br />
é o da diplomacia norte-americana e de seus<br />
repetidores em todos os países, que separa a<br />
humanidade em duas classes distintas de “hu-<br />
52<br />
manos”: de um lado, as classes dominantes do<br />
mundo; de outro lado, os subalternos de toda<br />
parte. Aos primeiros, vale tudo para defender<br />
seus interesses egoístas, predadores, destruidores<br />
da humanidade e do planeta, desde sanções<br />
econômicas até disparos de mísseis. Aos<br />
subalternos, nega-se direitos os mais elementares.<br />
Que importância tem para Wall Street<br />
a miséria apavorante da África subsaariana?<br />
Ante a perspectiva da globalização da barbárie,<br />
é Karl Marx – não Adam Smith ou Hayek<br />
– quem tem algo a nos dizer. E que o ouçamos<br />
logo, se é que ainda não renunciamos ao sonho<br />
belo, possível e, hoje, crucialmente necessário<br />
de edificarmos um mundo que permita a todos<br />
sobreviver – sobreviver com dignidade e com<br />
um pouco de amor, sem desperdício e sem terrores<br />
pré-históricos. Temos escolha, e é esta:<br />
entre Sísifo e Prometeu. Ambos foram condenados<br />
a tormentos eternos. Prometeu, porque<br />
roubou fogo aos deuses e o entregou à humanidade,<br />
libertando-a. Já o tormento de Sísifo<br />
é acabrunhante, porque sem sentido: carregar<br />
nos ombros uma grande rocha até o alto de<br />
uma montanha, perdê-la logo antes de chegar<br />
ao cume, vê-la rolar de volta ao sopé, retomar<br />
a pedra, subir novamente a montanha, a rocha<br />
a escapar-lhe novamente das mãos... Ambos<br />
os mitos podem ser tomados como metáforas<br />
da condição humana. O de Sísifo, metáfora da<br />
persistência, do eterno recomeçar – mas um recomeçar<br />
solitário e trágico, sem sentido e sem<br />
liberdade. Já Prometeu, mesmo acorrentado e<br />
com uma ave de rapina a devorar-lhe o fígado,<br />
é livre e libertador: porque escolheu transgredir<br />
a lei dos deuses em favor da humanidade.<br />
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO/2008 – Revista da Associação dos Docentes da UFF – CLASSE