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VISÃO JUDAICA • julho de 2003 • Av • 5763<br />
Fundação Raoul Wallenberg<br />
homenageou três religiosos<br />
O rabino Simón Moguilevsky,<br />
membro do Conselho<br />
Diretivo da Fundação Raoul<br />
Wallenberg, esteve em Curitiba<br />
para homenagear<br />
com a medalha Souza Dantas<br />
três religiosos que se<br />
empenham no combate ao<br />
antijudaísmo, e visitou escola<br />
municipal que leva o<br />
nome do embaixador sueco, que salvou<br />
centenas de vítimas do nazismo.<br />
Moguilevsky, que foi rabino de Curitiba<br />
por nove anos, e atualmente é rabino<br />
na Congregação Israelita da República<br />
Argentina (Templo Libertad),<br />
rendeu tributo à memória de Luiz Martins<br />
de Souza Dantas, diplomata brasi-<br />
A diretora do CEI Raoul Wallenberg, no São Braz, Maria Agostinha Drulla Felipe, o<br />
aluno com melhor média e o rabino Simón Moguilevsky<br />
A Medalha<br />
Souza Dantas<br />
leiro que salvou judeus e outros perseguidos<br />
durante o Holocausto.<br />
Na ocasião do cabalat shabat do dia<br />
13 de junho, as irmãs Adola e Nehamia,<br />
religiosas Evangélicas de Maria, receberam<br />
a medalha Souza Dantas, da<br />
Fundação Raoul Wallenberg, pelo<br />
importante trabalho que fazem<br />
para a conscientização<br />
dos cristãos quanto a<br />
Shoá, combatendo o preconceito<br />
e o antijudaísmo<br />
existente no meio<br />
cristão. A fundadora de<br />
irmandade foi madre Basilea,<br />
que assumiu uma<br />
postura muito destemida<br />
durante o regime de Hitler.<br />
Como líder das estudantes cristãs<br />
na Alemanha entre 1933 e 1935<br />
a madre Basilea recusou-se a aderir à<br />
política nazista que proibia a assistência<br />
das cristãs de origem judias nas reuniões<br />
da congregação. Arriscou sua vida<br />
e carreira falando publicamente do singular<br />
destino de Israel, o povo de Dus.<br />
Presa duas vezes pela Gestapo, foi<br />
libertada apesar de sua firme postura.<br />
Por outro lado, outra das fundadoras,<br />
madre Martiria, dirigia estudos bíblicos<br />
para jovens a quem ensinava o Antigo<br />
Testamento, atividade que era<br />
proibida pelo regime de Hitler.<br />
Além das duas irmãs evangélicas foi<br />
homenageado, na segunda-feira, 16 de<br />
junho, o padre claretiano Vitor Calixto<br />
dos Santos, diretor do Studium Theologicum<br />
de Curitiba, por seu empenho na<br />
formação de religiosos dentro de uma<br />
consciência aberta ao judaísmo, mantendo<br />
no currículo regular as disciplinas<br />
de Diálogo Religioso e freqüentes<br />
seminários sobre a religião judaica. Padre<br />
Vitor mantém na biblioteca do Studium<br />
um invejável acervo de livros judaicos,<br />
visando dar suporte à formação<br />
dos futuros padres. Em 1998, ocasião<br />
da realização da assembléia<br />
anual da Comissão<br />
Nacional de Diálogo Religioso<br />
Católico Judaico,<br />
o arcebispo de Curitiba,<br />
Dom Pedro Fedalto e o<br />
professor Antonio Carlos<br />
Coelho receberam a medalha<br />
Raoul Wallenberg.<br />
Ainda na tarde do<br />
dia 16 o rabino visitou<br />
o Centro de Educação Integral<br />
Raoul Wallenberg.<br />
Na sua visita, o rabino<br />
falou sobre a vida do diplomata<br />
sueco e de Souza<br />
Dantas, embaixador<br />
brasileiro em Paris, que<br />
salvou 425 judeus, concedendo<br />
vistos para judeus<br />
perseguidos pelo<br />
regime nazista. O Centro de Educação Integral<br />
Raoul Wallenberg, é uma escola<br />
municipal que leva o nome do diplomata<br />
sueco salvador de dezenas de milhares<br />
de vidas na Hungria ocupada de 1944.<br />
Ali foi recebido pela diretora da instituição,<br />
Maria Agostinha Drulla Felipe.<br />
O CEI Raoul Wallenberg se localiza<br />
no bairro São Braz e atende a 410 alunos<br />
durante todo o dia. Os alunos têm<br />
aulas de português, matemática, história,<br />
geografia e ciências, além de<br />
participar de projetos de música, biblioteca,<br />
xadrez, artes, laboratório de<br />
matemática e educação ambiental.<br />
A escola, construída e inaugurada<br />
quando era prefeito Jaime Lerner, numa<br />
gestão do rabino Moguilevsky, educa<br />
jovens que vivem nas vizinhanças. Seu<br />
objetivo é proporcionar aos alunos, além<br />
de una educação formal, a possibilidade<br />
de que desenvolvam suas potencialidades.<br />
A escola também educa crianças<br />
de nível pré-escolar provenientes<br />
de áreas de poucos recursos econômicos<br />
para que seus pais possam trabalhar.<br />
Dedicando-se à educação escolar<br />
integral para crianças da faixa etária dos<br />
6 aos 10 anos a escola cumpre com sua<br />
missão social de Educar para a vida.<br />
Valdecir Galor/SMCS<br />
Moguilevsky distinguiu o estabelecimento<br />
educacional com a medalha<br />
Raoul Wallenberg Um dos alunos com<br />
melhor média foi o encarregado de receber<br />
a láurea.<br />
A Fundação Wallenberg é uma organização<br />
privada, não-governamental,<br />
dedicada a manter viva a memória do<br />
diplomata sueco, difundindo o seu<br />
exemplo por todo o mundo, desenvolvendo<br />
projetos educativos baseados no<br />
conceito de solidariedade e entendimento.<br />
Com sedes em Jerusalém, Nova York,<br />
Buenos Aires e Caracas, a fundação tem<br />
por objetivo perpetuar e valorizar as<br />
ações humanitárias, especialmente daqueles<br />
que puseram suas vidas em risco<br />
durante a Segunda Guerra Mundial, como<br />
Raoul Wallenberg, Cardeal Angelo Roncalli,<br />
Aristides Souza Mendes, Jan Karsky<br />
e outros tantos.<br />
Raoul Wallenberg<br />
Raoul Wallenberg chegou a Budapeste<br />
em 1944, portando um passaporte diplomático.<br />
Sua missão era relatar a situação<br />
dos judeus e outras minorias na<br />
capital húngara. O governo sueco atendia<br />
um pedido neste sentido feito, entre<br />
outros, pelo Congresso Judaico Mundial.<br />
Desde março daquele ano, os nazistas<br />
haviam ocupado a Hungria.<br />
As tropas chegaram acompanhadas<br />
das famigeradas SS e Gestapo, que dominavam<br />
à revelia das minorias. Adolf<br />
Eichmann organizava a deportação de<br />
judeus húngaros para os campos de<br />
concentração. Até a chegada de Wallenberg,<br />
já haviam sido levadas 437 mil<br />
pessoas. O jovem sueco impôs-se a tarefa<br />
de salvar os 200 mil que ainda restavam,<br />
expedindo salvo-condutos em<br />
nome da representação diplomática.<br />
Para melhor atingir seus objetivos,<br />
Wallenberg aproveitou-se da grande influência<br />
de sua família (Scania). Esta,<br />
Crianças em atividades no Cei Raoul Wallnberg, São Braz<br />
O diplomata sueco Raoul Wallenberg<br />
por seu lado, mantinha contatos com<br />
a Alemanha nazista. Os negócios do tio<br />
de Raoul, Jakob, beneficiavam a indústria<br />
armamentista alemã. Estas ligações<br />
eram acompanhadas pelo serviço de espionagem<br />
russo.<br />
Em janeiro de 1945, o governo sueco<br />
foi informado por Moscou que Raoul<br />
havia sido preso pelos russos em Budapeste.<br />
Wallenberg foi visto em liberdade<br />
pela última vez em 17 de janeiro<br />
de 1945, em Budapeste, quando tinha<br />
32 anos. O então Ministério russo do<br />
Interior ordenou que ele fosse levado<br />
imediatamente à capital soviética, onde<br />
suas pistas se perderam nas malhas do<br />
serviço de espionagem.<br />
Em fevereiro de 1957, Gromiko informou<br />
à embaixada da Suécia em Moscou<br />
que Wallenberg morrera de enfarte<br />
numa prisão do serviço secreto em<br />
1947. Mais tarde, Alexander Iakovlev,<br />
chefe da Comissão de Reabilitação da<br />
presidência russa, confessou que o sueco<br />
foi executado a tiros. O mistério,<br />
entretanto, prossegue.<br />
Durante muito tempo, acreditou-se<br />
que ele ainda vivia e que estivesse internado<br />
numa clínica psiquiátrica até<br />
1989. Neste ano, o governo russo chamou<br />
os familiares de Raoul a Moscou<br />
para buscarem seus pertences pessoais:<br />
passaporte, agenda de endereços, dinheiro<br />
e uma cigarreira.<br />
Em dezembro de 2000, a Rússia voltou<br />
a admitir oficialmente que o diplomata<br />
sueco foi erroneamente encarcerado<br />
pelos soviéticos até sua morte. Uma