15.04.2013 Views

fazer download - Aduff

fazer download - Aduff

fazer download - Aduff

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

econômicos favoráveis, que de fato impressionam<br />

pelo aumento de produtividade de<br />

uma economia, podem ocultar uma realidade<br />

humana indigente, que simplesmente<br />

não aparece nos quadros estatísticos. Daí a<br />

importância de se chegar até a vida dos trabalhadores<br />

reais, os responsáveis anônimos<br />

pela opulência que é divulgada pelos meios<br />

de comunicação. Quando se faz isso, percebe-se<br />

por exemplo que a “mobilidade ascendente<br />

na economia informal é em grande<br />

parte um ‘mito inspirado pelo mero excesso<br />

de otimismo’ ”. (p.174).<br />

Esta visão muito crítica de Davis acabou<br />

gerando reações contrárias no âmbito da própria<br />

esquerda. Neste sentido, é proveitosa a<br />

leitura do Posfácio à edição brasileira, assinado<br />

pela urbanista e professora da USP Ermínia<br />

Maricato. O texto é muito elogioso ao trabalho<br />

de Davis, mas se permite apresentar as<br />

restrições formuladas, por exemplo, por Tom<br />

Angotti, que entende que a visão veiculada<br />

pelo “Planeta favela” seria por demais negativa,<br />

não levando em conta algumas diferenças<br />

nacionais importantes, que confeririam um<br />

tom mais diferenciado à realidade exposta. Tocamos<br />

aqui numa questão complexa, que não<br />

seria possível desenvolver no âmbito de uma<br />

resenha; de todo modo, parece-nos que cabe<br />

distinguir entre dois níveis distintos de análise.<br />

No que diz respeito ao nível macro-social,<br />

entendemos que a análise de Davis atinge<br />

com precisão seu alvo, apontando com clareza<br />

para as linhas de fundo do processo de favelização<br />

urbana. Já no nível das diferenças<br />

entre as realidades nacionais e locais, talvez<br />

64<br />

coubessem de fato algumas ressalvas que, de<br />

resto, vêm sendo feitas por grupos de ativistas<br />

de direitos humanos e sociais, que sabem<br />

que o registro dos ganhos da luta democrática<br />

serve como alimento essencial ao seu próprio<br />

prosseguimento. Para o leitor que tenha um<br />

interesse maior nesta questão, convém ler a<br />

entrevista de Mike Davis ao jornalista brasileiro<br />

Sérgio Pompeu (disponível em www.boitempoeditorail.com.br).<br />

Questionado se seria<br />

contrário, por exemplo, a uma política de legalização<br />

de posse nas favelas, Davis responde<br />

que “A legalização é uma demanda justa<br />

e antiga na América Latina. O que eu critico<br />

é a expectativa quase mítica de que a legalização<br />

criaria alguma forma de capitalismo<br />

dinâmico nas classes baixas”.<br />

Após um longo percurso por vários continentes,<br />

merece destaque especial o capítulo 7<br />

do “Planeta favela”, intitulado “Desajustando<br />

o Terceiro Mundo”. É nele que Davis faz, de forma<br />

mais explícita, o que poderíamos nomear<br />

como uma pesquisa de causas para o fenômeno<br />

que estuda. E é neste momento que avultam<br />

em importância as conseqüências dos PAEs<br />

(Planos de Ajuste Estrutural), prescritos pelos<br />

organismos financeiros internacionais, como o<br />

FMI e o Banco Mundial. Drásticas condicionalidades<br />

são impostas ao empréstimo de quantias<br />

monetárias (para países já sufocados pelo<br />

pagamento dos juros referentes à dívida externa),<br />

que interpretam qualquer investimento<br />

social como sendo, na linguagem de seus mentores<br />

internacionais, um “populismo econômico”.<br />

Pois foram estes PAEs os responsáveis pelo<br />

incremento mais recente da pobreza, gerando<br />

OUTUBRO/NOVEMBRO/DEZEMBRO/2008 – Revista da Associação dos Docentes da UFF – CLASSE

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!