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certamente devem estar atrapalhando os negócios.<br />
A sentença judicial que ordena a reintegração<br />
de posse nos chamou a atenção por ser extremamente<br />
dura com os aldeões. Há uma parte do texto<br />
da sentença que diz: “declaro ser legítimo o direito<br />
da UNIÃO, pela Administração Militar, exercer poder<br />
normativo e de polícia no âmbito de suas atribuições<br />
(...) Declaro ainda ser legítimo o exercício<br />
do atributo da auto-executoriedade deste mesmo<br />
poder de polícia, autorizando a UNIÃO, pelos seus<br />
prepostos, por exemplo, a apreender mercadorias<br />
e a demolir as benfeitorias edificadas a partir das<br />
notificações realizadas em julho de 1995, bem como<br />
impedir que outras sejam feitas, salvo as absolutamente<br />
necessárias à segurança dos moradores.”<br />
Trocando em miúdos, a sentença emitida pelo juiz<br />
federal Rogério Tobias de Carvalho atribui ao Exército<br />
poder de polícia numa contenda em que esse<br />
braço das Forças Armadas está diretamente envolvido.<br />
Com o clima de guerra vigente na Aldeia<br />
Imbuhy há mais de dez anos, dá para imaginar a<br />
carnificina que vai acontecer caso os militares resolvam<br />
se utilizar da “auto-executoriedade deste<br />
mesmo poder de polícia” para desalojar os aldeões.<br />
Diante da iminente consumação dessa<br />
verdadeira tragédia anunciada, a Associação de<br />
Moradores da Aldeia Imbuhy enviou carta solicitando<br />
providências ao presidente Lula e a seu<br />
vice. Num trecho da carta, se lê: “Os aldeões, ao<br />
verem suas casas demolidas e seus pertences jogados<br />
no meio da rua sem terem para onde ir<br />
talvez reajam de forma emotiva, inconseqüente<br />
e insensata, desencadeando desta forma, uma<br />
onda de violência de conseqüências imprevisíveis<br />
e que certamente nos fará relembrar, doze<br />
anos após, a Chacina de Eldorado dos Carajás,<br />
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só que desta vez, acontecendo em pleno coração<br />
cultural do país. Nossas autoridades constituídas<br />
tomarão conhecimento do fato somente por<br />
ocasião da remoção e sepultamento de corpos de<br />
homens, mulheres e crianças.” A única resposta<br />
recebida até hoje, que partiu do vice-presidente<br />
José de Alencar, veio em forma de telegrama e<br />
diz apenas: “transmito votos de que o assunto<br />
relatado por Vossa Senhoria se encaminhe dentro<br />
da lei.” Diante dessa situação, Aílton Navega<br />
desabafa: “Nós resistimos à Ditadura Militar e<br />
agora, em pleno governo popular do Partido dos<br />
Trabalhadores, vamos sair daqui sem nada.”<br />
O pai de Aílton, Antônio Navega, mora<br />
na Aldeia Imbuhy há 82 anos. Em 1939, chegou<br />
a servir ao Exército no Forte Imbuhy, tendo<br />
sido depois transferido para o batalhão de<br />
Santa Cruz. De acordo com ele, durante muito<br />
tempo a convivência entre moradores e militares<br />
foi, na medida do possível, harmônica.<br />
Hoje, no entanto, os aldeões estão na iminência<br />
de serem expulsos do local onde passaram<br />
suas vidas inteiras. A possibilidade de sair do<br />
Imbuhy é qualificada por S. Antônio em uma<br />
palavra: “Nenhuma”. Como ele, diversos outros<br />
moradores construíram suas vidas naquele<br />
lugar e muitos sequer têm para onde ir.<br />
O advogado dos aldeões, Arthur Floriano<br />
Peixoto, fez várias críticas à maneira como<br />
esse processo tem sido conduzido pela Justiça.<br />
“A parcialidade da Justiça nesse caso é revoltante.<br />
Inclusive porque existem dois precedentes<br />
de casos semelhantes, ambos com ganho de<br />
causa para os aldeões do Imbuhy. Além disso,<br />
a União teria perdido o prazo de defesa duas<br />
vezes ao longo do processo. Ainda assim, obte-<br />
OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO/2008 – Revista da Associação dos Docentes da UFF – CLASSE