The L Word - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
The L Word - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
The L Word - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Interessa ain<strong>da</strong> pensar na dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se colocar to<strong>da</strong>s as mulheres que se i<strong>de</strong>ntificam<br />
como lésbicas sob o mesmo guar<strong>da</strong>-chuva e estar atentos para o fato <strong>de</strong> que estilos <strong>de</strong><br />
vi<strong>da</strong> e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s estão sempre em trânsito, em movimento.<br />
A partir disso, po<strong>de</strong>mos observar <strong>de</strong> que forma essas mulheres foram apresenta<strong>da</strong>s e<br />
trata<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> história. Os tipos mais comuns presentes no imaginário social, como<br />
<strong>de</strong>staca Navarro-Swain (2000), são os ligados a mulheres com aparência e atitu<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s<br />
mais masculinas. São eles: mulher-macho, paraíba, sapata, fanchona, caminhoneira,<br />
butch e dyke. Seguindo o binarismo <strong>da</strong> visão heterocentrista, por muito tempo,<br />
especialmente até a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, predominou no Brasil a visão <strong>de</strong> casais butch/<br />
femme. De um lado, a homossexual masculiniza<strong>da</strong>, provedora e liga<strong>da</strong> a um papel mais<br />
ativo na relação. Do outro, a homossexual feminina, <strong>de</strong>lica<strong>da</strong>, a mulher fazendo papel <strong>de</strong><br />
mulher. A pesquisadora espanhola Simonis (2007) argumenta que essa i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
lésbica como a mulher masculina diz muito pouco <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse grupo, que varia<br />
<strong>de</strong> classe, i<strong>da</strong><strong>de</strong>, raça e i<strong>de</strong>ologia: “(...) a única coisa que têm em comum é a opção sexual<br />
e, em alguns casos, um programa político afim” (p. 112, tradução nossa) 3 .<br />
Con<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s a viver <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> armários, ou restritas aos “brejos”, as lésbicas, também<br />
conheci<strong>da</strong>s como “sapas” no Brasil, só começaram a se organizar, tornar-se visíveis, apresentar-se<br />
coletivamente e a reivindicar direitos a partir dos anos 1960, incentiva<strong>da</strong>s também<br />
pela luta maior <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> direitos para as mulheres encampa<strong>da</strong> pelo movimento<br />
feminista. Um acontecimento que também colaborou na organização dos homossexuais<br />
foi a revolta contra as perseguições policiais a esses grupos inicia<strong>da</strong> no Stonewall Inn,<br />
em Nova York (EUA), e nas ruas ao redor, em 1969. Apesar <strong>de</strong> ter ficado conhecido mais<br />
como um embate entre homossexuais masculinos e a polícia, as lésbicas também estavam<br />
presentes. A Curve Magazine, volta<strong>da</strong> para o público lésbico nos Estados Unidos,<br />
recuperou a história <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>ssas mulheres, na edição <strong>de</strong> janeiro/fevereiro <strong>de</strong> 2008.<br />
Nesta edição, conta a história <strong>de</strong> Storme DeLarverie, hoje com 85 anos, que na noite do<br />
massacre foi confundi<strong>da</strong> com uma drag queen e levou uma garrafa<strong>da</strong> na cabeça.<br />
A partir do momento em que começaram a se agrupar, a se tornar visíveis, a se encontrar<br />
em bares e se reconhecer como grupo, as lésbicas passaram também a se <strong>de</strong>finir, tirando<br />
essa prerrogativa <strong>de</strong> grupos alheios a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entre as <strong>de</strong>finições mais emblemáticas<br />
estão a do grupo Radicalesbians, dos Estados Unidos, organizado em 1970, citado<br />
por Mott (1987) e por Sanfeliu (2007).<br />
3 “...lo único que tienen en común es su opción sexual y, en algunos casos, un programa político afin.”<br />
– eLas por eLas 14