The L Word - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
The L Word - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
The L Word - Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFMG
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Apesar <strong>de</strong> concor<strong>da</strong>rmos com o fato <strong>de</strong> ser difícil abarcar um grupo <strong>de</strong> mulheres em<br />
nome <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, discor<strong>da</strong>mos do que impulsiona a reunião <strong>de</strong> coletivos <strong>de</strong> mulheres<br />
homossexuais, que a nosso ver vai além <strong>da</strong> simples busca <strong>de</strong> uma parceira sexual.<br />
Em muitos casos, essas pessoas se aglutinam para buscar enten<strong>de</strong>r individualmente seus<br />
próprios processos e também para que, em grupo, possam passar a reivindicar o exercício<br />
efetivo <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia como casar, ter filhos, ser <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> parceira no plano <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> e no imposto <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> etc.<br />
Além disso, é certo que essas pessoas que se assumem lésbicas acabam sendo cobra<strong>da</strong>s<br />
por diversos segmentos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, como família e trabalho, e ganham um rótulo que<br />
acaba por se tornar a sua i<strong>de</strong>ntificação pessoal, a lésbica, quando, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>veria<br />
ser apenas algo que a integra, que é parte do sujeito, como observa Gomi<strong>de</strong> (2006):<br />
Em uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> heterocentrista, qualquer atitu<strong>de</strong> que afaste um ser<br />
humano nascido com o sexo feminino <strong>de</strong> seu papel <strong>de</strong> gênero <strong>de</strong> mulher<br />
é vigia<strong>da</strong> e cobra<strong>da</strong>. Nesse sentido, movimentos subjetivos que se<br />
referem na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> a uma parcela <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um indivíduo acabam<br />
aparecendo socialmente como uma característica dominante <strong>da</strong><br />
personali<strong>da</strong><strong>de</strong> e to<strong>da</strong> uma construção social é feita sobre esses <strong>de</strong>terminados<br />
atos ou características, globalmente <strong>de</strong>nominados orientação<br />
sexual (p. 28).<br />
Uma <strong>da</strong>s discussões contemporâneas mais interessantes sobre o tema é a <strong>de</strong> Luz Sanfeliu,<br />
que mostra o quanto a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> é flui<strong>da</strong>, está sempre em tensão e se cola a sua<br />
representação social. Sanfeliu (2007) traça um poético panorama <strong>da</strong> lesbiani<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir<br />
<strong>da</strong> seguinte pergunta: on<strong>de</strong> me colocam ou me coloco na foto do casamento? A brinca<strong>de</strong>ira<br />
se refere à dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se posicionar o <strong>de</strong>sejo homossexual feminino <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> discursos culturais ao longo dos tempos. Ao tentar respon<strong>de</strong>r à pergunta, a autora<br />
propõe, quadro a quadro, quais seriam as imagens <strong>da</strong>s lésbicas ao longo <strong>da</strong> história. A<br />
primeira <strong>de</strong>las, que vai até o final do século XVIII, teria muitas páginas em branco, algumas<br />
<strong>da</strong>nifica<strong>da</strong>s, apenas alguns fragmentos, que <strong>da</strong>vam notícias <strong>de</strong> pecadoras, tríba<strong>da</strong>s,<br />
viragos, mas quem elas eram? Era “L, a <strong>de</strong> mil nomes” (SANFELIU, 2008, p. 28, tradução<br />
nossa) 5 . Predominava o po<strong>de</strong>r dos homens <strong>de</strong> dizer quem eram. Logo, vigoravam a falta<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>finição social e o silêncio documental, uma vez que a matriz hegemônica <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
consi<strong>de</strong>rava a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> lésbica inexistente. A próxima imagem proposta é a do<br />
nascimento <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> lésbica, mas ain<strong>da</strong> tendo a heterossexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> como o<br />
padrão <strong>da</strong> normali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, a lésbica era aquela que sofria <strong>de</strong> alguma enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
5 “L, la <strong>de</strong> los mil nombres”<br />
– eLas por eLas 17