16.04.2013 Views

The L Word - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

The L Word - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

The L Word - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

se torna visível, é aquilo que qualifica o corpo para a vi<strong>da</strong>...” (BUTLER, 1999, p. 155). Ao<br />

tratar <strong>da</strong> construção do sexo, a filósofa argumenta ain<strong>da</strong> que ela se dá por um processo<br />

temporal, que atua através <strong>da</strong> reiteração <strong>de</strong> normas, o que lhe dá o efeito naturalizado.<br />

(...) em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa reiteração, que fossos e fissuras são abertos, fossos<br />

e fissuras que po<strong>de</strong>m ser vistos como as instabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s constitutivas<br />

<strong>de</strong>ssas construções, como aquilo que escapa ou exce<strong>de</strong> a norma, como<br />

aquilo que não po<strong>de</strong> ser totalmente <strong>de</strong>finido ou fixado pelo trabalho<br />

repetitivo <strong>da</strong>quela norma (BUTLER, 2001, p. 163-164).<br />

Dessa forma, Butler (2001) reafirma o quanto é difícil fazer parte <strong>da</strong>quilo que escapa à<br />

norma que vem sendo reitera<strong>da</strong> ao longo dos anos. Bento (2006), em pesquisa sobre<br />

transexuais, comprova o pensamento <strong>de</strong> Butler (2001) <strong>de</strong> que corpo, gênero e sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e construídos, ao lembrar que “nessas experiências, há um<br />

<strong>de</strong>slocamento entre corpo e sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, entre corpo e subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, entre corpo e<br />

performances <strong>de</strong> gênero” (BENTO, 2006, p. 77). A autora acrescenta que os estudos<br />

feministas foram os primeiros a mostrar que gênero e sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> só apresentam correspondência<br />

com o corpo se a heteronormativi<strong>da</strong><strong>de</strong> guiar esse olhar. Assim, o sujeito só é<br />

<strong>de</strong> fato construído por meio <strong>da</strong> experiência, o que elimina a idéia heterocentrista <strong>de</strong> um<br />

referente natural, original, para a vivência <strong>da</strong>s performances <strong>de</strong> gênero.<br />

Na mesma linha, Bene<strong>de</strong>tti (2005), ao pesquisar sobre travestis, conclui:<br />

As múltiplas diferenças e particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s vivencia<strong>da</strong>s pelas pessoas nesse<br />

universo social não po<strong>de</strong>m ser reduzi<strong>da</strong>s a categorias ou classificações<br />

unificadoras, pois estas, ao tornar equivalentes visões <strong>de</strong> mundo e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

às vezes até antagônicas, po<strong>de</strong>m ser arbitrárias (p. 17).<br />

A observação <strong>de</strong> Bene<strong>de</strong>tti (2005) po<strong>de</strong> ser confirma<strong>da</strong> empiricamente em questões<br />

corriqueiras do cotidiano. Impressionante é notar, por exemplo, como muitas vezes a<br />

aparência traz um julgamento ina<strong>de</strong>quado. Um fato curioso aconteceu, por exemplo,<br />

na escolha do ator que interpretaria Will Truman, do seriado Will & Grace. Cotado para o<br />

papel, o ator John Barrowman foi consi<strong>de</strong>rado hetero <strong>de</strong>mais, e a personagem ficou com<br />

Eric McCormack. Na vi<strong>da</strong> real, ironicamente, Barrowman é gay e Eric é hetero.<br />

Ao lembrar, como os autores já citados, que há sempre o parâmetro heteronormativo,<br />

Louro (2004) recupera a teoria queer e alerta para o fato <strong>de</strong> que uma política <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> se tornar cúmplice <strong>de</strong>sse sistema contra o qual ela preten<strong>de</strong> se insurgir. Ela<br />

propõe uma política pós-i<strong>de</strong>ntitária em que o alvo seria a crítica à oposição heterossexual/<br />

homossexual. A partir <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>bate, reafirmamos a posição <strong>de</strong> que discutir a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

lésbica não é apreen<strong>de</strong>r um mo<strong>de</strong>lo que seguiria uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> essencialista.<br />

– eLas por eLas 12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!