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THAINÁ CASTILLO SALIN<<strong>br</strong> />

CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO<<strong>br</strong> />

MUNICÍPIO DE IBIMIRIM, REGIÃO SEMIÁRIDA DE<<strong>br</strong> />

PERNAMBUCO: AS BASES PARA UM PLANEJAMENTO<<strong>br</strong> />

AGROFLORESTAL<<strong>br</strong> />

Recife<<strong>br</strong> />

2010


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO<<strong>br</strong> />

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA FLORESTAL<<strong>br</strong> />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS<<strong>br</strong> />

CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO<<strong>br</strong> />

MUNICÍPIO DE IBIMIRIM, REGIÃO SEMIÁRIDA DE<<strong>br</strong> />

PERNAMBUCO: AS BASES PARA UM PLANEJAMENTO<<strong>br</strong> />

AGROFLORESTAL<<strong>br</strong> />

Dissertação <strong>de</strong> Mestrado apresentada à<<strong>br</strong> />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco<<strong>br</strong> />

para obtenção <strong>de</strong> Título <strong>de</strong> Mestre em Ciências<<strong>br</strong> />

Florestais, Área <strong>de</strong> Concentração: Manejo<<strong>br</strong> />

Florestal.<<strong>br</strong> />

MESTRANDA: Thainá Castillo Salin<<strong>br</strong> />

ORIENTADOR:<<strong>br</strong> />

Dr. Rinaldo Luiz Caraciolo Ferreira<<strong>br</strong> />

CO-ORIENTADORES:<<strong>br</strong> />

Dra. Sônia Formiga <strong>de</strong> Albuquerque<<strong>br</strong> />

Ph.D. José Antônio Aleixo da Silva<<strong>br</strong> />

Recife<<strong>br</strong> />

2010


Ficha catalográfica<<strong>br</strong> />

S165c Salin, Thainá Castillo<<strong>br</strong> />

Caracterização <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> no município<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Ibimirim, região semiárida <strong>de</strong> Pernambuco: as bases para<<strong>br</strong> />

o planejamento agroflorestal / Thainá Castillo Sain. – 2010.<<strong>br</strong> />

124 f. : il<<strong>br</strong> />

Orientador: Rinaldo Luiz Caraciolo Ferreira<<strong>br</strong> />

Dissertação (Mestrado em Ciência Florestal) – Universida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco. Departamento <strong>de</strong> Ciência<<strong>br</strong> />

Florestal, Recife, 2010.<<strong>br</strong> />

Inclui referências e anexo.<<strong>br</strong> />

1. Transição agroecológica 2. Diagnóstico rural 3. Caatinga<<strong>br</strong> />

4. Sustentabilida<strong>de</strong> 5. Agricultura familiar I. Ferreira, Rináldo<<strong>br</strong> />

Luiz Caraciolo, orientador II. Título<<strong>br</strong> />

CDD 634.9<<strong>br</strong> />

i


THAINÁ CASTILLO SALIN<<strong>br</strong> />

CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO<<strong>br</strong> />

MUNICÍPIO DE IBIMIRIM, REGIÃO SEMIÁRIDA DE<<strong>br</strong> />

PERNAMBUCO: AS BASES PARA UM PLANEJAMENTO<<strong>br</strong> />

AGROFLORESTAL<<strong>br</strong> />

A<strong>pro</strong>vada em 25/02/2010<<strong>br</strong> />

BANCA EXAMINADORA<<strong>br</strong> />

Orientador:<<strong>br</strong> />

_____________________________________<<strong>br</strong> />

Ulysses Paulino <strong>de</strong> Albuquerque, D.Sc.<<strong>br</strong> />

Departamento <strong>de</strong> Biologia/UFRPE<<strong>br</strong> />

_____________________________________<<strong>br</strong> />

José Nunes da Silva, D.Sc.<<strong>br</strong> />

Departamento <strong>de</strong> Educação/UFRPE<<strong>br</strong> />

_____________________________________<<strong>br</strong> />

Paulo Cesar Oliveira Diniz, D.Sc.<<strong>br</strong> />

Departamento <strong>de</strong> Educação/UFRPE<<strong>br</strong> />

_____________________________________<<strong>br</strong> />

Rinaldo Luiz Caraciolo Ferreira, D.Sc.<<strong>br</strong> />

Departamento <strong>de</strong> Ciência Florestal/UFRPE<<strong>br</strong> />

ii


DEDICO<<strong>br</strong> />

Aos agricultores e agricultoras <strong>de</strong> Ibimirim<<strong>br</strong> />

Aos sonhadores, viajantes e curan<strong>de</strong>iros<<strong>br</strong> />

do planeta...<<strong>br</strong> />

À harmonia entre todos os seres, e que em<<strong>br</strong> />

comunhão possamos dançar e cantar por<<strong>br</strong> />

um Único Coração...<<strong>br</strong> />

Juntos somos um.<<strong>br</strong> />

iii


"Adotar e amar um pedaço da Mãe Terra é muito mais do que simplesmente<<strong>br</strong> />

criar <strong>sistemas</strong> para manter vivo o nosso corpo físico: é o resgate <strong>pro</strong>fundo da relação<<strong>br</strong> />

do homem com a Natureza, <strong>de</strong> substituir o tempo <strong>de</strong> relógio - nossa escravidão - por<<strong>br</strong> />

ritmos. Tempo <strong>de</strong> caju, tempo <strong>de</strong> manga. O levantar e pôr do sol. A lua minguando e<<strong>br</strong> />

crescendo... E percebemos que, <strong>de</strong> fato, precisamos <strong>de</strong> muito pouco para sentir a<<strong>br</strong> />

felicida<strong>de</strong>; que a integração com a beleza natural é uma fonte <strong>de</strong> satisfação mais<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>funda e serena do que gran<strong>de</strong>s conquistas no mundo urbano"<<strong>br</strong> />

(Marsha Hanzi)<<strong>br</strong> />

iv


Eu quero, quero<<strong>br</strong> />

Um canto <strong>de</strong> paz<<strong>br</strong> />

O canto da chuva<<strong>br</strong> />

O canto do vento<<strong>br</strong> />

A paz do índio<<strong>br</strong> />

A paz do céu<<strong>br</strong> />

A paz do arco-íris<<strong>br</strong> />

A cara do Sol<<strong>br</strong> />

O sorriso da Lua<<strong>br</strong> />

Junto à natureza em comunhão<<strong>br</strong> />

Eu tô voando feito um passarinho<<strong>br</strong> />

Ziguezagueando feito borboleta<<strong>br</strong> />

Tô me sentindo como um canarinho<<strong>br</strong> />

Eu tô pensando em minha violeta<<strong>br</strong> />

Êta, êta, êta, êta, êta<<strong>br</strong> />

Êta, êta, êta, êta, êta<<strong>br</strong> />

O som da cachoeira me levando<<strong>br</strong> />

As águas <strong>de</strong>sse rio me acalmando<<strong>br</strong> />

O som da cachoeira me levando<<strong>br</strong> />

As águas <strong>de</strong>sse rio me acalmando<<strong>br</strong> />

(Fernando Guimarães)<<strong>br</strong> />

v


É com meu coração que agra<strong>de</strong>ço...<<strong>br</strong> />

GRATIDÃO<<strong>br</strong> />

Agra<strong>de</strong>ço a Força Criadora pela magia da vida.<<strong>br</strong> />

A força da natureza manifestada na energia <strong>de</strong> Gaia por me guiar.<<strong>br</strong> />

Agra<strong>de</strong>ço ao glorioso Sol e a gloriosa Lua por iluminar meu coração e transformar<<strong>br</strong> />

cada dia num gran<strong>de</strong> presente.<<strong>br</strong> />

A minha linda família muito amor e gratidão. Queridos e amados pai Valdir, mãe Beth,<<strong>br</strong> />

irmão Thiago e cunhada Michele por todo apoio e amor incondicional.<<strong>br</strong> />

Ao <strong>de</strong>mais familiares, em especial tia Inês e primo Ga<strong>br</strong>ielzinho, mãe e irmão <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

coração, agra<strong>de</strong>ço.<<strong>br</strong> />

Aos irmãos/as <strong>de</strong> jornada com quem posso comungar da mais bela entrega <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

amiza<strong>de</strong> e encher meu coração <strong>de</strong> alegria e felicida<strong>de</strong>. E que junt@s possamos<<strong>br</strong> />

sempre voar. Às fadinhas Eliane (borboleta), Amanda, Tássia, Lulis, Carolzinha, Beta<<strong>br</strong> />

e Nara Sharu e aos irmãzinhos Gui, Gu e Felipe por todos os sonhos compartilhados.<<strong>br</strong> />

Aos queridos amigos Tarcísio e Rafael que tanto me ajudaram na construção <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />

trabalho. Pela ajuda e paciência, muita gratidão.<<strong>br</strong> />

Ao Timão (Leandro), Thiago e Pedro companheiros <strong>de</strong> casa e <strong>de</strong> coração. Pela<<strong>br</strong> />

companhia nas tantas noites <strong>de</strong> insônia, pelas risadas, pelos om<strong>br</strong>os amigos, pelos<<strong>br</strong> />

cinemas e pipocas, pelas longas conversas em busca <strong>de</strong> sentido para tudo que não<<strong>br</strong> />

faz sentido.<<strong>br</strong> />

Agra<strong>de</strong>ço à tod@s @s agricultores <strong>de</strong> Ibimirim que participaram direta ou<<strong>br</strong> />

indiretamente <strong>de</strong>ste trabalho, agra<strong>de</strong>ço imensamente cada sorriso com que fui<<strong>br</strong> />

recebida. Sorriso <strong>de</strong> seu João, <strong>de</strong> dona Maria, seu Pedro e dona Antonia, seu Nivaldo,<<strong>br</strong> />

dona Nicinha, seu Zé, seu Sebastião... Grata por transformarem este trabalho numa<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> realização pessoal.<<strong>br</strong> />

Ao pessoal do Sindicato dos/as Trabalhadores/as Rurais <strong>de</strong> Ibimirim pelo fundamental<<strong>br</strong> />

apoio, em especial ao seu Cícero e dona Letinha.<<strong>br</strong> />

vi


Ao pessoal do SERTA <strong>de</strong> Ibimirim em especial a Janaína e Iri, ao Centro Sabiá, à<<strong>br</strong> />

Secretaria <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Ibimirim, à Univale, so<strong>br</strong>etudo ao Renato, e ao jovem<<strong>br</strong> />

agricultor Valmir.<<strong>br</strong> />

Ao meu orientador Rinaldo Luiz Caraciolo Ferreira por toda ajuda e confiança. Grata<<strong>br</strong> />

por acreditar.<<strong>br</strong> />

Aos co-orientadores Sonia Formiga e José Antônio Aleixo e ao <strong>pro</strong>fessor Jorge Mattos<<strong>br</strong> />

por toda colaboração.<<strong>br</strong> />

Aos estudantes <strong>de</strong> engenharia florestal Tagory, pela ajuda com a tabulação dos<<strong>br</strong> />

dados, e Felipe pelos mapas.<<strong>br</strong> />

Ao Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à<<strong>br</strong> />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE) e ao Programa <strong>de</strong> Pós<<strong>br</strong> />

Graduação em Ciências Florestais (PPGCF) pela viabilização <strong>de</strong>ste trabalho.<<strong>br</strong> />

Agra<strong>de</strong>ço enfim ao amor incondicional que tem movido todos os <strong>pro</strong>pósitos <strong>de</strong> minha<<strong>br</strong> />

vida.<<strong>br</strong> />

Ahô<<strong>br</strong> />

Namastê<<strong>br</strong> />

Haribol<<strong>br</strong> />

vii


LISTA DE FIGURAS<<strong>br</strong> />

LISTA DE QUADROS<<strong>br</strong> />

LISTA DE TABELAS<<strong>br</strong> />

SUMÁRIO<<strong>br</strong> />

Página<<strong>br</strong> />

RESUMO .............................................................................................................................................. xiii<<strong>br</strong> />

ABSTRACT.......................................................................................................................................... xv<<strong>br</strong> />

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1<<strong>br</strong> />

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................ 4<<strong>br</strong> />

1.1. UM NOVO PARADIGMA DE DESENVOLVIMENTO .................................................... 4<<strong>br</strong> />

1.1.1. O eco<strong>de</strong>senvolvimento e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável .................................. 4<<strong>br</strong> />

1.1.2. A sustentabilida<strong>de</strong> nos <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> rural: O ponto <strong>de</strong> partida ............. 8<<strong>br</strong> />

1.2. A PERSPECTIVA AGROECOLÓGICA PARA A PROMOÇÃO DE SISTEMAS<<strong>br</strong> />

SUSTENTÁVEIS .............................................................................................................................. 10<<strong>br</strong> />

1.2.1. Os <strong>de</strong>bates teóricos da Agroecologia ................................................................ 10<<strong>br</strong> />

1.2.2. Os Sistemas Agroflorestais como estratégia para a transição agroecológica .... 13<<strong>br</strong> />

1.2.2.1. Classificação dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais ...................................................... 15<<strong>br</strong> />

1.3. LEVANTAMENTO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL DOS SISTEMAS DE<<strong>br</strong> />

PRODUÇÃO RURAL COMO SUBSÍDIO PARA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS<<strong>br</strong> />

AGROFLORESTAIS ....................................................................................................................... 17<<strong>br</strong> />

1.4. OS DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE NO BIOMA CAATINGA ....................... 19<<strong>br</strong> />

1.4.1. Áreas prioritárias para estratégias sustentáveis na Caatinga Pernambucana ... 21<<strong>br</strong> />

2. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................ 23<<strong>br</strong> />

2.1. Área <strong>de</strong> estudo ......................................................................................................................... 23<<strong>br</strong> />

2.1.1. Localização, solo, clima e vegetação ................................................................ 23<<strong>br</strong> />

2.1.2. Histórico e ocupação......................................................................................... 25<<strong>br</strong> />

2.2. Seleção da área <strong>de</strong> estudo e da amostra ....................................................................... 25<<strong>br</strong> />

2.3. Coleta e análise <strong>de</strong> dados .................................................................................................... 28<<strong>br</strong> />

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................. 32<<strong>br</strong> />

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA FAMÍLIA, DA UNIDADE PRODUTIVA E DA<<strong>br</strong> />

ATIVIDADE ........................................................................................................................................ 32<<strong>br</strong> />

3.1.1. Aspectos Gerais ................................................................................................ 32<<strong>br</strong> />

3.1.2. Aspectos socioculturais ..................................................................................... 35<<strong>br</strong> />

3.1.2.1. Ida<strong>de</strong> e escolarida<strong>de</strong> ...................................................................................... 35<<strong>br</strong> />

viii


3.1.2.2. O histórico e a família .................................................................................... 37<<strong>br</strong> />

3.1.2.3. Terras e situação fundiária ............................................................................. 38<<strong>br</strong> />

3.1.2.4. A família e as condições <strong>de</strong> moradia .............................................................. 40<<strong>br</strong> />

3.1.2.5. Acesso à serviços .......................................................................................... 43<<strong>br</strong> />

3.1.2.6. Ocupação familiar e contratação <strong>de</strong> trabalhador externo ............................... 43<<strong>br</strong> />

3.1.2.7. Capacitação e Assistência Técnica ................................................................ 45<<strong>br</strong> />

3.1.3. Aspectos ambientais: A unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva e a paisagem ................................ 48<<strong>br</strong> />

3.1.3.1. Relevo e solo ................................................................................................. 48<<strong>br</strong> />

3.1.3.2. Água .............................................................................................................. 49<<strong>br</strong> />

3.1.3.3. Paisagem natural da unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva ou do entorno .................................. 51<<strong>br</strong> />

3.1.4. Aspectos <strong>pro</strong>dutivos: os <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> e as ativida<strong>de</strong>s ....................... 53<<strong>br</strong> />

3.1.4.1. Sistemas <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agrícola ...................................................................... 53<<strong>br</strong> />

3.1.4.2. Sistemas <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> animal ........................................................................ 58<<strong>br</strong> />

3.1.4.3. Extrativismo da caatinga e manejo florestal ................................................... 60<<strong>br</strong> />

3.1.4.4. Pesca artesanal e piscicultura ........................................................................ 62<<strong>br</strong> />

3.1.4.5. Sistemas apícolas .......................................................................................... 63<<strong>br</strong> />

3.1.5. Aspectos econômicos ....................................................................................... 66<<strong>br</strong> />

3.1.5.1. Comercialização ............................................................................................ 66<<strong>br</strong> />

3.1.5.1. Renda familiar ................................................................................................ 68<<strong>br</strong> />

3.2. O USO DOS RECURSOS FLORESTAIS DA CAATINGA ........................................ 72<<strong>br</strong> />

3.2.1. Uso ma<strong>de</strong>ireiro .................................................................................................. 73<<strong>br</strong> />

3.2.2. Uso forrageiro ................................................................................................... 75<<strong>br</strong> />

3.2.2. Uso apícola ....................................................................................................... 77<<strong>br</strong> />

3.2.4. Uso frutífero ............................................................................................................................... 78<<strong>br</strong> />

3.2.5. Uso medicinal ........................................................................................................................... 79<<strong>br</strong> />

3.3. PROPOSTAS AGROECOLÓGICAS PARA A TRANSIÇÃO AGROFLORESTAL<<strong>br</strong> />

EM IBIMIRIM – PE .......................................................................................................................... 81<<strong>br</strong> />

3.3.1. Bases para a implantação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agroflorestais em Ibimirim.................... 81<<strong>br</strong> />

3.3.2. Manejo ecológico do solo do Semi-Árido .......................................................... 83<<strong>br</strong> />

3.3.3. Captação <strong>de</strong> água ............................................................................................. 85<<strong>br</strong> />

3.3.4. Fomento a <strong>sistemas</strong> agroflorestais – Linhas <strong>de</strong> crédito ............................................. 87<<strong>br</strong> />

3.3.5. Estratégias <strong>de</strong> mercado e organização social coletiva ............................................... 88<<strong>br</strong> />

CONCLUSÕES .................................................................................................................................... 90<<strong>br</strong> />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 92<<strong>br</strong> />

ANEXO .................................................................................................................................................104<<strong>br</strong> />

ix


LISTA DE FIGURAS<<strong>br</strong> />

Página<<strong>br</strong> />

Figura 1: Localização da área <strong>de</strong> estudo, município <strong>de</strong> Ibimirim – PE, sertão<<strong>br</strong> />

pernambucano Nor<strong>de</strong>ste do Brasil ............................................................................................... 23<<strong>br</strong> />

Figura 2: Comunida<strong>de</strong>s e assentamentos rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE selecionados para<<strong>br</strong> />

pesquisa ................................................................................................................................................. 29<<strong>br</strong> />

Figura 3: (a) Açu<strong>de</strong> Eng. Francisco Sabóia; (b) Canal <strong>de</strong> irrigação do Perímetro<<strong>br</strong> />

Irrigado do Moxotó (PIMOX) ............................................................................................................ 32<<strong>br</strong> />

Figura 4: Faixa etária dos/as trabalhadores/as rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE ........................... 35<<strong>br</strong> />

Figura 5: Escolarida<strong>de</strong> dos/as trabalhadores/as rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE ......................... 36<<strong>br</strong> />

Figura 6: Tamanho das unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas (UP) em Ibimirim – PE ............................... 39<<strong>br</strong> />

Figura 7: Vegetação <strong>de</strong> Caatinga inserida nas Unida<strong>de</strong>s Produtivas ......................... 51<<strong>br</strong> />

Figura 8: (a) Cultivo convencional <strong>de</strong> banana; (b) Cultivo convencional <strong>de</strong> tomate; (c)<<strong>br</strong> />

Policultivo consorciado <strong>de</strong> banana; (d) Composteira para cultivo orgânico ..................... 54<<strong>br</strong> />

Figura 9: Principais culturas anuais e permanentes cultivadas na <strong><strong>pro</strong>dução</strong> irrigada em<<strong>br</strong> />

Ibimirim – PE .............................................................................................................. 54<<strong>br</strong> />

Figura 10: (a) Cultivo tradicional <strong>de</strong> sequeiro; (b) quintal agroflorestal; (c) cultivo<<strong>br</strong> />

consorciado <strong>de</strong> sequeiro ............................................................................................. 57<<strong>br</strong> />

Figura 11: Principais culturas anuais e permanentes cultivadas na agricultura<<strong>br</strong> />

tradicional em Ibimirim – PE ....................................................................................... 57<<strong>br</strong> />

Figura 12: (a) Corte <strong>de</strong> lenha para uso doméstico e carvão; (b) forno <strong>de</strong> tijolo para<<strong>br</strong> />

carvão; (c) forno <strong>de</strong> “caieira” para carvão .................................................................................... 60<<strong>br</strong> />

Figura 13: (a) Pesca artesanal no açu<strong>de</strong> “Poço da Cruz”; (b) fa<strong>br</strong>icação artesanal <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesca; (c) piscicultura com tanque escavado; (d) piscicultura com tanque <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

re<strong>de</strong> ............................................................................................................................ 64<<strong>br</strong> />

Figura 14: (a) Caixa Langstroth; (b) Apiário ............................................................................... 64<<strong>br</strong> />

Figura 15: Indicação do uso das espécies florestais da Caatinga pelos agricutlores<<strong>br</strong> />

locais ........................................................................................................................................................ 72<<strong>br</strong> />

x


LISTA DE QUADROS<<strong>br</strong> />

Página<<strong>br</strong> />

Quadro 1: Principais ativida<strong>de</strong>s rurais <strong>pro</strong>dutivas <strong>de</strong>senvolvidas no município <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Ibimirim - PE, com base em levantamentos iniciais, para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> amostragem<<strong>br</strong> />

estratificada ........................................................................................................................................... 26<<strong>br</strong> />

Quadro 2: Dimensões abordadas em entrevista semi-estruturada para <strong>caracterização</strong><<strong>br</strong> />

da estrutura e funcionamento das <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s rurais, e organização familiar rural no<<strong>br</strong> />

município <strong>de</strong> Ibimirim, PE ................................................................................................................. 30<<strong>br</strong> />

Quadro 3: Principais ocupações remuneradas dos chefes <strong>de</strong> família, <strong>de</strong>senvolvidas<<strong>br</strong> />

fora da unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva, em Ibimirm – PE ............................................................................... 44<<strong>br</strong> />

Quadro 4: Cursos <strong>de</strong> capacitação oferecidos aos agricultores/as familiares <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Ibimirim- PE e respectivos órgãos capacitadores ..................................................................... 47<<strong>br</strong> />

Quadro 5: Produtos comercializados, <strong>de</strong>stinos da <strong><strong>pro</strong>dução</strong>, canais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

comercialização, e <strong>de</strong>terminação do preço dos <strong>pro</strong>dutos rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

................................................................................................................................................................... 66<<strong>br</strong> />

Quadro 6: Principais <strong>de</strong>spesas com a ativida<strong>de</strong> e com a família <strong>de</strong> trabalhadores/as<<strong>br</strong> />

rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE ................................................................................................ 71<<strong>br</strong> />

xi


LISTA DE TABELAS<<strong>br</strong> />

Página<<strong>br</strong> />

Tabela 1: Instrução dos agricultores/as familiares por faixa etária em Ibimirim – PE . 36<<strong>br</strong> />

Tabela 2: Área total média da unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutiva (UP), e posse das terras conforme<<strong>br</strong> />

grupos <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong>pro</strong>duçaõ <strong>de</strong> Ibimirim – PE ................................................................. 39<<strong>br</strong> />

Tabela 3: Composição média familiar e a situação da moradia dos/as trabalhadores/as<<strong>br</strong> />

rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE ....................................................................................................................... 40<<strong>br</strong> />

Tabela 4: Abastecimento <strong>de</strong> água, saneamento básico e presença <strong>de</strong> banheiro ou<<strong>br</strong> />

sanitário nos domicílios dos trabalhadores/as rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE ........................ 41<<strong>br</strong> />

Tabela 5: Percentual <strong>de</strong> moradias <strong>de</strong> trabalhadores/as rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE com<<strong>br</strong> />

equipamentos domésticos ................................................................................................................ 42<<strong>br</strong> />

Tabela 6: Percentual <strong>de</strong> trabalhadores/as rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE que possuem veículo<<strong>br</strong> />

para transporte ..................................................................................................................................... 42<<strong>br</strong> />

Tabela 7: Qualida<strong>de</strong> dos serviços públicos oferecidos no município <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

................................................................................................................................................................... 43<<strong>br</strong> />

Tabela 8: Percentual <strong>de</strong> famílias ocupadas com ativida<strong>de</strong> agrícola e não agrícola nos<<strong>br</strong> />

diferentes grupos <strong>de</strong> agricultores/as em Ibimirim – PE .......................................................... 44<<strong>br</strong> />

Tabela 9: Trabalhador familiar e trabalhadores contratados permanente ou<<strong>br</strong> />

eventualmente nas unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas (UP) em Ibimirim – PE ........................................ 46<<strong>br</strong> />

Tabela 10: Percentual dos trabalhadores/as rurais capacitados e assistidos<<strong>br</strong> />

tecnicamente em Ibimirim – PE ...................................................................................................... 46<<strong>br</strong> />

Tabela 11: Nível <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> água entre os agricultores/as <strong>de</strong> Ibimirim – PE ........ 49<<strong>br</strong> />

Tabela 12: Grau <strong>de</strong> conservação da caatinga nativa na <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> ou no entorno<<strong>br</strong> />

segundo visão do informante ........................................................................................................... 52<<strong>br</strong> />

Tabela 13: Percentual <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutores criadores (%PC) e quantida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> animais<<strong>br</strong> />

por unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva (QUP) para as ativida<strong>de</strong>s rurais em Ibimirim – PE ........................ 59<<strong>br</strong> />

Tabela 14: Recursos da caatinga extraídos pela população rural <strong>de</strong> Ibimirim – PE ..... 60<<strong>br</strong> />

Tabela 15: Principais <strong>de</strong>stinos e usos dos recursos florestais da Caatinga, Ibimirim –<<strong>br</strong> />

PE ............................................................................................................................... 61<<strong>br</strong> />

Tabela 16: Fonte <strong>de</strong> renda da ocupação agrícola das famílias dos agricultores/as em<<strong>br</strong> />

Ibimirim – PE ......................................................................................................................................... 68<<strong>br</strong> />

Tabela 17:Fonte <strong>de</strong> renda extra das famílias <strong>de</strong> agricultores/as <strong>de</strong> Ibimirim – PE ....... 70<<strong>br</strong> />

Tabela 18: Recorrência das famílias <strong>de</strong> agricultores/as <strong>de</strong> Ibimirim – PE a créditos<<strong>br</strong> />

rurais ou emrpéstimos financeiros .............................................................................. 71<<strong>br</strong> />

Tabela 19: Lista das espécies ma<strong>de</strong>ireiras da Caatinga usadas pelos/as<<strong>br</strong> />

agricultores/as <strong>de</strong> Ibimirim – PE ................................................................................. 74<<strong>br</strong> />

Tabela 20: Listas das espécies forrageiras da Caatinga usadas na alimentação dos<<strong>br</strong> />

rebanhos <strong>de</strong> Ibimirim – PE ............................................................................................................. 76<<strong>br</strong> />

Tabela 21: Lista das espécies apícolas da Caatinga mencionadas pelos/as<<strong>br</strong> />

agricultores <strong>de</strong> Ibimirim – PE .......................................................................................................... 77<<strong>br</strong> />

Tabela 22: Lista das espécies medicinais da Caatinga mencionadas pelos/as<<strong>br</strong> />

agricultores/as <strong>de</strong> Ibimirim .......................................................................................... 79<<strong>br</strong> />

xii


RESUMO<<strong>br</strong> />

Os <strong>pro</strong>blemas socioeconômicos e ambientais enfrentados pelas populações rurais do<<strong>br</strong> />

Semiárido <strong>br</strong>asileiro, agravados pelas formas convencionais <strong>de</strong> uso da terra<<strong>br</strong> />

intensificadoras dos <strong>pro</strong>cessos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação da Caatinga, reforçam a importância do<<strong>br</strong> />

levantamento <strong>de</strong> informações acerca dos <strong>sistemas</strong> <strong>pro</strong>dutivos praticados na região,<<strong>br</strong> />

visando à implantação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> sustentáveis, baseados nos princípios<<strong>br</strong> />

agroecológicos. Nesse sentido, o objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa foi caracterizar os principais<<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> rurais praticadas no município <strong>de</strong> Ibimirim, Sertão <strong>de</strong> Pernambuco, para a<<strong>br</strong> />

obtenção <strong>de</strong> informações que possam servir como subsídio para a implantação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> agroflorestais com base num planejamento sustentável para o<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento rural da região. Para tanto, foram caracterizadas diferentes unida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutivas, através <strong>de</strong> entrevistas semi-estruturadas com os agricultores locais. Os<<strong>br</strong> />

entrevistados foram selecionados por meio <strong>de</strong> amostragem estratificada, em que cada<<strong>br</strong> />

estrato foi composto pela principal ativida<strong>de</strong> rural exercida pela família, associada ou<<strong>br</strong> />

não a outras ativida<strong>de</strong>s rurais, sendo estes: Grupo 1: <strong>sistemas</strong> agrícolas irrigados;<<strong>br</strong> />

Grupo 2: <strong>sistemas</strong> tradicionais e extrativismo florestal; Grupo 3: apicultura; Grupo 4:<<strong>br</strong> />

pesca artesanal. Foram amostrados 5% dos pequenos <strong>pro</strong>dutores do grupo 1, 2 e 3 e<<strong>br</strong> />

2% do grupo 4, por ser esse um grupo mais homogêneo. Foram também levantadas e<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ntificadas, por meio <strong>de</strong> turnê guiada, as espécies florestais da caatinga mais<<strong>br</strong> />

utilizadas pela população local. As características levantadas indicaram que os<<strong>br</strong> />

apicultores e os agricultores irrigantes apresentaram as melhores condições<<strong>br</strong> />

socioeconômicas. No entanto, a ativida<strong>de</strong> irrigada tem contribuído para os <strong>pro</strong>cessos<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação do solo e dos recursos hídricos, além <strong>de</strong> apresentar limitada autonomia<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutiva dos agricultores <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> insumos externos. Por outro lado,<<strong>br</strong> />

a alta adaptabilida<strong>de</strong> dos <strong>sistemas</strong> tradicionais e o caráter conservacionista da<<strong>br</strong> />

apicultura têm gerado baixo impacto so<strong>br</strong>e os ecos<strong>sistemas</strong> locais. A pesca, o<<strong>br</strong> />

extrativismo florestal e o manejo florestal são ativida<strong>de</strong>s que permitem a manutenção<<strong>br</strong> />

dos agricultores no meio rural e constituem uma importante fonte <strong>de</strong> renda nos<<strong>br</strong> />

períodos <strong>de</strong> estiagem. A diversificação das ativida<strong>de</strong>s e a integração <strong>de</strong> diferentes<<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> <strong>pro</strong>dutivos tem sido uma estratégia <strong>de</strong> viabilização das unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas,<<strong>br</strong> />

uma possibilida<strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda e melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para<<strong>br</strong> />

os agricultores familiares da região, <strong>de</strong>ssa forma, <strong>sistemas</strong> agroflorestais <strong>de</strong> uso<<strong>br</strong> />

múltiplo, que visem, so<strong>br</strong>etudo, a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> lenha, forragem e <strong>pro</strong>dutos alimentícios<<strong>br</strong> />

xiii


para o consumo familiar, <strong>de</strong>vem ser priorizados em <strong>pro</strong>gramas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<<strong>br</strong> />

rural sustentável para a região.<<strong>br</strong> />

Palavras-chave: transição agroecológica, diagnóstico rural, sustentabilida<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />

agricultura familiar, Caatinga<<strong>br</strong> />

xiv


ABSTRACT<<strong>br</strong> />

The social economic and environmental <strong>pro</strong>blems faced by the rural populations in the<<strong>br</strong> />

Brazilian Semi-arid, aggravated by the intensifying conventional ways to use the soil in<<strong>br</strong> />

the Caatinga <strong>de</strong>gradation <strong>pro</strong>cess, reinforce the importance of raising information<<strong>br</strong> />

about the <strong>pro</strong>ductive systems practiced in the region, seeking the sustainable systems<<strong>br</strong> />

implementation, based on the rural activities principles practiced in the city of Ibimirim,<<strong>br</strong> />

an inland town in Pernambuco, for the information obtention that could be useful as an<<strong>br</strong> />

assistance for the agro forest systems implementation with the base on a sustainable<<strong>br</strong> />

planning for the rural region <strong>de</strong>velopment.<<strong>br</strong> />

For this study, different <strong>pro</strong>ductive unities were personalized through semi-structured<<strong>br</strong> />

interviews with the local agricultures. The interviewed people were selected through the<<strong>br</strong> />

stratified sampling, where each layer was composed by the main activity executed by<<strong>br</strong> />

the family, associated or not to other activities, correspon<strong>de</strong>nt to: Group 1: irrigated<<strong>br</strong> />

agricultural systems; Group 2: traditional systems and forest extractivism; Group 3:<<strong>br</strong> />

apiculture; Group 4: handicraft fishing. For the sampling, 5% were used from the small<<strong>br</strong> />

agriculturist in the groups 1, 2 and 3 and 2% from the group 4, due to this group being<<strong>br</strong> />

more homogeneous. Also, the most utilized forest species by the population in the<<strong>br</strong> />

caatinga were i<strong>de</strong>ntified. The i<strong>de</strong>ntified characteristics indicated that the apicultures<<strong>br</strong> />

and the irrigating agriculturists presented the best social economic conditions.<<strong>br</strong> />

Nevertheless, the irrigated activity has contributed for the soil and hydric resource<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>gradation, passing over the limited agriculturist <strong>pro</strong>ductive autonomy due to the<<strong>br</strong> />

extern raw materials <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce. On the other si<strong>de</strong>, the traditional systems high<<strong>br</strong> />

adaptability and the apiculture conservationist character have generated a low impact<<strong>br</strong> />

un<strong>de</strong>r the local ecosystems. The fishing, forest extractivism and forest management<<strong>br</strong> />

are activities that allow the agriculturist maintenance in the rural environment and<<strong>br</strong> />

constitute a source of revenue in the dry weather. The activities diversification and the<<strong>br</strong> />

integration of different <strong>pro</strong>ductive systems have been a feasible strategy of the<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>ductive unities, a concrete possibility for an income generation and im<strong>pro</strong>vement in<<strong>br</strong> />

the life quality for the family agriculturists in the region, so the agro forest systems in a<<strong>br</strong> />

multiple use, that seek, overall, the firewood <strong>pro</strong>duction, forage and alimentary<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>ducts for the family consume, must be priority in rural <strong>de</strong>velopment <strong>pro</strong>grams for the<<strong>br</strong> />

region sustainability.<<strong>br</strong> />

Keywords: agroecological transition, rural diagnosis, sustainability, family agriculture,<<strong>br</strong> />

Caatinga.<<strong>br</strong> />

xv


INTRODUÇÃO<<strong>br</strong> />

A caatinga, o bioma predominante na região semiárida <strong>br</strong>asileira, é ocupada<<strong>br</strong> />

por cerca <strong>de</strong> 20 milhões <strong>de</strong> habitantes, concentrando mais <strong>de</strong> dois terços da<<strong>br</strong> />

população po<strong>br</strong>e nas áreas rurais. Nesse sentindo, é impossível imaginar qualquer<<strong>br</strong> />

solução para os <strong>pro</strong>blemas sociais <strong>de</strong>ssas regiões que não <strong>de</strong>pendam <strong>de</strong> estratégias<<strong>br</strong> />

sustentáveis para as ativida<strong>de</strong>s agropecuárias, especialmente em se tratando <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />

ecossistema <strong>de</strong> extrema fragilida<strong>de</strong> (BEZERRA e VEIGA, 2000).<<strong>br</strong> />

As formas predominantes <strong>de</strong> uso da terra no Semiárido <strong>br</strong>asileiro (agricultura<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> sequeiro, pecuária extensiva, irrigação, exploração <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira da vegetação<<strong>br</strong> />

nativa), caracterizadas pela <strong>de</strong>pendência do uso da água, por parte da <strong>de</strong>gradação da<<strong>br</strong> />

vegetação e do solo, e pelo assoreamento e contaminação dos recursos hídricos, têm<<strong>br</strong> />

contribuído para a redução da disponibilida<strong>de</strong> hídrica, e levado ao esgotamento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

fontes preciosas <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> muito lenta reposição e conseqüentemente ao<<strong>br</strong> />

agravamento das condições socioeconômicas no meio rural.<<strong>br</strong> />

Sendo assim, é evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos caminhos que possam<<strong>br</strong> />

nortear estratégias para a reorientação dos <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> rural da região, que<<strong>br</strong> />

acima <strong>de</strong> tudo consi<strong>de</strong>rem as culturas e ecos<strong>sistemas</strong> locais num <strong>pro</strong>cesso dialético e<<strong>br</strong> />

participativo, rumo ao <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável.<<strong>br</strong> />

A agroecologia como um novo paradigma científico, surge como um elemento<<strong>br</strong> />

impulsionador <strong>de</strong> novas estratégias, capaz <strong>de</strong> dar suporte a uma transição a estilos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

agriculturas sustentáveis e, portanto, contribuir para o estabelecimento <strong>de</strong> <strong>pro</strong>cessos<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável para região (CAPORAL e COSTABEBER, 2004).<<strong>br</strong> />

Dentre muitos mo<strong>de</strong>los e <strong>sistemas</strong> alternativos <strong>de</strong> uso da terra, Altieri (1999)<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>stacou os <strong>sistemas</strong> agroflorestais, que são formas que combinam elementos da<<strong>br</strong> />

agricultura e/ou pecuária com elementos florestais em <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

sustentáveis na mesma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terra, como uma estratégia <strong>pro</strong>missora em<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>gramas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural <strong>de</strong> bases agroecológicas, so<strong>br</strong>etudo, por<<strong>br</strong> />

representar um conceito <strong>de</strong> uso integrado da terra, em <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> baixos insumos,<<strong>br</strong> />

que se adapta particularmente às circunstâncias dos pequenos agricultores.<<strong>br</strong> />

O objetivo dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais é otimizar os efeitos benéficos das<<strong>br</strong> />

interações entre os componentes arbóreos agrícolas e/ou animais, a fim obter uma<<strong>br</strong> />

maior diversificação <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos, diminuir as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> insumos externos e<<strong>br</strong> />

reduzir os impactos ambientais, dadas as condições econômicas, ecológicas e sociais<<strong>br</strong> />

predominantes (NAIR, 1983; NAIR, 1984).<<strong>br</strong> />

Para atingir tal objetivo, esses <strong>sistemas</strong> incorporam quatro características<<strong>br</strong> />

intrínsecas: uma estrutura diversificada, sustentabilida<strong>de</strong> alcançada pela aplicação das<<strong>br</strong> />

1


características ecológicas <strong>de</strong> ecos<strong>sistemas</strong> naturais, incremento da <strong>pro</strong>dutivida<strong>de</strong> pela<<strong>br</strong> />

otimização dos recursos disponíveis e adaptabilida<strong>de</strong> cultural/socioeconômica<<strong>br</strong> />

(ALTIERI, 1999).<<strong>br</strong> />

Em se tratando <strong>de</strong> regiões semiáridas, os <strong>sistemas</strong> que incluem o componente<<strong>br</strong> />

animal, nesse caso <strong>de</strong>nominados <strong>sistemas</strong> agrossilvipastoris, parecem ser os mais<<strong>br</strong> />

viáveis, uma vez que contemplam a vocação agrícola mais importante nessas áreas,<<strong>br</strong> />

seja aliada ao manejo da vegetação nativa ou à agricultura (ARAÚJO FILHO e<<strong>br</strong> />

CARVALHO, 2001).<<strong>br</strong> />

Entretanto, a conversão dos <strong>sistemas</strong> convencionais para os <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

agroflorestais, implica em se conhecer exatamente a situação <strong>de</strong> partida da região ou<<strong>br</strong> />

da <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> (GUZMÁN CASADO e ALONSO MIELGO, 2007), requerendo para<<strong>br</strong> />

isso, um criterioso estudo em nível regional, municipal, local e <strong>de</strong> <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> para a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>finição da extensão e do tipo <strong>de</strong>ste sistema a ser implantado e garantir o seu<<strong>br</strong> />

sucesso (ALMEIDA et al., 2006).<<strong>br</strong> />

Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo geral caracterizar os <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> rural do município <strong>de</strong> Ibimirim, PE, para a obtenção <strong>de</strong> informações que<<strong>br</strong> />

possam servir <strong>de</strong> subsídio para a implantação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agroflorestais com bases<<strong>br</strong> />

num planejamento sustentável para o <strong>de</strong>senvolvimento rural do Semiárido<<strong>br</strong> />

pernambucano.<<strong>br</strong> />

Para tanto, se <strong>pro</strong>pôs como objetivos específicos: caracterizar a família, a<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> rural e os <strong>sistemas</strong> rurais <strong>pro</strong>dutivos no município <strong>de</strong> Ibimirim, localizado<<strong>br</strong> />

no Semiárido <strong>de</strong> Pernambuco; levantar os limites e potencialida<strong>de</strong>s dos <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

rurais <strong>pro</strong>dutivos praticados na região; i<strong>de</strong>ntificar a ocorrência <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

agroflorestais no município; i<strong>de</strong>ntificar espécies arbóreas e arbustivas ocorrentes em<<strong>br</strong> />

áreas naturais no município e seus usos pela população local, <strong>de</strong> forma a compor um<<strong>br</strong> />

elenco <strong>de</strong> espécies florestais com potencial para utilização em <strong>sistemas</strong> agroflorestais<<strong>br</strong> />

na região; e por fim gerar informações que possam contribuir com o planejamento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável para o município <strong>de</strong> Ibimirim.<<strong>br</strong> />

Esta dissertação foi dividida em três partes. Na primeira parte foi apresentada<<strong>br</strong> />

uma revisão bibliográfica com a <strong>pro</strong>blematização <strong>de</strong>sta pesquisa e os aspectos<<strong>br</strong> />

teóricos que ajudaram a construir e nortear este trabalho. A segunda parte contemplou<<strong>br</strong> />

os <strong>pro</strong>cedimentos metodológicos bem como informações so<strong>br</strong>e Ibimirim a partir <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

uma <strong>br</strong>eve <strong>caracterização</strong> <strong>de</strong> alguns elementos que configuram o meio físico,<<strong>br</strong> />

ecológico e social, além <strong>de</strong> aspectos históricos da ocupação do espaço. Na terceira<<strong>br</strong> />

parte foram apresentados os resultados e discussões sistematizados em três tópicos:<<strong>br</strong> />

“Caracterização da família, da unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva e da ativida<strong>de</strong>”, “O uso dos recursos<<strong>br</strong> />

florestais da Caatinga” e “Propostas agroecológicas para a transição agroflorestal em<<strong>br</strong> />

2


Ibimirim – PE”. Por fim, foram apresentadas algumas conclusões, reflexões e<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sdo<strong>br</strong>amentos possíveis a partir <strong>de</strong>sta pesquisa.<<strong>br</strong> />

3


1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<<strong>br</strong> />

1.1. UM NOVO PARADIGMA DE DESENVOLVIMENTO<<strong>br</strong> />

1.1.1. O eco<strong>de</strong>senvolvimento e o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<<strong>br</strong> />

A crise social e ambiental global atravessada nas últimas décadas tem<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>spertado não apenas a consciência da insustentabilida<strong>de</strong> das práticas <strong>pro</strong>dutivas<<strong>br</strong> />

atuais, mas também para a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aliar o <strong>de</strong>senvolvimento, natureza,<<strong>br</strong> />

socieda<strong>de</strong> e economia, numa relação harmônica.<<strong>br</strong> />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar novos caminhos para a humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>u início a<<strong>br</strong> />

uma longa jornada em busca <strong>de</strong> padrões ou mo<strong>de</strong>los que pu<strong>de</strong>ssem nortear uma nova<<strong>br</strong> />

or<strong>de</strong>m econômica internacional, que respeitasse a conservação dos ecos<strong>sistemas</strong> e<<strong>br</strong> />

manutenção da biodiversida<strong>de</strong> através <strong>de</strong> relações sociais justas e solidárias. A<<strong>br</strong> />

concepção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento não po<strong>de</strong>ria ser vislum<strong>br</strong>ada como uma realida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

antagônica ao meio ambiente e socieda<strong>de</strong>, mas sim, complementares.<<strong>br</strong> />

Foi nesse contexto que a idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável surgiu como<<strong>br</strong> />

resposta ao padrão <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> e consumo, orientados por um mo<strong>de</strong>lo<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimentista que não satisfaz todas as expectativas e <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />

uma vez que a partir da década <strong>de</strong> 1970 “começou a se mostrar insuficiente para dar<<strong>br</strong> />

conta das crescentes condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> exclusão social” (CAPORAL e<<strong>br</strong> />

COSTABEBER, 2007), e das <strong>pro</strong>blemáticas ambientais planetárias.<<strong>br</strong> />

A idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável concebida atualmente começou a ser<<strong>br</strong> />

construída e reconhecida oficialmente mediante a li<strong>de</strong>rança da ONU (Organização das<<strong>br</strong> />

Nações Unidas), a partir da Declaração <strong>de</strong> Estocolmo, na Suécia em 1972 (MARTINS,<<strong>br</strong> />

1997; MARTINS, 2001). Essas discussões refletiam uma tomada <strong>de</strong> consciência do<<strong>br</strong> />

risco eminente <strong>de</strong>corrente da <strong>de</strong>gradação crescente dos recursos naturais, como<<strong>br</strong> />

consequência da dinâmica <strong>pro</strong>dutivista <strong>de</strong> a<strong>pro</strong>priação da natureza e da consolidação<<strong>br</strong> />

da i<strong>de</strong>ologia do crescimento econômico ilimitado (SANTIN, 2005).<<strong>br</strong> />

As contínuas estratégias da ONU para a elaboração <strong>de</strong> <strong>pro</strong>postas sustentáveis<<strong>br</strong> />

para as nações mundiais culminariam em 1983 com a formação da Comissão Mundial<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD/ONU), presidida pela primeira<<strong>br</strong> />

ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Os principais objetivos <strong>de</strong>sta comissão<<strong>br</strong> />

eram:<<strong>br</strong> />

- <strong>pro</strong>por estratégias ambientais <strong>de</strong> longo prazo para obter um<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável a partir do ano 2000 e daí em diante;<<strong>br</strong> />

4


- recomendar maneiras para que a preocupação com o meio<<strong>br</strong> />

ambiente se traduza em maior cooperação entre países em<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento e entre países em estágios diferentes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico e social e leve à consecução <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

objetivos comuns e interligados que consi<strong>de</strong>rem as inter-relações<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> pessoas, recursos, meio ambiente e <strong>de</strong>senvolvimento;<<strong>br</strong> />

- consi<strong>de</strong>rar meios e maneiras pelos quais a comunida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

internacional possa lidar mais eficientemente com as<<strong>br</strong> />

preocupações <strong>de</strong> cunho ambiental;<<strong>br</strong> />

- ajudar a <strong>de</strong>finir noções comuns relativas a questões<<strong>br</strong> />

ambientais <strong>de</strong> longo prazo e os esforços necessários para tratar<<strong>br</strong> />

com êxito os <strong>pro</strong>blemas da <strong>pro</strong>teção e da melhoria do meio<<strong>br</strong> />

ambiente, uma agenda <strong>de</strong> longo prazo a ser posta em prática nos<<strong>br</strong> />

próximos <strong>de</strong>cênios, e os objetivos a que aspira a comunida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

mundial (CMMAD, 1988).<<strong>br</strong> />

Como resultado das amplas discussões do CMMAD, foi elaborado o relatório<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> “Brundtland”, também conhecido como “Nosso Futuro Comum”, publicado em 1987,<<strong>br</strong> />

que <strong>de</strong>finiu o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável como “aquele que satisfaz as necessida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

da geração presente sem com<strong>pro</strong>meter a capacida<strong>de</strong> das gerações futuras <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

aten<strong>de</strong>rem também as suas” (CMMAD, 1988).<<strong>br</strong> />

Esse conceito foi o mais aceito e difundido pela comunida<strong>de</strong> internacional, e<<strong>br</strong> />

seria mais tar<strong>de</strong> incorporado às Agendas 21, servindo como base para nortear a<<strong>br</strong> />

elaboração <strong>de</strong> políticas públicas (MATOS FILHO, 2004).<<strong>br</strong> />

Dentre as estratégias <strong>pro</strong>postas no documento, <strong>de</strong>staca-se a reorientação das<<strong>br</strong> />

políticas nacionais ambientais e <strong>de</strong>senvolvimentistas, com base no princípio do<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Essas políticas <strong>de</strong>veriam ser implementadas através da<<strong>br</strong> />

retomada do crescimento; alteração da qualida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento; atendimento<<strong>br</strong> />

das necessida<strong>de</strong>s essenciais <strong>de</strong> emprego, alimentação, energia, água e saneamento;<<strong>br</strong> />

manutenção <strong>de</strong> um nível populacional estável; conservação e melhoria da base <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

recursos; reorientação da tecnologia e administração do risco; e inclusão do meio<<strong>br</strong> />

ambiente e da economia no <strong>pro</strong>cesso <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão (CMMAD, 1988).<<strong>br</strong> />

Esse relatório e as posteriores iniciativas da ONU 1 , apesar <strong>de</strong> supostamente<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>curarem aten<strong>de</strong>r aos anseios da emergente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliar os objetivos<<strong>br</strong> />

1 Como continuida<strong>de</strong> ao relatório <strong>de</strong> “Brundtland” so<strong>br</strong>eveio a resolução da Assembléia Geral das Nações<<strong>br</strong> />

Unidas em 1989, solicitando a organização <strong>de</strong> uma reunião mundial para elaborar uma estratégia com o<<strong>br</strong> />

fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter e reverter os <strong>pro</strong>cessos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental e <strong>pro</strong>mover o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<<strong>br</strong> />

Essa solicitação resultaria na “Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e<<strong>br</strong> />

Desenvolvimento”, que aconteceu em 1992 no Rio <strong>de</strong> Janeiro (CNUMAD, Eco-92 ou Rio-92), e <strong>de</strong>z anos<<strong>br</strong> />

mais tar<strong>de</strong> na Conferência <strong>de</strong> Johannesburgo (Rio+10) na África do Sul.<<strong>br</strong> />

5


<strong>de</strong> crescimento econômico, com as questões sociais e ambientais, não conseguiram<<strong>br</strong> />

romper com os antigos paradigmas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento orientados pelo discurso<<strong>br</strong> />

economicista da globalização. Layrargues (1997) afirmou que essa concepção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento, sob pressão da nova realida<strong>de</strong> ecológica e da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

assumir uma nova postura, <strong>de</strong>spontou sob uma nova roupagem, sem ter <strong>de</strong> fato<<strong>br</strong> />

modificado sua estrutura <strong>de</strong> funcionamento. O autor ainda consi<strong>de</strong>rou que esse<<strong>br</strong> />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável “assume claramente a postura <strong>de</strong> um <strong>pro</strong>jeto<<strong>br</strong> />

ecológico neoliberal, que sob o signo da reforma, <strong>pro</strong>duz a ilusão <strong>de</strong> vivermos um<<strong>br</strong> />

tempo <strong>de</strong> mudanças, na aparente certeza <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> um <strong>pro</strong>cesso gradual que<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sembocará na sustentabilida<strong>de</strong> socioambiental”.<<strong>br</strong> />

Talvez a principal contribuição rumo à mudança do paradigma <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento tenha surgido ainda na década <strong>de</strong> 80 com os princípios do<<strong>br</strong> />

eco<strong>de</strong>senvolvimento 2 , elaborado conceitualmente e difundido pelo economista Ignacy<<strong>br</strong> />

Sachs 3 .<<strong>br</strong> />

Sachs, mais do que uma doutrina, ocupou-se <strong>de</strong> criar um quadro <strong>de</strong> estratégias<<strong>br</strong> />

que possibilitassem a mudança das orientações que conduziam os <strong>pro</strong>pósitos<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutivistas da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> (LEFF, 1998). A premissa <strong>de</strong>stas estratégias foi<<strong>br</strong> />

formulada consi<strong>de</strong>rando-se três pilares: eficiência econômica, justiça social e<<strong>br</strong> />

prudência ecológica (LAYRARGUES, 1997).<<strong>br</strong> />

Um dos principais pressupostos <strong>de</strong> Sachs, é que este seria um estilo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento com alicerces na busca da satisfação das necessida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

fundamentais e na <strong>pro</strong>moção da autonomia (self-reliance), com enfoque participativo.<<strong>br</strong> />

A condição primordial para tornar o eco<strong>de</strong>senvolvimento operacional seria conhecendo<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>fundamente as culturas e os ecos<strong>sistemas</strong> locais, so<strong>br</strong>etudo como as pessoas se<<strong>br</strong> />

relacionam com o ambiente e como elas enfrentam seus dilemas cotidianos; bem<<strong>br</strong> />

como o envolvimento dos cidadãos no planejamento das estratégias, pois eles são os<<strong>br</strong> />

maiores conhecedores da realida<strong>de</strong> local (LAYRARGUES 1997; LEFF, 1998; SANTIN,<<strong>br</strong> />

2005).<<strong>br</strong> />

É importante <strong>de</strong>stacar que as especificida<strong>de</strong>s regionais, incluindo-se nisso a<<strong>br</strong> />

diversida<strong>de</strong> cultural, valorização do saber local e da criativida<strong>de</strong> endógena das<<strong>br</strong> />

comunida<strong>de</strong>s locais, não foram consi<strong>de</strong>radas nas políticas globais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<<strong>br</strong> />

sustentável resultantes das gran<strong>de</strong>s conferências da ONU. As discussões permeavam<<strong>br</strong> />

2 O termo eco<strong>de</strong>senvolvimento foi introduzido por Maurice Strong, em 1973 como uma alternativa para a<<strong>br</strong> />

dicotomia "economia-ecologia", apresentando-se como uma estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento opositora ao<<strong>br</strong> />

crescimento econômico que implicasse na <strong>de</strong>gradação dos recursos naturais, no início da década <strong>de</strong> 80,<<strong>br</strong> />

esses princípios seriam aprimorados e difundidos pelo economista Ignacy Sachs (DIEGUES, 1992;<<strong>br</strong> />

LAYRARGUES, 1997).<<strong>br</strong> />

3 Ver “Eco<strong>de</strong>senvolvimento: crescer sem <strong>de</strong>struir”, Ignacy Sachs, 1986.<<strong>br</strong> />

6


por encontrar uma “receita” aplicável às diferentes realida<strong>de</strong>s mundiais, como<<strong>br</strong> />

conseqüência <strong>de</strong> uma homogeneização dos estilos <strong>de</strong> vida.<<strong>br</strong> />

So<strong>br</strong>e os mecanismos concretos <strong>de</strong> transição rumo ao eco<strong>de</strong>senvolvimento,<<strong>br</strong> />

Sachs <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que não existem mo<strong>de</strong>los acabados. As estratégias <strong>de</strong>vem diferir <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

um país para o outro, e mesmo entre regiões com características diferenciadas no<<strong>br</strong> />

interior <strong>de</strong> um mesmo país, como o caso do Brasil (BERGAMASCO e ANTUNIASSI,<<strong>br</strong> />

1998).<<strong>br</strong> />

Caporal (1998), em uma análise so<strong>br</strong>e os diferentes vieses da sustentabilida<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ntificou duas importantes correntes: aquela com origens no relatório <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

“Brundtland”, baseada “no pensamento científico convencional”, a corrente<<strong>br</strong> />

ecotecnocrática e aquela com base no “pensamento alternativo” que teria sua origem<<strong>br</strong> />

nos discursos eco<strong>de</strong>senvolvimentistas <strong>de</strong> Sachs, a corrente ecossocial.<<strong>br</strong> />

Apesar das <strong>pro</strong>postas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável e do<<strong>br</strong> />

eco<strong>de</strong>senvolvimento, ou dos pensamentos explicitados no que Caporal <strong>de</strong>nominou<<strong>br</strong> />

como corrente ecossocial e corrente ecotecnocrática, parecerem semelhantes, já que<<strong>br</strong> />

a meta <strong>de</strong>sejada em ambas as <strong>pro</strong>posições é a criação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável,<<strong>br</strong> />

há na verda<strong>de</strong> um “abismo” i<strong>de</strong>ológico que as separam.<<strong>br</strong> />

Nas palavras <strong>de</strong> Layrargues (1997):<<strong>br</strong> />

“Mas pergunta-se: compartilhar <strong>de</strong> uma mesma meta – alcançar<<strong>br</strong> />

uma socieda<strong>de</strong> ecologicamente sustentável – significa compartilhar<<strong>br</strong> />

das mesmas estratégias <strong>de</strong> execução? (...) Enten<strong>de</strong>-se haver<<strong>br</strong> />

diferenças entre os dois conceitos, no mínimo sutis, mas que<<strong>br</strong> />

traduzem i<strong>de</strong>ologias diferentes, uma vez que po<strong>de</strong>mos encontrar no<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, traços <strong>de</strong> incompatibilida<strong>de</strong> entre a<<strong>br</strong> />

meta pretendida e seus meios utilizados.” (LAYRARGUES, 1997).<<strong>br</strong> />

Passados mais <strong>de</strong> 30 anos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início das discussões acerca <strong>de</strong> um novo<<strong>br</strong> />

paradigma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, parece que ainda não encontramos um caminho que<<strong>br</strong> />

garanta <strong>de</strong> fato a sustentabilida<strong>de</strong> nas relações do homem com o planeta. Enten<strong>de</strong>ndo<<strong>br</strong> />

que a sustentabilida<strong>de</strong> ainda não é um consenso, assumiremos que o conceito<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável que norteia este trabalho tem um embasamento teórico<<strong>br</strong> />

no eco<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Sachs, com viés essencialmente antiecotecnocrático, e que<<strong>br</strong> />

conforme colocado por Caporal e Costabeber (2007, p. 85) “não é algo estático ou<<strong>br</strong> />

fechado em si mesmo, mas faz parte <strong>de</strong> um <strong>pro</strong>cesso <strong>de</strong> busca permanente <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento que qualifiquem a ação e a interação humana nos<<strong>br</strong> />

ecos<strong>sistemas</strong>”.<<strong>br</strong> />

7


1.1.2. A sustentabilida<strong>de</strong> nos <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> rural: O ponto <strong>de</strong> partida<<strong>br</strong> />

O conceito <strong>de</strong> eco<strong>de</strong>senvolvimento foi pensado inicialmente como uma<<strong>br</strong> />

estratégia <strong>de</strong> enfrentamento aos <strong>de</strong>safios suscitados pela situação <strong>de</strong> po<strong>br</strong>eza<<strong>br</strong> />

característica das zonas rurais dos países em <strong>de</strong>senvolvimento (LEFF, 1998; SANTIN,<<strong>br</strong> />

2005). Seria no contexto rural, ou através da consolidação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s agrárias<<strong>br</strong> />

menos danosas ao ambiente, e que não fossem socialmente exclu<strong>de</strong>ntes, o ponto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

partida para as <strong>de</strong>mais estratégias relacionadas ao <strong>de</strong>senvolvimento sustentável<<strong>br</strong> />

(LOPES e ALMEIDA, 2003).<<strong>br</strong> />

Para a compreensão do que levou às iniciativas rumo à sustentabilida<strong>de</strong> no<<strong>br</strong> />

campo, é necessário antes, enten<strong>de</strong>r os caminhos percorridos pelo setor agrário, que<<strong>br</strong> />

a partir dos impactos resultantes da mo<strong>de</strong>rnização e intensificação da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> rural,<<strong>br</strong> />

acabaram por impulsionar a busca por mo<strong>de</strong>los alternativos <strong>de</strong> uso da terra no Brasil e<<strong>br</strong> />

no mundo.<<strong>br</strong> />

Segundo Graziano Neto (1985), a mo<strong>de</strong>rnização da agricultura foi além do que<<strong>br</strong> />

simplesmente a reorientação da base técnica <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong>, ou da substituição das<<strong>br</strong> />

técnicas agrícolas tradicionalmente utilizadas por técnicas “mo<strong>de</strong>rnas”. Ela significou<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>fundas modificações na organização da <strong><strong>pro</strong>dução</strong>, e nas relações sociais do campo<<strong>br</strong> />

que acarretaram em <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre regiões, ativida<strong>de</strong>s agropecuárias e<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutores rurais; em uma crise na <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> alimentos <strong>de</strong>corrente da concentração<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> terras, que privilegiou os chamados “<strong>pro</strong>dutos <strong>de</strong> exportação” em <strong>de</strong>trimento da<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> interna <strong>de</strong> alimentos; na <strong>de</strong>pendência do setor agrícola ao setor industrial; e<<strong>br</strong> />

principalmente na miséria do trabalhador rural.<<strong>br</strong> />

No que se refere ao Brasil, foi somente a partir da década 1960 que o <strong>pro</strong>cesso<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização agrícola toma forma com a chamada Revolução Ver<strong>de</strong> 4 . A partir<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ste momento, emergiram no país, novos objetivos e formas <strong>de</strong> exploração agrícola,<<strong>br</strong> />

originando <strong>pro</strong>fundas mudanças tanto na agricultura, como na pecuária, e nas<<strong>br</strong> />

relações sociais do campo (BALSAN, 2006).<<strong>br</strong> />

Em suma, o país vivia um <strong>pro</strong>cesso <strong>de</strong> transformação capitalista da agricultura,<<strong>br</strong> />

que ocorreu vinculado às transformações gerais da economia <strong>br</strong>asileira (GRAZIANO<<strong>br</strong> />

NETO,1985).<<strong>br</strong> />

Para Bergamasco e Antuniassi (1998), o país enfrentou uma transformação<<strong>br</strong> />

nos modos <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agrícola, resultantes da adoção <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo que não foi<<strong>br</strong> />

construído nem planejado em função das disponibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> recursos naturais locais,<<strong>br</strong> />

4 Revolução ver<strong>de</strong>: A “Revolução Ver<strong>de</strong>” foi o principal veículo para a transformação da agricultura dos<<strong>br</strong> />

chamados países do terceiro mundo; foi fundamentada em princípios <strong>de</strong> altos rendimentos da <strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

agrícola, através do uso intensivo <strong>de</strong> insumos químicos, <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s melhoradas geneticamente, da<<strong>br</strong> />

irrigação e da mecanização, impulsionadas por capitais agroindustriais multinacionais. Ver por exemplo,<<strong>br</strong> />

Pinheiro (2005); Moreira (2000).<<strong>br</strong> />

8


e da realida<strong>de</strong> particular da agricultura no país, mas sim, com base na imitação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

experiências em outros contextos socioambientais.<<strong>br</strong> />

Como conseqüência disso, a mo<strong>de</strong>rnização da agricultura veiculada pela<<strong>br</strong> />

Revolução Ver<strong>de</strong>, resultou em uma série <strong>de</strong> impactos negativos percebidos em âmbito<<strong>br</strong> />

social, ambiental e econômico (BALSAN, 2006; MOREIRA, 2000; TEIXEIRA, 2005).<<strong>br</strong> />

Dentre os principais resultados ambientais <strong>pro</strong>vocados pelo padrão <strong>pro</strong>dutivo<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sta agricultura mo<strong>de</strong>rna po<strong>de</strong>m ser percebidos a <strong>de</strong>struição das florestas e redução<<strong>br</strong> />

da diversida<strong>de</strong> genética, a erosão dos solos e a contaminação dos recursos naturais e<<strong>br</strong> />

dos alimentos (BALSAN, 2006).<<strong>br</strong> />

É importante lem<strong>br</strong>ar que os sucessivos ciclos econômicos da <strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

agrícola e pecuária, baseados na lógica <strong>pro</strong>dutivista, foram os principais responsáveis<<strong>br</strong> />

pela supressão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte das florestas nativas no Brasil (SANTOS et al., 2008).<<strong>br</strong> />

Como conseqüência, esse mo<strong>de</strong>lo colocou em risco não apenas a biodiversida<strong>de</strong>, mas<<strong>br</strong> />

também a permanência dos povos da floresta e a manutenção <strong>de</strong> práticas florestais<<strong>br</strong> />

tradicionais, gerando uma ruptura <strong>de</strong> valores culturais <strong>de</strong> muitas populações.<<strong>br</strong> />

Em sua crítica à revolução ver<strong>de</strong>, Moreira (2000) <strong>de</strong>stacou que os três<<strong>br</strong> />

aspectos mencionados anteriormente, ambiental, social e econômico, estão<<strong>br</strong> />

associados às técnicas ambientais <strong>de</strong>sarmônicas adotadas nesse padrão, à ausência<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> equida<strong>de</strong> e justiça social, e aos elevados custos dos pacotes tecnológicos. Tais<<strong>br</strong> />

pontos explicitados pelo autor parecem claros para <strong>de</strong>terminar que o enfoque<<strong>br</strong> />

convencional <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> rural, gerado pela mo<strong>de</strong>rnização da agricultura, está longe<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r aos anseios objetivados pelo <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.<<strong>br</strong> />

Nesse sentido, muitos autores consi<strong>de</strong>raram que o atual mo<strong>de</strong>lo inspirado na<<strong>br</strong> />

revolução ver<strong>de</strong> está em fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio, apesar <strong>de</strong> não se saber precisar quanto<<strong>br</strong> />

tempo po<strong>de</strong>rá tardar sua substituição por um novo mo<strong>de</strong>lo que esteja realmente <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

acordo com os princípios da sustentabilida<strong>de</strong> (COSTABEBER, 2007).<<strong>br</strong> />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar vias alternativas para a consolidação <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento rural verda<strong>de</strong>iramente sustentável <strong>de</strong>ixa claro que o caminho viável<<strong>br</strong> />

para nortear os avanços tecnológicos e científicos <strong>de</strong>ve estar embasado na visão<<strong>br</strong> />

sistêmica, e alicerçado por princípios fundamentais da ecologia.<<strong>br</strong> />

Segundo Gliessman (2003), quando os conceitos ecológicos <strong>de</strong> ecos<strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

são estendidos à ativida<strong>de</strong> rural, e os <strong>sistemas</strong> agrícolas são consi<strong>de</strong>rados como<<strong>br</strong> />

agroecos<strong>sistemas</strong> 5 , tem-se uma base para pensar além dos enfoques tradicionais da<<strong>br</strong> />

5 Para Gliessman o conceito <strong>de</strong> agroecos<strong>sistemas</strong> baseia-se em princípios ecológicos e na compreensão<<strong>br</strong> />

dos ecos<strong>sistemas</strong> naturais. Um agroecossistema po<strong>de</strong> ser dito sustentável “quando os componentes tanto<<strong>br</strong> />

da base social como da base ecológica combinam-se em um sistema cuja estrutura e função reflete a<<strong>br</strong> />

interação do conhecimento e das preferências humanas com os componentes ecológicos do<<strong>br</strong> />

agroecossistema” (ver Gliessman, 2005)<<strong>br</strong> />

9


<strong><strong>pro</strong>dução</strong> rural. Nesta visão, é possível examinar o conjunto <strong>de</strong> interações biológicas,<<strong>br</strong> />

físicas, químicas, ecológicas e culturalmente complexas que <strong>de</strong>terminam os <strong>pro</strong>cessos<<strong>br</strong> />

que permitem alcançar a sustentabilida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Sendo assim, a agroecologia, em seu sentido mais amplo, parece po<strong>de</strong>r<<strong>br</strong> />

nortear novos caminhos sustentáveis, uma vez que por apresentar uma visão integral,<<strong>br</strong> />

cujas variáveis sociais ocupam lugar relevante, busca auxiliar o <strong>pro</strong>cesso <strong>de</strong> transição<<strong>br</strong> />

dos mo<strong>de</strong>los convencionais <strong>de</strong> uso da terra, para mo<strong>de</strong>los mais sustentáveis. Em<<strong>br</strong> />

síntese, a agroecologia, como <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, <strong>pro</strong>cura utilizar as<<strong>br</strong> />

experiências <strong>pro</strong>dutivas <strong>de</strong> agricultura ecológica (que por sua natureza, evita a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>gradação ambiental) para elaborar <strong>pro</strong>postas <strong>de</strong> ação social coletiva, que resulta na<<strong>br</strong> />

substituição dos mo<strong>de</strong>los agroindustriais hegemônicos por um padrão agrário<<strong>br</strong> />

socialmente mais justo, economicamente viável e ecologicamente a<strong>pro</strong>priado<<strong>br</strong> />

(GUZMÁN CASADO et al., 2000).<<strong>br</strong> />

1.2. A PERSPECTIVA AGROECOLÓGICA PARA A PROMOÇÃO DE SISTEMAS<<strong>br</strong> />

SUSTENTÁVEIS<<strong>br</strong> />

1.2.1. Os <strong>de</strong>bates teóricos da Agroecologia<<strong>br</strong> />

O termo agroecologia vem sendo utilizado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1930 para<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>signar a a<strong>pro</strong>ximação da ecologia com as práticas rurais, mas apenas nas décadas<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> 1960 e 1970 é que se expandiu o interesse na aplicação das ciências ecológicas<<strong>br</strong> />

aos <strong>sistemas</strong> agrários <strong>de</strong>vido à intensificação da pesquisa <strong>de</strong> ecologia <strong>de</strong> populações<<strong>br</strong> />

e comunida<strong>de</strong>s, à influência crescente <strong>de</strong> abordagens em nível <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> e à<<strong>br</strong> />

aplicação da chamada “consciência ambiental” (COSTA NETO, 2006). Segundo Hecht<<strong>br</strong> />

(1989), o uso contemporâneo do termo agroecologia data dos anos 70, mas na<<strong>br</strong> />

verda<strong>de</strong>, a ciência e a prática agroecológica são tão antigas como a própria<<strong>br</strong> />

agricultura.<<strong>br</strong> />

A agroecologia reveste-se dos antigos saberes tradicionais, indígenas ou<<strong>br</strong> />

camponeses, uma vez que inspira-se em complexos <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong>senvolvidos por<<strong>br</strong> />

essas populações, que incorporavam o uso <strong>de</strong> recursos renováveis localmente<<strong>br</strong> />

disponíveis em <strong>de</strong>senhos que integravam comportamentos ecológicos e estruturais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

solo e vegetação, tendo como base os conhecimentos gerados e transmitidos ao longo<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> gerações (HETCH, 1989; GOMES e BORBA, 2004).<<strong>br</strong> />

Existem atualmente diversas abordagens so<strong>br</strong>e o conceito <strong>de</strong> agroecologia,<<strong>br</strong> />

que não necessariamente se contrapõem, ou divergem entre si, uma vez que buscam<<strong>br</strong> />

romper com os paradigmas científicos atuais em direção a transdisciplinarida<strong>de</strong> e ao<<strong>br</strong> />

10


pensamento holístico. Neste sentido a agroecologia tem sido construída em ações<<strong>br</strong> />

coletivas, com a contribuição <strong>de</strong> um extenso elenco <strong>de</strong> estudiosos.<<strong>br</strong> />

A primeira sistematização so<strong>br</strong>e os conteúdos que permitem falar da<<strong>br</strong> />

agroecologia foi formulada por Miguel Altieri em 1987 (SEVILLA GUZMÁN et al. 2006).<<strong>br</strong> />

O autor, entendo-a como as bases científicas para a <strong>pro</strong>moção <strong>de</strong> estilos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

agricultura sustentável 6 nas suas diversas manifestações e/ou <strong>de</strong>nominações, a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>finiu como “ciência ou disciplina científica que apresenta uma série <strong>de</strong> princípios,<<strong>br</strong> />

conceitos e metodologias para estudar, analisar, dirigir, <strong>de</strong>senhar e avaliar<<strong>br</strong> />

agroecos<strong>sistemas</strong> com o <strong>pro</strong>pósito <strong>de</strong> permitir a implantação e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estilos <strong>de</strong> agricultura com maiores níveis <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> no curto, médio e longo<<strong>br</strong> />

prazo.” (ALTIERI, 1989a). Em adição, a agroecologia po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>linear os princípios<<strong>br</strong> />

ecológicos necessários para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> rural<<strong>br</strong> />

sustentáveis (ALTIERI, 1989b).<<strong>br</strong> />

De maneira semelhante, para Gliessman (2005, 2006), o enfoque<<strong>br</strong> />

agroecológico correspon<strong>de</strong> à “aplicação dos conceitos da ecologia para o <strong>de</strong>senho e o<<strong>br</strong> />

manejo <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> rurais sustentáveis”.<<strong>br</strong> />

Em sua perspectiva sociopolítica da agroecologia, Sevilla Guzmán (2004; 2006;<<strong>br</strong> />

2007), <strong>de</strong>stacou a participação <strong>de</strong>mocrática e resgate do conhecimento endógeno<<strong>br</strong> />

como fatores intrínsecos para a <strong>pro</strong>moção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los e formas <strong>de</strong> manejo<<strong>br</strong> />

sustentáveis e <strong>de</strong>finiu agroecologia como:<<strong>br</strong> />

“o manejo ecológico dos recursos naturais, através <strong>de</strong> formas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ação social coletiva para o estabelecimento <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> controle<<strong>br</strong> />

participativo e <strong>de</strong>mocrático, nos âmbitos <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> e circulação.<<strong>br</strong> />

A estratégia teórica e metodológica, assim elaborada, tem por um<<strong>br</strong> />

lado uma natureza sistêmica e um enfoque holístico, que tais formas<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> manejo possam frear o <strong>de</strong>senvolvimento das atuais forças<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutivas para conter as formas impactantes <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> e<<strong>br</strong> />

consumo que tem gerado a crise ecológica. Por outro lado, o<<strong>br</strong> />

manejo ecológico dos recursos naturais, terá igualmente, uma forte<<strong>br</strong> />

dimensão local como portadora <strong>de</strong> um potencial endógeno, que,<<strong>br</strong> />

6 Seguindo os princípios agroecológicos, a agricultura sustentável é aquela que envolve uma<<strong>br</strong> />

compreensão holística dos agroecos<strong>sistemas</strong> e aten<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira integrada aos princípios da baixa<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> inputs comerciais; do uso <strong>de</strong> recursos renováveis localmente acessíveis; da utilização<<strong>br</strong> />

dos impactos benéficos ou benignos do meio ambiente local; da aceitação e/ou tolerância das condições<<strong>br</strong> />

locais, antes da tentativa <strong>de</strong> controle so<strong>br</strong>e o meio ambiente; da manutenção em longo prazo da<<strong>br</strong> />

capacida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva; da preservação da diversida<strong>de</strong> biológica e cultural; da utilização do conhecimento e<<strong>br</strong> />

da cultura da população local e da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> mercadorias para o consumo interno e para a exportação<<strong>br</strong> />

(GLIESSMAN, 2005).<<strong>br</strong> />

11


através do conhecimento campesino, permita potencializar a<<strong>br</strong> />

biodiversida<strong>de</strong> ecológica e sociocultural e o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

rurais sustentáveis” (SEVILLA GUZMÁN, 2006).<<strong>br</strong> />

De forma complementar, LEFF (2002) acrescentou que os contextos culturais e<<strong>br</strong> />

comunitários em que estão inseridos os agricultores, sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> local e suas<<strong>br</strong> />

práticas sociais são elementos centrais para a concretização e a<strong>pro</strong>priação social das<<strong>br</strong> />

práticas e métodos agroecológicos. Isso quer dizer que a agroecologia se assenta nas<<strong>br</strong> />

condições locais e na singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas práticas culturais.<<strong>br</strong> />

Para Caporal e Costabeber (2002, 2003, 2004, 2007), por sua vez, a<<strong>br</strong> />

agroecologia é vista como um <strong>pro</strong>cesso multidimensional 7 <strong>de</strong> mudança social<<strong>br</strong> />

orientado no sentido da ecologização das práticas agrícolas no manejo dos<<strong>br</strong> />

agroecos<strong>sistemas</strong>:<<strong>br</strong> />

“Agroecologia correspon<strong>de</strong> a um campo <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

natureza multidisciplinar, que preten<strong>de</strong> contribuir na construção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estilos <strong>de</strong> agricultura <strong>de</strong> base ecológica e na elaboração <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural, tendo-se como referência os<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ais da sustentabilida<strong>de</strong> numa perspectiva multidimensional <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

longo prazo” (CAPORAL e COSTABEBER, 2007)<<strong>br</strong> />

Outro elemento essencial para compreensão da agroecologia é a incorporação<<strong>br</strong> />

do conceito <strong>de</strong> agroecos<strong>sistemas</strong>. Nesta interpretação, os <strong>sistemas</strong> rurais <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ser entendidos como simples fontes <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos e passam a assumir a concepção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

integração e articulação harmônica do homem com os recursos naturais disponíveis,<<strong>br</strong> />

por meio da aplicação dos princípios dos ecos<strong>sistemas</strong> naturais às práticas rurais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

forma a possibilitar o correto manejo e a<strong>pro</strong>priação dos bens da natureza para a<<strong>br</strong> />

obtenção <strong>de</strong> benefícios, sem alterar seus mecanismos <strong>de</strong> auto-regulação (SEVILLA<<strong>br</strong> />

GUZMÁN, 2006; GLIESSMAN, 2006).<<strong>br</strong> />

Em suma, a agroecologia constitui-se em uma ciência que po<strong>de</strong> nortear formas<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> uso da terra que acima <strong>de</strong> tudo garantam a regulação e manutenção dos<<strong>br</strong> />

ecos<strong>sistemas</strong> naturais, <strong>de</strong> valores sociais e culturais, na reversão da lógica da<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>struição para o crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento. Mais do que simplesmente gerar<<strong>br</strong> />

um acúmulo <strong>de</strong> conhecimento que culmine na <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> alimentos <strong>de</strong> forma<<strong>br</strong> />

ecológica e saudável a agroecologia po<strong>de</strong>rá contribuir para que os recursos naturais –<<strong>br</strong> />

7 Multidimensões da sustentabilida<strong>de</strong> a partir da agroecologia: ecológica, econômica, social, cultural,<<strong>br</strong> />

política e ética. Ver Caporal e Costabeber (2002).<<strong>br</strong> />

12


água, solos e florestas – possam ser mantidos através da substituição da lógica <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

exploração, pelo sentido da integração.<<strong>br</strong> />

1.2.2. Os Sistemas Agroflorestais como estratégia para a transição<<strong>br</strong> />

agroecológica<<strong>br</strong> />

A transição agroecológica, como um <strong>pro</strong>cesso gradual, contínuo e multilinear<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> mudança nas formas <strong>de</strong> manejo dos agroecos<strong>sistemas</strong> (COSTABEBER, 2006),<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong> resultar em mo<strong>de</strong>los <strong>pro</strong>dutivos socialmente justos e ecológicos para as diversas<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s rurais, e também garantir a conservação dos recursos naturais. Para isso, a<<strong>br</strong> />

conversão dos <strong>sistemas</strong> convencionais <strong>de</strong>ve estar apoiada na idéia <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

agrária <strong>de</strong> base ecológica, iniciada a partir <strong>de</strong> um <strong>pro</strong>cesso <strong>de</strong> ecologização dinâmico,<<strong>br</strong> />

contínuo e crescente através do tempo, e sem ter um momento final <strong>de</strong>terminado.<<strong>br</strong> />

Essa ecologização dos <strong>sistemas</strong> rurais implica além <strong>de</strong> uma racionalização <strong>pro</strong>dutiva,<<strong>br</strong> />

em uma mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> dos atores sociais em relação ao manejo dos recursos<<strong>br</strong> />

naturais e à conservação do meio ambiente (COSTABEBER, 2007).<<strong>br</strong> />

Gliessman (2005) sugeriu a existência <strong>de</strong> pelo menos três níveis fundamentais<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> transição, que vão do mais simples ao mais complexo a partir (1) da eliminação<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>gressiva <strong>de</strong> insumos agroquímicos; (2) da substituição <strong>de</strong> insumos sintéticos por<<strong>br</strong> />

alternativos ou orgânicos; (3) do re<strong>de</strong>senho dos agroecos<strong>sistemas</strong> com estrutura<<strong>br</strong> />

diversificada e funcional que não necessite <strong>de</strong> insumos externos sintéticos ou<<strong>br</strong> />

orgânicos. No terceiro caso, espera-se que os agroecos<strong>sistemas</strong> re<strong>de</strong>senhados<<strong>br</strong> />

funcionem com base em um conjunto novo <strong>de</strong> <strong>pro</strong>cessos ecológicos que culminem na<<strong>br</strong> />

sustentabilida<strong>de</strong> do sistema.<<strong>br</strong> />

Segundo Altieri e Nicholls (2007), a conversão dos <strong>sistemas</strong> convencionais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> para formas mais ecológicas <strong>de</strong> uso da terra está baseada em dois pilares<<strong>br</strong> />

fundamentais: a diversificação espacial e temporal da vegetação e o manejo orgânico<<strong>br</strong> />

do solo. Para os autores, os <strong>pro</strong>cessos ecológicos se otimizam mediante interações<<strong>br</strong> />

que surgem <strong>de</strong> combinações espaciais e temporais <strong>de</strong> culturas agrícolas, animais e<<strong>br</strong> />

árvores, complementados por manejos orgânicos do solo.<<strong>br</strong> />

Vale ainda acrescentar, que a transição agroecológica <strong>de</strong>ve também reorientar<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>cessos <strong>pro</strong>dutivos e estratégias econômicas que sejam capazes <strong>de</strong> contribuir para<<strong>br</strong> />

um <strong>de</strong>senvolvimento socialmente mais a<strong>pro</strong>priado e que preserve a biodiversida<strong>de</strong> e a<<strong>br</strong> />

diversida<strong>de</strong> sócio-cultural (SEVILLA GUZMÁN, 2004; CAPORAL, 2008)<<strong>br</strong> />

Dentre os muitos <strong>sistemas</strong> alternativos <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> sugeridos para apoiar a<<strong>br</strong> />

transição agroecológica, em sua maioria baseados em práticas e conhecimentos<<strong>br</strong> />

tradicionais, indígenas ou camponeses, os <strong>sistemas</strong> agroflorestais têm sido apontados<<strong>br</strong> />

13


como uma das alternativas mais <strong>pro</strong>missoras <strong>de</strong> re<strong>de</strong>senho dos <strong>sistemas</strong> rurais em<<strong>br</strong> />

estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustentável (ALTIERI, 1999).<<strong>br</strong> />

Agrofloresta ou sistema agroflorestal, está associado ao resgate <strong>de</strong> antigas<<strong>br</strong> />

práticas <strong>de</strong> uso da terra, com múltiplos objetivos, alcançados através da incorporação<<strong>br</strong> />

das ativida<strong>de</strong>s florestais, agrícolas e pecuárias, em <strong>de</strong>senhos sustentáveis.<<strong>br</strong> />

Existem muitas <strong>de</strong>finições para os <strong>sistemas</strong> agroflorestais, no entanto, alguns<<strong>br</strong> />

autores os conceituam <strong>de</strong> maneira semelhante como <strong>sistemas</strong> sustentáveis <strong>de</strong> uso da<<strong>br</strong> />

terra que <strong>pro</strong>curam aumentar os rendimentos <strong>de</strong> forma contínua, através da<<strong>br</strong> />

combinação <strong>de</strong> cultivos florestais (que incluem fruteiras e outros cultivos arbóreos)<<strong>br</strong> />

com culturas agrícolas e/ou animais <strong>de</strong> forma simultânea ou seqüencial na mesma<<strong>br</strong> />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terra, utilizando práticas <strong>de</strong> manejo compatíveis com as práticas culturais<<strong>br</strong> />

das populações locais (KING e CHANDLER, 1978; ALTIERI, 1989a; DUBOIS et al.,<<strong>br</strong> />

1996).<<strong>br</strong> />

Uma <strong>de</strong>finição mais simples e prática dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais é consi<strong>de</strong>rá-<<strong>br</strong> />

los como a relação <strong>de</strong> aprendizado do homem com a natureza, on<strong>de</strong> os <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

naturais em equilí<strong>br</strong>io funcionam como mo<strong>de</strong>los para a implantação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> rurais<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutivos sustentáveis (PEREIRA, 2009). Em outras palavras, é conduzir e manejar<<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> agrários através dos princípios e da dinâmica dos ecos<strong>sistemas</strong> naturais.<<strong>br</strong> />

Para o Centro Internacional <strong>de</strong> Pesquisa Agroflorestal – ICRAF, a agrofloresta<<strong>br</strong> />

como uma abordagem científica interdisciplinar, é baseada na ciência florestal, na<<strong>br</strong> />

agricultura, zootecnia, e <strong>de</strong>mais disciplinas relacionadas às formas <strong>de</strong> uso da terra. A<<strong>br</strong> />

adoção <strong>de</strong>sses <strong>sistemas</strong> implica na consciência da integração entre o homem e a<<strong>br</strong> />

natureza, entre <strong>de</strong>manda e disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada área e na<<strong>br</strong> />

substituição da lógica da exploração crescente pela otimização e manejo sustentável<<strong>br</strong> />

dos recursos naturais (EDITORS, 1982).<<strong>br</strong> />

A viabilida<strong>de</strong> dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais como mo<strong>de</strong>lo alternativo para a<<strong>br</strong> />

agricultura familiar e para ativida<strong>de</strong> florestal sustentável está vinculada ao fato <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

incorporarem quatro características, que os tornam sustentáveis e adaptáveis às<<strong>br</strong> />

diferentes particularida<strong>de</strong>s socioculturais e biofísicas. Essas características estão<<strong>br</strong> />

relacionadas à sua estrutura diversificada, à sustentabilida<strong>de</strong> alcançada pela aplicação<<strong>br</strong> />

das características ecológicas <strong>de</strong> ecos<strong>sistemas</strong> naturais, ao incremento da<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutivida<strong>de</strong> pela otimização dos recursos e a sua adaptabilida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

cultural/socioeconômica (ALTIERI, 1999).<<strong>br</strong> />

A diversificação <strong>de</strong> culturas existentes nesses <strong>sistemas</strong>, como princípio<<strong>br</strong> />

intrínseco da agrofloresta e as práticas ecológicas <strong>de</strong> manejo do solo, po<strong>de</strong>m garantir<<strong>br</strong> />

o melhor a<strong>pro</strong>veitamento dos nutrientes, maior renda para o pequeno <strong>pro</strong>dutor e<<strong>br</strong> />

maiores benefícios ao ecossistema (SOUSA, et al., 1998; OSPINA-ANTE, 2006). No<<strong>br</strong> />

14


entanto, é importante lem<strong>br</strong>ar que a estrutura biodiversa, as práticas <strong>de</strong> manejo<<strong>br</strong> />

sustentáveis, e adaptabilida<strong>de</strong> sociocultural e econômica dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais,<<strong>br</strong> />

não po<strong>de</strong>m ser confundidas com consórcios “monoculturais” adotados por mo<strong>de</strong>los<<strong>br</strong> />

industriais <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agro-florestal sob uma falsa rotulagem ecológica.<<strong>br</strong> />

1.2.2.1. Classificação dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais<<strong>br</strong> />

Existem muitas formas <strong>de</strong> classificar os <strong>sistemas</strong> agroflorestais. Nair (1985)<<strong>br</strong> />

adotou cinco critérios baseados na estrutura (composição e arranjo dos componentes),<<strong>br</strong> />

função, escala socioeconômica, nível <strong>de</strong> manejo e distribuição ecológica <strong>de</strong>sses<<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong>.<<strong>br</strong> />

Quanto à estrutura, eles po<strong>de</strong>m ser classificados em sistema agrossilvicultural,<<strong>br</strong> />

quando incluem componente florestal e agrícola; silvipastoril, representado pelo<<strong>br</strong> />

manejo <strong>de</strong> árvores para <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, forragem, alimento e criação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

animais; e agrossilvipastoril, quando incorporam consórcios florestais, agrícolas e<<strong>br</strong> />

criação <strong>de</strong> animais. Os componentes po<strong>de</strong>m estar dispostos em um arranjo espacial<<strong>br</strong> />

ou temporal.<<strong>br</strong> />

King (1979) e Farrel e Altieri (1999), acrescentaram mais uma modalida<strong>de</strong>: os<<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> florestal <strong>de</strong> uso múltiplo, on<strong>de</strong> as árvores são regeneradas e<<strong>br</strong> />

manejadas não apenas para <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, mas também para <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

folhas e frutos comestíveis e forragem.<<strong>br</strong> />

A base funcional se refere ao <strong>pro</strong>duto principal e ao papel dos componentes do<<strong>br</strong> />

sistema, em particular das árvores. Esses po<strong>de</strong>m ter função <strong>pro</strong>dutiva (<strong><strong>pro</strong>dução</strong> para<<strong>br</strong> />

necessida<strong>de</strong>s básicas alimentares, forrageiras, <strong>de</strong> lenha e outros <strong>pro</strong>dutos), ou função<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>tetora (conservação do solo, melhoramento da fertilida<strong>de</strong> do solo, que<strong>br</strong>a ventos<<strong>br</strong> />

entre outros).<<strong>br</strong> />

A escala socioeconômica da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> e o nível <strong>de</strong> manejo são critérios para<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>signar os <strong>sistemas</strong> como comerciais, intermediários ou <strong>de</strong> subsistência. Baseando-<<strong>br</strong> />

se na ecologia, os <strong>sistemas</strong> po<strong>de</strong>m ser agrupados para qualquer zona agroecológica<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>finida, como zonas tropicais úmidas <strong>de</strong> terras baixas, tropicais áridas e semi-áridas,<<strong>br</strong> />

tropicais <strong>de</strong> terras altas e assim por diante.<<strong>br</strong> />

Cada um <strong>de</strong>sses critérios tem méritos e aplicabilida<strong>de</strong>s em situações<<strong>br</strong> />

específicas, sendo, portanto, limitados, já que nenhuma classificação po<strong>de</strong> ser<<strong>br</strong> />

aplicada universalmente. A classificação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá do objetivo para o qual se<<strong>br</strong> />

planifique o sistema.<<strong>br</strong> />

15


Dessa forma alguns autores (DUBOIS et al., 1996; MACEDO, 2000;<<strong>br</strong> />

CONSTANTIN, 2005) acrescentaram outras tipologias à classificação estrutural dos<<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> agroflorestais cuja <strong>caracterização</strong> está relacionada ao objetivo, tipo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

consórcio e complexida<strong>de</strong> e outros fatores que compõem esses <strong>sistemas</strong>. Sendo<<strong>br</strong> />

assim os <strong>sistemas</strong> em aléias ou taungya foram incluídos como mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

agrossilviculturais, os quintais agroflorestais agrupados como um tipo <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

agrossilvipastoril, entre outros.<<strong>br</strong> />

Dentre esses, os quintais agroflorestais, <strong>de</strong>finidos como a área ao redor da<<strong>br</strong> />

casa on<strong>de</strong> são feitos plantios <strong>de</strong> árvores, cultivo <strong>de</strong> grãos, hortaliças, plantas<<strong>br</strong> />

medicinais e ornamentais e criação <strong>de</strong> animais, na mesma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terra, têm<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>spontado como um dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais mais importantes <strong>de</strong>vido à sua<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> ser intensiva, oferecendo gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> e varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos em<<strong>br</strong> />

uma área reduzida, satisfazendo muitas necessida<strong>de</strong>s do agricultor e sua família<<strong>br</strong> />

(MELÉNDEZ, 1996).<<strong>br</strong> />

Segundo Dubois et al. (1996), os quintais agroflorestais são o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> agroflorestal mais antigo e comum encontrado nas regiões tropicais. Neles<<strong>br</strong> />

se evi<strong>de</strong>ncia o trabalho feminino on<strong>de</strong>, geralmente, a mulher <strong>de</strong>sempenha o papel<<strong>br</strong> />

mais importante na sua formação e manutenção, <strong>de</strong>vido à <strong>pro</strong>ximida<strong>de</strong> com a casa e o<<strong>br</strong> />

fato dos <strong>pro</strong>dutos originados <strong>de</strong>sse quintal influenciarem diretamente na dieta<<strong>br</strong> />

alimentar da família (frutas, hortaliças, condimentos, plantas medicinais, pequenos<<strong>br</strong> />

animais). O excesso <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong>ste quintal po<strong>de</strong> ser comercializado, sendo este,<<strong>br</strong> />

visto como uma ajuda da esposa ao marido no orçamento familiar.<<strong>br</strong> />

Esses <strong>sistemas</strong> têm representado uma alternativa aos mo<strong>de</strong>los agrícolas<<strong>br</strong> />

hegemônicos, quase sempre inacessíveis aos pequenos agricultores, uma vez que<<strong>br</strong> />

alcançam elevada sustentabilida<strong>de</strong>, pois a sua diversida<strong>de</strong> permite <strong>pro</strong>duzir durante o<<strong>br</strong> />

ano todo, fornecendo uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimentos e <strong>pro</strong>dutos a cada mês; contemplar<<strong>br</strong> />

uma distribuição mais eqüitativa do trabalho e <strong>de</strong> menor intensida<strong>de</strong>; e requerer<<strong>br</strong> />

menos recursos <strong>de</strong>vido ao a<strong>pro</strong>veitamento máximo <strong>de</strong> luz, nutrientes, espaço e água<<strong>br</strong> />

atribuídos à diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> plantas (MELÉNDEZ, 1996). Víquez et al. (1994)<<strong>br</strong> />

completou ainda, que os quintais agroflorestais representam uma fonte adicional <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

renda, caracterizando-se como uma ativida<strong>de</strong> potencial para a obtenção <strong>de</strong> alimentos<<strong>br</strong> />

e para suprir as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lenha e ma<strong>de</strong>ira da família.<<strong>br</strong> />

16


1.3. LEVANTAMENTO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL DOS SISTEMAS DE<<strong>br</strong> />

PRODUÇÃO RURAL COMO SUBSÍDIO PARA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS<<strong>br</strong> />

AGROFLORESTAIS<<strong>br</strong> />

Na tentativa <strong>de</strong> criar novas alternativas ao mo<strong>de</strong>lo extensionista adotado na<<strong>br</strong> />

década <strong>de</strong> 1960, que trazia como premissa a simples substituição <strong>de</strong> antigas técnicas<<strong>br</strong> />

“primitivas ultrapassadas” dos <strong>pro</strong>dutores po<strong>br</strong>es do “terceiro mundo” pelos mo<strong>de</strong>rnos<<strong>br</strong> />

pacotes tecnológicos <strong>de</strong>senvolvidos pelos países do “primeiro mundo”, foram criadas<<strong>br</strong> />

novas metodologias <strong>de</strong> pesquisa e extensão, que passaram a consi<strong>de</strong>rar, so<strong>br</strong>etudo, o<<strong>br</strong> />

conhecimento endógeno das populações locais para o levantamento <strong>de</strong> informações<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e os <strong>sistemas</strong> rurais, numa abordagem coletiva, sistêmica e integrada.<<strong>br</strong> />

Nesse contexto, o Centro Internacional <strong>de</strong> Investigação Agroflorestal (ICRAF),<<strong>br</strong> />

visando principalmente às necessida<strong>de</strong>s dos países em <strong>de</strong>senvolvimento, com<<strong>br</strong> />

condições socioeconômicas e ambientais particulares, criou uma metodologia<<strong>br</strong> />

específica para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agroflorestais conhecida como<<strong>br</strong> />

Diagnóstico e Desenho, D&D (Diagnostic and Design) (RAINTREE, 1987).<<strong>br</strong> />

No D&D se consi<strong>de</strong>ra três importantes aspectos que possibilitam um a<strong>de</strong>quado<<strong>br</strong> />

planejamento dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais para <strong>de</strong>terminada região: (1) <strong>caracterização</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s, visando facilitar o <strong>pro</strong>cesso <strong>de</strong> discussão com agentes institucionais<<strong>br</strong> />

locais; (2) <strong>caracterização</strong> <strong>de</strong> <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s, i<strong>de</strong>ntificando <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> utilização da<<strong>br</strong> />

terra, seus <strong>pro</strong>blemas e limitações; (3) planejamento <strong>de</strong> <strong>pro</strong>postas tecnológicas como<<strong>br</strong> />

alternativas <strong>de</strong> melhoria dos <strong>sistemas</strong> tradicionais, contemplando a priorização das<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>postas frente aos recursos disponíveis (EMBRAPA, 1998).<<strong>br</strong> />

O D&D po<strong>de</strong> ser usado em dois níveis distintos: em larga escala, o Macro D&D,<<strong>br</strong> />

prevê a análise <strong>de</strong> ecorregiões como países ou grupo <strong>de</strong> países através da (1)<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ntificação dos <strong>pro</strong>blemas e restrições dos <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> uso da terra em uma dada<<strong>br</strong> />

ecorregião; (2) i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> áreas prioritárias com potencial para a intervenção<<strong>br</strong> />

agroflorestal; (3) i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> pesquisas prioritárias e formulação <strong>de</strong> <strong>pro</strong>gramas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

pesquisas; e (4) i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s, oportunida<strong>de</strong>s e mecanismos para<<strong>br</strong> />

cooperação interinstitucionais, visando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ferramentas<<strong>br</strong> />

tecnológicas. Em menor escala, o Micro D&D, foca um sistema <strong>de</strong> uso da terra<<strong>br</strong> />

inserido em uma ecorregião prioritária para intervenção agroflorestal. O Micro D&D<<strong>br</strong> />

envolve uma <strong>de</strong>talhada análise da família e dos <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> praticados<<strong>br</strong> />

(AVILA e MINAE, 1992).<<strong>br</strong> />

O planejamento dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais segundo a metodologia <strong>de</strong> Franke<<strong>br</strong> />

et al. (2000), <strong>de</strong>ve ser precedido <strong>de</strong> uma ampla i<strong>de</strong>ntificação, <strong>caracterização</strong>, e<<strong>br</strong> />

avaliação prévia da região que se <strong>de</strong>seja trabalhar, com o objetivo principal <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>screver o meio físico, biótico e socioeconômico da área, em um nível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

17


<strong>de</strong>talhamento que possibilite o planejamento <strong>de</strong> uma ou mais alternativas<<strong>br</strong> />

agroflorestais mais a<strong>pro</strong>priadas à realida<strong>de</strong> local. A a<strong>br</strong>angência para uma<<strong>br</strong> />

<strong>caracterização</strong> do local <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>finida a partir da unida<strong>de</strong> geográfica, que<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong> ser dividida em três níveis: macrorregional, microrregional e <strong>de</strong> <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> rural.<<strong>br</strong> />

Da mesma forma, outros autores (DUBOIS, 1998; GARRAFIEL et. al, 1999;<<strong>br</strong> />

VIVAN, 2000; OLIVEIRA et. al, 2003) também incorporaram em suas metodologias ou<<strong>br</strong> />

sugestões metodológicas a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levantamentos iniciais <strong>de</strong> dados através<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> diagnósticos e caracterizações da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> para o êxito e consolidação <strong>de</strong> <strong>pro</strong>jetos<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> implementação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agroflorestais.<<strong>br</strong> />

Consi<strong>de</strong>rando-se apenas a <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> rural, Gusmán Casado (s/d) afirmou<<strong>br</strong> />

que a planificação da transição agroecológica através da implementação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

agroecos<strong>sistemas</strong> sustentáveis, implica em conhecer exatamente a situação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

partida da <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seu entorno para estabelecer as vias <strong>de</strong> conversão nas<<strong>br</strong> />

formas <strong>de</strong> manejo dos recursos, nas estratégias <strong>pro</strong>dutivas e <strong>de</strong> mercado, prevendo<<strong>br</strong> />

seus possíveis <strong>pro</strong>blemas e soluções. A análise da situação inicial da <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ve prever um criterioso levantamento das variáveis relacionadas a geo e<<strong>br</strong> />

hidroestrutura, bioestrutura, fatores climáticos, tecnoestrutura da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> e socioestrutura da família<<strong>br</strong> />

Em outros níveis, a implantação <strong>de</strong> um sistema agroflorestal requer a <strong>de</strong>scrição<<strong>br</strong> />

e análises dos aspectos naturais e sociais relevantes da área selecionada, com o<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>pósito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar os <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> existentes, bem como reconhecer os<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>blemas mais importantes. A análise <strong>de</strong>sses dados permite <strong>de</strong>terminar se o uso <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

práticas agroflorestais é uma alternativa viável, que contribua na solução dos<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>blemas i<strong>de</strong>ntificados (RODRIGUES e MAY, 2000).<<strong>br</strong> />

Almeida et al. (2006), reforçaram que a implantação e o sucesso dos <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

agroflorestais, requerem um criterioso estudo em nível regional, municipal, local e <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> para a <strong>de</strong>finição da extensão e do tipo <strong>de</strong> sistema a ser implantado. Além<<strong>br</strong> />

disso, esse estudo <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar também as características socioambientais<<strong>br</strong> />

particulares a cada região e seu <strong>pro</strong>cesso histórico <strong>de</strong> ocupação, a fim <strong>de</strong> encontrar as<<strong>br</strong> />

vias para a sensibilização dos agricultores na adoção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los mais sustentáveis.<<strong>br</strong> />

Nesse sentido, estudos que reúnam informações preliminares necessárias para<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>jetos <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agroflorestais, po<strong>de</strong>m além <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r aos<<strong>br</strong> />

requisitos metodológicos, subsidiar também <strong>pro</strong>gramas regionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<<strong>br</strong> />

rural sustentável com bases agroecológicas, a partir <strong>de</strong> uma análise fi<strong>de</strong>digna da<<strong>br</strong> />

realida<strong>de</strong> socioeconômica e ambiental e das necessida<strong>de</strong>s particulares à região que<<strong>br</strong> />

se <strong>de</strong>seja trabalhar.<<strong>br</strong> />

18


As áreas com conhecida fragilida<strong>de</strong> social e ambiental <strong>de</strong>vem ser priorizadas<<strong>br</strong> />

em estratégias e políticas que visem à implementação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los sustentáveis <strong>de</strong> uso<<strong>br</strong> />

da terra, como forma <strong>de</strong> gerar alternativas que <strong>pro</strong>movam a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

vida das populações contrapondo-se aos <strong>pro</strong>cessos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental.<<strong>br</strong> />

1.4. OS DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE NO BIOMA CAATINGA<<strong>br</strong> />

O bioma Caatinga, inserido no domínio do Semiárido, ocupa cerca <strong>de</strong> 800.000<<strong>br</strong> />

km 2 entre os estados nor<strong>de</strong>stinos do Ceará, Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, Paraíba,<<strong>br</strong> />

Pernambuco, Alagoas, Sergipe, sudoeste do Piauí, partes do interior da Bahia,<<strong>br</strong> />

esten<strong>de</strong>ndo-se em uma faixa no estado <strong>de</strong> Minas Gerais (IBGE, 1985). Sendo o único<<strong>br</strong> />

ecossistema exclusivamente <strong>br</strong>asileiro, é composto por um mosaico <strong>de</strong> florestas secas<<strong>br</strong> />

e vegetação arbustiva, com enclaves <strong>de</strong> florestas úmidas montanas e <strong>de</strong> cerrado<<strong>br</strong> />

(TABARELLI e SILVA, 2005).<<strong>br</strong> />

Quanto às características edafoclimáticas, a região semi-árida é marcada por<<strong>br</strong> />

altas temperaturas, reduzida pluviosida<strong>de</strong>, solos pouco intemperizados e pequena<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> fitomassa. Tais características condicionaram ao longo do tempo a forma<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> das populações que vivem na Caatinga, originando mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento baseado na exploração florestal predatória, em especial do recurso<<strong>br</strong> />

ma<strong>de</strong>ireiro como fonte <strong>de</strong> energia, associada à pecuária extensiva por meio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

superpastoreio e a uma agricultura intensiva com práticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatamento e<<strong>br</strong> />

queimadas (ARAÚJO FILHO, 2002).<<strong>br</strong> />

Essas práticas, a exemplo do que ocorreu com os <strong>de</strong>mais ecos<strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileiros, têm levado sistematicamente a <strong>de</strong>vastação da Caatinga em <strong>de</strong>corrência da<<strong>br</strong> />

ina<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> uso da terra para a região e da exploração incoerente <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

seus recursos. Dessa forma, já se observa perdas drásticas na diversida<strong>de</strong> florística e<<strong>br</strong> />

faunística, aceleração dos <strong>pro</strong>cessos <strong>de</strong> erosão e <strong>de</strong>clínio da fertilida<strong>de</strong> do solo,<<strong>br</strong> />

diminuição na infiltração <strong>de</strong> água da chuva no solo e, em <strong>de</strong>corrência disso, aumentos<<strong>br</strong> />

nas taxas <strong>de</strong> erosão (ARAÚJO FILHO e BARBOSA, 2000).<<strong>br</strong> />

Além das conseqüências ambientais, as populações locais também foram<<strong>br</strong> />

fortemente afetadas pela <strong>de</strong>sarborização da Caatinga, uma vez que a exploração dos<<strong>br</strong> />

recursos florestais é a principal fonte <strong>de</strong> subsistência <strong>de</strong>sta população. De forma mais<<strong>br</strong> />

direta, observou-se uma redução na oferta <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos <strong>de</strong>rivados das espécies<<strong>br</strong> />

arbóreas, tais como ma<strong>de</strong>ira, lenha, frutos, forragem, substâncias medicinais, flores<<strong>br</strong> />

para a apicultura, além <strong>de</strong> outros (MENEZES et al., 2008).<<strong>br</strong> />

19


Araújo-Filho (2006), afirmou que a <strong>pro</strong>blemática socioeconômica <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

parte da população resi<strong>de</strong>nte nos domínios Semiáridos da Caatinga, que acaba por<<strong>br</strong> />

exercer forte pressão so<strong>br</strong>e seus recursos, sem dúvida, tem contribuído enormemente<<strong>br</strong> />

para essa <strong>de</strong>gradação. Porém, é importante lem<strong>br</strong>ar que nem sempre a <strong>de</strong>gradação<<strong>br</strong> />

ambiental é regida pelo antropismo, pois fatores abióticos como o clima, exercem,<<strong>br</strong> />

também, gran<strong>de</strong> influência so<strong>br</strong>e a vegetação (ALBUQUERQUE, 1999). Da mesma<<strong>br</strong> />

forma, o “esquecimento” do Semiárido <strong>br</strong>asileiro por parte dos órgãos governamentais<<strong>br</strong> />

competentes, e as insuficientes políticas públicas voltadas à região, têm igualmente<<strong>br</strong> />

contribuído para a aceleração dos <strong>pro</strong>cessos <strong>de</strong>gradatórios.<<strong>br</strong> />

Por outro lado, nos últimos trinta anos, houve forte alteração da realida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutiva nor<strong>de</strong>stina, que <strong>de</strong>u origem a pólos, ou manchas <strong>de</strong> dinamismo econômico,<<strong>br</strong> />

que mantêm ligações ainda pouco estudadas com a agropecuária tradicional da<<strong>br</strong> />

região. Essa alteração nas formas <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> e relação com a Caatinga, não<<strong>br</strong> />

acarretaram, no entanto, na transformação da estrutura social <strong>de</strong> extrema po<strong>br</strong>eza da<<strong>br</strong> />

maioria da população. A mo<strong>de</strong>rnização na região foi restrita e seletiva, o que ajudou a<<strong>br</strong> />

manter um padrão dominantemente tradicional (BEZERRA e VEIGA, 2000).<<strong>br</strong> />

Santana e Souto (2006) alertaram que os impactos ambientais no Semiárido,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s insustentáveis, praticadas nesse ambiente tão<<strong>br</strong> />

complexo e ainda pouco conhecido, po<strong>de</strong>rão levá-lo a um <strong>pro</strong>cesso irreversível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>gradação.<<strong>br</strong> />

Para que isso seja evitado, o estudo e a conservação da biodiversida<strong>de</strong> da<<strong>br</strong> />

Caatinga, na busca da consolidação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável, se<<strong>br</strong> />

constituem em um dos maiores <strong>de</strong>safios do conhecimento científico atual. Isso po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ser reforçado, <strong>de</strong>ntre muitos fatores, por ser esse um bioma restrito apenas ao<<strong>br</strong> />

território <strong>br</strong>asileiro e ser <strong>pro</strong>porcionalmente o menos estudado e também o menos<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>tegido (LEAL et al., 2003; ROCHA et al., 2006), mas principalmente por apresentar<<strong>br</strong> />

graves <strong>pro</strong>blemas socioeconômicos e ambientais, <strong>de</strong>correntes da omissão dos órgãos<<strong>br</strong> />

públicos na elaboração <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, que consi<strong>de</strong>rem as<<strong>br</strong> />

especificida<strong>de</strong>s da região.<<strong>br</strong> />

Sendo assim a contenção dos avanços da <strong>de</strong>gradação ambiental e a<<strong>br</strong> />

minimização dos <strong>pro</strong>blemas sócio-econômicos das regiões semi-áridas do Nor<strong>de</strong>ste<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileiro requerem um a<strong>de</strong>quado planejamento <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural<<strong>br</strong> />

que consi<strong>de</strong>rem as particularida<strong>de</strong>s regionais, e sejam baseados nos princípios da<<strong>br</strong> />

sustentabilida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Algumas experiências e <strong>pro</strong>postas agroecológicas para o Semiárido nor<strong>de</strong>stino<<strong>br</strong> />

(ALBUQUERQUE, 2003; CARVALHO-FILHO et al., 2007; CAMPANHA et al., 2007)<<strong>br</strong> />

têm mostrado que os <strong>sistemas</strong> agroflorestais, em particular a modalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

20


agrossilvipastoril, parecem ser os mais viáveis para reverter o quadro social e<<strong>br</strong> />

ambiental da região, uma vez que contemplam a pecuária, vocação mais importante<<strong>br</strong> />

nessas áreas, praticada junto ao manejo florestal da Caatinga, ou com a agricultura<<strong>br</strong> />

nos sítios <strong>de</strong> melhor potencial <strong>pro</strong>dutivo (ARAÚJO FILHO e CARVALHO, 2001).<<strong>br</strong> />

Para Salin e Albuquerque (2008) os <strong>sistemas</strong> agrossilvipastoris surgem como<<strong>br</strong> />

uma alternativa viável do ponto <strong>de</strong> vista ambiental e sócio-econômico, pois buscam<<strong>br</strong> />

aumentar os efeitos benéficos das interações entre espécies lenhosas, culturas<<strong>br</strong> />

agrícolas e animais, baseando-se nos ecos<strong>sistemas</strong> naturais como mo<strong>de</strong>lo.<<strong>br</strong> />

Para Maia et al. (2006), a transição dos <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agropecuários<<strong>br</strong> />

convencionais para a adoção das técnicas agrossilvipastoris ou silvipastoris po<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />

contribuir <strong>de</strong> forma eficaz para o estabelecimento <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>pro</strong>dutivos mais estáveis<<strong>br</strong> />

e que amenizem as adversida<strong>de</strong>s encontradas pelas ativida<strong>de</strong>s rurais <strong>pro</strong>dutivas nas<<strong>br</strong> />

regiões semi-áridas.<<strong>br</strong> />

Sendo assim, é evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior conhecimento so<strong>br</strong>e os usos<<strong>br</strong> />

e o manejo <strong>de</strong> espécies arbóreas em <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s rurais na região semi-árida, para<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ntificar as potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agrossilvipastoris na região.<<strong>br</strong> />

É importante, entretanto, que esse conhecimento seja gerado não só a partir <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

pesquisas científicas, mas também da sistematização dos conhecimentos tradicionais<<strong>br</strong> />

existentes so<strong>br</strong>e o tema. Essas ações po<strong>de</strong>rão i<strong>de</strong>ntificar as principais lacunas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

conhecimento e guiar as futuras ações <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e<<strong>br</strong> />

extensão rural na região (MENEZES et. al, 2008)<<strong>br</strong> />

1.4.1. Áreas prioritárias para estratégias sustentáveis na Caatinga<<strong>br</strong> />

pernambucana<<strong>br</strong> />

A gran<strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> dos ecos<strong>sistemas</strong> do Semiárido <strong>br</strong>asileiro levou a uma<<strong>br</strong> />

cooperação interinstitucional, envolvendo especialistas <strong>de</strong> organizações<<strong>br</strong> />

governamentais e não-governamentais, instituições <strong>de</strong> ensino e pesquisa, e empresas,<<strong>br</strong> />

para <strong>de</strong>finir áreas e estratégias sustentáveis para a Caatinga, como forma <strong>de</strong> reverter<<strong>br</strong> />

o crescente quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong>sse bioma (MMA, 2002).<<strong>br</strong> />

Para tanto, foi realizado em 2000, o workshop “Avaliação e Ações Prioritárias<<strong>br</strong> />

para Conservação da Biodiversida<strong>de</strong> do Bioma Caatinga”, que resultou na indicação<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> 82 áreas com urgente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e ações<<strong>br</strong> />

conservacionistas, que garantam a manutenção da biodiversida<strong>de</strong> local (TABARELLI e<<strong>br</strong> />

SILVA, 2005).<<strong>br</strong> />

No que concerne aos fatores abióticos, Sá et al. (2003) indicaram 15 áreas<<strong>br</strong> />

prioritárias para conservação, entre elas, na Caatinga pernambucana, a <strong>de</strong>nominada<<strong>br</strong> />

21


“área <strong>de</strong> carvoejamento”, a<strong>br</strong>angendo os municípios <strong>de</strong> Arcover<strong>de</strong>, Buíque,<<strong>br</strong> />

Tupanatinga, Calumbi, Flores, Betânia, Serra Talhada, Ibimirim, Floresta, Sertânia e<<strong>br</strong> />

Custódia, on<strong>de</strong> existe ina<strong>de</strong>quada exploração do recurso florestal nativo.<<strong>br</strong> />

Os fatores relacionados à fragilida<strong>de</strong> do ambiente e o nível <strong>de</strong> pressão<<strong>br</strong> />

antrópica foram os principais critérios em que se fundamentou a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>ssas<<strong>br</strong> />

áreas. A i<strong>de</strong>ntificação baseou-se na forma <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong>ssas áreas, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

suas características marcantes quanto a recursos naturais e socioeconômicos. No<<strong>br</strong> />

tocante às fontes agrossocioeconômicas, as principais variáveis enfocadas foram: a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica, a estrutura fundiária e os <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong>/exploração<<strong>br</strong> />

usados pelas comunida<strong>de</strong>s (SÁ et al., 2003).<<strong>br</strong> />

Nesse sentido, torna-se evi<strong>de</strong>nte, que as formas <strong>de</strong> ocupação e uso da terra<<strong>br</strong> />

nessas regiões, têm historicamente contribuído para a sensível redução da<<strong>br</strong> />

biodiversida<strong>de</strong> natural da Caatinga, e que a <strong>pro</strong>moção <strong>de</strong> medidas que incluam<<strong>br</strong> />

também o componente ambiental nos planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento regional, são<<strong>br</strong> />

imprescindíveis para gerar qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para as populações e preservação<<strong>br</strong> />

ambiental.<<strong>br</strong> />

22


2. MATERIAL E MÉTODOS<<strong>br</strong> />

2.1. Área <strong>de</strong> estudo<<strong>br</strong> />

2.1.1. Localização, solo, clima e vegetação<<strong>br</strong> />

O estudo foi realizado no município <strong>de</strong> Ibimirim, localizado na região semiárida<<strong>br</strong> />

do estado <strong>de</strong> Pernambuco, na mesorregião do Sertão pernambucano e microrregião<<strong>br</strong> />

Sertão do Moxotó (Figura 1). A área do município ocupa 2.033,593 km², limitando-se<<strong>br</strong> />

ao norte com os municípios <strong>de</strong> Sertânia e Custódia, ao sul com Inajá e Manari, a leste<<strong>br</strong> />

com Tupanatinga e a oeste com Floresta. Sua se<strong>de</strong> apresenta as coor<strong>de</strong>nadas<<strong>br</strong> />

geográficas 8º32’27,6” <strong>de</strong> longitu<strong>de</strong> e 37º41’24” <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong>, com altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 401 metros<<strong>br</strong> />

acima do nível do mar, distando 331,6 km da cida<strong>de</strong> do Recife, com acesso pelas<<strong>br</strong> />

rodovias BR-232, BR-110, via Cruzeiro do Nor<strong>de</strong>ste (CONDEPE/FIDEM, 2007).<<strong>br</strong> />

Figura 1: Localização da área <strong>de</strong> estudo, município <strong>de</strong> Ibimirim – PE, sertão<<strong>br</strong> />

pernambucano, Nor<strong>de</strong>ste do Brasil.<<strong>br</strong> />

23


A área <strong>de</strong> estudo encontra-se nos domínios da Bacia Hidrográfica do Rio<<strong>br</strong> />

Moxotó, sendo o principal corpo <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> água o açu<strong>de</strong> Eng. Francisco<<strong>br</strong> />

Sabóia, conhecido localmente como açu<strong>de</strong> Poço da Cruz, com cerca <strong>de</strong> 504.000.000<<strong>br</strong> />

m³. A região, inserida na unida<strong>de</strong> geoambiental da Bacia do Jatobá, apresenta<<strong>br</strong> />

maiores ou menores elevações tabulares em forma <strong>de</strong> mesetas, com encostas<<strong>br</strong> />

íngremes e topos aplainados, muito recortados e erodidos, tendo na base um relevo<<strong>br</strong> />

predominantemente suave ondulado (EMBRAPA, 2000).<<strong>br</strong> />

As características dos solos variam muito <strong>de</strong> um local para outro em função da<<strong>br</strong> />

heterogeneida<strong>de</strong> do material <strong>de</strong> origem, das formas <strong>de</strong> relevo e das condições<<strong>br</strong> />

climáticas do município. Sendo assim, são encontrados solos <strong>de</strong> fortemente a<<strong>br</strong> />

imperfeitamente drenados, <strong>de</strong> rasos a <strong>pro</strong>fundos, <strong>de</strong> cor Bruna ou Bruno amarelados<<strong>br</strong> />

até vermelhos escuros e, <strong>de</strong> alta a baixa saturação por bases e ativida<strong>de</strong> química<<strong>br</strong> />

(SILVA, 2006).<<strong>br</strong> />

As principais características <strong>de</strong>sses solos são: <strong>pro</strong>fundos, com caráter distrófico<<strong>br</strong> />

e aci<strong>de</strong>z elevada predominante, representados pelos Neossolos Quartzarênicos;<<strong>br</strong> />

pouco <strong>pro</strong>fundos a <strong>pro</strong>fundos, com presença <strong>de</strong> textura arenosa ou média, drenados,<<strong>br</strong> />

representado pelo Neossolos Regolítico; e solos minerais, imperfeitamente drenados e<<strong>br</strong> />

mal drenados com teores elevados <strong>de</strong> sódio no sub-solo, representados pelos<<strong>br</strong> />

Planossolos Nátricos. Outros tipos <strong>de</strong> solos também ocorrem: Latossolos Amarelos,<<strong>br</strong> />

Luvissolos, Podzólicos Amarelos, Neossolos Flúvicos, Vertissolos e Cambissolos<<strong>br</strong> />

(SILVA, 2006).<<strong>br</strong> />

O clima dominante em toda área é do tipo semiárido quente, ou BSh segundo a<<strong>br</strong> />

classificação <strong>de</strong> Köppen, com temperatura média anual <strong>de</strong> 25°C. Os meses mais<<strong>br</strong> />

quentes são novem<strong>br</strong>o, com registros máximos <strong>de</strong> temperatura entre 35°C e 40°C, e<<strong>br</strong> />

as mínimas ocorrem em julho e agosto, com temperatura <strong>de</strong> a<strong>pro</strong>ximadamente 23°C.<<strong>br</strong> />

A precipitação média anual é <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 513 mm, com período chuvoso <strong>de</strong> janeiro a<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>il (TEMÓTEO, 2000). Essas características são <strong>de</strong>correntes da influência<<strong>br</strong> />

orográfica, ou seja, das formas <strong>de</strong> relevo da região que isolam os ventos úmidos do<<strong>br</strong> />

nor<strong>de</strong>ste, e a circulação atmosférica que age so<strong>br</strong>e a região (RADAMBRASIL, 1981).<<strong>br</strong> />

A umida<strong>de</strong> relativa do ar apresenta comportamento diversificado relacionado a<<strong>br</strong> />

continentalida<strong>de</strong> e a topografia, e segundo dados do Laboratório <strong>de</strong> Meteorologia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Pernambuco (LAMEPE), a umida<strong>de</strong> relativa média anual gira em torno <strong>de</strong> 64 a 68%<<strong>br</strong> />

(SILVA, 2006).<<strong>br</strong> />

A vegetação predominante do município é a caatinga hiperxerófila, uma<<strong>br</strong> />

vegetação característica da região semi-árida do Sertão, com xerofitismo acentuado.<<strong>br</strong> />

De acordo com Veloso et al. (1991) é caracteriza-se pelo predomínio da savana-<<strong>br</strong> />

estépica, uma tipologia marcada por espécies vegetais com alta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

24


etenção <strong>de</strong> água durante a estação mais quente, quando per<strong>de</strong>m a folhagem,<<strong>br</strong> />

reduzindo consi<strong>de</strong>ravelmente o metabolismo vegetal (TEMÓTEO, 2000).<<strong>br</strong> />

2.1.2. Histórico e ocupação<<strong>br</strong> />

Ibimirim foi <strong>de</strong>smem<strong>br</strong>ado <strong>de</strong> Inajá, elevando-se a categoria <strong>de</strong> município em<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 1963, pela Lei Estadual nº 4.956. É atualmente constituído pelos distritos<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Ibimirim (se<strong>de</strong>) e Moxotó e pelos povoados Campos, Jericó, Poço da Cruz, Puiu e<<strong>br</strong> />

Manavi.<<strong>br</strong> />

O município conta com uma população total <strong>de</strong> 27.261 habitantes, com 15.116<<strong>br</strong> />

residindo na área urbana e 12.145 na área rural (IBGE, 2007a). Os indicadores<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>mográficos apontam uma taxa <strong>de</strong> urbanização <strong>de</strong> 55,4%, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográficas<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> 12,5%, média <strong>de</strong> moradores por domicílio <strong>de</strong> 4,4 pessoas e taxa anual <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

crescimento <strong>de</strong>mográfico (91/2000) <strong>de</strong> 1,58 (MASCARENHAS et al., 2005).<<strong>br</strong> />

A população rural ibimiriense (44,6%) concentra na agropecuária sua principal<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong> econômica (CONDEPE/FIDEM, 2007). Segundo o último censo agropecuário<<strong>br</strong> />

(IBGE, 2006), o município tem cerca <strong>de</strong> 1.800 estabelecimentos rurais, dos quais 229<<strong>br</strong> />

possuem lavouras permanentes e 1.258 lavouras temporárias. As principais ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

agrícolas praticadas nessas <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s são a pecuária extensiva com a criação<<strong>br</strong> />

principalmente <strong>de</strong> bovinos e caprinos; o extrativismo florestal; e a agricultura com<<strong>br</strong> />

cultivos temporários principalmente <strong>de</strong> tomate, milho e feijão e cultivos permanentes<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> banana e manga. As ativida<strong>de</strong>s florestais restringem-se basicamente a retirada <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ma<strong>de</strong>ira para lenha e carvão.<<strong>br</strong> />

De acordo com indicadores socioeconômicos, Ibimirim é um dos municípios <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

menor Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH) (0,566) <strong>de</strong> Pernambuco, ocupando a<<strong>br</strong> />

167º posição entre os 184 municípios do estado (CONDEPE/FIDEM, 2007). Tais<<strong>br</strong> />

índices refletem a ineficiência das estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento para a região, e a<<strong>br</strong> />

falta <strong>de</strong> políticas públicas que visem elevar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população<<strong>br</strong> />

2.2. Seleção da área <strong>de</strong> estudo e da amostra<<strong>br</strong> />

A escolha do município <strong>de</strong> estudo levou em conta sua inserção na “área <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

carvoejamento”, <strong>de</strong>finida por SÁ et al. (2003) como uma das áreas prioritárias para<<strong>br</strong> />

conservação da caatinga. Além disso, foi consi<strong>de</strong>rada também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estratégias sustentáveis para as ativida<strong>de</strong>s rurais da região, uma vez que os atuais<<strong>br</strong> />

mo<strong>de</strong>los têm <strong>de</strong>monstrado insuficiente resposta na reversão do quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação<<strong>br</strong> />

25


ambiental da caatinga e miséria social, evi<strong>de</strong>nciada pela incidência <strong>de</strong> po<strong>br</strong>eza <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

71,27% (IBGE, 2003) e pelo baixo IDH do município (CONDEPE/FIDEM, 2007).<<strong>br</strong> />

A população-alvo <strong>de</strong>sta pesquisa foi composta por agricultores e agricultoras<<strong>br</strong> />

familiares <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s e assentamentos <strong>de</strong> Ibimirim. Para seleção das<<strong>br</strong> />

comunida<strong>de</strong>s e assentamentos foi consi<strong>de</strong>rada a vocação agrícola do local, sua<<strong>br</strong> />

representativida<strong>de</strong> em termos <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> agricultores familiares ou <strong>de</strong> área<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agrícola <strong>de</strong>ntro do município.<<strong>br</strong> />

As principais ativida<strong>de</strong>s e <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> rural <strong>de</strong>senvolvidos foram<<strong>br</strong> />

previamente i<strong>de</strong>ntificadas 8 , servindo como base para a estratificação da amostra <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estudo. Os estratos formados, consi<strong>de</strong>rando-se a principais <strong>sistemas</strong> e ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

exercida pela família, associada ou não a outras ativida<strong>de</strong>s, foram os seguintes<<strong>br</strong> />

(Quadro 1): Grupo 1: <strong>sistemas</strong> agrícolas irrigados; Grupo 2: <strong>sistemas</strong> tradicionais e<<strong>br</strong> />

extrativismo florestal; Grupo 3: apicultura; Grupo 4: pesca artesanal. A pecuária não<<strong>br</strong> />

compôs um estrato, já que é uma ativida<strong>de</strong> amplamente praticada na região,<<strong>br</strong> />

enquadrando-se, portanto, nos diferentes grupos.<<strong>br</strong> />

Quadro 1: Principais ativida<strong>de</strong>s rurais <strong>pro</strong>dutivas <strong>de</strong>senvolvidas no município <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Ibimirim - PE, com base em levantamentos iniciais, para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> amostragem<<strong>br</strong> />

estratificada.<<strong>br</strong> />

Sistemas <strong>de</strong> Produção Descrição da ativida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Sistemas agrícolas<<strong>br</strong> />

irrigados<<strong>br</strong> />

Sistemas tradicionais e<<strong>br</strong> />

extrativismo florestal<<strong>br</strong> />

Apicultura<<strong>br</strong> />

Pesca artesanal<<strong>br</strong> />

Predominância <strong>de</strong> agricultura irrigada associada ou não a<<strong>br</strong> />

outras ativida<strong>de</strong>s rurais ou à ativida<strong>de</strong> pastoril.<<strong>br</strong> />

Predominância <strong>de</strong> agricultura tradicional <strong>de</strong> sequeiro 9 ,<<strong>br</strong> />

regulada pelo regime <strong>de</strong> chuvas;<<strong>br</strong> />

Predominância <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> consórcios diversificados ou<<strong>br</strong> />

quintais agroflorestais, baseado em técnicas tradicionais<<strong>br</strong> />

regulada pelo regime <strong>de</strong> chuvas;<<strong>br</strong> />

Predominância do extrativismo <strong>de</strong> recursos da caatinga, como<<strong>br</strong> />

ma<strong>de</strong>ira para lenha ou carvão e frutos, pelo manejo florestal ou<<strong>br</strong> />

extrativismo predatório;<<strong>br</strong> />

Associadas ou não entre si ou à ativida<strong>de</strong> pastoril extensiva.<<strong>br</strong> />

Predominância <strong>de</strong> apicultura, associada ou não a outras<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s rurais<<strong>br</strong> />

Predominância da ativida<strong>de</strong> pesqueira artesanal, associada ou<<strong>br</strong> />

não a outras ativida<strong>de</strong>s rurais.<<strong>br</strong> />

8<<strong>br</strong> />

Levantamento inicial a partir <strong>de</strong> observação, e <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> Instituições Governamentais,<<strong>br</strong> />

sindicatos e ONGs do município.<<strong>br</strong> />

9<<strong>br</strong> />

Cultivo agrícola em regiões <strong>de</strong> baixa pluviosida<strong>de</strong>, que não faz uso da irrigação.<<strong>br</strong> />

26


Procurou-se <strong>de</strong>limitar a estratificação a partir da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> algumas<<strong>br</strong> />

características comuns e predominantes entre as unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas (UP) e entre os<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutores/as rurais do município.<<strong>br</strong> />

Para o Grupo 1, foram consi<strong>de</strong>radas aquelas unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas cujas<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s assemelham-se à agricultura convencional ou agricultura mo<strong>de</strong>rna,<<strong>br</strong> />

baseada na irrigação e utilização <strong>de</strong> insumos agroquímicos.<<strong>br</strong> />

No Grupo 2 concentrou-se as UP com características da agricultura tradicional<<strong>br</strong> />

ou <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> práticas tradicionais, que <strong>de</strong> acordo com A<strong>br</strong>eu (2005), são <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

marcados pela adoção <strong>de</strong> práticas como queimadas, policulturas, plantio associados,<<strong>br</strong> />

rotação <strong>de</strong> culturas, pousio, entre outros, diretamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do regime <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

chuvas, que neste caso, por suas condições <strong>de</strong> escassez, irregularida<strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />

concentração num curto período do ano, induzem ao complemento da agricultura com<<strong>br</strong> />

outras ativida<strong>de</strong>s agrícolas, principalmente o extrativismo florestal.<<strong>br</strong> />

No Grupo 3, agrupou-se os <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> da apicultura em pequena<<strong>br</strong> />

escala, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos pastos apícolas naturais ou <strong>de</strong> vegetação introduzida, regida<<strong>br</strong> />

pelo regime <strong>de</strong> chuvas.<<strong>br</strong> />

No Grupo 4 reuniu-se os pescadores/as tradicionais que praticam a pesca<<strong>br</strong> />

artesanal no açu<strong>de</strong> do Poço da Cruz no município.<<strong>br</strong> />

O tamanho da amostra foi <strong>de</strong>terminado, so<strong>br</strong>etudo, pela complexida<strong>de</strong> e pela<<strong>br</strong> />

representativida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong> estudada. Sendo assim, foram <strong>de</strong>finidas uma amostra<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> 5% das famílias para os estratos (grupos) 1, 2 e 3, e 2% para o estrato 4 que<<strong>br</strong> />

apresentou maior homogeneida<strong>de</strong> nas características socioculturais, ambientais e<<strong>br</strong> />

econômicas estudadas. O número total <strong>de</strong> famílias em ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada grupo foi<<strong>br</strong> />

fornecido por seus respectivos órgãos representativos (Grupo 1 – 320 famílias:<<strong>br</strong> />

Associação dos Agricultores Irrigantes do Vale do Moxotó, Grupo 2 – 580 famílias:<<strong>br</strong> />

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais <strong>de</strong> Ibimirim, Grupo 3 – 100<<strong>br</strong> />

famílias: Associação dos Apicultores <strong>de</strong> Ibimirim e Grupo 4 - 120 famílias: Colônia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Pescadores <strong>de</strong> Ibimirim). Para a <strong>caracterização</strong> e levantamento <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong>ssas<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s, os informantes colaboradores foram selecionados aleatoriamente <strong>de</strong>ntro<<strong>br</strong> />

dos estratos.<<strong>br</strong> />

A classificação dos imóveis rurais dos entrevistados em pequena <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

foi realizada baseada nas <strong>de</strong>finições usadas pelo Instituto Nacional <strong>de</strong> Colonização e<<strong>br</strong> />

Reforma Agrária (INCRA, 2002) que estabeleceu como referência o módulo fiscal que<<strong>br</strong> />

consiste numa unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida, expressa em hectare, fixada para cada município,<<strong>br</strong> />

ficando a pequena <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> compreendida até 4 módulos fiscais. O módulo fiscal<<strong>br</strong> />

do município em questão equivale a 65 hectares.<<strong>br</strong> />

27


2.3. Coleta e análise <strong>de</strong> dados<<strong>br</strong> />

A primeira etapa da pesquisa foi realizada a partir da coleta <strong>de</strong> dados so<strong>br</strong>e os<<strong>br</strong> />

principais <strong>sistemas</strong> agrícolas praticados no município, com base na observação e<<strong>br</strong> />

levantamento <strong>de</strong> dados secundários oriundos das instituições públicas (Prefeitura<<strong>br</strong> />

Municipal, IBGE, INCRA) e das organizações sociais locais (ONGs, associações e<<strong>br</strong> />

sindicatos).<<strong>br</strong> />

A <strong>de</strong>finição dos potenciais participantes da pesquisa foi feita após reuniões<<strong>br</strong> />

com os mem<strong>br</strong>os do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais <strong>de</strong> Ibimirim,<<strong>br</strong> />

da Secretaria <strong>de</strong> Agricultura do município, com ONGs e associações do município<<strong>br</strong> />

para apresentação do <strong>pro</strong>jeto e esclarecimentos com relação aos objetivos e formação<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> parcerias.<<strong>br</strong> />

Para a realização da pesquisa, foram selecionadas 22 comunida<strong>de</strong>s e 4<<strong>br</strong> />

assentamentos <strong>de</strong> Ibimirim (Figura 2), num total <strong>de</strong> 65 famílias e/ou unida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutivas pesquisadas, das quais apenas 56 foram consi<strong>de</strong>radas para este trabalho,<<strong>br</strong> />

uma vez que as <strong>de</strong>mais entrevistas estavam incompletas ou não contemplavam<<strong>br</strong> />

diretamente as questões abordadas. Um ou mais mem<strong>br</strong>os da família foram<<strong>br</strong> />

solicitados a falar livremente empregando-se a técnica <strong>de</strong> entrevista semi-estruturada<<strong>br</strong> />

(RICHARDSON, 1985, ALBUQUERQUE e LUCENA, 2004) com base em um roteiro<<strong>br</strong> />

previamente elaborado, contemplando algumas questões-chave referentes ao<<strong>br</strong> />

contexto socioeconômico cultural, ambiental, econômico e aos <strong>sistemas</strong> <strong>pro</strong>dutivos e<<strong>br</strong> />

alternativas <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> sustentável.<<strong>br</strong> />

A entrevista semi-estruturada baseou-se na utilização <strong>de</strong> perguntas<<strong>br</strong> />

parcialmente formuladas pela pesquisadora antes <strong>de</strong> ir ao campo, apresentando<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> por permitir a<strong>pro</strong>fundar elementos que po<strong>de</strong>m surgir durante a<<strong>br</strong> />

entrevista (ALBUQUERQUE e LUCENA, 2004), e dar maior oportunida<strong>de</strong> para a<<strong>br</strong> />

manifestação livre <strong>de</strong> opiniões, pontos <strong>de</strong> vista e argumentações do informante.<<strong>br</strong> />

Como informante principal foi escolhido um representante <strong>de</strong> cada família,<<strong>br</strong> />

mulher ou homem, po<strong>de</strong>ndo ser o mem<strong>br</strong>o mais velho, o responsável pela <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

e pela casa ou aquele com maior habilida<strong>de</strong> e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressar-se. Sempre que<<strong>br</strong> />

possível foi também solicitada colaboração e participação <strong>de</strong> toda a família.<<strong>br</strong> />

O objetivo das entrevistas foi levantar o maior número possível <strong>de</strong> informações<<strong>br</strong> />

concernentes às unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas, a ativida<strong>de</strong> agrícola e a família através das<<strong>br</strong> />

dimensões socioculturais, ambientais e materiais/econômicas, além <strong>de</strong> informações<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e o conhecimento e prática dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais ou interesse na adoção<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sses mo<strong>de</strong>los sustentáveis <strong>de</strong> uso da terra, e o uso dos recursos florestais da<<strong>br</strong> />

28


caatinga. Nesse sentido a elaboração <strong>de</strong> um roteiro <strong>de</strong> entrevista (Anexo 1) levou em<<strong>br</strong> />

conta as informações <strong>de</strong>scritas no Quadro 2.<<strong>br</strong> />

Figura 2: Comunida<strong>de</strong>s e assentamentos rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE selecionados para<<strong>br</strong> />

pesquisa<<strong>br</strong> />

A abordagem acerca dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais durantes as entrevistas, foi<<strong>br</strong> />

feita apoiada na cartilha “Agricultura Agroflorestal ou Agrofloresta” (SOUSA e<<strong>br</strong> />

FERNANDES, 2007), um instrumento ecopedagógico elaborado e fornecido pelo<<strong>br</strong> />

Centro <strong>de</strong> Desenvolvimento Agroecológico Sabiá em Pernambuco.<<strong>br</strong> />

Complementarmente, foi empregada a turnê guiada (ALBUQUERQUE e<<strong>br</strong> />

LUCENA, 2004) em algumas <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s, através <strong>de</strong> trilhas com os informantes, com<<strong>br</strong> />

a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar espécies florestais da caatinga a partir dos nomes populares<<strong>br</strong> />

com seus respectivos atributos relacionados aos usos pela população. A escolha das<<strong>br</strong> />

UP para execução <strong>de</strong>sta etapa do trabalho <strong>de</strong>u-se em função da existência <strong>de</strong> trechos<<strong>br</strong> />

29


<strong>de</strong> vegetação nativa nos limites da <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> e do conhecimento a<strong>pro</strong>fundado do<<strong>br</strong> />

informante so<strong>br</strong>e a flora nativa e sua utilização.<<strong>br</strong> />

Quadro 2: Dimensões abordadas em entrevista semi-estruturada para <strong>caracterização</strong><<strong>br</strong> />

da estrutura e funcionamento das <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s rurais, e organização familiar rural no<<strong>br</strong> />

município <strong>de</strong> Ibimirim, PE.<<strong>br</strong> />

Dimensão sociocultural<<strong>br</strong> />

Dimensão ambiental e<<strong>br</strong> />

material/econômica<<strong>br</strong> />

Informações so<strong>br</strong>e os<<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> agroflorestais e<<strong>br</strong> />

o uso dos recursos<<strong>br</strong> />

florestais da Caatinga<<strong>br</strong> />

1. I<strong>de</strong>ntificação e localização da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

2. A <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> rural<<strong>br</strong> />

3. A família<<strong>br</strong> />

4. A história do estabelecimento<<strong>br</strong> />

5. Escolhas estratégicas e seus <strong>de</strong>terminantes<<strong>br</strong> />

6. As representações sociais, aspirações da família, satisfação<<strong>br</strong> />

com a ativida<strong>de</strong> exercida, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, intenções <strong>de</strong> futuro,<<strong>br</strong> />

entre outros.<<strong>br</strong> />

1. Relevo, solo e água<<strong>br</strong> />

2. Ambiente físico<<strong>br</strong> />

3. Os <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> e as ativida<strong>de</strong>s rurais (agrícola,<<strong>br</strong> />

pecuário, apícola, pesqueiro, piscicultura)<<strong>br</strong> />

4. Extrativismo florestal<<strong>br</strong> />

5. Economia (comercialização dos <strong>pro</strong>dutos e renda familiar)<<strong>br</strong> />

1.Conhecimento acerca dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais , seus<<strong>br</strong> />

métodos e interesse em adoção <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> uso da<<strong>br</strong> />

terra<<strong>br</strong> />

2. Espécies forrageiras e florestais mais usadas<<strong>br</strong> />

3. Formas <strong>de</strong> manejo da caatinga<<strong>br</strong> />

4. Uso da ma<strong>de</strong>ira<<strong>br</strong> />

5. Vegetação da caatinga<<strong>br</strong> />

Elaborado a partir <strong>de</strong> Silva (1998); Matos Filho (2004)<<strong>br</strong> />

Para a i<strong>de</strong>ntificação das espécies florestais apontadas em usos ma<strong>de</strong>ireiro,<<strong>br</strong> />

forrageiro, apícola, frutífero e medicinal, foi coletado material botânico, para o preparo<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> exsicatas que foram tombadas no Herbário Sérgio Tavares do Departamento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Ciência Florestal da UFRPE. As espécies foram separadas em famílias <strong>de</strong> acordo com<<strong>br</strong> />

o sistema <strong>de</strong> classificação APGII (2003).<<strong>br</strong> />

A coleta dos dados foi realizada entre os meses <strong>de</strong> janeiro e setem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2009.<<strong>br</strong> />

Todas as informações obtidas foram registradas através <strong>de</strong> gravação com autorização<<strong>br</strong> />

prévia e anotações em fichas <strong>de</strong> campo, e posteriormente transcritas para um<<strong>br</strong> />

formulário reunindo as informações levantadas em forma <strong>de</strong> perguntas abertas e<<strong>br</strong> />

fechadas para a tabulação e análise dos dados.<<strong>br</strong> />

30


O uso das entrevistas foi previamente autorizado pelos colaboradores mediante<<strong>br</strong> />

assinatura <strong>de</strong> termo <strong>de</strong> consentimento ou por gravação em casos <strong>de</strong> participantes não<<strong>br</strong> />

alfabetizados.<<strong>br</strong> />

Visando sanar lacunas <strong>de</strong>ixadas durante a aplicação do método <strong>de</strong> entrevista<<strong>br</strong> />

semi-estruturada, foi realizada uma coleta <strong>de</strong> dados complementar aplicando-se um<<strong>br</strong> />

formulário que consistiu em uma entrevista direta e pessoal, com dados preenchidos<<strong>br</strong> />

pela pesquisadora.<<strong>br</strong> />

Os dados foram analisados através da análise tabular, na qual se montou uma<<strong>br</strong> />

matriz com as questões e respostas <strong>de</strong> cada entrevistado permitindo assim a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>scrição pormenorizada <strong>de</strong> todas as categorias estudadas e o <strong>de</strong>talhamento <strong>de</strong> todas<<strong>br</strong> />

as variáveis – respostas obtidas dos entrevistados.<<strong>br</strong> />

31


3. RESULTADOS E DISCUSSÃO<<strong>br</strong> />

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA FAMÍLIA, DA UNIDADE PRODUTIVA E DA<<strong>br</strong> />

ATIVIDADE<<strong>br</strong> />

3.1.1. Aspectos Gerais<<strong>br</strong> />

No final da década <strong>de</strong> 1970, foi implantado em Ibimirim pelo Departamento<<strong>br</strong> />

Nacional <strong>de</strong> O<strong>br</strong>as Contra as Secas (DNOCS), o Perímetro Irrigado do Moxotó<<strong>br</strong> />

(PIMOX), juntamente com a construção do maior corpo <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> água <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Pernambuco, o açu<strong>de</strong> Engenheiro Francisco Sabóia, conhecido localmente como<<strong>br</strong> />

açu<strong>de</strong> do Poço da Cruz (Figura 3). O Perímetro Irrigado foi inicialmente planejado para<<strong>br</strong> />

ocupar uma área equivalente a 12.395,96 ha, imediatamente à jusante do açu<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />

esten<strong>de</strong>ndo-se por cerca <strong>de</strong> 40 km nos dois lados do Rio Moxotó, até as <strong>pro</strong>ximida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Inajá, <strong>de</strong> forma a aten<strong>de</strong>r 506 lotes rurais <strong>de</strong> terras irrigáveis com cerca <strong>de</strong> 8 ha<<strong>br</strong> />

cada, e a partir daí gerar renda e crescimento econômico para o município.<<strong>br</strong> />

(a) (b)<<strong>br</strong> />

Figura 3: (a) Açu<strong>de</strong> Eng. Francisco Sabóia; (b) Canal <strong>de</strong> irrigação do Perímetro<<strong>br</strong> />

Irrigado do Moxotó (PIMOX)<<strong>br</strong> />

Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s secas, a partir <strong>de</strong> 1993, e dá má administração das<<strong>br</strong> />

águas, o açu<strong>de</strong> atingiu níveis críticos, acumulando pouco mais <strong>de</strong> 74.000.000 m³ <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

água, equivalente a menos <strong>de</strong> 15% <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> total (504.000.000 <strong>de</strong> m³). A<<strong>br</strong> />

paralisação da agricultura irrigada levou ao esvaziamento dos lotes e a <strong>pro</strong>cura por<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s alternativas quer em outras cida<strong>de</strong>s e estados, quer no próprio município.<<strong>br</strong> />

32


Este período foi marcado por intensa migração da população para os centros<<strong>br</strong> />

urbanos e pelo <strong>de</strong>smatamento acentuado do perímetro irrigado, como a única forma<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> possibilitar a permanência do agricultor em sua terra, tendo em vista a ausência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

políticas <strong>de</strong> convivência com a seca, e alternativas econômicas que possibilitassem ao<<strong>br</strong> />

mesmo tempo a geração <strong>de</strong> renda e manutenção das áreas florestadas.<<strong>br</strong> />

Apenas em 2004, com o retorno das chuvas, o Perímetro Irrigado do Moxotó foi<<strong>br</strong> />

reativado, trazendo <strong>de</strong> volta boa parte da população. Atualmente o perímetro opera<<strong>br</strong> />

com apenas 6.375 ha e 319 lotes irrigados <strong>de</strong> agricultores familiares, na maioria dos<<strong>br</strong> />

casos, e compõe a principal área <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agrícola irrigada <strong>de</strong> Ibimirim.<<strong>br</strong> />

A água que abastece os lotes, <strong>pro</strong>veniente do açu<strong>de</strong>, é controlada pela<<strong>br</strong> />

Associação dos Produtores Rurais e Irrigantes do Vale do Moxotó (UNIVALE), uma<<strong>br</strong> />

organização criada pelos agricultores irrigantes em 1995 com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

administrar a operação e manutenção do PIMOX, sob a supervisão e fiscalização do<<strong>br</strong> />

DNOCS. A UNIVALE é responsável pela co<strong>br</strong>ança <strong>de</strong> uma taxa para uso da água, que<<strong>br</strong> />

é liberada três dias por semana.<<strong>br</strong> />

Além do perímetro irrigado, é possível encontrar ainda, um número pouco<<strong>br</strong> />

expressivo <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas (UP) em outras localida<strong>de</strong>s do município, que<<strong>br</strong> />

utilizam água para irrigação total ou parcial da lavoura agrícola e para criação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

animais, <strong>pro</strong>veniente <strong>de</strong> poços artesianos ou captadas autonomamente do açu<strong>de</strong>, no<<strong>br</strong> />

caso <strong>de</strong> sítios localizados às suas margens.<<strong>br</strong> />

No entanto, a maioria da população rural do município não é beneficiada pelo<<strong>br</strong> />

recurso hídrico, uma vez que o volume <strong>de</strong> água, a má distribuição e o <strong>de</strong>sperdício das<<strong>br</strong> />

águas do Poço da Cruz, <strong>pro</strong>vocado por um ineficiente sistema <strong>de</strong> irrigação, e pela alta<<strong>br</strong> />

evaporação, não dão conta <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r toda <strong>de</strong>manda municipal. Gran<strong>de</strong> parte dos<<strong>br</strong> />

trabalhadores está sujeito aos ciclos <strong>de</strong> chuvas e às insuficientes ações<<strong>br</strong> />

governamentais mitigadoras dos <strong>pro</strong>blemas <strong>de</strong> déficit hídrico. A escassez hídrica tem<<strong>br</strong> />

moldado toda ativida<strong>de</strong> rural em Ibimirim e condicionado <strong>pro</strong>fundamente a vida do<<strong>br</strong> />

homem do campo.<<strong>br</strong> />

Como conseqüências, os <strong>sistemas</strong> agrícolas <strong>de</strong> sequeiro, com cultivos<<strong>br</strong> />

temporários, o extrativismo florestal e a pecuária extensiva tornaram-se as formas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

uso da terra predominantes na região. A restrição da agricultura aos períodos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

chuva forçou os agricultores a buscarem alternativas durante os períodos <strong>de</strong> estiagem<<strong>br</strong> />

na ativida<strong>de</strong> extrativista, apoiada principalmente na retirada <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira para lenha e<<strong>br</strong> />

carvão, na pecuária extensiva, e em alguns poucos casos, nos quintais agroflorestais<<strong>br</strong> />

ou <strong>sistemas</strong> consorciados nos quintais das casas, com predominância do cultivo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

arbóreas e fruteiras, algumas poucas espécies anuais <strong>de</strong> ciclo curto e ervas<<strong>br</strong> />

medicinais, prevendo apenas o abastecimento familiar.<<strong>br</strong> />

33


Na maioria das vezes, a criação <strong>de</strong> animais ocorre concomitantemente com<<strong>br</strong> />

outras ativida<strong>de</strong>s. A pecuária, essencialmente extensiva, ocupa as áreas <strong>de</strong> caatinga,<<strong>br</strong> />

e tem se caracterizado por um baixo <strong>de</strong>sempenho <strong>pro</strong>dutivo, principalmente <strong>de</strong>vido à<<strong>br</strong> />

frágil estrutura do suporte alimentar e a forte estacionalida<strong>de</strong> da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

forragem. Isso tem acarretado um superpastoreio, que exce<strong>de</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

suporte da vegetação nativa com conseqüências na compactação do solo e até<<strong>br</strong> />

mesmo na eliminação <strong>de</strong> algumas áreas da caatinga.<<strong>br</strong> />

A apicultura também tem se <strong>de</strong>stacado como uma importante ativida<strong>de</strong> rural no<<strong>br</strong> />

município. A <strong><strong>pro</strong>dução</strong> apícola vem ganhando notorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados da década<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> 1990 a partir <strong>de</strong> iniciativas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco para<<strong>br</strong> />

formação e capacitação <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutores locais e da criação em 1994 <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />

organização coletiva, a Associação dos Apicultores <strong>de</strong> Ibimirim (ASSAPI), formada<<strong>br</strong> />

atualmente por cerca <strong>de</strong> 60 sócios.<<strong>br</strong> />

A ativida<strong>de</strong> apícola, com gran<strong>de</strong> potencial para compor estratégias<<strong>br</strong> />

sustentáveis para o município, tem colocado a região entre um dos principais pólos<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutores <strong>de</strong> mel do estado, e além <strong>de</strong> movimentar a economia local tem assumido<<strong>br</strong> />

também um importante papel na conservação da biodiversida<strong>de</strong> florística da Caatinga<<strong>br</strong> />

na região.<<strong>br</strong> />

Outra ativida<strong>de</strong> expressiva é a pesca no açu<strong>de</strong> do Poço da Cruz, que tem<<strong>br</strong> />

tornado Ibimirim uma importante região da pesca artesanal das Sub-Bacias do São<<strong>br</strong> />

Francisco em Pernambuco. Os pescadores estão organizados coletivamente em uma<<strong>br</strong> />

entida<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominada Colônia <strong>de</strong> Pescadores <strong>de</strong> Ibimirim, que além das articulações e<<strong>br</strong> />

regulamentações da pesca no município, garante também os direitos trabalhistas aos<<strong>br</strong> />

associados.<<strong>br</strong> />

A <strong><strong>pro</strong>dução</strong> pesqueira apóia-se principalmente em peixes exóticos, so<strong>br</strong>etudo<<strong>br</strong> />

na tilápia, uma espécie comumente introduzida nos açu<strong>de</strong>s públicos da região semi-<<strong>br</strong> />

árida <strong>br</strong>asileira para melhoria da pesca.<<strong>br</strong> />

Apesar da i<strong>de</strong>ntificação clara das diferentes ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas no<<strong>br</strong> />

município, é comum o envolvimento dos trabalhares em múltiplas ocupações rurais. É<<strong>br</strong> />

importante consi<strong>de</strong>rar que para o pequeno agricultor a diversificação das ativida<strong>de</strong>s, e<<strong>br</strong> />

a integração <strong>de</strong> diferentes <strong>sistemas</strong> <strong>pro</strong>dutivos constituem uma estratégia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

viabilização das unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas, uma possibilida<strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda<<strong>br</strong> />

e a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida nessas regiões.<<strong>br</strong> />

34


3.1.2. Aspectos socioculturais<<strong>br</strong> />

3.1.2.1. Ida<strong>de</strong> e escolarida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Os informantes principais das famílias entrevistadas têm entre 20 e 73 anos.<<strong>br</strong> />

Do grupo <strong>de</strong> agricultores irrigantes, a maioria (40%) encontra-se na faixa etária entre<<strong>br</strong> />

40 e 49 anos, ao passo que <strong>de</strong>ntre o grupo das ativida<strong>de</strong>s tradicionais e extrativismo<<strong>br</strong> />

florestal, os agricultores concentraram-se na faixa etária entre 60 e 69 anos (34,5%),<<strong>br</strong> />

os apicultores, em sua maioria (80%) entre 30 e 49 anos e os pescadores entre 50 e<<strong>br</strong> />

59 anos (50%) (Figura 4).<<strong>br</strong> />

70-79 anos<<strong>br</strong> />

60-69 anos<<strong>br</strong> />

50-59 anos<<strong>br</strong> />

40-49 anos<<strong>br</strong> />

30-39 anos<<strong>br</strong> />

20-29 anos<<strong>br</strong> />

0 10 20 30<<strong>br</strong> />

Percentagem (%)<<strong>br</strong> />

40 50 60<<strong>br</strong> />

Irrigantes Tradicional/Florestal Apicultor Pescador<<strong>br</strong> />

Figura 4: Faixa etária dos/as trabalhadores/as rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Os apicultores foram os que tiveram mais acesso a educação (Figura 5), com<<strong>br</strong> />

exceção <strong>de</strong>ste grupo, a maior escolarida<strong>de</strong> esteve relacionada aos informantes mais<<strong>br</strong> />

jovens (20 a 29 anos), sendo os principais representantes a concluírem ensino médio.<<strong>br</strong> />

Os agricultores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> mais avançada (60 a 79 anos) em sua maioria não foram<<strong>br</strong> />

alfabetizados (Tabela 1). A taxa <strong>de</strong> analfabetismo entre os entrevistados (24,1%) foi<<strong>br</strong> />

bem próxima a taxa estadual (21,3%), entretanto o analfabetismo na região esteve<<strong>br</strong> />

bem acima da média nacional que é <strong>de</strong> 13,63% (IBGE, 2005).<<strong>br</strong> />

Similarmente ao encontrado na região, cerca <strong>de</strong> 60% dos idosos (acima <strong>de</strong> 60<<strong>br</strong> />

anos) são analfabetos funcionais no Brasil (IBGE, 2002). Segundo Oliveira et al.<<strong>br</strong> />

35


(2006), essa condição <strong>de</strong> não alfabetização, tem com<strong>pro</strong>metido o nível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

entendimento do idoso, que não tendo acesso às informações escritas, ficam restritos<<strong>br</strong> />

aos registros <strong>de</strong> memória ou na <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> informações e esclarecimentos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

terceiros, o que <strong>de</strong>ssa forma, diminui a autonomia e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>sse<<strong>br</strong> />

segmento etário.<<strong>br</strong> />

ensino médio completo<<strong>br</strong> />

ensino médio incompleto<<strong>br</strong> />

fundamental completo<<strong>br</strong> />

fundamental incompleto<<strong>br</strong> />

não alfabetizado<<strong>br</strong> />

não respon<strong>de</strong>u<<strong>br</strong> />

0 10 20 30 40 50 60 70 80<<strong>br</strong> />

Percentagem (%)<<strong>br</strong> />

Irrigante Tradicional/Florestal Apicultor Pescador<<strong>br</strong> />

Figura 5: Escolarida<strong>de</strong> dos/as trabalhadores/as rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Tabela 1: Instrução dos agricultores/as familiares por faixa etária em Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Ida<strong>de</strong> (anos)<<strong>br</strong> />

Não<<strong>br</strong> />

alfabetizado<<strong>br</strong> />

Menos <strong>de</strong> 4<<strong>br</strong> />

anos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estudo<<strong>br</strong> />

Menos <strong>de</strong> 8<<strong>br</strong> />

anos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estudo<<strong>br</strong> />

Escolarida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Menos <strong>de</strong> 10<<strong>br</strong> />

anos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estudo<<strong>br</strong> />

Ensino médio<<strong>br</strong> />

completo<<strong>br</strong> />

(11 anos)<<strong>br</strong> />

Não<<strong>br</strong> />

respon<strong>de</strong>u<<strong>br</strong> />

20-29 0,0 0,0 12,5 37,5 50,0 0,0<<strong>br</strong> />

30-39 0,0 22,2 44,4 11,1 22,2 0,0<<strong>br</strong> />

40-49 16,7 16,7 16,7 8,3 16,7 25,0<<strong>br</strong> />

50-59 30,0 40,0 30,0 0,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

60-69 46,2 38,5 15,4 0,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

70-79 100,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

36


Por outro lado a redução ou a ausência do analfabetismo entre os informantes<<strong>br</strong> />

mais jovens po<strong>de</strong> indicar que houve uma melhoria na educação, ou um aumento do<<strong>br</strong> />

número <strong>de</strong> escolas no município nos últimos anos, <strong>pro</strong>vavelmente como resultado dos<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>gramas governamentais <strong>de</strong> acesso a educação. As novas gerações melhores<<strong>br</strong> />

escolarizadas po<strong>de</strong>rão refletir numa mudança <strong>de</strong> perfil dos futuros idosos.<<strong>br</strong> />

A maior escolarida<strong>de</strong> verificada entre os apicultores, po<strong>de</strong> estar relacionada a<<strong>br</strong> />

natureza da ativida<strong>de</strong>, que por exigir práticas mais elaboradas, foi iniciada na região<<strong>br</strong> />

apenas após cursos <strong>de</strong> capacitação dos agricultores. Da mesma forma, a agricultura<<strong>br</strong> />

tradicional e a pesca, que concentraram a maioria com baixa escolarida<strong>de</strong>, são<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s que têm sido ensinadas <strong>de</strong> pai para filho, num <strong>pro</strong>cesso <strong>de</strong> transmissão do<<strong>br</strong> />

conhecimento através da prática, sem que necessitassem, no entanto, <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />

educação formal para serem adotadas.<<strong>br</strong> />

3.1.2.2. O histórico e a família<<strong>br</strong> />

Dentre as famílias entrevistadas, 60% dos informantes apicultores e 56,2 % <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

irrigantes são naturais <strong>de</strong> Ibimirim. Este número diminui para o grupo <strong>de</strong> agricultores<<strong>br</strong> />

envolvidos com a agricultura tradicional e extrativismo florestal e com a ativida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

pesqueira, em que apenas 34,5% e 33,3% dos representantes, respectivamente,<<strong>br</strong> />

nasceram no município. Possivelmente isto po<strong>de</strong> ser reflexo <strong>de</strong> que a partir da década<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> 1970, com a construção do açu<strong>de</strong>, Ibimirim atraiu agricultores principalmente dos<<strong>br</strong> />

municípios vizinhos Inajá, Floresta, Custódia e Tupanatinga, <strong>de</strong> outros municípios do<<strong>br</strong> />

Semiárido pernambucano como Buíque, Itaíba, Pesqueira, São José do Egito,<<strong>br</strong> />

Salgueiro, Bom Conselho, Lajedo e Águas Belas, e <strong>de</strong> áreas secas <strong>de</strong> outros estados<<strong>br</strong> />

nor<strong>de</strong>stinos como Paraíba e Ceará. No entanto, a falta <strong>de</strong> perspectiva da agricultura<<strong>br</strong> />

irrigada, <strong>de</strong>vido ao número reduzido <strong>de</strong> lotes irrigáveis em relação ao número <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

trabalhadores rurais do município, levou muitos <strong>de</strong>sses agricultores recém chegados a<<strong>br</strong> />

optarem principalmente pela agricultura <strong>de</strong> sequeiro, extrativismo florestal e pesca.<<strong>br</strong> />

De modo geral, todos os trabalhadores apren<strong>de</strong>ram a ativida<strong>de</strong> com seus<<strong>br</strong> />

antepassados iniciando-a ainda na infância. Os informantes mais jovens mostraram<<strong>br</strong> />

uma tendência ao início mais tardio do trabalho, em função da extensão dos anos<<strong>br</strong> />

escolares, facilitada pela ampliação da re<strong>de</strong> escolar municipal e do transporte escolar<<strong>br</strong> />

gratuito nas zonas rurais.<<strong>br</strong> />

As práticas agrícolas vêm sendo ensinadas <strong>de</strong> pai para filho ao longo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

gerações. No entanto, nas últimas décadas, houve uma transformação no modo<<strong>br</strong> />

tradicional <strong>de</strong> cultivo e uso da terra em algumas áreas, em razão da adoção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

37


técnicas e práticas da agricultura mo<strong>de</strong>rna, baseada na utilização <strong>de</strong> insumos<<strong>br</strong> />

químicos, trazidas com o advento da agricultura irrigada.<<strong>br</strong> />

A apicultura, por suas características particulares, só foi adotada pelos<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutores após cursos <strong>de</strong> capacitação e acompanhamento técnico inicial, não<<strong>br</strong> />

configurando-se, portanto, numa ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tradição familiar, embora, 80% dos<<strong>br</strong> />

apicultores são <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> agricultores.<<strong>br</strong> />

Em torno <strong>de</strong> 20% dos agricultores familiares <strong>de</strong> Ibimirim já migraram em algum<<strong>br</strong> />

período para a região su<strong>de</strong>ste do país, em especial para o estado <strong>de</strong> São Paulo, a<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>cura <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> trabalho em ocupações não rurais. Nas áreas irrigadas,<<strong>br</strong> />

26,7 % dos moradores abandonaram suas <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s na década <strong>de</strong> 1990, em<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s secas, que levaram ao <strong>de</strong>clínio acentuado do nível <strong>de</strong> água do<<strong>br</strong> />

açu<strong>de</strong> responsável pela irrigação. A permanência <strong>de</strong> parte dos agricultores nas áreas<<strong>br</strong> />

irrigáveis foi possibilitada pela oferta <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos florestais, <strong>pro</strong>veniente principalmente<<strong>br</strong> />

das reservas <strong>de</strong> algaroba (Prosopis juliflora) do perímetro irrigado, que possibilitaram<<strong>br</strong> />

aos agricultores obterem renda a partir da comercialização <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos e sub<strong>pro</strong>dutos,<<strong>br</strong> />

como ma<strong>de</strong>ira, lenha e carvão <strong>de</strong>ssa espécie. A partir <strong>de</strong> 2004, a população começou<<strong>br</strong> />

a retornar à sua terra natal, incentivada pela retomada da ativida<strong>de</strong> no perímetro<<strong>br</strong> />

irrigado e pela <strong>pro</strong>messa <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida, não alcançada nos longos<<strong>br</strong> />

períodos <strong>de</strong> permanência em outras regiões do país.<<strong>br</strong> />

Em longos períodos <strong>de</strong> seca, ativida<strong>de</strong>s como a apicultura e o corte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ma<strong>de</strong>ira, tornaram-se as únicas alternativas <strong>de</strong> renda para a população rural, que<<strong>br</strong> />

viabilizou a permanência do trabalhador em sua terra.<<strong>br</strong> />

3.1.2.3. Terras e situação fundiária<<strong>br</strong> />

A maior parte das unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas estão bem abaixo do tamanho limite <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

4 módulos fiscais (260 ha) que caracterizam as pequenas <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s no município<<strong>br</strong> />

(Figura 6). O tamanho da <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> geralmente está relacionado à natureza da<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida. A agricultura irrigada, por exemplo, tem um limite máximo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

área por unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva (UP) <strong>de</strong>limitada pelo DNOCS, que geralmente não exce<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

8 ha. Ativida<strong>de</strong>s como apicultura e principalmente a pecuária extensiva, são as que<<strong>br</strong> />

concentraram as maiores áreas, por necessitarem <strong>de</strong> amplos espaços para seu<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento.<<strong>br</strong> />

O número <strong>de</strong> <strong>pro</strong>prietários com o título da terra regularizado ainda é reduzido<<strong>br</strong> />

(Tabela 2). Os <strong>pro</strong>dutores sem terras <strong>de</strong>senvolvem as ativida<strong>de</strong>s agrárias em áreas<<strong>br</strong> />

emprestadas ou arrendadas <strong>de</strong> outros <strong>pro</strong>prietários, em terras públicas não ocupadas<<strong>br</strong> />

38


ou nos pequenos quintais das casas, nos casos da agricultura como ativida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

complementar, a exemplo do grupo <strong>de</strong> pescadores.<<strong>br</strong> />

Área (ha)<<strong>br</strong> />

200 a 250<<strong>br</strong> />

150 a 200<<strong>br</strong> />

100 a 150<<strong>br</strong> />

50 a 100<<strong>br</strong> />

40 a 50<<strong>br</strong> />

30 a 40<<strong>br</strong> />

20 a 30<<strong>br</strong> />

10 a 20<<strong>br</strong> />

1 a 10<<strong>br</strong> />

0 10 20 30 40 50 60 70<<strong>br</strong> />

Percentagem (%)<<strong>br</strong> />

Irrigante Tradicional/Florestal Apicultor<<strong>br</strong> />

Figura 6: Tamanho das unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas (UP) em Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Tabela 2: Área total média da unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva (UP), e posse das terras conforme<<strong>br</strong> />

grupos <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Área<<strong>br</strong> />

da<<strong>br</strong> />

UP<<strong>br</strong> />

(ha)<<strong>br</strong> />

Não<<strong>br</strong> />

tem<<strong>br</strong> />

terras<<strong>br</strong> />

Concessão<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> áreas<<strong>br</strong> />

irrigáveis<<strong>br</strong> />

pelo<<strong>br</strong> />

DNOCS<<strong>br</strong> />

Posseiro Proprietário<<strong>br</strong> />

Posse da Terra<<strong>br</strong> />

Assentamento<<strong>br</strong> />

Crédito<<strong>br</strong> />

Fundiário<<strong>br</strong> />

Assentamento<<strong>br</strong> />

INCRA<<strong>br</strong> />

Terra<<strong>br</strong> />

indígena<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>marcada<<strong>br</strong> />

Irrigantes 10,8 6,7 86,7 0,0 6,7 0,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

Tradicionais e<<strong>br</strong> />

Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

49,0 3,4 0,0 10,3 41,4 31,0 6,9 6,9<<strong>br</strong> />

ApicultoresApicultores 30,2 60,0 0,0 20,0 20,0 0,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 0,0 100,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

Apenas cerca <strong>de</strong> 30% dos irrigantes e 35% dos agricultores tradicionais e<<strong>br</strong> />

extrativistas florestais receberam a terra como herança <strong>de</strong> seus familiares, sendo o<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

39


tempo médio <strong>de</strong> permanência da família na UP <strong>de</strong> 20 anos. Por ser uma ativida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

mais recente no município, verificou-se entre os apicultores que as terras foram<<strong>br</strong> />

adquiridas em média há apenas seis anos. Cerca <strong>de</strong> 93% dos irrigantes e agricultores<<strong>br</strong> />

tradicionais e florestais e 50% dos apicultores preten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar as terras e a ativida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

como herança para seus filhos.<<strong>br</strong> />

3.1.2.4. A família e as condições <strong>de</strong> moradia<<strong>br</strong> />

Em relação ao número médio <strong>de</strong> moradores por residência e ao número médio<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> filhos por informante, foi constatado que as maiores famílias concentram-se no<<strong>br</strong> />

grupo das ativida<strong>de</strong>s tradicionais e florestais e as menores no grupo <strong>de</strong> apicultores<<strong>br</strong> />

(Tabela 3). O número <strong>de</strong> pessoas na família está diretamente relacionado ao número<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> filhos por casal e ao convívio dos diferentes graus <strong>de</strong> parentesco, como pais, filhos,<<strong>br</strong> />

noras, genros e netos na mesma <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Tabela 3: Composição média familiar e a situação da moradia dos/as trabalhadores/as<<strong>br</strong> />

rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Moradores por<<strong>br</strong> />

residência<<strong>br</strong> />

Resi<strong>de</strong> na unida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutiva (UP)<<strong>br</strong> />

Moradia<<strong>br</strong> />

Casa própria Energia elétrica<<strong>br</strong> />

Irrigantes 8 6,7 0,0 93,3<<strong>br</strong> />

Tradicionais e Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais 7 75,9 62,1 96,5<<strong>br</strong> />

Apicultores 3 0,0 60,0 100,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 5 - 0,0 100,0<<strong>br</strong> />

Parte das famílias entrevistadas resi<strong>de</strong> na área urbana do município, e<<strong>br</strong> />

exercem o trabalho apenas durante a semana na <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>. Do total <strong>de</strong> irrigantes,<<strong>br</strong> />

93,3 % resi<strong>de</strong>m nas agrovilas construídas como parte do <strong>pro</strong>jeto <strong>de</strong> irrigação do<<strong>br</strong> />

município, sendo as casas, portanto, também <strong>de</strong> <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> do DNOCS. Atualmente<<strong>br</strong> />

existem as agrovilas 1, 3, 4, 5 e 8.<<strong>br</strong> />

O abastecimento público <strong>de</strong> água no município é feito a partir <strong>de</strong> fonte<<strong>br</strong> />

subterrânea captada e distribuída pela Companhia Pernambucana <strong>de</strong> Saneamento<<strong>br</strong> />

(Compesa) na área urbana e em bairros centrais do município e por dois poços<<strong>br</strong> />

municipais com água levada até as moradias dos perímetros rurais por caminhão pipa<<strong>br</strong> />

com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 7.000 litros. Neste caso, a água, utilizada para todas as<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

40


necessida<strong>de</strong>s familiares, é <strong>de</strong>positada em cisternas individuais ou coletivas <strong>de</strong>ntro das<<strong>br</strong> />

comunida<strong>de</strong>s, e cada família tem acesso em média a um carro pipa por mês, po<strong>de</strong>ndo<<strong>br</strong> />

variar <strong>de</strong> acordo com o número <strong>de</strong> pessoas da residência. Apesar <strong>de</strong> haver um gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

número <strong>de</strong> moradias com cisternas com capacida<strong>de</strong> para 16.000 litros <strong>de</strong> água, não<<strong>br</strong> />

existe na região, experiências <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> água das chuvas (Tabela 4).<<strong>br</strong> />

Tabela 4: Abastecimento <strong>de</strong> água, saneamento básico e presença <strong>de</strong> banheiro ou<<strong>br</strong> />

sanitário nos domicílios dos trabalhadores/as rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Não tem<<strong>br</strong> />

abastecimento<<strong>br</strong> />

Abastecimento <strong>de</strong> água Saneamento básico<<strong>br</strong> />

Poço da<<strong>br</strong> />

Compesa<<strong>br</strong> />

Poço<<strong>br</strong> />

comunitário<<strong>br</strong> />

Poço individual<<strong>br</strong> />

Caminhão pipa<<strong>br</strong> />

prefeitura<<strong>br</strong> />

A céu aberto<<strong>br</strong> />

Fossa<<strong>br</strong> />

Saneamento<<strong>br</strong> />

da Compesa<<strong>br</strong> />

Existência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

banheiro na<<strong>br</strong> />

moradia<<strong>br</strong> />

Irrigantes 6,7 20,0 73,3 0,0 0,0 0,0 93,3 6,7 100,0<<strong>br</strong> />

Tradicionais e<<strong>br</strong> />

Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

7,1 17,9 25,0 10,7 39,3 48,3 37,9 13,8 67,9<<strong>br</strong> />

Apicultores 0,0 80,0 20,0 0,0 0,0 0,0 20,0 80 100,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 0,0 100,0 0,0 0,0 0,0 50,0 50,0 0,0 50,0<<strong>br</strong> />

De modo geral, é comum também a utilização <strong>de</strong> fontes secundárias <strong>de</strong> água<<strong>br</strong> />

como rios e riachos intermitentes e barreiros formados durante os períodos <strong>de</strong> chuvas,<<strong>br</strong> />

ou ainda a água do açu<strong>de</strong> coletada com bal<strong>de</strong>s. Os domicílios sem abastecimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

água <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m exclusivamente <strong>de</strong>ssas fontes.<<strong>br</strong> />

O saneamento básico por re<strong>de</strong>s coletoras fica a cargo da Compesa apenas nos<<strong>br</strong> />

bairros centrais. As <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s rurais em geral utilizam fossa séptica ou possuem<<strong>br</strong> />

esgotamento a céu aberto. Para evitar a contaminação <strong>de</strong>ssas populações por<<strong>br</strong> />

doenças veiculadas pela urina, fezes e água Novaes et al. (2002) sugeriram a adoção<<strong>br</strong> />

da Fossa Séptica Biodigestora, que além <strong>de</strong> substituir, a um custo barato para o<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutor rural, o esgoto a céu aberto e as fossas sépticas, <strong>pro</strong>cura-se utilizar o<<strong>br</strong> />

efluente como um adubo orgânico na agricultura familiar, minimizando assim os gastos<<strong>br</strong> />

com adubação química.<<strong>br</strong> />

Quanto aos equipamentos domésticos, as famílias que mais possuem bens são<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> apicultores (Tabela 5). Apesar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte dos informantes possuírem fogão a<<strong>br</strong> />

gás (100% dos os irrigantes, apicultores e pescadores e 71,4% dos agricultores<<strong>br</strong> />

tradicionais e ativida<strong>de</strong> florestal), o fogão a lenha e a carvão estão presente em muitas<<strong>br</strong> />

moradias.<<strong>br</strong> />

41


Tabela 5: Percentual <strong>de</strong> moradias <strong>de</strong> trabalhadores/as rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE com<<strong>br</strong> />

equipamentos domésticos<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Fogão a gás<<strong>br</strong> />

Fogão a lenha<<strong>br</strong> />

Fogão a carvão<<strong>br</strong> />

Equipamentos domésticos<<strong>br</strong> />

Gela<strong>de</strong>ira<<strong>br</strong> />

Irrigantes 100,0 33,3 6,7 93,3 100 73,3 73,3 60,0 6,7 6,7<<strong>br</strong> />

Tradicionais e<<strong>br</strong> />

Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

Televisão<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

Aparelho <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

dvd<<strong>br</strong> />

Rádio<<strong>br</strong> />

Aperelho <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

som<<strong>br</strong> />

71,4 75,0 32,1 57,1 82,1 39,3 42,9 35,7 3,6 0,0<<strong>br</strong> />

Apicultores 100,0 0,0 0,0 100,0 100,0 80,0 60,0 60,0 40,0 20,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 100,0 50,0 100,0 83,0 100,0 100,0 50,0 50,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

O rádio e a televisão, presentes na maioria das moradias, são os principais<<strong>br</strong> />

meios <strong>de</strong> informação das famílias. O acesso a internet e ao jornal impresso entre os<<strong>br</strong> />

agricultores familiares é limitado.<<strong>br</strong> />

A bicicleta e a carroça são os principais veículos usados pelos entrevistados<<strong>br</strong> />

(tabela 6). Entre os grupos <strong>de</strong> agricultores, os irrigantes são os que possuem o maior<<strong>br</strong> />

número <strong>de</strong> veículos e os agricultores tradicionais e florestais os que possuem menor.<<strong>br</strong> />

Tabela 6: Percentual <strong>de</strong> trabalhadores rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE que possuem veículo<<strong>br</strong> />

para transporte.<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Veículos<<strong>br</strong> />

Carroça Bicicleta Moto Carro Caminhão Caminhonete<<strong>br</strong> />

Irrigantes 66,7 60,0 33,3 13,30 6,7 6,7<<strong>br</strong> />

Tradicionais e<<strong>br</strong> />

Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

50,0 28,6 14,3 10,7 0,0 3,6<<strong>br</strong> />

Apicultores 0,0 60,0 40,0 40,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 16,7 66,7 33,3 16,7 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

Computador<<strong>br</strong> />

Microondas<<strong>br</strong> />

42


3.1.2.5. Acesso à serviços<<strong>br</strong> />

Em Ibimirim existe um hospital e 13 postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no centro do município e<<strong>br</strong> />

espalhados na zona rural. Do total <strong>de</strong> 44 estabelecimentos <strong>de</strong> ensino, 33 são escolas<<strong>br</strong> />

municipais, nove estaduais e duas particulares. Apenas quatro estaduais oferecem<<strong>br</strong> />

ensino médio. O transporte dos alunos é feito por carros escolares (caminhões)<<strong>br</strong> />

alugados pela prefeitura que além <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r os estudantes, transportam também os<<strong>br</strong> />

moradores das diversas comunida<strong>de</strong>s da cida<strong>de</strong>. A opinião so<strong>br</strong>e os serviços públicos<<strong>br</strong> />

ofericidos no município variou entre os informantes (Tabela 7).<<strong>br</strong> />

Tabela 7: Qualida<strong>de</strong> dos serviços públicos oferecidos no município <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Serviços Públicos<<strong>br</strong> />

Educação Saú<strong>de</strong> Transporte<<strong>br</strong> />

1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4<<strong>br</strong> />

Irrigantes 86,7 13,3 0,0 0,0 33,3 20,0 46,7 0,0 78,6 14,3 7,1 0,0<<strong>br</strong> />

Tradicionais e<<strong>br</strong> />

Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

75,0 0,0 3,6 21,4 21,4 32,1 35,7 10,7 60,7 14,3 10,7 14,3<<strong>br</strong> />

Apicultores 40,0 20,0 40,0 0,0 0,0 20,0 80,0 0,0 60,0 0,0 40,0 0,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 66,7 33,3 0,0 0,0 83,3 16,7 0,0 0,0 33,3 33,3 33,3 0,0<<strong>br</strong> />

1 – Bom; 2 – Regular; 3 – Ruim; 4 – Não opinou.<<strong>br</strong> />

3.1.2.6. Ocupação familiar e contratação <strong>de</strong> trabalhador externo<<strong>br</strong> />

Apenas 20% dos agricultores irrigantes e dos apicultores estão envolvidos<<strong>br</strong> />

exclusivamente na ocupação agrícola. Dentre o grupo <strong>de</strong> agricultores tradicionais e<<strong>br</strong> />

florestais e pescadores cerca <strong>de</strong> 48,3% e 66,7% das famílias, respectivamente,<<strong>br</strong> />

apresentam todos os mem<strong>br</strong>os envolvidos unicamente com a ativida<strong>de</strong> rural <strong>pro</strong>dutiva.<<strong>br</strong> />

No que se refere aos chefes <strong>de</strong> família, há 46,7% dos irrigantes, 44,8% dos<<strong>br</strong> />

agricultores tradicionais e florestais, 40% <strong>de</strong> apicultores e 66,7 % dos pescadores<<strong>br</strong> />

ocupados também com alguma ativida<strong>de</strong> fora da unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva, seja agrícola, em<<strong>br</strong> />

outras <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s, ou não agrícola, em outros setores da economia (Quadro 3). Um<<strong>br</strong> />

pequeno percentual dos trabalhadores (menos <strong>de</strong> 20%) possui ainda, alguma<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong> econômica complementar na unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva, como comércio ou<<strong>br</strong> />

arrendamento <strong>de</strong> parte das terras (Tabela 8).<<strong>br</strong> />

43


Quadro 3: Principais ocupações remuneradas dos chefes <strong>de</strong> família, <strong>de</strong>senvolvidas<<strong>br</strong> />

fora da unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva, em Ibimirm – PE<<strong>br</strong> />

Ocupação Agricultores relacionados aos grupos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s rurais <strong>pro</strong>dutivas<<strong>br</strong> />

Trabalhador rural diarista Tradicional e Florestal; Pescador<<strong>br</strong> />

Atravessador <strong>de</strong> <strong>pro</strong>duto agrícola Irrigante<<strong>br</strong> />

Funcionário <strong>de</strong> órgão público municipal Irrigante; Tradicional e Florestal<<strong>br</strong> />

Comércio local Irrigante; Tradicional e Florestal; Apicultor;<<strong>br</strong> />

Pescador<<strong>br</strong> />

Trabalhador da construção civil Irrigante<<strong>br</strong> />

Motorista <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> passageiro ou <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

caminhão<<strong>br</strong> />

Tradicional e Florestal; Apicultor<<strong>br</strong> />

Funcionário <strong>de</strong> sindicato ou associação Irrigante; Tradicional e Florestal; Apicultor<<strong>br</strong> />

Tabela 8: Percentual <strong>de</strong> famílias ocupadas com ativida<strong>de</strong> agrícola e não agrícola nos<<strong>br</strong> />

diferentes grupos <strong>de</strong> agricultores/as em Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Ocupação familiar<<strong>br</strong> />

exclusivamente agrícola<<strong>br</strong> />

Ocupação do chefe da<<strong>br</strong> />

família em ativida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

agrícola ou não agrícola<<strong>br</strong> />

fora da UP<<strong>br</strong> />

Este fenômeno observado Ibimirim, em que há a combinação <strong>de</strong> duas ou mais<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s em uma mesma unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva e a diversificação das fontes <strong>de</strong> renda e<<strong>br</strong> />

da inserção <strong>pro</strong>fissional <strong>de</strong> mem<strong>br</strong>os <strong>de</strong> uma mesma família <strong>de</strong> agricultores em outras<<strong>br</strong> />

áreas <strong>de</strong> trabalho po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>nominado pluriativida<strong>de</strong> (SCHNEIDER, 2003;<<strong>br</strong> />

SCHNEIDER e MATTOS, 2006). Essa forma <strong>de</strong> organização do trabalho familiar<<strong>br</strong> />

pluriativa refere-se a situações sociais em que os indivíduos <strong>de</strong> uma família com<<strong>br</strong> />

domicílio rural passam a se <strong>de</strong>dicar ao exercício <strong>de</strong> um conjunto variado <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

econômicas e <strong>pro</strong>dutivas, não necessariamente ligadas à agricultura ou ao cultivo da<<strong>br</strong> />

terra, e cada vez menos executadas <strong>de</strong>ntro da unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva.<<strong>br</strong> />

Ativida<strong>de</strong> econômica<<strong>br</strong> />

complementar na UP<<strong>br</strong> />

Irrigantes 20,0 46,7 13,3<<strong>br</strong> />

Tradicionais e Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

Tal contexto reflete as alterações recentes ocorridas no meio rural <strong>br</strong>asileiro,<<strong>br</strong> />

em que se observou uma diminuição da agricultura como ativida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva, no que<<strong>br</strong> />

concerne à geração <strong>de</strong> emprego e à ocupação, embora não tenha <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> integrar<<strong>br</strong> />

o mundo rural. Esta interação entre ativida<strong>de</strong>s agrícolas e não-agrícolas ten<strong>de</strong> a ser<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

48,3 44,8 17,2<<strong>br</strong> />

Apicultores 20,0 40,0 20,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 66,7 66,7 16,7<<strong>br</strong> />

44


mais intensa quanto mais complexas e diversificadas forem as relações entre os<<strong>br</strong> />

agricultores/as e o ambiente social e econômico em que estiverem inseridos, não<<strong>br</strong> />

sendo mais associada apenas ao espaço rural <strong>de</strong> países ricos e <strong>de</strong>senvolvidos, ao<<strong>br</strong> />

contrário do que se po<strong>de</strong>ria supor (SCHNEIDER, 2003; SCHNEIDER e MATTOS,<<strong>br</strong> />

2006).<<strong>br</strong> />

Em uma análise da pluriativida<strong>de</strong> em um pólo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

agronegócio no Semiárido cearense, Alves et al. (2005), constataram que a prática<<strong>br</strong> />

pluriativa ocorre não como uma conseqüência do avanço no <strong>pro</strong>cesso <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento local, mas como uma manifestação típica <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

sub<strong>de</strong>senvolvidas, pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> so<strong>br</strong>evivência.<<strong>br</strong> />

De maneira similar, a pluriativida<strong>de</strong> verificada entre parte dos agricultores/as <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Ibimirim, tem funcionado como um mecanismo <strong>de</strong> garantir a renda e ocupação em<<strong>br</strong> />

períodos em que apenas a agricultura não tem sido suficientes para dar conta do<<strong>br</strong> />

sustento familiar.<<strong>br</strong> />

Contudo, a pluriativida<strong>de</strong> é uma estratégia importante para o fortalecimento da<<strong>br</strong> />

agricultura familiar como um todo e po<strong>de</strong> constituir uma importante alternativa<<strong>br</strong> />

econômica para as unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas em transição agroecológica.<<strong>br</strong> />

Quanto ao trabalho agrícola nas UP, cerca <strong>de</strong> 13,3% do trabalho <strong>de</strong>senvolvido<<strong>br</strong> />

pelos agricultores tradicionais/florestais é exercido exclusivamente pela família, sendo<<strong>br</strong> />

20% para os apicultores, 51,7% para os irrigantes e 100% dos pescadores. A<<strong>br</strong> />

contratação <strong>de</strong> trabalhador externo permanente ocorre somente pelos agricultores<<strong>br</strong> />

irrigantes, com remuneração <strong>de</strong> até um salário mínimo por mês. Para os <strong>de</strong>mais<<strong>br</strong> />

grupos <strong>de</strong> agricultores, com exceção dos pescadores, há contração <strong>de</strong> pessoal diarista<<strong>br</strong> />

para trabalhos eventuais (Tabela 9). O valor das diárias pagas varia entre os grupos. A<<strong>br</strong> />

remuneração paga pelos agricultores irrigantes por um dia <strong>de</strong> trabalho, está entre R$ 10<<strong>br</strong> />

20,00 e R$ 30,00; pelos agricultores tradicionais /florestais, varia entre R$ 15,00 e R$<<strong>br</strong> />

20,00 e pelos apicultores, atinge os maiores valores, entre R$ 20,00 e R$ 40,00 reais.<<strong>br</strong> />

3.1.2.7. Capacitação e Assistência Técnica<<strong>br</strong> />

De maneira geral, os informantes alegaram não ter acesso facilitado aos cursos<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> capacitação gratuitos e principalmente à assistência técnica oferecida pelos órgãos<<strong>br</strong> />

governamentais e não governamentais do estado (Tabela 10). Entretanto, existem<<strong>br</strong> />

algumas iniciativas isoladas <strong>de</strong> formação e capacitação para as ativida<strong>de</strong>s rurais no<<strong>br</strong> />

município, a partir <strong>de</strong> <strong>pro</strong>postas <strong>de</strong> instituições, que <strong>pro</strong>curam aten<strong>de</strong>r algumas<<strong>br</strong> />

10 Valor do dólar comercial em 01 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2010: 1,885<<strong>br</strong> />

45


<strong>de</strong>mandas locais. Contudo, essas iniciativas não têm parecido gerar mudanças<<strong>br</strong> />

significativas na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e melhoria das ativida<strong>de</strong>s rurais. A apicultura, por<<strong>br</strong> />

requerer práticas <strong>de</strong> manejo mais sofisticadas, é a ativida<strong>de</strong> que congrega a maioria<<strong>br</strong> />

dos trabalhadores capacitados tecnicamente. Os principais cursos oferecidos no<<strong>br</strong> />

município e seus respectivos órgãos capacitadores estão relacionados no Quadro 4.<<strong>br</strong> />

Tabela 9: Trabalhador familiar e trabalhadores contratados permanente ou<<strong>br</strong> />

eventualmente nas unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas (UP) em Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Trabalhador<<strong>br</strong> />

familiar<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

Trabalhador<<strong>br</strong> />

permanente<<strong>br</strong> />

contratado<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

Número <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

trabalhadores<<strong>br</strong> />

Trabalhador<<strong>br</strong> />

eventual<<strong>br</strong> />

contratado<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

Número <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

trabalhadores<<strong>br</strong> />

Irrigantes 13,3 33,3 2 80,0 5<<strong>br</strong> />

Tradicionais e<<strong>br</strong> />

Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

51,7 0,0 0 48,3 2<<strong>br</strong> />

Apicultores 20,0 0,0 0 80,0 3<<strong>br</strong> />

Pescadores 100,0 0,0 0 0,0 0<<strong>br</strong> />

Tabela 10: Percentual dos trabalhadores/as rurais capacitados e assistidos<<strong>br</strong> />

tecnicamente em Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Curso <strong>de</strong> Capacitação Assistência Técnica<<strong>br</strong> />

Irrigantes 73,3 6,7<<strong>br</strong> />

Tradicionais e Extrativistas Florestais 46,4 20,7<<strong>br</strong> />

Apicultores 100,0 40,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 83,3 0,0<<strong>br</strong> />

Os agricultores envolvidos nas diferentes ativida<strong>de</strong>s afirmam que a assistência<<strong>br</strong> />

e capacitação técnica po<strong>de</strong>riam auxiliar no aperfeiçoamento das práticas agrícolas, e<<strong>br</strong> />

na incorporação <strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los <strong>pro</strong>dutivos. Neste sentido, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>grama eficiente <strong>de</strong> Assistência Técnica e Extensão Rural foi uma das principais<<strong>br</strong> />

estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento rural apontada pelos informantes.<<strong>br</strong> />

Nas palavras do informante:<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

46


“Nada melhor do que ensinar e apren<strong>de</strong>r... porque se existisse<<strong>br</strong> />

assistência técnica, agente podia dar um gran<strong>de</strong> passo e podia ter<<strong>br</strong> />

um gran<strong>de</strong> avanço” (relato <strong>de</strong> informante 1, agricultor <strong>de</strong> Ibimirim-<<strong>br</strong> />

PE).<<strong>br</strong> />

Quadro 4: Cursos <strong>de</strong> capacitação oferecidos aos agricultores/as familiares <strong>de</strong> Ibimirim-<<strong>br</strong> />

PE e respectivos órgãos capacitadores.<<strong>br</strong> />

Curso Instituição<<strong>br</strong> />

Agente <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento<<strong>br</strong> />

local – ADL<<strong>br</strong> />

Apicultura<<strong>br</strong> />

Serviço <strong>de</strong> Tecnologia Alternativa (SERTA)<<strong>br</strong> />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE); Serviço <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Tecnologia Alternativa (SERTA); Serviço Nacional <strong>de</strong> Aprendizagem<<strong>br</strong> />

Rural (SENAR); Companhia <strong>de</strong> Desenvolvimento dos Vales do São<<strong>br</strong> />

Francisco e do Parnaíba (CODEVASF).<<strong>br</strong> />

Associativismo Centro <strong>de</strong> Educação e Cultura do Trabalhador Rural (CENTRU)<<strong>br</strong> />

Avicultura<<strong>br</strong> />

Serviço <strong>de</strong> Tecnologia Alternativa (SERTA); Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio<<strong>br</strong> />

às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)<<strong>br</strong> />

Bovinocultura Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE<<strong>br</strong> />

Caprinocultura<<strong>br</strong> />

Cooperativismo<<strong>br</strong> />

Fruticultura<<strong>br</strong> />

Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE);<<strong>br</strong> />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong> Pernambuco (UFRPE); Companhia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba<<strong>br</strong> />

(CODEVASF).<<strong>br</strong> />

Programa Estadual <strong>de</strong> Apoio ao Pequeno Produtor Rural (ProRural)<<strong>br</strong> />

Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE);<<strong>br</strong> />

Serviço <strong>de</strong> Tecnologia Alternativa (SERTA); Serviço Nacional <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Aprendizagem Rural (SENAR)<<strong>br</strong> />

Irrigação Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE);<<strong>br</strong> />

Manejo florestal Associação <strong>de</strong> Plantas do Nor<strong>de</strong>ste (APNE)<<strong>br</strong> />

Manejo orgânico do<<strong>br</strong> />

solo e agricultura<<strong>br</strong> />

orgânica<<strong>br</strong> />

Piscicultura<<strong>br</strong> />

Serviço <strong>de</strong> Tecnologia Alternativa (SERTA)<<strong>br</strong> />

Serviço <strong>de</strong> Tecnologia Alternativa (SERTA); Serviço Nacional <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Aprendizagem Rural (SENAR)<<strong>br</strong> />

Todavia, uma vez que se <strong>pro</strong>cura ter como base um manejo ecológico dos<<strong>br</strong> />

recursos naturais, as ações extensionistas em Ibimirim, conforme recordam Caporal e<<strong>br</strong> />

Costabeber (2001), <strong>de</strong>vem <strong>pro</strong>mover mo<strong>de</strong>los sustentáveis <strong>de</strong> uso da terra, que<<strong>br</strong> />

respeitem as condições especificas do ecossistema local e a preservação da<<strong>br</strong> />

biodiversida<strong>de</strong> e da diversida<strong>de</strong> cultural.<<strong>br</strong> />

Para tanto, o <strong>pro</strong>cesso dialético da educação <strong>de</strong>ve nortear as <strong>pro</strong>postas<<strong>br</strong> />

extensionistas, respeitando a lógica freiriana da educação como comunicação e<<strong>br</strong> />

diálogo, na medida em que não <strong>de</strong>ve buscar a transferência <strong>de</strong> saber, mas sim um<<strong>br</strong> />

47


encontro <strong>de</strong> sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados<<strong>br</strong> />

(FREIRE, 1983).<<strong>br</strong> />

Entretanto, isso requer uma mudança <strong>de</strong> postura dos agentes envolvidos com<<strong>br</strong> />

assistência técnica e <strong>de</strong> extensão rural na relação com os agricultores. Essa mudança<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> postura, segundo Camargo e Mattos (2007), passa necessariamente pela adoção<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> metodologias que contemplem os saberes tradicionais das famílias e que<<strong>br</strong> />

consi<strong>de</strong>rem a <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> como um todo, sob a ótica da abordagem sistêmica.<<strong>br</strong> />

3.1.3. Aspectos ambientais: A unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva e a paisagem<<strong>br</strong> />

3.1.3.1. Relevo e solo<<strong>br</strong> />

As unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas levantadas estão, em sua maioria, em áreas planas ou<<strong>br</strong> />

com leve ondulação. As áreas <strong>de</strong> <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> acentuada ou <strong>de</strong> serras não são<<strong>br</strong> />

utilizadas para <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agrícola, sendo, no entanto, comumente pastejadas pelos<<strong>br</strong> />

rebanhos. Foi possível encontrar nas unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas terrenos com solos<<strong>br</strong> />

argilosos, arenosos e mistos, mas <strong>de</strong> modo geral, há uma predominância <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

cultivados em terras arenosas.<<strong>br</strong> />

Segundo a opinião dos agricultores tradicionais, os solos cultivados são <strong>de</strong> boa<<strong>br</strong> />

qualida<strong>de</strong>, inclusive aqueles <strong>de</strong> rápida drenagem, como o caso dos arenosos. É<<strong>br</strong> />

possível que o entendimento <strong>de</strong>stes agricultores so<strong>br</strong>e a qualida<strong>de</strong> do solo contribua<<strong>br</strong> />

para que os mesmos não façam uso <strong>de</strong> fertilizantes agroquímicos em gran<strong>de</strong> parte<<strong>br</strong> />

das <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s. Ao contrário, a maioria dos <strong>pro</strong>dutores irrigantes utiliza fertilizantes<<strong>br</strong> />

industriais para suprir a carência nutritiva dos solos <strong>de</strong>sgastados ao longo do tempo<<strong>br</strong> />

pelos métodos <strong>de</strong> plantio convencional adotados.<<strong>br</strong> />

De acordo com Fei<strong>de</strong>n (2001), quando se consi<strong>de</strong>ra o solo como mero suporte<<strong>br</strong> />

para <strong><strong>pro</strong>dução</strong>, é natural que as práticas <strong>de</strong> preparo tenham a ênfase principal <strong>de</strong> criar<<strong>br</strong> />

as condições ótimas como leito para as sementes ou mudas. A partir <strong>de</strong>ste ponto <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

vista, em muitas situações é necessário modificar radicalmente as condições naturais<<strong>br</strong> />

do solo, através <strong>de</strong> práticas agrícolas tais como sistematização do solo, correção <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

aci<strong>de</strong>z, fertilização, irrigação, drenagem, <strong>de</strong>scompactação, lixiviação <strong>de</strong> excesso <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

sais, etc, como verificado entre alguns agricultores irrigantes. Isto geralmente tem<<strong>br</strong> />

como conseqüências a <strong>de</strong>gradação do solo, através <strong>de</strong> <strong>pro</strong>cessos como erosão,<<strong>br</strong> />

compactação, perda da matéria orgânica, salinização entre outros.<<strong>br</strong> />

Da mesma forma que a agricultura convencional irrigada, a ativida<strong>de</strong> florestal<<strong>br</strong> />

predatória também tem contribuído para o esgotamento dos solos na região. Menezes<<strong>br</strong> />

48


et al. (2008) afirmaram que a <strong>de</strong>sarborização tem um forte impacto negativo so<strong>br</strong>e o<<strong>br</strong> />

solo do Semiárido nor<strong>de</strong>stino, uma vez que a eliminação da cobertura arbórea<<strong>br</strong> />

geralmente leva a uma acentuada redução dos teores <strong>de</strong> matéria orgânica e nutrientes<<strong>br</strong> />

do solo, assim como a uma diminuição na infiltração <strong>de</strong> água da chuva no solo e, em<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>corrência disso, aumentos nas taxas <strong>de</strong> erosão. Confirmando o exposto, mais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

50% dos <strong>pro</strong>dutores tradicionais e florestais, afirmaram existir algum nível visível <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

erosão em alguma área do terreno.<<strong>br</strong> />

3.1.3.2. Água<<strong>br</strong> />

A água utilizada nos <strong>sistemas</strong> irrigados é oriunda do açu<strong>de</strong> do Poço da Cruz,<<strong>br</strong> />

chegando até as unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas por meio <strong>de</strong> canais adutores principais e canais<<strong>br</strong> />

secundários e terciários. Além <strong>de</strong>sta fonte, algumas <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s irrigadas,<<strong>br</strong> />

beneficiam-se <strong>de</strong> poços artesianos particulares como forma <strong>de</strong> garantir o<<strong>br</strong> />

abastecimento <strong>de</strong> água para a <strong><strong>pro</strong>dução</strong>.<<strong>br</strong> />

As <strong>de</strong>mais ativida<strong>de</strong>s agrícolas, orientadas pelos ciclos das chuvas, utilizam a<<strong>br</strong> />

água disponível temporariamente nos barreiros, rios e riachos intermitentes, apenas<<strong>br</strong> />

para manutenção dos rebanhos <strong>de</strong> caprinos, ovinos ou bovinos, ou para a irrigação<<strong>br</strong> />

com bal<strong>de</strong> ou mangueira, das pequenas áreas dos quintais agroflorestais.<<strong>br</strong> />

A escassez <strong>de</strong> água, comum nas regiões semi-áridas, é mais acentuada entre<<strong>br</strong> />

as famílias da agricultura tradicional, e ativida<strong>de</strong> florestal, em que 72,4% da população<<strong>br</strong> />

sofre, em um nível elevado, com a falta <strong>de</strong>ste recurso. (Tabela 11).<<strong>br</strong> />

Tabela 11: Nível <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> água entre os agricultores/as <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Não sofre com<<strong>br</strong> />

escassez<<strong>br</strong> />

Nível <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong> água<<strong>br</strong> />

Leve Mediano Acentuado<<strong>br</strong> />

Irrigação 86,6 6,7 6,7 0,0<<strong>br</strong> />

Tradicional e Extrativismo Florestal 0,0 10,4 17,2 72,4<<strong>br</strong> />

Apicultura 20,0 80,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

Pesca 16,7 16,7 0,0 66,6<<strong>br</strong> />

A captação e o armazenamento <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva para o consumo humano ou<<strong>br</strong> />

para uso nas ativida<strong>de</strong>s agrícolas são alternativas eficazes e <strong>pro</strong>missoras para<<strong>br</strong> />

contornar os <strong>pro</strong>blemas <strong>de</strong> déficit hídrico em regiões semi-áridas, entretanto, essas<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

49


iniciativas têm sido historicamente negligenciadas pelos planejadores e executores<<strong>br</strong> />

das políticas públicas regionais para a <strong>pro</strong>moção <strong>de</strong> <strong>pro</strong>gramas <strong>de</strong> convivência com a<<strong>br</strong> />

seca.<<strong>br</strong> />

Gnadlinger (2006) mencionou que existem no Semiárido <strong>br</strong>asileiro, diversas<<strong>br</strong> />

experiências <strong>de</strong> tecnologias <strong>de</strong> captação e manejo <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva para uso<<strong>br</strong> />

humano, para criação <strong>de</strong> animais e <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> alimentos, na sua maioria<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvidas por agricultores familiares, e que po<strong>de</strong>m facilmente ser multiplicadas.<<strong>br</strong> />

Dentre elas o autor <strong>de</strong>staca as cisternas para uso humano; cisterna adaptada para a<<strong>br</strong> />

agricultura; cacimbas; barragens subterrâneas; barreiros e caxios; pequenos açu<strong>de</strong>s,<<strong>br</strong> />

cal<strong>de</strong>irões (tanques <strong>de</strong> pedra); mandalas e barramento <strong>de</strong> água <strong>de</strong> estradas, que<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong>riam também ser adotadas em Ibimirim.<<strong>br</strong> />

Algumas <strong>de</strong>ssas alternativas têm contribuído <strong>de</strong>cisivamente para a melhoria<<strong>br</strong> />

das condições <strong>de</strong> escassez hídrica e conseqüentemente para a melhoria <strong>de</strong> vida no<<strong>br</strong> />

Semiárido. Neste sentido, <strong>de</strong>staca-se a iniciativa da Articulação do Semiárido (ASA),<<strong>br</strong> />

uma coalizão <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 750 entida<strong>de</strong>s e organizações da socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong> 11<<strong>br</strong> />

estados, que criou e implementou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2003 o <strong>pro</strong>grama Um Milhão <strong>de</strong> Cisternas<<strong>br</strong> />

(P1MC), prevendo o abastecimento <strong>de</strong> água nos períodos <strong>de</strong> estiagem para mais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

um milhão <strong>de</strong> pessoas, a partir das águas das chuvas captadas nos telhados das<<strong>br</strong> />

moradias. Esta iniciativa é uma solução simples, relativamente barata e que po<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

minimizar, ou até mesmo acabar <strong>de</strong>finitivamente com a falta <strong>de</strong> água para o consumo<<strong>br</strong> />

humano em todo o Semiárido <strong>br</strong>asileiro.<<strong>br</strong> />

Para o atendimento das <strong>de</strong>mandas agropecuárias, a ASA lançou em 2007 o<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>grama Uma Terra e Duas Águas (P1+2), no intuito <strong>de</strong> <strong>pro</strong>mover a segurança<<strong>br</strong> />

alimentar e a geração <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> agricultores e agricultoras familiares a partir do<<strong>br</strong> />

acesso e do uso da terra e da água <strong>de</strong> maneira sustentável. As tecnologias <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

captação <strong>de</strong> água das chuvas previstas no <strong>pro</strong>grama são: tanque <strong>de</strong> pedra, barragem<<strong>br</strong> />

subterrânea, cisterna calçadão e barreiro trincheira. Essas tecnologias foram<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvidas por agricultores e mostram que é possível conviver com o Semiárido<<strong>br</strong> />

através do uso <strong>de</strong> alternativas simples, baratas e eficazes.<<strong>br</strong> />

No entanto, a iniciativa da ASA quando não vinculada a um <strong>pro</strong>grama <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

conscientização e treinamento da população quanto à captação e manejo das águas<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> chuva, po<strong>de</strong> não ter os resultados esperados, como no caso <strong>de</strong> Ibimirim, em que<<strong>br</strong> />

existência das cisternas tem sido relatada apenas para o abastecimento <strong>de</strong> água pela<<strong>br</strong> />

prefeitura para aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas familiares, sem contribuições efetivas para o<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s rurais.<<strong>br</strong> />

50


3.1.3.3. Paisagem natural da unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva ou do entorno<<strong>br</strong> />

Constatou-se que 67,3% das unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas ainda mantém algum<<strong>br</strong> />

percentual <strong>de</strong> Caatinga na <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> (Figura 7). No entanto, a maioria <strong>de</strong>ssas áreas<<strong>br</strong> />

já sofreu algum grau <strong>de</strong> perturbação, algumas <strong>de</strong>las encontrando-se em estágio<<strong>br</strong> />

avançado <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação. O perímetro irrigado foi o que menos apresentou cobertura<<strong>br</strong> />

vegetal natural preservada. As áreas irrigáveis não agricultadas são compostas<<strong>br</strong> />

predominantemente por algarobais, com presença pouco significativa <strong>de</strong> capoeira com<<strong>br</strong> />

espécies nativas.<<strong>br</strong> />

Figura 7: Vegetação <strong>de</strong> Caatinga inserida nas unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas<<strong>br</strong> />

As terras utilizadas para a apicultura são as que mais conservam a vegetação<<strong>br</strong> />

nativa, <strong>de</strong>vido a necessida<strong>de</strong> direta do recurso florestal da caatinga para o<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong>. Por outro lado, as ativida<strong>de</strong>s florestais e pastoris,<<strong>br</strong> />

intrinsecamente associadas a caatinga, evi<strong>de</strong>nciam um impacto direto so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />

vegetação, com conseqüências na redução da biodiversida<strong>de</strong> e na compactação solo.<<strong>br</strong> />

O tamanho médio das áreas <strong>de</strong> caatinga nas unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas variou entre<<strong>br</strong> />

os grupos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>. Para as áreas irrigadas, foi <strong>de</strong> 1,9 ha (área média total das UP:<<strong>br</strong> />

10,8 ha), para as ativida<strong>de</strong>s tradicionais e extrativismo florestal foi <strong>de</strong> 34 ha (área<<strong>br</strong> />

média total das UP: 49 ha) e para a apicultura foi <strong>de</strong> 25,2 ha (área média total das UP:<<strong>br</strong> />

30,2 ha). Os pescadores costumam utilizar as terras públicas <strong>de</strong> caatinga ao redor da<<strong>br</strong> />

comunida<strong>de</strong> para suprir a <strong>de</strong>manda familiar por recursos florestais.<<strong>br</strong> />

A vegetação <strong>de</strong> Caatinga inserida unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva ou no entorno, ainda está<<strong>br</strong> />

conservada para cerca <strong>de</strong> 66% dos pescadores, 40% dos apicultores, 44% dos<<strong>br</strong> />

tradicionais/florestais e 13% dos irrigantes (Tabela 12).<<strong>br</strong> />

51


Tabela 12: Grau <strong>de</strong> conservação da caatinga nativa na <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> ou no entorno<<strong>br</strong> />

segundo visão do informante<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Conservada<<strong>br</strong> />

Grau <strong>de</strong> conservação da caatinga<<strong>br</strong> />

Pouco<<strong>br</strong> />

conservada<<strong>br</strong> />

Degradada Não respon<strong>de</strong>u<<strong>br</strong> />

Irrigantes 13,3 0,0 86,7 0,0<<strong>br</strong> />

Tradicionais e Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

44,8 31,0 20,7 3,4<<strong>br</strong> />

Apicultores 40,0 20,0 20,0 20,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 0,0 16,7 66,6 16,7<<strong>br</strong> />

Foi comumente mencionado entre os entrevistados a importância <strong>de</strong> manter a<<strong>br</strong> />

mata conservada tanto para fins ecológicos, paisagísticos, pecuários quanto para<<strong>br</strong> />

garantir o abastecimento da família com os recursos naturais. No entanto, alguns<<strong>br</strong> />

informantes afirmaram que a substituição da mata nativa por lavoura ou pastagem,<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong>ria representar um incremento da ativida<strong>de</strong> e da renda familiar:<<strong>br</strong> />

“O reino vegetal pra mim é <strong>de</strong>mais... são várias as funções, além<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> gerar renda, a beleza da mata, dos animais, das árvores, me<<strong>br</strong> />

trazem uma gran<strong>de</strong> satisfação” (informante 2, apicultor <strong>de</strong> Ibimirim –<<strong>br</strong> />

PE, so<strong>br</strong>e a necessida<strong>de</strong> da conservação da Caatinga);<<strong>br</strong> />

“tenho vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>smatar e encher <strong>de</strong> capim pra fazer pastos<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>s bichos” (informante 3, agricultor <strong>de</strong> Ibimirim-PE, so<strong>br</strong>e ao<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sejo da substituição da vegetação nativa por áreas <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong>).<<strong>br</strong> />

Os informantes afirmaram em 87% dos casos que ainda encontram aves<<strong>br</strong> />

nativas na <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> ou nas áreas circundantes. A existência <strong>de</strong> mamíferos foi<<strong>br</strong> />

relatada por 63% dos entrevistados, mas a maioria afirmou que atualmente tem sido<<strong>br</strong> />

mais difícil encontrar os animais da região em comparação com anos passados:<<strong>br</strong> />

“tem aquelas todas da caatinga, mas mesmo assim já não é muito”<<strong>br</strong> />

(informante 4, agricultor <strong>de</strong> Ibimirim-PE).<<strong>br</strong> />

52


3.1.4. Aspectos <strong>pro</strong>dutivos: os <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> e as ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

3.1.4.1. Sistemas <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agrícola<<strong>br</strong> />

Irrigados<<strong>br</strong> />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cultivo adotado pelos irrigantes foi em 86,7% dos casos, a<<strong>br</strong> />

agricultura convencional irrigada. Constatou-se um pequeno percentual <strong>de</strong> agricultores<<strong>br</strong> />

(6,7%) que adotaram os <strong>sistemas</strong> irrigados consorciados, com tendência a<<strong>br</strong> />

ecologização das práticas, como a utilização <strong>de</strong> compostos orgânicos 11 , adubação<<strong>br</strong> />

ver<strong>de</strong> 12 e cobertura morta 13 para a fertilização do solo e plantio consorciado<<strong>br</strong> />

diversificado envolvendo árvores e culturas anuais mais ainda mantendo algumas<<strong>br</strong> />

técnicas convencionais, como a aplicação seletiva <strong>de</strong> fertilização química e<<strong>br</strong> />

agrotóxicos. Alguns <strong>de</strong>sses <strong>pro</strong>dutores (20%) cultivam também hortas orgânicas<<strong>br</strong> />

conciliadas com agricultura convencional ou consorciada (Figura 8).<<strong>br</strong> />

A adoção <strong>de</strong> práticas alternativas foi possibilitada pela participação <strong>de</strong> algum<<strong>br</strong> />

mem<strong>br</strong>o da família no curso <strong>de</strong> Agente <strong>de</strong> Desenvolvimento Local, oferecida no<<strong>br</strong> />

município pelo Serviço <strong>de</strong> Tecnologia Alternativa (SERTA), uma organização não<<strong>br</strong> />

governamental com o objetivo <strong>de</strong> formar jovens, educadores e <strong>pro</strong>dutores familiares<<strong>br</strong> />

para atuar na transformação das suas circunstâncias e na <strong>pro</strong>moção do<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável do campo, através <strong>de</strong> capacitação nos princípios da<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> orgânica ecológica e das tecnologias sociais alternativas.<<strong>br</strong> />

As principais culturas <strong>pro</strong>duzidas nas áreas irrigadas são o milho e a banana,<<strong>br</strong> />

que representam os principais <strong>pro</strong>dutos agrícolas comercializados no município.<<strong>br</strong> />

Foram verificadas nos lotes irrigados, 26 culturas anuais ou temporárias e 14<<strong>br</strong> />

culturas permanentes sendo cultivadas (Anexo 2). Cada família, <strong>pro</strong>duz em média 8<<strong>br</strong> />

culturas agrícolas, das quais 5 são roças <strong>de</strong> lavouras anuais ou temporárias e 3 são<<strong>br</strong> />

permanentes. As culturas mais freqüentes entre os agricultores foram milho, feijão,<<strong>br</strong> />

coentro, alface, melancia, tomate, beterraba e capim, e entre as fruteiras, banana,<<strong>br</strong> />

manga, coco, goiaba, pinha e graviola (Figura 9).<<strong>br</strong> />

11 Composto orgânico é o adubo obtido a partir da <strong>de</strong>composição aeróbia dos resíduos vegetais e animais<<strong>br</strong> />

que atua como condicionador e melhorador das <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s do solo. Ele fornece nutrientes <strong>de</strong> forma a<<strong>br</strong> />

favorecer o enraizamento e aumento da resistência das plantas. Po<strong>de</strong>m ser usados na compostagem,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ntre muitos materiais, os restos <strong>de</strong> alimentos, resíduos das lavouras e esterco animal.<<strong>br</strong> />

12 Os adubos ver<strong>de</strong>s são vegetais, comumente leguminosas, que plantados no local da cultura <strong>de</strong>sejada,<<strong>br</strong> />

têm sua massa ver<strong>de</strong> incorporada ao solo, melhorando-se sob diversos aspectos, inclusive nutricional.<<strong>br</strong> />

13 A cobertura morta é manutenção <strong>de</strong> uma camada natural <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> plantas (palhas, restos<<strong>br</strong> />

culturais, etc) espalhadas so<strong>br</strong>e a superfície do solo, visando <strong>pro</strong>tegê-lo da insolação, impacto direto das<<strong>br</strong> />

chuvas e reter a umida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

53


eterraba<<strong>br</strong> />

tomate<<strong>br</strong> />

melancia<<strong>br</strong> />

alface<<strong>br</strong> />

coentro<<strong>br</strong> />

feijão<<strong>br</strong> />

milho<<strong>br</strong> />

(a) (b)<<strong>br</strong> />

(c) (d)<<strong>br</strong> />

Figura 8: (a) Cultivo convencional <strong>de</strong> banana; (b) Cultivo convencional <strong>de</strong> tomate; (c)<<strong>br</strong> />

Policultivo consorciado <strong>de</strong> banana; (d) Composteira para cultivo orgânico<<strong>br</strong> />

0 20 40 60 80 100<<strong>br</strong> />

Percentagem (%)<<strong>br</strong> />

Culturas temporárias<<strong>br</strong> />

graviola<<strong>br</strong> />

pinha<<strong>br</strong> />

mamão<<strong>br</strong> />

goiaba<<strong>br</strong> />

coco<<strong>br</strong> />

manga<<strong>br</strong> />

banana<<strong>br</strong> />

0 20 40 60 80 100<<strong>br</strong> />

Percentagem (%)<<strong>br</strong> />

Culturas permanentes<<strong>br</strong> />

Figura 9: Principais culturas anuais e permanentes cultivadas na <strong><strong>pro</strong>dução</strong> irrigada em<<strong>br</strong> />

Ibimirim – PE.<<strong>br</strong> />

54


Todas as unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas usam o trator para o preparo do solo, mas em<<strong>br</strong> />

20% <strong>de</strong>las, foi constatada a aração também com tração animal. De modo geral, a<<strong>br</strong> />

fertilida<strong>de</strong> natural do solo é apoiada pela intensa aplicação <strong>de</strong> adubos químicos<<strong>br</strong> />

comprados nos mercados locais especializados e em alguns casos pelo emprego<<strong>br</strong> />

parcial <strong>de</strong> esterco bovino <strong>pro</strong>veniente dos animais da <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> sítios<<strong>br</strong> />

vizinhos. É comum encontrar o uso <strong>de</strong> herbicidas para controle das ervas espontâneas<<strong>br</strong> />

(cerca <strong>de</strong> 50% das unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas) e o controle químico <strong>de</strong> pragas e doenças<<strong>br</strong> />

(93,3%), com aplicação <strong>de</strong> agrotóxicos principalmente nas culturas como milho, feijão<<strong>br</strong> />

e tomate para combater <strong>pro</strong>blemas como a traça do tomateiro (Tuta absoluta) e a<<strong>br</strong> />

mosca <strong>br</strong>anca (Bemisia spp. - Bemisia argentifolii).<<strong>br</strong> />

Vale ressaltar que a uso <strong>de</strong> agroquímicos para a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> po<strong>de</strong> acarretar<<strong>br</strong> />

vários efeitos nocivos para a planta e principalmente para o solo. Os adubos químicos<<strong>br</strong> />

solúveis, amplamente usados nas culturas irrigadas, são ácidos e salinos, e po<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>struir a vida útil do solo, prejudicando todos os <strong>pro</strong>cessos <strong>de</strong> retirada <strong>de</strong> nutrientes<<strong>br</strong> />

tais como o fósforo, cálcio, potássio, nitrogênio e outros. Além disso, eles interferem<<strong>br</strong> />

na fixação do nitrogênio do ar, que é feita pelas raízes das leguminosas (MEIRELLES<<strong>br</strong> />

e RUPP, 2005).<<strong>br</strong> />

Nos <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> cultivo convencionais, obter um alto rendimento da terra<<strong>br</strong> />

evi<strong>de</strong>ncia um solo <strong>pro</strong>dutivo. Entretanto, na perspectiva agroecológica, que visa<<strong>br</strong> />

manter e <strong>pro</strong>mover todos os <strong>pro</strong>cessos <strong>de</strong> formação e <strong>pro</strong>teção do solo, um solo<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutivo não é necessariamente um solo fértil. Os fertilizantes po<strong>de</strong>m ter a função <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

elevá-la, mas fertilida<strong>de</strong> do solo somente po<strong>de</strong> ser mantida ou restaurada enten<strong>de</strong>ndo-<<strong>br</strong> />

se os ciclos <strong>de</strong> nutrientes e <strong>pro</strong>cessos ecológicos do solo, especialmente a dinâmica<<strong>br</strong> />

da matéria orgânica (GLIESSMAN, 2005).<<strong>br</strong> />

Como os adubos químicos, os agrotóxicos também po<strong>de</strong>m diminuir a vida útil<<strong>br</strong> />

do solo, prejudicando a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nutrientes para as plantas. Esses <strong>pro</strong>dutos,<<strong>br</strong> />

quando o uso é excessivo, po<strong>de</strong>m exterminar a microfauna (minhocas, besouros e<<strong>br</strong> />

outros pequenos organismos) altamente benéficos para a agricultura, e po<strong>de</strong>m ainda<<strong>br</strong> />

aumentar a resistências <strong>de</strong> insetos pragas contra o veneno e <strong>de</strong>struir inimigos naturais<<strong>br</strong> />

do controle biológico. Os agrotóxicos, que são absolvidos pelas folhas, raízes, frutos,<<strong>br</strong> />

sementes, galhos ou troncos, po<strong>de</strong>m diminuir a respiração, a transpiração e a<<strong>br</strong> />

fotossíntese da planta, afetando a <strong>pro</strong>teossíntese, prejudicando a resistência do<<strong>br</strong> />

vegetal (MEIRELLES e RUPP, 2005).<<strong>br</strong> />

O método <strong>de</strong> irrigação por superfície, aquele em que a distribuição da água se<<strong>br</strong> />

dá por gravida<strong>de</strong> através da superfície do solo, está presente em todas as<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s irrigadas. Este método tem se mostrado <strong>de</strong> baixa eficiência e<<strong>br</strong> />

ina<strong>de</strong>quado para as condições climáticas locais, uma vez que <strong>de</strong>mandam gran<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

55


volumes <strong>de</strong> água, recurso escasso na região, e favorecem a salinização do solo<<strong>br</strong> />

(CRUCIANI et al., 2009).<<strong>br</strong> />

De acordo com Gliessman (2005), a irrigação representa uma mudança maior<<strong>br</strong> />

na função do ecossistema, e gera seus próprios <strong>pro</strong>blemas ecológicos, uma vez que<<strong>br</strong> />

os <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> captação, armazenamento e abastecimento po<strong>de</strong>m ter gran<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

impactos no fluxo <strong>de</strong> água da superfície e subterrânea. O autor acrescentou ainda que<<strong>br</strong> />

a introdução <strong>de</strong> água por irrigação, durante um período normalmente seco do ano,<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong> ter efeitos <strong>pro</strong>fundos nos ciclos ecológicos naturais e nos ciclos <strong>de</strong> vida <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

organismos benéficos ou pragas. Além disso, a introdução da irrigação em áreas<<strong>br</strong> />

naturalmente secas po<strong>de</strong> acarretar em mudanças no clima local ou regional,<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>vocada pelo aumento da evapotranspiração dos reservatórios <strong>de</strong> água.<<strong>br</strong> />

As características da agricultura praticada no perímetro irrigado indicaram uma<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência dos agricultores aos insumos externos que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<<strong>br</strong> />

sementes e mudas e <strong>pro</strong>dutos químicos ao trator utilizado na aração.<<strong>br</strong> />

Tradicionais<<strong>br</strong> />

Entre os agricultores tradicionais, 72,4% praticam a agricultura <strong>de</strong> sequeiro,<<strong>br</strong> />

10,3% o cultivo tradicional parcialmente irrigado, e 20,7% cultivam em <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

consorciados ou em quintais agroflorestais no entorno da casa (Figura 10).<<strong>br</strong> />

As culturas agrícolas predominantes são o milho e o feijão, compondo os<<strong>br</strong> />

principais <strong>pro</strong>dutos <strong>de</strong> comercialização da agricultura tradicional.<<strong>br</strong> />

Ao todo, foram constatadas nos <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> 24 culturas temporárias<<strong>br</strong> />

(média <strong>de</strong> 5 por família) e 27 culturas permanentes (média <strong>de</strong> 3 por família) (anexo 2).<<strong>br</strong> />

As culturas mais citadas entre os <strong>pro</strong>dutores foram o feijão, milho, melancia,<<strong>br</strong> />

macaxeira e abóbora entre as culturas anuais, caju, manga, pinha e mamão entre as<<strong>br</strong> />

fruteiras e capim e palma com finalida<strong>de</strong> forrageira (Figura 11).<<strong>br</strong> />

Os <strong>sistemas</strong> que reuniram o maior número <strong>de</strong> espécies foram os quintais<<strong>br</strong> />

agroflorestais e os <strong>sistemas</strong> consorciados. Segundo Víquez et al. (1994), os quintais<<strong>br</strong> />

agroflorestais representam uma fonte adicional <strong>de</strong> renda, caracterizando-se como uma<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong> potencial para a obtenção <strong>de</strong> alimentos e para suprir as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

lenha e ma<strong>de</strong>ira da família.<<strong>br</strong> />

Além disso, há um indicativo <strong>de</strong> que os quintais agroflorestais po<strong>de</strong>m contribuir<<strong>br</strong> />

na conservação da biodiversida<strong>de</strong> da Caatinga, uma vez que o hábito <strong>de</strong> cultivar<<strong>br</strong> />

plantas nativas po<strong>de</strong> diminuir a pressão <strong>de</strong> uso so<strong>br</strong>e a vegetação local, conforme<<strong>br</strong> />

56


verificado por Florentino et al. (2007), em estudo com quintais no Semiárido<<strong>br</strong> />

pernambucano.<<strong>br</strong> />

(a)<<strong>br</strong> />

abóbora<<strong>br</strong> />

macaxeira<<strong>br</strong> />

melancia<<strong>br</strong> />

(b) (c)<<strong>br</strong> />

Figura 10: (a) Cultivos tradicionais <strong>de</strong> sequeiro; (b) quintal agroflorestal; (c) cultivo<<strong>br</strong> />

consorciado <strong>de</strong> sequeiro<<strong>br</strong> />

]<<strong>br</strong> />

capim<<strong>br</strong> />

milho<<strong>br</strong> />

feijão<<strong>br</strong> />

0 20 40 60 80 100<<strong>br</strong> />

Percentagem (%)<<strong>br</strong> />

Culturas temporárias<<strong>br</strong> />

mamão<<strong>br</strong> />

pinha<<strong>br</strong> />

palma<<strong>br</strong> />

manga<<strong>br</strong> />

caju<<strong>br</strong> />

0 20 40 60 80 100<<strong>br</strong> />

Percentagem (%)<<strong>br</strong> />

Culturas permanentes<<strong>br</strong> />

Figura 11: Principais culturas anuais e permanentes cultivadas na agricultura<<strong>br</strong> />

tradicional em Ibimirim – PE.<<strong>br</strong> />

57


Neste estudo, os autores encontraram que para região <strong>de</strong> Caruaru, são<<strong>br</strong> />

cultivados quintais <strong>de</strong> múltiplos usos, seja ma<strong>de</strong>ireiro, ornamental ou medicinal,<<strong>br</strong> />

contudo, a principal finalida<strong>de</strong> constatada tem sido o abastecimento familiar por<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutos alimentícios, refletindo a mesma situação encontrada entre as agricultores/as<<strong>br</strong> />

tradicionais em Ibimirim.<<strong>br</strong> />

A origem <strong>de</strong>sses <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong>ntro da agricultura tradicional do município, que<<strong>br</strong> />

representa um indicativo <strong>de</strong> ecologização das práticas agrícolas, está no<<strong>br</strong> />

conhecimento e nas práticas ancestrais, tendo sido ensinadas pelos antepassados ao<<strong>br</strong> />

longo <strong>de</strong> gerações, sem que tenha havido, no entanto, qualquer intervenção técnica ou<<strong>br</strong> />

capacitação dos <strong>pro</strong>dutores.<<strong>br</strong> />

Essa herança agrícola tem tido pouca importância nas ciências agrárias<<strong>br</strong> />

formais, entretanto Hecht (1999) mencionou que o conhecimento agronômico<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>scentralizado e <strong>de</strong>senvolvido localmente é fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimento<<strong>br</strong> />

continuado dos <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> ecológicos.<<strong>br</strong> />

O preparo do solo é feito com arado <strong>de</strong> tração animal. Alguns poucos<<strong>br</strong> />

agricultores utilizam parcialmente a mecanização, geralmente fornecida pela<<strong>br</strong> />

Prefeitura, ou ainda, prepara o solo manualmente com o uso <strong>de</strong> enxada. Uma<<strong>br</strong> />

pequena parcela dos <strong>pro</strong>dutores tradicionais (24%) é atendida pelo <strong>pro</strong>grama Terra<<strong>br</strong> />

Pronta e <strong>de</strong> Distribuição <strong>de</strong> Sementes do Instituto Agronômico <strong>de</strong> Pernambuco (IPA),<<strong>br</strong> />

que beneficia prioritariamente agricultores familiares com <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> área inferior<<strong>br</strong> />

a 10 ha filiados a associações e sindicatos rurais.<<strong>br</strong> />

Cerca <strong>de</strong> 50% dos agricultores não aplicam qualquer tipo <strong>de</strong> fertilizante no solo,<<strong>br</strong> />

o restante utiliza adubação orgânica, principalmente esterco, e em 20% dos casos,<<strong>br</strong> />

associado com adubação química.<<strong>br</strong> />

Para o controle das ervas espontânea não é utilizado qualquer método<<strong>br</strong> />

químico, e para combate à pragas e doenças, apenas em 31% dos casos é aplicado<<strong>br</strong> />

controle químico seletivo, com baixas dosagens, em algumas poucas espécies. Não<<strong>br</strong> />

foram citadas perdas significativas das lavouras por ataques <strong>de</strong> pragas e doenças.<<strong>br</strong> />

Entres os pescadores é possível também encontrar um pequeno percentual<<strong>br</strong> />

praticando a agricultura nos pequenos quintais das casas, com características<<strong>br</strong> />

semelhantes às encontradas pelos agricultores tradicionais do município.<<strong>br</strong> />

3.1.4.2. Sistemas <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> animal<<strong>br</strong> />

A caprinocultura foi citada como uma das principais alternativas econômicas<<strong>br</strong> />

dos <strong>sistemas</strong> tradicionais. Nas terras irrigadas, on<strong>de</strong> as áreas naturais são bem<<strong>br</strong> />

reduzidas, há a predominância da bovinocultura (Tabela 13).<<strong>br</strong> />

58


Tabela 13: Percentual <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutores criadores (%PC) e quantida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> animais<<strong>br</strong> />

por unida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva (QUP) para as ativida<strong>de</strong>s rurais em Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Produção animal<<strong>br</strong> />

Bovinos Caprinos Ovinos Suínos Aves<<strong>br</strong> />

Eqüinos,<<strong>br</strong> />

Asininos e<<strong>br</strong> />

muares<<strong>br</strong> />

%PC QUP %PC QUP %PC QUP %PC QUP %PC QUP %PC QUP<<strong>br</strong> />

Irrigantes 73,3 14 20,0 18 0,0 0 13,3 2 46,7 21 60 3<<strong>br</strong> />

Tradicionais e<<strong>br</strong> />

Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

51,7 7 62,1 20 24,1 8 6,9 5 41,4 20 41,4 3<<strong>br</strong> />

Apicultores 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0<<strong>br</strong> />

Pescadores 0,0 0 50,0 12 0,0 0 16,7 2 0,0 0 16,7 2<<strong>br</strong> />

Os animais <strong>de</strong> pastoreio são criados extensivamente na caatinga, utilizando<<strong>br</strong> />

como recurso forrageiro à vegetação nativa em um sistema <strong>de</strong> criação baseado em<<strong>br</strong> />

princípios do extrativismo. A vegetação da caatinga, segundo Pinto et al. (2006)<<strong>br</strong> />

naturalmente apresenta potencial <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> forragem, constituindo na maioria<<strong>br</strong> />

das vezes a principal fonte <strong>de</strong> alimentação animal na região semi-árida no Nor<strong>de</strong>ste<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asileiro. Araújo Filho (1992) mencionou que as ativida<strong>de</strong>s pastoris ten<strong>de</strong>m a ocupar<<strong>br</strong> />

a caatinga do tipo arbustivo-arbórea, por ser essa a vegetação que melhor compõe o<<strong>br</strong> />

pasto natural, entretanto, por sua característica caducifólia, ela oferece uma<<strong>br</strong> />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte extremamente baixa, dificultando a implementação <strong>de</strong>sta<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong> para o pequeno <strong>pro</strong>dutor rural que possui menores extensões <strong>de</strong> terras.<<strong>br</strong> />

Além disso, Araújo-Filho e Crispim (2002) afirmaram que nessa ativida<strong>de</strong>, o<<strong>br</strong> />

superpastoreio é o fator dominante na paisagem pastoril, on<strong>de</strong> ovinos e caprinos<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong>m induzir mudanças substanciais na florística da caatinga, quer pelo anelamento<<strong>br</strong> />

dos troncos das árvores e arbustos, causando-lhes a morte, quer pelo consumo das<<strong>br</strong> />

plântulas impedindo a renovação do estoque <strong>de</strong> espécies lenhosas.<<strong>br</strong> />

Num âmbito geral, o Nor<strong>de</strong>ste <strong>br</strong>asileiro <strong>de</strong>staca-se pelo <strong>de</strong>senvolvimento da<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> caprinos e ovinos, com a totalida<strong>de</strong> 91,4% e 57,2% respectivamente, do<<strong>br</strong> />

rebanho efetivo nacional (IBGE 2007b), so<strong>br</strong>etudo nos estados da Bahia e<<strong>br</strong> />

Pernambuco que li<strong>de</strong>raram o ranking, evi<strong>de</strong>nciando a predominância do rebanho <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

caprinos na caatinga.<<strong>br</strong> />

No que se refere as finalida<strong>de</strong>s da criação, os principais usos mencionados<<strong>br</strong> />

pelos informantes foram a venda e consumo <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos e sub<strong>pro</strong>dutos para bovinos,<<strong>br</strong> />

caprinos e ovinos, aração da terra e transporte <strong>de</strong> cargas para bovinos, transporte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

59


cargas e pessoas para os eqüinos, asininos e muares e consumo <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos e<<strong>br</strong> />

sub<strong>pro</strong>dutos para as aves e suínos.<<strong>br</strong> />

Os principais <strong>pro</strong>blemas <strong>de</strong> perdas dos rebanhos relatados estão relacionados<<strong>br</strong> />

à escassez <strong>de</strong> água e à doenças geralmente <strong>de</strong>sconhecidas pelos <strong>pro</strong>dutores, bem<<strong>br</strong> />

como ao consumo <strong>de</strong> excessivo <strong>de</strong> algaroba.<<strong>br</strong> />

3.1.4.3. Extrativismo da caatinga e manejo florestal<<strong>br</strong> />

Os usos mais comuns dos recursos naturais da caatinga relatados pela<<strong>br</strong> />

população local foram a retirada <strong>de</strong> lenha para combustível e carvão; ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

maiores diâmetros para construção <strong>de</strong> cercas, moradias e carpintaria; Frutos, em<<strong>br</strong> />

especial o umbu (Spondias tuberosa); extração do mel das abelhas nativas sem<<strong>br</strong> />

ferrão; e a caça <strong>de</strong> aves, mamíferos e répteis da fauna nativa (Tabela 14 e Figura 12) .<<strong>br</strong> />

Tabela 14: Recursos da caatinga extraídos pela população rural <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Lenha<<strong>br</strong> />

Produtos <strong>de</strong> extrativismo<<strong>br</strong> />

Ma<strong>de</strong>ira * Frutos<<strong>br</strong> />

Mel <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

meliponias<<strong>br</strong> />

Irrigantes 26,7 93,3 0,0 13,3 0,0<<strong>br</strong> />

Tradicionais e Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

Caça<<strong>br</strong> />

89,7 69,0 31,0 24,1 20,7<<strong>br</strong> />

Apicultores 20,0 40,0 20,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 83,3 16,7 66,7 0,0 16,7<<strong>br</strong> />

* Vara, estaca, carpintaria e construção<<strong>br</strong> />

(a) (b) (c)<<strong>br</strong> />

Figura 12: (a) Corte <strong>de</strong> lenha para uso doméstico e carvão; (b) forno <strong>de</strong> tijolo para<<strong>br</strong> />

carvão; (c) forno <strong>de</strong> “caieira” para carvão<<strong>br</strong> />

60


As comunida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> predominou a agricultura tradicional são as mais<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos recursos florestais da caatinga seguido das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

pescadores. O extrativismo é feito na maioria das vezes na própria UP, exceto para os<<strong>br</strong> />

pescadores que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m exclusivamente das áreas públicas e <strong>de</strong> outras<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s privadas. No perímetro irrigado, a algaroba é a principal fonte florestal da<<strong>br</strong> />

população, representando a totalida<strong>de</strong> da ma<strong>de</strong>ira utilizada para o cercamento e<<strong>br</strong> />

manutenção da UP, uma vez que as áreas naturais estão em estágio avançado <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>gradação.<<strong>br</strong> />

Há um <strong>de</strong>staque para o consumo doméstico <strong>de</strong> lenha, on<strong>de</strong> quase 90% das UP<<strong>br</strong> />

tradicionais e pescadores utilizam essa fonte. A renda gerada a partir da floresta está<<strong>br</strong> />

mais relacionada com a comercialização <strong>de</strong> carvão, lenha e ma<strong>de</strong>ira, porém em<<strong>br</strong> />

quantida<strong>de</strong>s reduzidas (Tabela 15).<<strong>br</strong> />

Tabela 15: Principais <strong>de</strong>stinos e usos dos recursos florestais da Caatinga, Ibimirim –<<strong>br</strong> />

PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Destinos<<strong>br</strong> />

Lenha Carvão Ma<strong>de</strong>ira Frutos Mel Caça<<strong>br</strong> />

Usos<<strong>br</strong> />

1 2 1 2 1 2 2 3 2 3 4<<strong>br</strong> />

Irrigantes 26,7 0,0 6,7 6,7 93,3 0,0 6,7 0,0 0,0 6,7 0,0<<strong>br</strong> />

Tradicionais e Extrativistas<<strong>br</strong> />

florestais<<strong>br</strong> />

%<<strong>br</strong> />

89,7 17,2 41,4 24,1 69,0 10,3 6,9 31,0 3,4 20,7 17,2<<strong>br</strong> />

Apicultores 20,0 0,0 0,0 0,0 40,0 0,0 20,0 0,0 0,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 83,3 0,0 33,3 33,3 16,7 0,0 0,0 66,7 0,0 0,0 16,7<<strong>br</strong> />

1 – Doméstico; 2 – Comercialização; 3 – Consumo próprio; 4 – Alimentação e, ou diversão<<strong>br</strong> />

Além do extrativismo predatório, foi i<strong>de</strong>ntificado um assentamento rural que<<strong>br</strong> />

adotou a prática do manejo florestal legal, após capacitação e acompanhamento <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

uma organização não governamental, em uma área <strong>de</strong> 100 ha, com cerca <strong>de</strong> 7ha<<strong>br</strong> />

previstos para o manejo anual para 9 famílias. O manejo florestal, que visa apenas a<<strong>br</strong> />

extração legal <strong>de</strong> lenha para o abastecimento da indústria têxtil e das cerâmicas do<<strong>br</strong> />

estado é consi<strong>de</strong>rado pelos moradores, a principal ativida<strong>de</strong> econômica principalmente<<strong>br</strong> />

por permitir geração <strong>de</strong> renda em épocas secas.<<strong>br</strong> />

Tem sido verificado nessas regiões que a adoção do manejo florestal<<strong>br</strong> />

sustentável, essencialmente não predatório, faz-se mediante orientação e<<strong>br</strong> />

acompanhamento técnico, uma vez que para o êxito da ativida<strong>de</strong>, são imprescindíveis<<strong>br</strong> />

61


as ações <strong>de</strong> educação e capacitação dos agricultores. Dessa forma, reverter o quadro<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental na região, resultante da exploração ma<strong>de</strong>ireira, consiste<<strong>br</strong> />

necessariamente e ampliar os <strong>pro</strong>gramas <strong>de</strong> assistência técnica e extensão rural <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

base agroecológica que garantam o uso sustentável dos recursos locais disponíveis.<<strong>br</strong> />

Em <strong>pro</strong>jetos <strong>de</strong> assentamentos rurais, o extrativismo florestal, enquanto<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva geradora <strong>de</strong> renda po<strong>de</strong> ter gran<strong>de</strong> importância no contexto social,<<strong>br</strong> />

sendo fundamental para a sustentabilida<strong>de</strong> dos assentamentos, conforme revelam<<strong>br</strong> />

Francelino et al. (2003), em seus estudos no Semiárido norte-rio-gran<strong>de</strong>nse.<<strong>br</strong> />

Entretanto, segundo os autores, a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria servir apenas como complemento<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> renda dos assentados, já que outras ativida<strong>de</strong>s apresentam maiores retornos<<strong>br</strong> />

econômicos. Os principais usos (fins econômicos e uso doméstico) relatados neste<<strong>br</strong> />

estudo foram lenha para consumo doméstico, forragem, infra-estrutura (construção e<<strong>br</strong> />

cercamento) e medicinal.<<strong>br</strong> />

Para Melo et al. (2007) o manejo florestal sustentável po<strong>de</strong> constituir uma<<strong>br</strong> />

alternativa viável para pequenos <strong>pro</strong>dutores rurais do Semiárido, como tem sido<<strong>br</strong> />

verificado em Ibimirim, uma vez que além <strong>de</strong> conservar o ecossistema e seus<<strong>br</strong> />

componentes (flora, fauna e solo) a médio e longo prazo, oferece a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

ocupação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a rural nos longos períodos <strong>de</strong> estiagem, garantindo uma<<strong>br</strong> />

fonte <strong>de</strong> renda ao homem do campo, além <strong>de</strong> não necessitar praticamente nenhum<<strong>br</strong> />

investimento inicial para sua execução.<<strong>br</strong> />

No entanto, Salin et al. (2009) afirmaram que para atingir um rendimento<<strong>br</strong> />

econômico satisfatório, o manejo da caatinga <strong>de</strong>veria prever além da lenha, <strong>pro</strong>dutos<<strong>br</strong> />

não ma<strong>de</strong>ireiros como fi<strong>br</strong>as e cascas, bem como a apicultura ou a meliponicultura.<<strong>br</strong> />

Da mesma forma, Brasil (2008) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u que as características sociais, econômicas e<<strong>br</strong> />

vegetacionais do Semiárido, apontam para um uso mais diversificado do recurso da<<strong>br</strong> />

Caatinga, além daquele associado exclusivamente ao manejo florestal ma<strong>de</strong>ireiro, e<<strong>br</strong> />

que incluam ainda manejos específicos que visem à integração da <strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

agropecuária com a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> florestal.<<strong>br</strong> />

3.1.4.4. Pesca artesanal e piscicultura<<strong>br</strong> />

A pesca artesanal <strong>de</strong>senvolvida no açu<strong>de</strong> do Poço da Cruz utiliza<<strong>br</strong> />

fundamentalmente técnicas <strong>de</strong> captura <strong>de</strong> reduzido rendimento, com equipamentos<<strong>br</strong> />

como re<strong>de</strong>, linha e anzol e em alguns casos, a tarrafa.<<strong>br</strong> />

62


Os pescadores trabalham na exploração do ambiente aquático por meio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

pequenas embarcações <strong>de</strong> pouca autonomia, como canoas a remo, geralmente<<strong>br</strong> />

sozinhos, ou com um mem<strong>br</strong>o da família.<<strong>br</strong> />

A ativida<strong>de</strong> é exercida diariamente durante todo o ano, com exceção, quando a<<strong>br</strong> />

pesca é <strong>pro</strong>ibida para a <strong>de</strong>sova dos peixes e manutenção dos indivíduos jovens que<<strong>br</strong> />

estão na fase <strong>de</strong> crescimento. Durante o período da piracema, que vai <strong>de</strong> novem<strong>br</strong>o a<<strong>br</strong> />

fevereiro na região, os pescadores recebem um benefício do governo fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> um<<strong>br</strong> />

salário mínimo (R$ 465,00), com a função <strong>de</strong> manter os trabalhadores durante o<<strong>br</strong> />

período em que ficam impedidos <strong>de</strong> pescar. O auxílio governamental, <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

seguro-<strong>de</strong>semprego do pescador artesanal é concedido pelo Ministério do Trabalho e<<strong>br</strong> />

Emprego (MTE) enquanto a pesca estiver interditada, e é viabilizado apenas mediante<<strong>br</strong> />

filiação do pescador à organização social local, neste caso à Colônia <strong>de</strong> pescadores<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Ibimirim. No entanto, durante este período, alguns trabalhadores afirmaram manter<<strong>br</strong> />

a pesca com linha e anzol em escala reduzida.<<strong>br</strong> />

Os principais pescados da região são a tilápia, tucunaré, pial, corvina, traíra<<strong>br</strong> />

com valores <strong>de</strong> venda superiores e o cumatã, e cascudo com baixos valores <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

mercado. Segundo relato dos pescadores, os peixes capturados no inverno (meses <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

chuva) são menores e menos abundantes que os pescados no verão.<<strong>br</strong> />

No que se refere a piscicultura, a ativida<strong>de</strong> foi introduzida no município<<strong>br</strong> />

recentemente, ganhando espaço como ativida<strong>de</strong> rural do município, apenas nos<<strong>br</strong> />

últimos anos. A ativida<strong>de</strong> está restrita atualmente ao o perímetro irrigado e as UP<<strong>br</strong> />

localizadas às margens do açu<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Há a predominância do uso dos tanques <strong>de</strong> re<strong>de</strong> entres os piscicultores, e<<strong>br</strong> />

alguns poucos casos, tanques escavados. A média <strong>de</strong> tanques verificados foi 4<<strong>br</strong> />

tanques <strong>de</strong> re<strong>de</strong> por <strong>pro</strong>dutor. O peixe criado é a tilápia e o número médio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

indivíduos é <strong>de</strong> 1750 por criador (Figura 13).<<strong>br</strong> />

3.1.4.5. Sistemas apícolas<<strong>br</strong> />

A criação <strong>de</strong> abelhas africanizadas, do gênero Apis, iniciada em Ibimirim em<<strong>br</strong> />

meados da década <strong>de</strong> 1990 a partir do apoio da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Rural <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Pernambuco (UFRPE), é realizada nas áreas <strong>de</strong> caatinga e nos algarobais do<<strong>br</strong> />

município objetivando exclusivamente a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> mel.<<strong>br</strong> />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> colméia adotado entre os apicultores é a Langstroth ou também<<strong>br</strong> />

conhecida como caixa americana. Cada <strong>pro</strong>dutor tem em média 3 apiários com cerca<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> 25 colméias cada (figura 14).<<strong>br</strong> />

63


(a) (b)<<strong>br</strong> />

(c) (d)<<strong>br</strong> />

Figura 13: (a) Pesca artesanal no açu<strong>de</strong> “Poço da Cruz”; (b) fa<strong>br</strong>icação artesanal <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesca; (c) piscicultura com tanque escavada; (d) piscicultura com tanque <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

re<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

(a) (b)<<strong>br</strong> />

Figura 14: (a) Caixa Langstroth; (b) Apiário<<strong>br</strong> />

64


O manejo dos apiários está diretamente ligado aos ciclos pluviométricos e inclui<<strong>br</strong> />

a inspeção periódica das colméias e a coleta do mel durante as épocas <strong>de</strong> florada que<<strong>br</strong> />

iniciam, no caso da vegetação nativa, assim que caem as primeiras chuvas. Tais<<strong>br</strong> />

práticas não requerem um acompanhamento constante, o que torna a apicultura uma<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong> esporádica, e em muitos casos, uma ocupação secundária.<<strong>br</strong> />

De modo geral a ativida<strong>de</strong> segue uma seqüência <strong>pro</strong>dutiva que envolve:<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong>, coleta, extração, refinação e comercialização do mel.<<strong>br</strong> />

O mel é colhido 8 vezes ao ano, em anos <strong>de</strong> pluviosida<strong>de</strong> satisfatória, sendo<<strong>br</strong> />

cerca <strong>de</strong> 3 meses durante o período chuvoso (março a maio), e outros 3 meses<<strong>br</strong> />

durantes o período seco (setem<strong>br</strong>o a novem<strong>br</strong>o) possibilitado pela floração da<<strong>br</strong> />

algaroba (Prosopis juliflora), espécie introduzida na região.<<strong>br</strong> />

Para o <strong>de</strong>senvolvimento da apicultura, o <strong>pro</strong>dutor utiliza<<strong>br</strong> />

máquinas/equipamentos, ferramentas, utensílios, instalações <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> (colméias)<<strong>br</strong> />

e <strong>de</strong> beneficiamento e a indumentária, vestimenta básica composta por máscara,<<strong>br</strong> />

macacão, luvas, botas e chapéu.<<strong>br</strong> />

O <strong>pro</strong>cessamento do mel (extração da melgueira e refinamento) é feito na “sala<<strong>br</strong> />

do mel” (sala <strong>de</strong> centrifugação e envase), um espaço coletivo, localizado na se<strong>de</strong> da<<strong>br</strong> />

associação (ASSAPI). Apesar da apicultura ser um empreendimento <strong>de</strong>senvolvido a<<strong>br</strong> />

partir <strong>de</strong> baixos investimentos e baixos custos operacionais, ela <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

equipamentos <strong>de</strong> custos elevados para extração do mel, que tem impossibilitado o<<strong>br</strong> />

exercício individual da ativida<strong>de</strong> entre os agricultores familiares do município. Tal fato<<strong>br</strong> />

evi<strong>de</strong>ncia a potencialida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong> praticada a partir da cooperação entre os<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutores para os empreendimentos <strong>de</strong> pequeno porte.<<strong>br</strong> />

Os resultados observados no presente trabalho corroboram com a afirmativa<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Wolff (2007) <strong>de</strong> que a apicultura é uma ativida<strong>de</strong> indispensável para um sistema <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

agricultura familiar <strong>de</strong> base ecológica. Já que a ação polinizadora das abelhas<<strong>br</strong> />

aumenta a <strong>pro</strong>dutivida<strong>de</strong> das lavouras, pomares e pastagens nativas ou cultivadas. Na<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> hortaliças, contribuem na qualida<strong>de</strong> e quantida<strong>de</strong> das<<strong>br</strong> />

mesmas, pela garantia <strong>de</strong> fecundação cruzada com intensida<strong>de</strong> e eficiência.<<strong>br</strong> />

Além disso, Cardoso (1999) mencionou que a apicultura familiar é uma<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong> integradora por excelência, pois ela complementa e beneficia as <strong>de</strong>mais<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s da <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> além <strong>de</strong> evitar queimadas e aumentar a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> das<<strong>br</strong> />

culturas comerciais através da polinização.<<strong>br</strong> />

Os apicultores entrevistados <strong>de</strong>monstraram uma estreita relação com a<<strong>br</strong> />

vegetação da caatinga, uma vez que toda ativida<strong>de</strong> fundamenta-se na manutenção da<<strong>br</strong> />

biodiversida<strong>de</strong> florística local. Segundo os relatos dos <strong>pro</strong>dutores, a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> mel<<strong>br</strong> />

está diretamente associada à flora apícola, pois além do volume <strong>pro</strong>duzido, a cor e o<<strong>br</strong> />

65


sabor do mel <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da espécie botânica da qual extraíram o néctar. Nesse<<strong>br</strong> />

sentido, Guimarães (1989) afirmou que, por sua natureza, a apicultura é uma<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong> conservacionista, além <strong>de</strong> preencher todos os requisitos do tripé da<<strong>br</strong> />

sustentabilida<strong>de</strong>: o econômico porque gera renda para os agricultores: o social porque<<strong>br</strong> />

utiliza a mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a familiar no campo, diminuindo o êxodo rural; e o ecológico<<strong>br</strong> />

porque não se <strong>de</strong>smata para criar abelhas.<<strong>br</strong> />

3.1.5. Aspectos econômicos<<strong>br</strong> />

3.1.5.1. Comercialização<<strong>br</strong> />

Uma parte expressiva da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> rural das UP agrícolas em Ibimirim, ou da<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> gerada pelo exercício das ativida<strong>de</strong>s em geral, é comercializada nos<<strong>br</strong> />

mercados locais por intermédio <strong>de</strong> atravessadores. O grupo <strong>de</strong> trabalhadores<<strong>br</strong> />

tradicionais em sua maioria comercializa apenas os exce<strong>de</strong>ntes da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agrícola,<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>stinando a maior parte dos <strong>pro</strong>dutos agrícolas ao consumo familiar (Quadro 5).<<strong>br</strong> />

Quadro 5: Produtos comercializados, <strong>de</strong>stinos da <strong><strong>pro</strong>dução</strong>, canais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

comercialização, e <strong>de</strong>terminação do preço dos <strong>pro</strong>dutos rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

IRRIGANTES<<strong>br</strong> />

TRADICIONAIS<<strong>br</strong> />

E<<strong>br</strong> />

EXTRATIVISTAS<<strong>br</strong> />

FLORESTAIS<<strong>br</strong> />

Principais <strong>pro</strong>dutos<<strong>br</strong> />

comercializados<<strong>br</strong> />

Produtos agrícolas: milho e<<strong>br</strong> />

banana em média escala.<<strong>br</strong> />

Produtos agrícolas: milho,<<strong>br</strong> />

feijão, frutas e castanha<<strong>br</strong> />

em pequena escala;<<strong>br</strong> />

Produtos florestais: lenha,<<strong>br</strong> />

carvão em pequena<<strong>br</strong> />

escala;<<strong>br</strong> />

Produtos pecuários:<<strong>br</strong> />

caprinos, galináceos e<<strong>br</strong> />

ovos em pequena escala.<<strong>br</strong> />

APICULTORES Produtos apícolas: mel<<strong>br</strong> />

PESCADORES<<strong>br</strong> />

Produtos pesqueiros: peixe<<strong>br</strong> />

Produtos florestais: carvão<<strong>br</strong> />

em pequena escala;<<strong>br</strong> />

Produtos pecuários:<<strong>br</strong> />

caprinos em pequena<<strong>br</strong> />

escala.<<strong>br</strong> />

Principais <strong>de</strong>stinos da<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> e canais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

comercialização<<strong>br</strong> />

Produtos agrícolas: consumo;<<strong>br</strong> />

atravessador para revenda local<<strong>br</strong> />

ou para entrega em outros<<strong>br</strong> />

municípios do estado.<<strong>br</strong> />

Produtos Agrícolas: consumo;<<strong>br</strong> />

atravessador para revenda local;<<strong>br</strong> />

direto ao consumidor em feiras<<strong>br</strong> />

livres ou na rua.<<strong>br</strong> />

Produtos florestais: consumo;<<strong>br</strong> />

atravessador para revenda local<<strong>br</strong> />

ou para mercados da indústria<<strong>br</strong> />

têxtil e cerâmica do estado.<<strong>br</strong> />

Produtos pecuários: direto ao<<strong>br</strong> />

consumidor.<<strong>br</strong> />

Produtos apícolas:<<strong>br</strong> />

atravessadores que reven<strong>de</strong>m<<strong>br</strong> />

aos mercados internacionais sem<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> origem<<strong>br</strong> />

Produtos pesqueiros: consumo;<<strong>br</strong> />

atravessador para revenda local.<<strong>br</strong> />

Produtos florestais: consumo;<<strong>br</strong> />

atravessador para revenda local.<<strong>br</strong> />

Produtos pecuários: direto ao<<strong>br</strong> />

consumidor.<<strong>br</strong> />

Quem <strong>de</strong>termina o<<strong>br</strong> />

preço <strong>de</strong> venda<<strong>br</strong> />

dos <strong>pro</strong>dutos<<strong>br</strong> />

Determinado pelo<<strong>br</strong> />

valor <strong>de</strong> mercado ou<<strong>br</strong> />

a cargo do<<strong>br</strong> />

atravessador<<strong>br</strong> />

Determinado pelo<<strong>br</strong> />

valor <strong>de</strong> mercado<<strong>br</strong> />

Atravessador<<strong>br</strong> />

Determinado pelo<<strong>br</strong> />

valor <strong>de</strong> mercado<<strong>br</strong> />

66


Apesar <strong>de</strong> Ibimirim se <strong>de</strong>stacar como um gran<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutor apícola do Estado <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Pernambuco, chegando a cerca <strong>de</strong> 150 toneladas <strong>de</strong> mel por ano, toda a <strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ixa o município sem rotulação e i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> origem e são comercializados com<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das empresas nacionais atravessadoras dos estados do Rio Gran<strong>de</strong> do<<strong>br</strong> />

Norte, Ceará e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul que rebeneficiam e reven<strong>de</strong>m o <strong>pro</strong>duto para os<<strong>br</strong> />

países europeus e para os Estados Unidos.<<strong>br</strong> />

Devido a maior diversificação da <strong><strong>pro</strong>dução</strong>, os agricultores tradicionais e<<strong>br</strong> />

extrativistas florestais, bem como os pescadores, comercializam um elenco maior <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutos ao longo <strong>de</strong> todo o ano. Vale salientar que instrumentos <strong>de</strong> fortalecimento da<<strong>br</strong> />

agricultura familiar, como a venda direta do <strong>pro</strong>duto e a diversida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva são<<strong>br</strong> />

encontradas apenas para esses grupos.<<strong>br</strong> />

Não foram i<strong>de</strong>ntificadas entre os grupos, formas <strong>de</strong> agregar valor aos <strong>pro</strong>dutos<<strong>br</strong> />

agrícolas, florestais, apícolas ou pesqueiros. Contudo, a maioria dos entrevistados<<strong>br</strong> />

mencionou que a venda direta do <strong>pro</strong>duto ao consumidor po<strong>de</strong>ria significar um<<strong>br</strong> />

aumento expressivo na renda familiar e conseqüentemente na melhoria da qualida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> vida da família.<<strong>br</strong> />

A agregação <strong>de</strong> valor por meio do beneficiamento, uma prática já bastante<<strong>br</strong> />

difundida entre os <strong>sistemas</strong> agroecológicos, em especial os <strong>sistemas</strong> agroflorestais,<<strong>br</strong> />

representa uma medida <strong>de</strong> viabilização da agricultura familiar, tanto pela <strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

caseira individual, quanto pela organização coletiva, grupal ou em cooperativa. No<<strong>br</strong> />

entanto, May e Trovatto (2008) advertiram que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado como pré-<<strong>br</strong> />

condição, a organização coletiva, para que sejam asseguradas economias <strong>de</strong> escala.<<strong>br</strong> />

Alguns autores como Bonilla (1992), e Primavesi (1997), lem<strong>br</strong>aram que a<<strong>br</strong> />

agregação <strong>de</strong> valor com as ativida<strong>de</strong>s agrícolas e pecuárias também se dá pela<<strong>br</strong> />

ocupação <strong>de</strong> nichos <strong>de</strong> mercado, como, por exemplo, a <strong>de</strong>manda por <strong>pro</strong>dutos<<strong>br</strong> />

ecológicos, orgânicos, diferenciados ou <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> artesanal.<<strong>br</strong> />

No tocante aos recursos florestais, Brasil (2008) afirmou que o beneficiamento<<strong>br</strong> />

e comercialização <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos não ma<strong>de</strong>ireiros po<strong>de</strong>m garantir a so<strong>br</strong>evivência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

muitas famílias no sertão nor<strong>de</strong>stino. Dessa forma os <strong>pro</strong>dutos artesanais oriundos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

palha, os doces e outros <strong>pro</strong>dutos beneficiados a partir <strong>de</strong> frutos regionais, óleos e<<strong>br</strong> />

tanino, po<strong>de</strong>m constituir importantes <strong>pro</strong>dutos para impulsionar a economia local.<<strong>br</strong> />

Quanto a apicultura, não foi verificado o a<strong>pro</strong>veitamento <strong>de</strong> outros <strong>pro</strong>dutos<<strong>br</strong> />

apícolas diretos como pólen, própolis, geléia real, cera e apitoxina (veneno da abelha),<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutos esses que po<strong>de</strong>riam agregar valor à toda ca<strong>de</strong>ia <strong>pro</strong>dutiva e conferir<<strong>br</strong> />

vantagens econômicas <strong>de</strong>vido aos maiores preços alcançados no mercado, quando<<strong>br</strong> />

comparados ao mel.<<strong>br</strong> />

67


3.1.5.1. Renda familiar<<strong>br</strong> />

Com relação à geração <strong>de</strong> renda a partir da comercialização da <strong><strong>pro</strong>dução</strong>, foi<<strong>br</strong> />

possível constatar que apesar <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s rurais <strong>pro</strong>dutivas terem<<strong>br</strong> />

contribuído em maior ou menor grau para o incremento da renda familiar, a apicultura<<strong>br</strong> />

foi a ativida<strong>de</strong>, em si, mais rentável, seguida da agricultura irrigada (Tabela 16).<<strong>br</strong> />

Tabela 16: Fonte <strong>de</strong> renda da ocupação agrícola das famílias dos agricultores/as <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Irrigantes<<strong>br</strong> />

Tradicionais e<<strong>br</strong> />

Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

Agricultura<<strong>br</strong> />

R$/ha/ano<<strong>br</strong> />

800,00 a<<strong>br</strong> />

6.000,00<<strong>br</strong> />

120,00 a<<strong>br</strong> />

2.400,00<<strong>br</strong> />

Pecuária<<strong>br</strong> />

R$/ano<<strong>br</strong> />

Lenha e<<strong>br</strong> />

Ma<strong>de</strong>ira<<strong>br</strong> />

R$/ano<<strong>br</strong> />

Ativida<strong>de</strong>s rentáveis<<strong>br</strong> />

Florestal<<strong>br</strong> />

Carvão<<strong>br</strong> />

R$/ano<<strong>br</strong> />

Intervalo<<strong>br</strong> />

Apiculltura<<strong>br</strong> />

R$/ano<<strong>br</strong> />

Pesca<<strong>br</strong> />

R$/ano<<strong>br</strong> />

6.000,00 0 0 0 0<<strong>br</strong> />

150,00 a<<strong>br</strong> />

4.800,00<<strong>br</strong> />

280,00 a<<strong>br</strong> />

4.300,00<<strong>br</strong> />

1.200,00<<strong>br</strong> />

a<<strong>br</strong> />

5.400,00<<strong>br</strong> />

Apicultores 0 0 0 0<<strong>br</strong> />

Pescadores 0<<strong>br</strong> />

não<<strong>br</strong> />

souberam<<strong>br</strong> />

estimar<<strong>br</strong> />

0<<strong>br</strong> />

240,00 a<<strong>br</strong> />

120,00<<strong>br</strong> />

0 0<<strong>br</strong> />

4.800,00<<strong>br</strong> />

a<<strong>br</strong> />

14.400,00<<strong>br</strong> />

0<<strong>br</strong> />

0<<strong>br</strong> />

2.400,00<<strong>br</strong> />

a<<strong>br</strong> />

5.280,00<<strong>br</strong> />

*Médias calculadas a partir dos valores informados pelos agricultores, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da somatória por ativida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

** Valor do dólar comercial em 01 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2010: 1,885<<strong>br</strong> />

TOTAL*<<strong>br</strong> />

com todas<<strong>br</strong> />

as<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

R$/ano<<strong>br</strong> />

4.800,00<<strong>br</strong> />

a<<strong>br</strong> />

24.00,00<<strong>br</strong> />

200,00 a<<strong>br</strong> />

13.800,00<<strong>br</strong> />

4.800,00<<strong>br</strong> />

a<<strong>br</strong> />

14.400,00<<strong>br</strong> />

2.400,00<<strong>br</strong> />

a<<strong>br</strong> />

5.280,00<<strong>br</strong> />

A comercialização da agricultura tradicional é, na maioria das vezes, restrita<<strong>br</strong> />

apenas aos exce<strong>de</strong>ntes da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> obtida durante os três meses <strong>de</strong> chuva no ano.<<strong>br</strong> />

Como conseqüência, foi no grupo <strong>de</strong> agricultores tradicionais, on<strong>de</strong> foi percebida a<<strong>br</strong> />

integração <strong>de</strong> um maior número <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s rurais rentáveis. Ressalta-se que apesar<<strong>br</strong> />

da agricultura tradicional muitas vezes não gerar renda monetária a partir da<<strong>br</strong> />

comercialização agrícola, o consumo da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> acarreta na diminuição das<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>spesas alimentícias, refletindo numa significativa economia na renda familiar. Esta<<strong>br</strong> />

renda não monetária (<strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong>stinada para o auto consumo) po<strong>de</strong> ser um<<strong>br</strong> />

indicativo da sustentabilida<strong>de</strong> quanto a segurança e soberania alimentar para a<<strong>br</strong> />

agricultura familiar.<<strong>br</strong> />

A renda anual alcançada com a pesca foi estimada consi<strong>de</strong>rando-se também<<strong>br</strong> />

os 4 meses do seguro <strong>de</strong>semprego do pescador artesanal, referentes ao salário<<strong>br</strong> />

mínimo pela paralisação da ativida<strong>de</strong>. Sendo assim, o montante anual sofreu sensível<<strong>br</strong> />

68


aumento, uma vez que a renda mensal obtida pelo exercício pleno da ativida<strong>de</strong> atinge<<strong>br</strong> />

valores inferiores a um salário.<<strong>br</strong> />

A pecuária tem funcionado como uma poupança para a família, garantindo<<strong>br</strong> />

renda nos períodos em que as outras ativida<strong>de</strong>s não atingem rendimentos<<strong>br</strong> />

satisfatórios.<<strong>br</strong> />

As variações no rendimento anual entre as famílias <strong>de</strong> um mesmo grupo e<<strong>br</strong> />

entre os grupos se <strong>de</strong>ram por diferentes fatores, quer pela organização familiar <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

trabalho e da <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>, quer pela ativida<strong>de</strong> em si. Os principais fatores <strong>de</strong>stacados<<strong>br</strong> />

foram:<<strong>br</strong> />

Variação entre famílias <strong>de</strong> um mesmo grupo<<strong>br</strong> />

- A renda gerada pela agricultura em 1 ha <strong>de</strong> terra, varia conforme a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

plantio durante o ano, mão <strong>de</strong> o<strong>br</strong>a envolvida (familiar ou externa), e número <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

familiares <strong>pro</strong>duzindo no mesmo ha.<<strong>br</strong> />

- A pecuária varia com relação a quantida<strong>de</strong> e o tipo <strong>de</strong> animal criado. Valores<<strong>br</strong> />

superiores <strong>de</strong> comercialização são alcançados pela bovinocultura.<<strong>br</strong> />

- O carvão alcança maior rendimento econômico quando <strong>pro</strong>duzido com periodicida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

regular, porém, foi comum encontrar entre as famílias, a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> restrita à poucos<<strong>br</strong> />

meses no ano, com o objetivo apenas <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda em períodos em que as<<strong>br</strong> />

outras ativida<strong>de</strong>s não atingiram rendimentos satisfatórios.<<strong>br</strong> />

- A comercialização <strong>de</strong> lenha e ma<strong>de</strong>ira teve os menores valores associados à prática<<strong>br</strong> />

do manejo florestal, uma vez que as reduzidas áreas previstas no plano <strong>de</strong> manejo<<strong>br</strong> />

são muitas vezes insuficientes para aten<strong>de</strong>r ao elevado número <strong>de</strong> famílias<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da ativida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

- Os maiores valores alcançados pela pesca, estiveram associados ao maior número<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> pessoas da família <strong>de</strong>senvolvendo a ativida<strong>de</strong> e beneficiadas pelo auxílio<<strong>br</strong> />

governamental durante a piracema.<<strong>br</strong> />

Variação entre grupos<<strong>br</strong> />

- A agricultura irrigada, permite <strong><strong>pro</strong>dução</strong> durante todo ano, enquanto a agricultura <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

sequeiro praticada pelos agricultores tradicionais está reduzida a poucos meses do<<strong>br</strong> />

ano.<<strong>br</strong> />

- Os agricultores tradicionais e pescadores recorrem a duas ou mais ativida<strong>de</strong>s rurais<<strong>br</strong> />

remuneradas.<<strong>br</strong> />

- Os apicultores não recorrem a mais <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> rural remunerada.<<strong>br</strong> />

69


- Há uma relação positiva entre as variáveis renda x escolarida<strong>de</strong>. Para os grupos<<strong>br</strong> />

on<strong>de</strong> foi verificado a maior escolarida<strong>de</strong>, ou um maior nível <strong>de</strong> instrução (apicultores e<<strong>br</strong> />

irrigantes), foi encontrado também as maiores rendas <strong>pro</strong>venientes do<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s rurais.<<strong>br</strong> />

Todas as famílias possuem alguma renda externa à <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> ou à ativida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

rural, sendo essas consi<strong>de</strong>radas mais significativas para o sustento da família por<<strong>br</strong> />

6,7% dos irrigantes, 44, 8% dos agricultores tradicionais e florestais e 60% dos<<strong>br</strong> />

apicultores.<<strong>br</strong> />

As principais rendas extras para o grupo <strong>de</strong> irrigantes e <strong>de</strong> apicultores esteve<<strong>br</strong> />

associada à ocupações não rurais assalariadas, para o grupo <strong>de</strong> agricultores<<strong>br</strong> />

tradicionais e florestais, à aposentadoria rural e à auxílios governamentais como o<<strong>br</strong> />

bolsa família. Para os pescadores, a bolsa família e as diárias oriundas do trabalho<<strong>br</strong> />

rural em outras <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s assumem um importante papel na economia familiar<<strong>br</strong> />

(Tabela 17).<<strong>br</strong> />

Tabela 17: Fonte <strong>de</strong> renda extra das famílias <strong>de</strong> agricultores/as <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Aposentadoria<<strong>br</strong> />

rural<<strong>br</strong> />

Diárias<<strong>br</strong> />

ocupação rural<<strong>br</strong> />

externa a UP<<strong>br</strong> />

Renda familiar<<strong>br</strong> />

Salário<<strong>br</strong> />

ocupação não<<strong>br</strong> />

rural<<strong>br</strong> />

Bolsa Família Pensão<<strong>br</strong> />

Irrigantes 26,7 0,0 46,7 20,0 0,0<<strong>br</strong> />

Tradicionais e<<strong>br</strong> />

Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

44,8 27,6 31,0 44,8 13,8<<strong>br</strong> />

Apicultores 20,0 0,0 100,0 20,0 0,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 33,3 50,0 33,3 66,7 16,7<<strong>br</strong> />

As <strong>de</strong>spesas com as diferentes ativida<strong>de</strong>s rurais estão vinculadas<<strong>br</strong> />

principalmente a contratação <strong>de</strong> trabalhador diarista. A agricultura tradicional, o<<strong>br</strong> />

extrativismo e a pesca são ocupações <strong>de</strong> baixos investimentos e custos operacionais.<<strong>br</strong> />

As <strong>de</strong>spesas com a família estão associadas em especial à alimentação e à saú<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Para os agricultores tradicionais, as <strong>de</strong>spesas com alimentação são reduzidas, uma<<strong>br</strong> />

vez que a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agrícola muitas vezes é suficiente para o abastecimento familiar<<strong>br</strong> />

(Quadro 6).<<strong>br</strong> />

70


Quadro 6: Principais <strong>de</strong>spesas com a ativida<strong>de</strong> e com a família <strong>de</strong> trabalhadores/as<<strong>br</strong> />

rurais <strong>de</strong> Ibimirim – PE.<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

IRRIGAÇÃO<<strong>br</strong> />

TRADICIONAL<<strong>br</strong> />

E<<strong>br</strong> />

EXTRATIVISMO<<strong>br</strong> />

FLORESTAL<<strong>br</strong> />

Principais <strong>de</strong>spesas da ativida<strong>de</strong> rural<<strong>br</strong> />

e da UP<<strong>br</strong> />

Insumos agroquímicos, trabalhador<<strong>br</strong> />

diarista, taxa <strong>de</strong> água e energia elétrica<<strong>br</strong> />

A maioria não tem <strong>de</strong>spesas diretas;<<strong>br</strong> />

Uma pequena parte dos informantes tem<<strong>br</strong> />

algum gasto com trabalhador diarista e<<strong>br</strong> />

com insumos agrícolas<<strong>br</strong> />

APICULTURA Trabalhador diarista e transporte<<strong>br</strong> />

PESCA<<strong>br</strong> />

Manutenção dos equipamentos <strong>de</strong> pesca<<strong>br</strong> />

e embarcação<<strong>br</strong> />

Principais <strong>de</strong>spesas da família<<strong>br</strong> />

Alimentação, saú<strong>de</strong> e transporte<<strong>br</strong> />

Alimentação e saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Alimentação, saú<strong>de</strong>, vestuários, luz,<<strong>br</strong> />

educação e transporte<<strong>br</strong> />

Alimentação e saú<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

No que se refere a recorrência à créditos ou financiamentos, ainda é reduzido<<strong>br</strong> />

entre os <strong>pro</strong>dutores, a <strong>pro</strong>cura pelos créditos rurais como o oferecido pelo Programa<<strong>br</strong> />

Nacional <strong>de</strong> Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) (Tabela 18). Algumas<<strong>br</strong> />

famílias alegaram terem <strong>pro</strong>curado auxílios financeiros, sem obterem êxito.<<strong>br</strong> />

Tabela 18: Recorrência das famílias <strong>de</strong> agricultores/as <strong>de</strong> Ibimirim – PE a créditos<<strong>br</strong> />

rurais ou empréstimos financeiros<<strong>br</strong> />

Grupos<<strong>br</strong> />

Nunca recorreu<<strong>br</strong> />

à créditos ou<<strong>br</strong> />

empréstimos<<strong>br</strong> />

Crédito PRONAF<<strong>br</strong> />

Recorrência à crédito<<strong>br</strong> />

Outro crétido<<strong>br</strong> />

rural<<strong>br</strong> />

Empréstimos em<<strong>br</strong> />

bancos locais<<strong>br</strong> />

Empréstimos<<strong>br</strong> />

com familiares<<strong>br</strong> />

ou amigos<<strong>br</strong> />

Irrigantes 20,0 40,0 26,7 20,0 13,3<<strong>br</strong> />

Tradicionais e<<strong>br</strong> />

Extrativistas<<strong>br</strong> />

Florestais<<strong>br</strong> />

(%)<<strong>br</strong> />

24,1 44,8 10,3 17,2 10,3<<strong>br</strong> />

Apicultores 20,0 0,0 80,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

Pescadores 66,7 33,3 0,0 0,0 0,0<<strong>br</strong> />

71


3.2. O USO DOS RECURSOS FLORESTAIS DA CAATINGA<<strong>br</strong> />

Os principais usos da vegetação da Caatinga pelos agricultores são a extração<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos ma<strong>de</strong>ireiros das espécies florestais, a forragem a partir dos pastos<<strong>br</strong> />

nativos, a apicultura a partir da vegetação natural, o extrativismo <strong>de</strong> frutos e a coleta<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> plantas medicinais (Figura 15).<<strong>br</strong> />

Figura 15: Indicação do uso das espécies florestais da Caatinga pelos agricultores<<strong>br</strong> />

locais<<strong>br</strong> />

As espécies florestais ma<strong>de</strong>ireiras foram as mais mencionadas entre os<<strong>br</strong> />

informantes sendo empregadas principalmente como lenha ou carvão para consumo<<strong>br</strong> />

doméstico.<<strong>br</strong> />

Do total <strong>de</strong> 39 espécies citadas com diferentes categorias <strong>de</strong> usos, o angico<<strong>br</strong> />

(Ana<strong>de</strong>nanthera colu<strong>br</strong>ina var. cebil) foi a que obteve um maior número <strong>de</strong> aplicações<<strong>br</strong> />

(ma<strong>de</strong>ireira, forrageira, apícola e medicinal) seguida da baraúna (Schinopsis<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>asiliensis), com uso ma<strong>de</strong>ireiro apícola e medicinal; da catingueira (Poincianella<<strong>br</strong> />

spp.) com emprego ma<strong>de</strong>ireiro, forrageiro e apícola, do mororó (Bauhinia acuruana)<<strong>br</strong> />

utilizada como ma<strong>de</strong>ireiro, forrageiro e medicinal, do pinhão (Jatropha mutabilis) como<<strong>br</strong> />

ma<strong>de</strong>ireira (estaca ver<strong>de</strong>), apícola e medicinal e do quipembe (Pityrocarpa<<strong>br</strong> />

moniliformis) usada como ma<strong>de</strong>ireira, forrageira e apícola.<<strong>br</strong> />

72


Resultados semelhantes foram obtidos por Ferraz et al. (2005) em estudo<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e o conhecimento <strong>de</strong> espécies úteis da Caatinga em Floresta, município<<strong>br</strong> />

pernambucano vizinho a Ibimirim. Os autores encontram 34 espécies lenhosas sendo<<strong>br</strong> />

empregadas na alimentação, em construções domésticas e rurais, como combustível<<strong>br</strong> />

(lenha e carvão), forragem para o gado, como medicinais, em tecnologia e em usos<<strong>br</strong> />

não ma<strong>de</strong>ireiros <strong>de</strong> outros tipos. Para este estudo, a espécie associada ao maior<<strong>br</strong> />

número <strong>de</strong> categorias <strong>de</strong> uso também foi o angico (Ana<strong>de</strong>nanthera colu<strong>br</strong>ina).<<strong>br</strong> />

Em levantamento so<strong>br</strong>e o uso dos recursos florestais por uma comunida<strong>de</strong> na<<strong>br</strong> />

Caatinga do Agreste Pernambucano, Albuquerque e Andra<strong>de</strong> (2002), relataram 57<<strong>br</strong> />

espécies arbóreas e arbustivas sendo utilizadas como fonte primária <strong>de</strong> recursos pela<<strong>br</strong> />

população local, sendo o umbu (Spondias tuberosa), a mais citada entre os<<strong>br</strong> />

informantes. Os autores levantaram a hipótese <strong>de</strong> que as comunida<strong>de</strong>s que vivem no<<strong>br</strong> />

entorno <strong>de</strong> florestas secas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m mais <strong>de</strong> árvores e caules como <strong>pro</strong>dutos úteis,<<strong>br</strong> />

uma vez que o conhecimento etnobotânico, aprendido nas relações <strong>de</strong> observação e<<strong>br</strong> />

interação com o ambiente natural, é <strong>pro</strong>duto do intelecto humano como resposta direta<<strong>br</strong> />

às suas necessida<strong>de</strong>s frente a estímulos <strong>de</strong> natureza diversa.<<strong>br</strong> />

Em regiões semiáridas do nor<strong>de</strong>ste <strong>br</strong>asileiro, Santos et al. (2008), utilizando<<strong>br</strong> />

estudos fitossociológicos preliminares <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> Caatinga, encontraram que das 225<<strong>br</strong> />

espécies nativas registradas em diferentes áreas (espécies <strong>de</strong> ampla distribuição, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

distribuição intermediária e distribuição restrita), 122 foram consi<strong>de</strong>radas uteis pela<<strong>br</strong> />

população, estando as principais categorias <strong>de</strong> usos relacionadas a ma<strong>de</strong>ira para<<strong>br</strong> />

construção e ao uso medicinal.<<strong>br</strong> />

3.2.1. Uso ma<strong>de</strong>ireiro<<strong>br</strong> />

Foram citadas ao todo 24 espécies nativas para fins ma<strong>de</strong>ireiros. Em geral, a<<strong>br</strong> />

ma<strong>de</strong>ira é usada como lenha, carvão e estacas para cerca. Outros usos relatados bem<<strong>br</strong> />

como a i<strong>de</strong>ntificação botânica das espécies estão <strong>de</strong>scritos na Tabela 19.<<strong>br</strong> />

As espécies ma<strong>de</strong>ireiras pertencem a oito famílias botânicas, <strong>de</strong>ntre as quais a<<strong>br</strong> />

Fabaceae foi a melhor representada. Das espécies mencionadas, três não foram<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ntificadas.<<strong>br</strong> />

As mais citadas entre os informantes foram o quipembe (Pityrocarpa<<strong>br</strong> />

moniliformis) e a catingueira (Poincianella spp.), seguidas do pereiro (Aspidosperma<<strong>br</strong> />

pyrifolium), angico (Ana<strong>de</strong>nanthera colu<strong>br</strong>ina) e jurema <strong>de</strong> imbira (Mimosa<<strong>br</strong> />

ophtalmocentra).<<strong>br</strong> />

73


Tabela 19: Lista das espécies ma<strong>de</strong>ireiras da Caatinga usadas pelos/as<<strong>br</strong> />

agricultores/as <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Nome popular Família e Nome Científico<<strong>br</strong> />

Anacardiaceae<<strong>br</strong> />

Usos local<<strong>br</strong> />

Aroeira Myracrodruon urun<strong>de</strong>uva Fr Allemão Estaca e vara para cerca; carvão<<strong>br</strong> />

Barauna Schinopsis <strong>br</strong>asiliensis Engl.<<strong>br</strong> />

Apocynaceae<<strong>br</strong> />

Excelente ma<strong>de</strong>ira para cercas (estacas<<strong>br</strong> />

e varas); carpintaria; construção e carvão<<strong>br</strong> />

Boa durabilida<strong>de</strong> para o uso como estaca<<strong>br</strong> />

Pereiro Aspidosperma pyrifolium Mart.<<strong>br</strong> />

Arecaceae<<strong>br</strong> />

e vara para cerca; fa<strong>br</strong>icação <strong>de</strong> carro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

boi, carroça; movelaria em geral<<strong>br</strong> />

Ouricuri Syagrus coronata (Mart.) Becc.<<strong>br</strong> />

Bignoniaceae<<strong>br</strong> />

Palha usada para cobertura <strong>de</strong> casas<<strong>br</strong> />

Ipê Tabebuia sp.<<strong>br</strong> />

Burseraceae<<strong>br</strong> />

Ma<strong>de</strong>ira para casa e construção<<strong>br</strong> />

Imburana <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

cambão<<strong>br</strong> />

Commiphora leptophloeos (Mart.)<<strong>br</strong> />

J.B. Gillett<<strong>br</strong> />

Euphorbiaceae<<strong>br</strong> />

Usada par fa<strong>br</strong>icação <strong>de</strong> carro <strong>de</strong> boi,<<strong>br</strong> />

carroça, barco, lastro <strong>de</strong> canoa, portas<<strong>br</strong> />

(tábuas) e carpintaria em geral.<<strong>br</strong> />

Marmeleiro Croton blanchetianus Baill. Lenha<<strong>br</strong> />

Pinhão Jatropha mutabilis (Pohl) Baill.<<strong>br</strong> />

Fabaceae<<strong>br</strong> />

Estaca ver<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Angico<<strong>br</strong> />

Ana<strong>de</strong>nanthera colu<strong>br</strong>ina var. cebil<<strong>br</strong> />

(Griseb.) Altschul<<strong>br</strong> />

Estaca e vara para cerca; carvão<<strong>br</strong> />

Catingueira<<strong>br</strong> />

Poincianella <strong>br</strong>acteosa (Tul.)<<strong>br</strong> />

L.P.Queiroz<<strong>br</strong> />

Consi<strong>de</strong>rada uma das melhores ma<strong>de</strong>iras<<strong>br</strong> />

e mais utilizadas como lenha na região;<<strong>br</strong> />

carvão<<strong>br</strong> />

Catingueira Poincianella microphylla Cham.<<strong>br</strong> />

Estaca e vara para cerca; excelente<<strong>br</strong> />

ma<strong>de</strong>ira para carvão.<<strong>br</strong> />

Catingueira<<strong>br</strong> />

rasteira<<strong>br</strong> />

Poincianella gardneriana (Benth.)<<strong>br</strong> />

L.P.Queiroz<<strong>br</strong> />

Cerca; excelente ma<strong>de</strong>ira para carvão<<strong>br</strong> />

Jurema Mimosa sp.<<strong>br</strong> />

Carvão; ma<strong>de</strong>ira para construção; estaca<<strong>br</strong> />

para cerca<<strong>br</strong> />

Jurema cavador<<strong>br</strong> />

Senegalia langsdorffii (Benth.)<<strong>br</strong> />

Seigler & Ebinger<<strong>br</strong> />

Lenha<<strong>br</strong> />

Mimosa ophtalmocentra Mart. ex<<strong>br</strong> />

Jurema <strong>de</strong> imbira<<strong>br</strong> />

Benth.<<strong>br</strong> />

Lenha; muito resistente como estaca<<strong>br</strong> />

para cerca; construção<<strong>br</strong> />

Jurema preta Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir Lenha; estaca para cerca<<strong>br</strong> />

Mororó Bauhinia acuruana Moric. Lenha; estaca para cerca<<strong>br</strong> />

Estaca e vara para cerca, consi<strong>de</strong>rada a<<strong>br</strong> />

Pau <strong>br</strong>anco Poeppigia <strong>pro</strong>cera C. Presl<<strong>br</strong> />

melhor ma<strong>de</strong>ira para essa finalida<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />

segundo alguns informantes<<strong>br</strong> />

Pau ferro<<strong>br</strong> />

Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.)<<strong>br</strong> />

L.P.Queiroz<<strong>br</strong> />

Carvão; estaca e vara para cerca<<strong>br</strong> />

Quipembe<<strong>br</strong> />

Pityrocarpa moniliformis (Benth.)<<strong>br</strong> />

Luckow & Jobson<<strong>br</strong> />

Rutaceae<<strong>br</strong> />

Lenha; carvão; estaca e vara para cerca<<strong>br</strong> />

Cocão Balfouro<strong>de</strong>ndron molle (Miq.) Pirani Usada para cabo <strong>de</strong> vassouras<<strong>br</strong> />

Angico <strong>de</strong> caroço Não i<strong>de</strong>ntificada<<strong>br</strong> />

Ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, usada para<<strong>br</strong> />

fa<strong>br</strong>icação <strong>de</strong> carro <strong>de</strong> boi, esteio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

casa; estaca para cerca; casca usada<<strong>br</strong> />

para curtume.<<strong>br</strong> />

Angico manjola Não i<strong>de</strong>ntificada Ma<strong>de</strong>ira boa para estaca<<strong>br</strong> />

Sacatinga Não i<strong>de</strong>ntificada Estaca e vara para cerca<<strong>br</strong> />

74


Para a Caatinga do entorno <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> no agreste pernambucano,<<strong>br</strong> />

Albuquerque e Andra<strong>de</strong> (2002) encontraram 13 espécies, <strong>de</strong> um elenco <strong>de</strong> 75<<strong>br</strong> />

espécies, sendo relatadas pela população local com finalida<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ireira, em especial<<strong>br</strong> />

empregadas na fa<strong>br</strong>icação <strong>de</strong> carvão ou estacas para cerca. As espécies mais<<strong>br</strong> />

apreciadas para essa finalida<strong>de</strong>, segundo esta pesquisa, foram a jurema preta<<strong>br</strong> />

(Mimosa tenuiflora) e o angico monjolo (Pipta<strong>de</strong>nia zehntneri Harms).<<strong>br</strong> />

Ferraz et al. (2006) para estudo com comunida<strong>de</strong>s em Floresta, PE, relataram<<strong>br</strong> />

13 espécies da Caatinga com emprego energético (lenha e carvão), 13 espécies<<strong>br</strong> />

utilizadas em construções rurais e 15 em construções domésticas.<<strong>br</strong> />

Gran<strong>de</strong> parte das espécies ma<strong>de</strong>ireira mencionadas pelos agricultores <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Ibimirim, estão <strong>de</strong>scritas por Figuerôa et. al (2005) como espécies nativas <strong>de</strong> elevado<<strong>br</strong> />

potencial ma<strong>de</strong>ireiro para da região nor<strong>de</strong>ste. Em estudo, esses autores selecionaram<<strong>br</strong> />

17 espécies florestais da caatinga <strong>de</strong> alto valor para a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, seis <strong>de</strong>las<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> altíssima priorida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre as quais apenas o sabiá não foi citado como sendo<<strong>br</strong> />

utilizada na região: Ana<strong>de</strong>nanthera colu<strong>br</strong>ina (angico), Commiphora leptophloeos<<strong>br</strong> />

(imburana <strong>de</strong> cambão), Mimosa caesalpiniifolia (sabiá), Myracrodruon urun<strong>de</strong>uva<<strong>br</strong> />

(aroeira), Schinopsis <strong>br</strong>asiliensis (baraúna) e Tabebuia impetiginosa (ipê roxo).<<strong>br</strong> />

3.2.2. Uso forrageiro<<strong>br</strong> />

Foram mencionadas um total <strong>de</strong> 17 espécies forrageiras consumidas<<strong>br</strong> />

espontaneamente pelos rebanhos <strong>de</strong> caprinos, ovinos e bovinos da região (Tabela<<strong>br</strong> />

20). As forrageiras estão distribuídas em cinco famílias, <strong>de</strong>ntre as quais obtiveram<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>staque a Fabaceae e Euphorbiaceae.<<strong>br</strong> />

Para a pesquisa <strong>de</strong> Ferraz et al. (2006), as espécies forrageiras foram as mais<<strong>br</strong> />

citadas entre os entrevistados (25 espécies), <strong>pro</strong>vavelmente <strong>de</strong>vido a forte tradição na<<strong>br</strong> />

criação <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> pastoreio nas regiões semi-áridas.<<strong>br</strong> />

Segundo BATISTA et al. (2005) em torno <strong>de</strong> 70% das espécies da caatinga<<strong>br</strong> />

encontradas nos estratos, herbáceo, arbustivo e arbóreo, participam da dieta dos<<strong>br</strong> />

ruminantes. A composição botânica da alimentação forrageira é bem diversificada e<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong> variar em função da espécie animal e da época do ano.<<strong>br</strong> />

As espécies mais citadas pelos informantes foram o quipembe (Pityrocarpa<<strong>br</strong> />

moniliformis), seguido da jurema (Mimosa spp.), quixabeira (Erytroxylum sp.),<<strong>br</strong> />

catingueira (Poincianella spp.), mororó (Bauhinia acuruana) e maniçoba (Manihot<<strong>br</strong> />

glaziovii). As espécies como o mororó, a jurema e a catingueira também foram<<strong>br</strong> />

incluídas por BATISTA et. al. (2005) entre as <strong>de</strong>z espécies forrageiras com maior<<strong>br</strong> />

75


participação na dieta <strong>de</strong> caprinos e ovinos sob pastejo nas áreas <strong>de</strong> caatinga em Serra<<strong>br</strong> />

Talhada, PE.<<strong>br</strong> />

Tabela 20: Lista das espécies forrageiras da Caatinga usadas na alimentação dos<<strong>br</strong> />

rebanhos <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Nome popular Família e Nome Científico<<strong>br</strong> />

Anacardiaceae<<strong>br</strong> />

Uso local<<strong>br</strong> />

Aroeira Myracrodruon urun<strong>de</strong>uva Fr Allemão Forrageiro<<strong>br</strong> />

Erythroxylaceae<<strong>br</strong> />

Quixabeira Erytroxylum sp.<<strong>br</strong> />

Euphorbiaceae<<strong>br</strong> />

Forrageiro<<strong>br</strong> />

Faveleira<<strong>br</strong> />

Cnidoscolus quercifolius (Müll. Arg.)<<strong>br</strong> />

Forrageiro<<strong>br</strong> />

Pax. & Hoffm.<<strong>br</strong> />

Maniçoba Manihot glaziovii Müll. Arg. Forrageiro<<strong>br</strong> />

Que<strong>br</strong>a faca Croton raminifolius H. B. K. Forrageiro<<strong>br</strong> />

Velame Croton sp. Forrageiro<<strong>br</strong> />

Catingueira<<strong>br</strong> />

Catingueira<<strong>br</strong> />

rasteira<<strong>br</strong> />

Fabaceae<<strong>br</strong> />

Poincianella <strong>br</strong>acteosa (Tul.)<<strong>br</strong> />

L.P.Queiroz<<strong>br</strong> />

Poincianella gardneriana (Benth.)<<strong>br</strong> />

L.P.Queiroz<<strong>br</strong> />

Uso forrageiro, mas o consumo das<<strong>br</strong> />

vagens em excesso po<strong>de</strong> levar o animal<<strong>br</strong> />

a morte<<strong>br</strong> />

Uso forrageiro, mas o consumo das<<strong>br</strong> />

vagens em excesso po<strong>de</strong> levar o animal<<strong>br</strong> />

a morte<<strong>br</strong> />

Jurema Mimosa sp. Forrageiro (consumo <strong>de</strong> folhas e vagens)<<strong>br</strong> />

Jurema <strong>br</strong>anca<<strong>br</strong> />

Pipta<strong>de</strong>nia stipulaceae (Benth.)<<strong>br</strong> />

Ducke<<strong>br</strong> />

Forrageiro<<strong>br</strong> />

Mimosa ophtalmocentra Mart. ex<<strong>br</strong> />

Jurema <strong>de</strong> imbira<<strong>br</strong> />

Benth.<<strong>br</strong> />

Forrageiro (consumo <strong>de</strong> folhas e vagens)<<strong>br</strong> />

Mororó Bauhinia acuruana Moric Forrageiro (consumo das vagens)<<strong>br</strong> />

Quipembe<<strong>br</strong> />

Pityrocarpa moniliformis (Benth.)<<strong>br</strong> />

Luckow & Jobson<<strong>br</strong> />

Rhamnaceae<<strong>br</strong> />

Forrageiro<<strong>br</strong> />

Juazeiro Ziziphus joazeiro Mart. Forrageiro<<strong>br</strong> />

Camaratu Não i<strong>de</strong>ntificada<<strong>br</strong> />

Forrageiro<<strong>br</strong> />

Carqueja Não i<strong>de</strong>ntificada Forrageiro<<strong>br</strong> />

Sacatinga Não i<strong>de</strong>ntificada Forrageiro<<strong>br</strong> />

A catingueira, o mororó, a maniçoba e a jurema também estão entre as<<strong>br</strong> />

espécies nativas indicadas pela Diaconia (2006) como as plantas forrageiras mais<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>missoras para formação <strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> <strong>pro</strong>teínas.<<strong>br</strong> />

Embora o consumo da catingueira tenha sido bastante <strong>de</strong>stacado entre os<<strong>br</strong> />

agricultores, alguns informantes observaram que o consumo excessivo das vagens<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ssa espécie po<strong>de</strong> levar os animais à morte.<<strong>br</strong> />

Albuquerque e Andra<strong>de</strong> (2002) relatam que a recorrência às espécies exóticas<<strong>br</strong> />

para suprir a necessida<strong>de</strong> dos animais nos longos períodos <strong>de</strong> seca, tem sido uma<<strong>br</strong> />

prática cada vez mais comum em regiões semi-áridas. A algaroba (Prosopis juliflora) e<<strong>br</strong> />

a palma forrageira (Opuntia ficus-indica Mill) tem se <strong>de</strong>stacado entre as comunida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

76


do agreste do estado. Da mesma forma, também foi verificado a adoção da algaroba<<strong>br</strong> />

na dieta dos ruminantes em Ibimirm, no entanto, como alimento complementar as<<strong>br</strong> />

espécies nativas.<<strong>br</strong> />

3.2.3. Uso apícola<<strong>br</strong> />

Foram registradas 15 espécies melíferas com florações visitadas pelas abelhas<<strong>br</strong> />

(Apis) na região (Tabela 21), pertencentes a sete famílias botânicas das quais a<<strong>br</strong> />

Fabaceae e Euphorbiaceae correspon<strong>de</strong>ram as que agruparam o maior número <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

citações.<<strong>br</strong> />

Tabela 21: Lista das espécies apícolas da Caatinga mencionadas pelos/as<<strong>br</strong> />

agricultores/as <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Nome popular Família e Nome Científico Uso local<<strong>br</strong> />

Anacardiaceae<<strong>br</strong> />

Barauna Schinopsis <strong>br</strong>asiliensis Engl. Floração apícola<<strong>br</strong> />

Apocynaceae<<strong>br</strong> />

Pereiro Aspidosperma pyrifolium Mart. Floração apícola<<strong>br</strong> />

Bignoniaceae<<strong>br</strong> />

Craibeira Tabebuia sp. Floração apícola<<strong>br</strong> />

Burseraceae<<strong>br</strong> />

Imburana <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

cambão<<strong>br</strong> />

Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B.<<strong>br</strong> />

Gillett<<strong>br</strong> />

Euphorbiaceae<<strong>br</strong> />

Floração apícola<<strong>br</strong> />

Faveleira<<strong>br</strong> />

Cnidoscolus quercifolius (Müll. Arg.) Pax. &<<strong>br</strong> />

Hoffm.<<strong>br</strong> />

Floração apícola<<strong>br</strong> />

Floração apícola mais abundante e<<strong>br</strong> />

Marmeleiro Croton blanchetianus Baill.<<strong>br</strong> />

mel <strong>de</strong> alto valor pela clareza:<<strong>br</strong> />

“hoje o <strong>de</strong>staque é o marmeleiro<<strong>br</strong> />

Pinhão Jatropha mutabilis (Pohl) Baill. Floração apícola<<strong>br</strong> />

Velame Croton sp.<<strong>br</strong> />

Fabaceae<<strong>br</strong> />

Floração apícola<<strong>br</strong> />

Angico<<strong>br</strong> />

Ana<strong>de</strong>nanthera colu<strong>br</strong>ina var. cebil<<strong>br</strong> />

(Griseb.) Altschul<<strong>br</strong> />

Floração apícola<<strong>br</strong> />

Catingueira Poincianella <strong>br</strong>acteosa (Tul.) L.P.Queiroz Floração apícola<<strong>br</strong> />

Catingueira Poincianella microphylla Cham. Floração apícola<<strong>br</strong> />

Catingueira<<strong>br</strong> />

rasteira<<strong>br</strong> />

Poincianella gardneriana (Benth.)<<strong>br</strong> />

L.P.Queiroz<<strong>br</strong> />

Floração<<strong>br</strong> />

Quipembe<<strong>br</strong> />

Pityrocarpa moniliformis (Benth.) Luckow &<<strong>br</strong> />

Jobson<<strong>br</strong> />

Rhamnaceae<<strong>br</strong> />

Floração apícola<<strong>br</strong> />

Juazeiro Ziziphus joazeiro Mart. Floração apícola<<strong>br</strong> />

Chumbinho<<strong>br</strong> />

Não i<strong>de</strong>ntificada<<strong>br</strong> />

Floração apícola<<strong>br</strong> />

77


As principais espécies do pasto apícola citadas pelos entrevistados foram o<<strong>br</strong> />

marmeleiro (Croton blanchetianus), o juazeiro (Ziziphus joazeiro), o pinhão (Jatropha<<strong>br</strong> />

mutabilis) e o velame (Croton sp.). Segundo as informações dos apicultores, a<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> mel apoai-se principalmente na floração do marmeleiro por ser essa a<<strong>br</strong> />

espécie mais abundante e a que possibilita a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> um mel <strong>de</strong> valor superior no<<strong>br</strong> />

mercado em função da clareza do <strong>pro</strong>duto.<<strong>br</strong> />

O juazeiro, a imburana <strong>de</strong> cambão, o angico e o quipembe também foram<<strong>br</strong> />

listadas por Santos et. al (2005) como espécies vitais para a apicultura no Nor<strong>de</strong>ste,<<strong>br</strong> />

merecendo segundo os autores, um tratamento diferenciado no manejo e no<<strong>br</strong> />

reflorestamento das áreas nas quais a apicultura ocupa um papel econômico e social<<strong>br</strong> />

relevante.<<strong>br</strong> />

3.2.4. Uso frutífero<<strong>br</strong> />

A única espécie usada no extrativismo dos frutos citada entre os informantes foi<<strong>br</strong> />

a Spondias tuberosa Arr. Câm. (umbuzeiro), pertencente à família Anacardiaceae.<<strong>br</strong> />

Entre as finalida<strong>de</strong>s do extrativismo do umbu, o consumo dos frutos foi<<strong>br</strong> />

mencionado pela quase totalida<strong>de</strong> dos informantes, e para algumas famílias ocupou<<strong>br</strong> />

ainda um importante papel como uma fonte <strong>de</strong> renda extra. O umbuzeiro também foi<<strong>br</strong> />

encontrado por Albuquerque e Andra<strong>de</strong> (2002), como uma espécie alimentícia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> relevância para o consumo e comercialização por uma comunida<strong>de</strong> no agreste<<strong>br</strong> />

do estado.<<strong>br</strong> />

Cavalcante e Resen<strong>de</strong> (2004) afirmaram que o umbuzeiro é uma fruteira <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> importância socioeconômica para as populações rurais do Semiárido<<strong>br</strong> />

nor<strong>de</strong>stino, pois sua safra po<strong>de</strong> constituir-se numa fonte <strong>de</strong> renda alternativa para os<<strong>br</strong> />

agricultores e como a principal ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a para as famílias<<strong>br</strong> />

rurais na época da colheita.<<strong>br</strong> />

O umbuzeiro integrou uma lista estabelecida por Ferreira et al. (2005) <strong>de</strong> 12<<strong>br</strong> />

fruteiras nativas do Nor<strong>de</strong>ste com gran<strong>de</strong> potencial econômico e altíssima priorida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

para estudos e incentivos. Os autores <strong>de</strong>stacaram que uma das maiores importâncias<<strong>br</strong> />

econômicas do umbu está na industrialização dos frutos para <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> polpa, mas<<strong>br</strong> />

que ele po<strong>de</strong> ser consumido <strong>de</strong> diversas formas seja in natura, sob forma <strong>de</strong> sucos,<<strong>br</strong> />

sorvetes, a bebidas ou ao leite (umbuzada). A industrialização e beneficiamento dos<<strong>br</strong> />

frutos incluem além da polpa para sucos, os doces, geléias, vinhos, vinagre, acetona,<<strong>br</strong> />

concentrado para sorvete, sucos engarrafados e passas (fruto seco ao sol).<<strong>br</strong> />

78


3.2.5. Uso medicinal<<strong>br</strong> />

O uso das plantas da Caatinga para fins medicinais foi relatado com freqüência<<strong>br</strong> />

entre os entrevistados. Foram citadas 14 espécies utilizadas no tratamento, cura e<<strong>br</strong> />

prevenção <strong>de</strong> doenças (Tabela 22). Das sete famílias botânicas, as melhores<<strong>br</strong> />

representadas correspon<strong>de</strong>ram à Fabaceae e Euphorbiaceae.<<strong>br</strong> />

Tabela 22: Lista das espécies medicinais da Caatinga mencionadas pelos/as<<strong>br</strong> />

agricultore/as <strong>de</strong> Ibimirim – PE<<strong>br</strong> />

Nome popular Família e Nome Científico<<strong>br</strong> />

Anacardiaceae<<strong>br</strong> />

Uso local<<strong>br</strong> />

Uso da casca e miolos para fazer chás –<<strong>br</strong> />

Aroeira Myracrodruon urun<strong>de</strong>uva Fr Allemão uso para “comidas que ofen<strong>de</strong>ram o<<strong>br</strong> />

estomago”<<strong>br</strong> />

Baraúna Schinopsis <strong>br</strong>asiliensis Engl.<<strong>br</strong> />

Bignoniaceae<<strong>br</strong> />

Usada no tratamento <strong>de</strong> fe<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

Craibeira Tabebuia sp.<<strong>br</strong> />

Burseraceae<<strong>br</strong> />

Lesões e “pancadas”<<strong>br</strong> />

Imburana <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

cambão<<strong>br</strong> />

Commiphora leptophloeos (Mart.)<<strong>br</strong> />

J.B. Gillett<<strong>br</strong> />

Erythroxylaceae<<strong>br</strong> />

Uso medicinal para gripe<<strong>br</strong> />

Quixabeira<<strong>br</strong> />

Erytroxylum sp.<<strong>br</strong> />

Euphorbiaceae<<strong>br</strong> />

Uso da casca para inflamações e<<strong>br</strong> />

“pancadas”<<strong>br</strong> />

Que<strong>br</strong>a faca Croton raminifolius H. B. K. Uso medicinal não especificado<<strong>br</strong> />

Faveleira<<strong>br</strong> />

Cnidoscolus quercifolius (Müll. Arg.)<<strong>br</strong> />

Pax. & Hoffm.<<strong>br</strong> />

Uso para pancadas e vermes “bicheiras”<<strong>br</strong> />

Pinhão Jatropha mutabilis (Pohl) Baill.<<strong>br</strong> />

Fabaceae<<strong>br</strong> />

Uso medicinal não especificado<<strong>br</strong> />

Angico<<strong>br</strong> />

Ana<strong>de</strong>nanthera colu<strong>br</strong>ina var. cebil<<strong>br</strong> />

(Griseb.) Altschul<<strong>br</strong> />

Casca com <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s cicatrizante<<strong>br</strong> />

Mororó Bauhinia acuruana Moric Chá da folha usado para afinar o sangue<<strong>br</strong> />

Pau-ferro<<strong>br</strong> />

Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.)<<strong>br</strong> />

L.P.Queiroz<<strong>br</strong> />

Verbenaceae<<strong>br</strong> />

Casca usada para “pancadas”<<strong>br</strong> />

Alecrim do mato Lippia microphylla Cham. Combate dores <strong>de</strong> cabeça<<strong>br</strong> />

Carqueja Não i<strong>de</strong>ntificada Uso medicinal não especificado<<strong>br</strong> />

Ibiratania Não i<strong>de</strong>ntificada Chá para <strong>pro</strong>blemas <strong>de</strong> coluna e rins<<strong>br</strong> />

Algumas das espécies mencionadas como medicinais pelos agricultores não<<strong>br</strong> />

tiveram a finalida<strong>de</strong> especificada. De modo geral, os usos das plantas medicinais<<strong>br</strong> />

foram relacionados aos <strong>pro</strong>blemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> cotidianos, sendo utilizadas <strong>de</strong> várias<<strong>br</strong> />

formas a partir <strong>de</strong> diferentes partes vegetativas como folhas, cascas e raízes.<<strong>br</strong> />

Muitas vezes a adoção das farmácias caseiras dá-se em função da<<strong>br</strong> />

inacessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos agricultores aos serviços médicos no município, e aos<<strong>br</strong> />

preços elevados dos medicamentos farmacêuticos. As receitas são geralmente<<strong>br</strong> />

79


passadas <strong>de</strong> pais para filhos, o que tem contribuído para a preservação <strong>de</strong>ste<<strong>br</strong> />

conhecimento e ajudado a criar alternativas para a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta população.<<strong>br</strong> />

Em estudos etnobotânicos na região <strong>de</strong> Petrolina, Sertão pernambucano,<<strong>br</strong> />

Gomes et al. (2008) elencaram 53 espécies da Caatinga com alguma aplicação<<strong>br</strong> />

medicinal para a população, <strong>de</strong>ntre as quais a aroeira (Myracrodruon urun<strong>de</strong>uva), a<<strong>br</strong> />

craibeira (Tabebuia sp.), o pau-ferro (Libidibia ferrea) e a que<strong>br</strong>a faca (Croton<<strong>br</strong> />

raminifolius), foram igualmente relatadas pelos informantes em Ibimirim.<<strong>br</strong> />

Silva e Albuquerque (2005) encontraram 22 espécies arbóreas, <strong>de</strong> uma lista <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

57 espécies da caatinga, com indicação terapêutica por moradores <strong>de</strong> 6 comunida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

no Semiárido do estado, <strong>de</strong>ntre as quais a Aroeira (Myracrodruon urun<strong>de</strong>uva),<<strong>br</strong> />

baraúna (Schinopsis <strong>br</strong>asiliensis), pau-ferro (Libidibia ferrea) mororó (Bauhinia sp.),<<strong>br</strong> />

pinhão (Jatropha sp.) e angico (Ana<strong>de</strong>nanthera colu<strong>br</strong>ina), também compuseram a<<strong>br</strong> />

lista dos autores. As espécies mais importantes, do ponto <strong>de</strong> vista etnobotânico, foram<<strong>br</strong> />

a Schinopsis <strong>br</strong>asiliensis e Myracrodruon urun<strong>de</strong>uva.<<strong>br</strong> />

Em estudo etnofarmacológico <strong>de</strong> espécies da Caatinga do Semiárido sergipano<<strong>br</strong> />

com ação no <strong>sistemas</strong> nervoso central, Omena (2007) encontrou que a aroeira<<strong>br</strong> />

(Myracrodruon urun<strong>de</strong>uva) e o alecrim do mato (Lippia microphylla) po<strong>de</strong>m conter<<strong>br</strong> />

substâncias <strong>de</strong> efeito psicoléptico (<strong>de</strong>pressor) ou neuroléptico (tranqüilizantes),<<strong>br</strong> />

entretanto, não foram relatados entre os informantes <strong>de</strong> Ibimirim, usos para essas<<strong>br</strong> />

finalida<strong>de</strong>s previstas pelo princípio ativo <strong>de</strong>ssas espécies.<<strong>br</strong> />

Dentre as espécies da flora nor<strong>de</strong>stina <strong>de</strong>scritas por Agra et al. (2005) como<<strong>br</strong> />

medicinais e <strong>pro</strong>dutoras <strong>de</strong> princípios ativos, foram incluídas a aroeira (Myracrodruon<<strong>br</strong> />

urun<strong>de</strong>uva), o angico (Ana<strong>de</strong>nanthera colu<strong>br</strong>ina var. cebil), a craibeira (Tabebuia sp.) e<<strong>br</strong> />

o pau-ferro (Libidibia ferrea), com usos populares semelhantes aos informados pelos<<strong>br</strong> />

agricultores em Ibimirim. Entretanto os autores ressaltaram que têm sido poucas as<<strong>br</strong> />

espécies <strong>de</strong> aplicações medicinais cientificamente avaliadas, em relação á gran<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

diversida<strong>de</strong> vegetal da região.<<strong>br</strong> />

Uma vez que gran<strong>de</strong> parte dos medicamentos hoje utilizados na medicina<<strong>br</strong> />

oci<strong>de</strong>ntal são oriundos do conhecimento tradicional das diversas populações em todo<<strong>br</strong> />

o mundo, o levantamento etnobotânico so<strong>br</strong>e o uso medicinal das plantas da caatinga<<strong>br</strong> />

po<strong>de</strong> resultar em contribuições efetivas para pesquisas em áreas afins, ao mesmo<<strong>br</strong> />

tempo que o resgate do conhecimento popular po<strong>de</strong> resultar na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

espécies com priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação (VIEIRA e MARTINS, 1996).<<strong>br</strong> />

80


3.3. PROPOSTAS AGROECOLÓGICAS PARA A TRANSIÇÃO AGROFLORESTAL<<strong>br</strong> />

EM IBIMIRIM<<strong>br</strong> />

3.3.1. Bases para a implantação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agroflorestais em Ibimirim<<strong>br</strong> />

A transição <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> convencionais para <strong>sistemas</strong> e práticas sustentáveis<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ve partir do <strong>de</strong>sejo do agricultor em adotar novas formas <strong>de</strong> cultivo, que satisfaçam<<strong>br</strong> />

as necessida<strong>de</strong>s da família numa perspectiva viável do ponto <strong>de</strong> vista econômico,<<strong>br</strong> />

social a partir <strong>de</strong> uma nova relação entre os seres humanos e com a natureza.<<strong>br</strong> />

A implantação dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais <strong>de</strong>ve ser orientada por um <strong>pro</strong>cesso<<strong>br</strong> />

dialético e participativo. A sensibilização dos agricultores <strong>de</strong>ve ter o intuito não <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

“convencimento”, mas sim <strong>de</strong> impulsionar a reflexão dos grupos com relação ao seu<<strong>br</strong> />

contexto socioeconômico, ambiental e cultural, na i<strong>de</strong>ntificação das necessida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

básicas e <strong>de</strong> alternativas <strong>pro</strong>dutivas sustentáveis. A a<strong>pro</strong>ximação e a sensibilização<<strong>br</strong> />

das famílias <strong>de</strong>vem ser estabelecidas num <strong>pro</strong>cesso recí<strong>pro</strong>co <strong>de</strong> interação entre os<<strong>br</strong> />

agentes extensionistas e a comunida<strong>de</strong>, li<strong>de</strong>ranças locais, representantes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

instituições governamentais e não governamentais, movimentos sociais, entre outros.<<strong>br</strong> />

Vivan (2000) consi<strong>de</strong>rou que uma etapa importante para êxito <strong>de</strong> <strong>pro</strong>jetos<<strong>br</strong> />

agroflorestais é a criação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho, uma vez que um trabalho <strong>de</strong>sta<<strong>br</strong> />

natureza envolve um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas, <strong>de</strong> esforços <strong>de</strong> comunicação,<<strong>br</strong> />

recursos financeiros e logísticos. Para isso, po<strong>de</strong>riam ser criadas parcerias entre<<strong>br</strong> />

Organizações Não Governamentais (ONGs) do estado, Organizações Governamentais<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> extensão rural, no caso <strong>de</strong> Pernambuco, o Instituto Agronômico <strong>de</strong> Pernambuco<<strong>br</strong> />

(IPA), Universida<strong>de</strong>s e agricultores. As re<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>riam potencializar a organização, a<<strong>br</strong> />

auto-gestão e as ações nas comunida<strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />

Outra importante etapa para sucesso do empreendimento agroflorestal, é<<strong>br</strong> />

formação e capacitação dos atores sociais. Conforme Ruas et al. (2006), este é um<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>cesso pedagógico relacionado à construção do conhecimento que <strong>pro</strong>porciona<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s e competências, portanto <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>finido <strong>de</strong> forma<<strong>br</strong> />

participativa. As ferramentas metodológicas po<strong>de</strong>m ser fundamentadas em cursos,<<strong>br</strong> />

oficinas, seminários, palestras, excursões (intercâmbios), dias <strong>de</strong> campo, entre outros<<strong>br</strong> />

eventos (FRANKE et al., 2000; RUAS et al., 2006).<<strong>br</strong> />

A seleção e <strong>de</strong>senho das alternativas agroflorestais para Ibimirim, com base<<strong>br</strong> />

nas informações ambientais, sociais e econômicas levantadas, po<strong>de</strong> ser guiada<<strong>br</strong> />

segundo as etapas <strong>pro</strong>postas por Franke et al. (2000):<<strong>br</strong> />

81


1) I<strong>de</strong>ntificação das necessida<strong>de</strong>s básicas dos agricultores: os mo<strong>de</strong>los e<<strong>br</strong> />

componentes <strong>de</strong>vem ser adaptados às condições socioculturais e às<<strong>br</strong> />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alimentação e nutrição da família. Sendo assim, <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

agroflorestais que visem o abastecimento familiar, a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> lenha e<<strong>br</strong> />

forragem <strong>de</strong>vem ser priorizados na região.<<strong>br</strong> />

2) Definição <strong>de</strong> espécies prioritárias: A escolha <strong>de</strong> alguns componentes<<strong>br</strong> />

prioritários po<strong>de</strong> se dar em função das necessida<strong>de</strong>s do agricultor, das<<strong>br</strong> />

condições do ambiente, das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> agregação <strong>de</strong> valor por<<strong>br</strong> />

beneficiamento, da comercialização e mercado. No contexto local, as<<strong>br</strong> />

espécies resistentes a seca, espécies forrageiras e fruteiras po<strong>de</strong>m ser<<strong>br</strong> />

importantes componentes do sistema. A seleção das espécies mais<<strong>br</strong> />

a<strong>pro</strong>priadas po<strong>de</strong> ser feita com base no conhecimento dos agricultores/as<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e suas características e manejo a partir das listas geradas neste<<strong>br</strong> />

trabalho e por espécies com potencial para região, já <strong>de</strong>scritas na literatura.<<strong>br</strong> />

3) Definição <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>pro</strong>missores: é possível adotar um ou mais tipos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> agroflorestais em uma <strong>de</strong>terminada <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> ou área, sendo,<<strong>br</strong> />

no entanto, necessário que haja uma integração positiva entre os<<strong>br</strong> />

componentes e tipos <strong>de</strong> SAFs.<<strong>br</strong> />

4) Definição <strong>de</strong> arranjos: Não existe uma regra geral para elaboração <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

arranjos <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agroflorestais, entretanto, os componentes (animal ou<<strong>br</strong> />

vegetal) <strong>de</strong>vem satisfazer as necessida<strong>de</strong>s do agricultor; estar adaptados<<strong>br</strong> />

às condições ecológicas da região; possuir ciclos <strong>de</strong> vida diferenciados;<<strong>br</strong> />

possuir períodos <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> (safra) diferenciados; não <strong>pro</strong>duzir efeitos<<strong>br</strong> />

alelopáticos; fornecer benefícios mútuos; ser <strong>de</strong> uso conhecido pelos<<strong>br</strong> />

agricultores; não ser agressivos e exigentes em água e nutrientes; possuir<<strong>br</strong> />

mercado atual ou potencial; ter condições <strong>de</strong> escoamento.<<strong>br</strong> />

5) Definição do nível tecnológico: as condições culturais, educacionais e<<strong>br</strong> />

financeiras do agricultor é que <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>terminar o nível <strong>de</strong> tecnologia a ser<<strong>br</strong> />

adotado na <strong><strong>pro</strong>dução</strong>. Entretanto, consi<strong>de</strong>rando-se o contexto local, <strong>de</strong>vem<<strong>br</strong> />

ser priorizadas as tecnologias sociais <strong>de</strong> baixo custo e <strong>de</strong> fácil<<strong>br</strong> />

acessibilida<strong>de</strong> ao pequeno agricultor.<<strong>br</strong> />

Um importante elemento <strong>de</strong> manejo agroflorestal para o Semiárido é a<<strong>br</strong> />

incorporação dos bancos <strong>de</strong> forragem ou bancos <strong>de</strong> <strong>pro</strong>teína, que conforme Altieri<<strong>br</strong> />

(1999) são arranjos que po<strong>de</strong>m melhorar substancialmente a qualida<strong>de</strong> e<<strong>br</strong> />

82


disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forragem, so<strong>br</strong>etudo durante a estação seca, além <strong>de</strong> melhorar e<<strong>br</strong> />

restaurar os nutrientes do solo.<<strong>br</strong> />

As espécies para composição dos bancos <strong>de</strong> <strong>pro</strong>teínas po<strong>de</strong>m ser<<strong>br</strong> />

selecionadas <strong>de</strong> acordo com o conhecimento dos agricultores so<strong>br</strong>e o seu uso e<<strong>br</strong> />

manejo na região, e por espécies <strong>de</strong> conhecido potencial forrageiro já <strong>de</strong>scritas na<<strong>br</strong> />

literatura. No entanto, <strong>de</strong>ve-se ressaltar que são necessários mais estudos quanto a<<strong>br</strong> />

utilização <strong>de</strong>ssas espécies na alimentação animal.<<strong>br</strong> />

Da mesma forma, a inserção da apicultura e da meliponicultura nas áreas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento agroflorestal po<strong>de</strong> ser uma alternativa <strong>pro</strong>missora para o município.<<strong>br</strong> />

A ativida<strong>de</strong>, que já ocupa lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na economia local, po<strong>de</strong> significar além<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> geração <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutos <strong>de</strong> armazenamento e comercialização relativamente fáceis<<strong>br</strong> />

(mel, cera, pólen, geléia real, etc.), em ganhos ambientais com a polinização das flores<<strong>br</strong> />

pelas abelhas, aumentando assim a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> frutos e sementes (DUBOIS et al.,<<strong>br</strong> />

2006).<<strong>br</strong> />

Algumas experiências <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da apicultura em <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

agroflorestais no Semiárido nor<strong>de</strong>stino (AGROFLORESTA, 2007) têm com<strong>pro</strong>vado o<<strong>br</strong> />

gran<strong>de</strong> potencial da ativida<strong>de</strong> para geração <strong>de</strong> renda familiar e conservação ambiental.<<strong>br</strong> />

3.3.2. Manejo ecológico do solo do Semiárido<<strong>br</strong> />

O manejo ecológico do solo como premissa para a implantação e manejo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> sustentáveis <strong>de</strong>ve ter como objetivo, recuperar, manter ou melhorar a sua<<strong>br</strong> />

capacida<strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutiva a partir <strong>de</strong> uma compreensão diferenciada do solo como um<<strong>br</strong> />

sistema vivo, dinâmico e <strong>de</strong> alta complexida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Segundo Gliessman (2005), o manejo do solo para a sustentabilida<strong>de</strong> é um<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>cesso sistêmico e baseado no conhecimento dos ciclos <strong>de</strong> nutrientes, do<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> matéria orgânica e do equilí<strong>br</strong>io entre os componentes vivos e<<strong>br</strong> />

não vivos do solo.<<strong>br</strong> />

No que se refere às regiões semi-áridas, a manutenção da umida<strong>de</strong> do solo<<strong>br</strong> />

assume um papel primordial para o cultivo agrícola e florestal. Neste sentido, qualquer<<strong>br</strong> />

prática que mantenha o solo coberto, ajudará na redução das perdas <strong>de</strong> água por<<strong>br</strong> />

evaporação, contribuindo para a manutenção da umida<strong>de</strong> além <strong>de</strong> melhorar a<<strong>br</strong> />

fertilida<strong>de</strong> (HANZI, 2003; GLIESSMAN, 2005).<<strong>br</strong> />

De maneira geral os <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> manejo ecológico utilizam cobertura máxima<<strong>br</strong> />

do solo, com plantas vivas ou com cobertura morta, com o objetivo <strong>de</strong> <strong>pro</strong>teger a<<strong>br</strong> />

superfície do solo da intensa radiação solar, evitando a queima da matéria orgânica do<<strong>br</strong> />

83


solo, reduzindo a amplitu<strong>de</strong> térmica da superfície, a perda <strong>de</strong> água por evaporação,<<strong>br</strong> />

que são imprescindíveis para os solos <strong>de</strong> regiões com baixa pluviosida<strong>de</strong> (FEIDEN,<<strong>br</strong> />

2001).<<strong>br</strong> />

Hanzi (2003) recordou que nos ecos<strong>sistemas</strong> naturais o solo está<<strong>br</strong> />

permanentemente coberto. Da mesma forma, as práticas <strong>de</strong> cultivo <strong>de</strong>vem prever a<<strong>br</strong> />

incorporação contínua <strong>de</strong> cobertura ao solo (coberturas morta como folha, capim,<<strong>br</strong> />

serragem, palha, resíduos agrícolas compostados, resíduos <strong>de</strong> culturas e esterco)<<strong>br</strong> />

visando evitar perdas <strong>de</strong> água por evaporação e fornecer matéria orgânica para o<<strong>br</strong> />

aumento da fertilida<strong>de</strong> do solo.<<strong>br</strong> />

A cobertura do solo favorece o manejo da água ao mesmo tempo em que<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>tege o solo contra erosão, permite o retorno da matéria orgânica e <strong>de</strong> nutrientes<<strong>br</strong> />

para o solo, altera a reflexivida<strong>de</strong> da superfície, aumenta a camada limítrofe para<<strong>br</strong> />

difusão gasosa, e encharca-se com a chuva (GLIESSMAN, 2005).<<strong>br</strong> />

As características do solo po<strong>de</strong>m ser melhoradas também pelo manejo e<<strong>br</strong> />

adição <strong>de</strong> matéria orgânica através <strong>de</strong> práticas como a inclusão <strong>de</strong> culturas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

cobertura no sistema, com plantas cultivadas para serem incorporadas como “adubo<<strong>br</strong> />

ver<strong>de</strong>”. As espécies <strong>de</strong> leguminosas em especial, aumentam ainda mais a qualida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

da biomassa. A biomassa resultante po<strong>de</strong> estar tanto na superfície quanto incorporada<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> forma <strong>pro</strong>funda no perfil do solo, a partir da <strong>de</strong>composição das raízes<<strong>br</strong> />

(GLIESSMAN, 2005; MEIRELLES e RUPP, 2005)<<strong>br</strong> />

Da mesma forma, a inclusão <strong>de</strong> compostos ao solo po<strong>de</strong> melhorar<<strong>br</strong> />

significativamente sua fertilida<strong>de</strong>, uma vez que a ele é adicionado inúmera fontes<<strong>br</strong> />

diferentes <strong>de</strong> materiais orgânicos, <strong>de</strong> estercos à sub<strong>pro</strong>dutos agrícolas, como palhas,<<strong>br</strong> />

restos <strong>de</strong> culturas, lixos domésticos, ou qualquer outra fonte <strong>de</strong> matéria orgânica, que<<strong>br</strong> />

sob condições controladas, tenha passado por <strong>de</strong>composição e humificação, <strong>de</strong> forma<<strong>br</strong> />

que quando adicionado ao solo, já esteja estabilizado e possa contribuir com eficácia<<strong>br</strong> />

para o <strong>pro</strong>cesso <strong>de</strong> formação da fertilida<strong>de</strong> do solo (MEIRELLES e RUPP, 2005).<<strong>br</strong> />

Outra prática acessível e <strong>de</strong> baixo custo é a adição <strong>de</strong> esterco animal no<<strong>br</strong> />

cultivo, preferencialmente curtido ou compostado. O esterco é a fonte <strong>de</strong> matéria<<strong>br</strong> />

orgânica usada há mais tempo em <strong>sistemas</strong> alternativos <strong>de</strong> uso da terra, e é um dos<<strong>br</strong> />

recursos que geralmente o agricultor tem mais fácil a sua disposição.<<strong>br</strong> />

O manejo sustentável preconiza também a redução ou mesmo a eliminação da<<strong>br</strong> />

movimentação do solo. Para as culturas para as quais ainda não se consegue<<strong>br</strong> />

dispensar o preparo do solo, este <strong>de</strong>vera ser feito com menor intensida<strong>de</strong> possível,<<strong>br</strong> />

equipamento mais a<strong>de</strong>quado, umida<strong>de</strong> do solo i<strong>de</strong>al e mantendo-se o solo <strong>de</strong>scoberto<<strong>br</strong> />

o menor tempo possível (FEIDEN, 2001). Segundo Gliessman (2005), movimentar o<<strong>br</strong> />

84


solo acarreta a perda <strong>de</strong> sua boa estrutura e da matéria orgânica, levando a perda <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

alguns dos elementos <strong>de</strong> <strong>pro</strong>dutivida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Nos <strong>sistemas</strong> agroflorestais em particular, a diversificação do sistema e a<<strong>br</strong> />

inclusão do componente arbóreo confere naturalmente maior cobertura do solo,<<strong>br</strong> />

favorecendo a preservação da fauna e da flora, <strong>pro</strong>movendo a ciclagem <strong>de</strong> nutrientes<<strong>br</strong> />

a partir da ação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> radiculares diversos e <strong>pro</strong>porciona um contínuo aporte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

matéria orgânica (TORQUEBIAU, 1990; ALTIERI, 1999).<<strong>br</strong> />

Num estágio avançado, a estabilida<strong>de</strong> e os efeitos benéficos das interações<<strong>br</strong> />

dos componentes da agrofloresta po<strong>de</strong>m reduzir drasticamente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

insumos externos, mesmo orgânicos, e reduzir os impactos negativos das práticas<<strong>br</strong> />

agrícolas.<<strong>br</strong> />

É importante lem<strong>br</strong>ar que em regiões semi-árida, on<strong>de</strong> a maior parte da<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong> rural <strong>pro</strong>dutiva baseia-se na pequena <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>, o uso <strong>de</strong> insumos<<strong>br</strong> />

agrícolas, como adubos nitrogenados, calcário e outros, torna-se geralmente inviável,<<strong>br</strong> />

em razão da baixa disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capital por parte dos agricultores (MAIA et al. ,<<strong>br</strong> />

2006). Nesse sentido, as práticas agroflorestais, com gran<strong>de</strong> diversificação <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

culturas, aliada às práticas <strong>de</strong> manejo do solo, po<strong>de</strong>m garantir o melhor<<strong>br</strong> />

a<strong>pro</strong>veitamento dos nutrientes, maior renda para <strong>pro</strong>dutores e maiores benefícios ao<<strong>br</strong> />

ecossistema (SOUSA, et al. 1997).<<strong>br</strong> />

3.3.3. Captação <strong>de</strong> água<<strong>br</strong> />

A escassez <strong>de</strong> água em Ibimirim está relacionada não apenas com a<<strong>br</strong> />

irregularida<strong>de</strong> com que as chuvas ocorrem, mas principalmente com a ineficiência das<<strong>br</strong> />

políticas públicas em atenuar os efeitos nocivos das secas.<<strong>br</strong> />

Elaborar soluções a<strong>de</strong>quadas e permanentes a questão hídrica na região é<<strong>br</strong> />

imprescindível ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> rural sustentável, e<<strong>br</strong> />

conseqüentemente à melhoria <strong>de</strong> vida da população sertaneja. Entretanto, para<<strong>br</strong> />

Santos et al. (2009), qualquer ação que vise enfrentar essa realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da<<strong>br</strong> />

sensibilida<strong>de</strong> e do nível <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do po<strong>de</strong>r público local para com o bem-<<strong>br</strong> />

estar dos seus cidadãos e <strong>de</strong>stes pelo nível <strong>de</strong> participação na gestão dos recursos<<strong>br</strong> />

hídricos. Os autores mencionaram que a região semi-árida <strong>br</strong>asileira tem sido alvo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

algumas poucas ações pontuais e episódicas que não tem necessariamente gerado<<strong>br</strong> />

soluções que possibilitem a convivência da população com a ocorrência das secas e<<strong>br</strong> />

nem planejar e executar estratégias viáveis e duradouras <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local.<<strong>br</strong> />

85


Neste sentido a escassez <strong>de</strong> água na região po<strong>de</strong>ria ser minimizada adotando-<<strong>br</strong> />

se tecnologias <strong>de</strong> captação e armazenamento <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva como forma <strong>de</strong> suprir<<strong>br</strong> />

as <strong>de</strong>mandas domésticas, animal e <strong>pro</strong>dutiva.<<strong>br</strong> />

As tecnologias <strong>de</strong> captação e manejo <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva utilizam a parte da<<strong>br</strong> />

água que, <strong>de</strong> outra maneira, retornaria à atmosfera por meio da evaporação direta ou<<strong>br</strong> />

a transpiração <strong>de</strong> plantas não alimentares, infiltraria no lençol freático, ou escorreria<<strong>br</strong> />

para os rios. Além <strong>de</strong> fornecer água <strong>de</strong> beber para as famílias na época da seca,<<strong>br</strong> />

quando armazenadas em cisternas, as tecnologias <strong>de</strong> captação e manejo <strong>de</strong> água <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

chuva são indispensáveis para o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s agrícolas<<strong>br</strong> />

(GNADLINGER, 2006).<<strong>br</strong> />

Dentre as muitas experiências <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva que po<strong>de</strong>riam<<strong>br</strong> />

ser facilmente implementadas e multiplicadas pela agricultura familiar e <strong>de</strong>ssa forma<<strong>br</strong> />

possibilitar a implantação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> sustentáveis, tem-se como alternativa<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>missora a adoção da cisterna adaptada para a agricultura, aliada ou não a outras<<strong>br</strong> />

tecnologias <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> água.<<strong>br</strong> />

As cisternas adaptadas para a agricultura são formadas por uma área <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

captação da água das chuvas que escorre dos <strong>de</strong>sníveis do terreno ou <strong>de</strong> áreas<<strong>br</strong> />

pavimentadas, um reservatório <strong>de</strong> água, geralmente bem maior do que a cisterna para<<strong>br</strong> />

o uso humano e um sistema <strong>de</strong> irrigação feito a mão ou por gotejamento<<strong>br</strong> />

(GNADLINGER, 2006). Esse sistema não prevê o abastecimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

extensões <strong>de</strong> terras irrigáveis, no entanto, a água acumulada durante o período<<strong>br</strong> />

chuvoso po<strong>de</strong>ria facilmente aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água para a fase inicial <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

implantação dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais, quando a <strong>de</strong>manda pelo recurso aumenta, e<<strong>br</strong> />

manter os quintais agroflorestais que visem à <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> fruteiras e <strong>pro</strong>dutos<<strong>br</strong> />

agrícolas.<<strong>br</strong> />

Uma vez que nos <strong>sistemas</strong> agroflorestais, os recursos disponíveis são<<strong>br</strong> />

otimizados <strong>de</strong>vido sua dinâmica e estrutura, a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> familiar sustentável po<strong>de</strong>ria<<strong>br</strong> />

prever o consórcio <strong>de</strong> espécies vegetais e criação <strong>de</strong> pequenos animais e abelhas em<<strong>br</strong> />

uma área reduzida e gerar renda e ocupação durante os períodos <strong>de</strong> estiagem.<<strong>br</strong> />

Outras formas eficientes <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva que po<strong>de</strong>riam ser<<strong>br</strong> />

adotadas para o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s rurais são os barreiros, pequenos<<strong>br</strong> />

açu<strong>de</strong>s, tanques <strong>de</strong> pedra (cal<strong>de</strong>irão), barragens subterrâneas e mandalas. Essas<<strong>br</strong> />

tecnologias, algumas <strong>de</strong>las <strong>de</strong>senvolvidas exclusivamente para a agricultura, como o<<strong>br</strong> />

caso das mandalas, tem tido bons resultados para a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agrícola em outras<<strong>br</strong> />

regiões semi-áridas do nor<strong>de</strong>ste <strong>br</strong>asileiro.<<strong>br</strong> />

Apesar <strong>de</strong> existir um elevado número <strong>de</strong> cisternas nas <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>s rurais em<<strong>br</strong> />

Ibimirim, a inexistência <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> água da chuva no município<<strong>br</strong> />

86


<strong>de</strong>ixa claro que mesmo com a escassez <strong>de</strong> água, os períodos <strong>de</strong> chuva po<strong>de</strong>m ser<<strong>br</strong> />

bem a<strong>pro</strong>veitados se tecnologias <strong>de</strong> captação e armazenamento <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva<<strong>br</strong> />

forem implementados e transformados em políticas públicas como parte <strong>de</strong> <strong>pro</strong>gramas<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local.<<strong>br</strong> />

O <strong>pro</strong>grama P1+2 da ASA, anteriormente mencionado, po<strong>de</strong>ria surgir neste<<strong>br</strong> />

contexto, como um instrumento <strong>de</strong> viabilização dos <strong>sistemas</strong> agroflorestais no<<strong>br</strong> />

município, no que se refere à captação <strong>de</strong> recursos hídricos, uma vez que <strong>pro</strong>cura<<strong>br</strong> />

aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas da agricultura familiar <strong>de</strong> bases sustentáveis.<<strong>br</strong> />

3.3.4. Fomento a <strong>sistemas</strong> agroflorestais – Linhas <strong>de</strong> crédito<<strong>br</strong> />

O governo fe<strong>de</strong>ral via Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em<<strong>br</strong> />

conjunto com o Programa Nacional <strong>de</strong> Florestas (PNF), do Ministério do Meio<<strong>br</strong> />

Ambiente (MMA), criou diversas linhas <strong>de</strong> crédito do Programa Nacional <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) para dinamizar e facilitar a adoção<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> rurais sustentáveis pela agricultura familiar. Essas políticas públicas foram<<strong>br</strong> />

implementadas levando em conta o interesse social <strong>de</strong> amparar financeiramente os<<strong>br</strong> />

agricultores familiares e mantê-los no campo a partir do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

sustentáveis.<<strong>br</strong> />

Nesse sentido, a implantação <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agroflorestais, po<strong>de</strong> ser fomentada<<strong>br</strong> />

por várias linhas do Crédito PRONAF, <strong>de</strong>ntre as quais <strong>de</strong>staca-se o PRONAF Floresta,<<strong>br</strong> />

PRONAF Agroecologia, PRONAF ECO sustentabilida<strong>de</strong> ambiental e especificamente<<strong>br</strong> />

para a região em estudo, o PRONAF convivência com o Semiárido.<<strong>br</strong> />

O PRONAF Floresta foi criado <strong>de</strong>stinado a financiar além do reflorestamento e<<strong>br</strong> />

do manejo <strong>de</strong> florestas nativas, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agroflorestais e do<<strong>br</strong> />

extrativismo ecologicamente sustentável. Para essa linha <strong>de</strong> crédito estão<<strong>br</strong> />

enquadrados os agricultores familiares dos grupos “B” 14 , “C” 15 e “D” 16 do PRONAF.<<strong>br</strong> />

O PRONAF Agroecologia prevê o financiamento <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

agroecológicos ou orgânicos. A linha <strong>de</strong> crédito apóia famílias em transição <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>sistemas</strong> convencionais para <strong>sistemas</strong> que utilizam tecnologias <strong>de</strong> base ecológicas e<<strong>br</strong> />

sustentabilida<strong>de</strong> ambiental. Os agricultores contemplados nessa linha <strong>de</strong> crédito são<<strong>br</strong> />

os dos grupos “C”, “D” ou “E” 17 do PRONAF.<<strong>br</strong> />

O financiamento previsto no PRONAF ECO contempla <strong>pro</strong>jetos que adotem<<strong>br</strong> />

tecnologias ambientais como estações <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> água, <strong>de</strong>jetos e efluentes,<<strong>br</strong> />

14 Agricultores(as) familiares com renda <strong>br</strong>uta anual <strong>de</strong> até R$ 4.000,00<<strong>br</strong> />

15 Agricultores(as) familiares com renda <strong>br</strong>uta anual acima <strong>de</strong> R$ 4.000,00 e até R$ 18.000,00<<strong>br</strong> />

16 Agricultores(as) familiares com renda <strong>br</strong>uta anual acima <strong>de</strong> R$ 18.000,00 e até R$ 50.000,00<<strong>br</strong> />

17 Agricultores(as) familiares com renda <strong>br</strong>uta anual acima <strong>de</strong> R$ 50.000,00 e até R$ 110.000,00<<strong>br</strong> />

87


compostagem e reciclagem, armazenamento hídrico como uso <strong>de</strong> cisternas, barragens<<strong>br</strong> />

e outras estruturas <strong>de</strong> armazenamento e distribuição <strong>de</strong> água, além <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

empreendimentos florestais que visem a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> ma<strong>de</strong>ireira e não ma<strong>de</strong>ireira. Para<<strong>br</strong> />

o recebimento do crédito, os agricultores <strong>de</strong>vem estar inseridos nos grupos “C”, “D” ou<<strong>br</strong> />

“E” do PRONAF.<<strong>br</strong> />

Os agricultores beneficiados pelo PRONAF <strong>de</strong>stinada ao Semiárido po<strong>de</strong>rão ter<<strong>br</strong> />

subsídios para construção <strong>de</strong> pequenas o<strong>br</strong>as hídricas como cisternas e barragens<<strong>br</strong> />

para irrigação e <strong>de</strong>ssalinização <strong>de</strong> água e <strong>de</strong>mais infra-estruturas para <strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

agropecuária. Uma das exigências <strong>de</strong>ssa linha é que até 50% do valor do crédito seja<<strong>br</strong> />

aplicado na construção <strong>de</strong> infra-estrutura hídrica, po<strong>de</strong>ndo o restante ser investido em<<strong>br</strong> />

estratégias <strong>de</strong> convivência com o Semiárido. Os grupos contemplados por essa linha<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> crédito são os agricultores “A” 18 , “A/C” 19 , “B”, “C” e “D”.<<strong>br</strong> />

3.3.5. Estratégias <strong>de</strong> mercado e organização social coletiva<<strong>br</strong> />

Tendo-se como base um empreendimento <strong>de</strong> auto-gestão numa perspectiva da<<strong>br</strong> />

economia solidária, a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agroflorestal agroecológica <strong>de</strong>ve criar instrumentos<<strong>br</strong> />

que permitam sua sustentabilida<strong>de</strong> e competitivida<strong>de</strong> no mercado, a autonomia<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutiva, bem como a auto-realização dos agricultores/as.<<strong>br</strong> />

A criação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> base organizada no meio rural por meio da cooperação,<<strong>br</strong> />

da associação e da solidarieda<strong>de</strong>, surge como uma forma concreta <strong>de</strong> consolidação<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> estratégias <strong>pro</strong>dutivas e organizativas sob a perspectiva da valorização da<<strong>br</strong> />

agricultura familiar em seus aspectos econômicos, sociais e culturais.<<strong>br</strong> />

No entanto, o contexto socioeconômico atual induz à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<<strong>br</strong> />

repensar o mercado como uma relação social, apenas mediada por dinheiro e<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutos; repensar as empresas e as instituição como comunida<strong>de</strong>s humanas em<<strong>br</strong> />

contínua cooperação; <strong>de</strong>slocar o eixo da existência humana do ter para o ser; e<<strong>br</strong> />

i<strong>de</strong>ntificar e cultivar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada pessoa e comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser sujeito<<strong>br</strong> />

consciente e ativo do seu próprio <strong>de</strong>senvolvimento (ARRUDA, 2000).<<strong>br</strong> />

Respeitando tais princípios, a organização solidária da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> assume<<strong>br</strong> />

importante papel para o <strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong> agroflorestal nas comunida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

ou assentamentos rurais em Ibimirim. Um estudo da FAO/INCRA constatou que a<<strong>br</strong> />

organização coletiva, seja através da existência <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> <strong><strong>pro</strong>dução</strong> e/ou <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

máquinas e equipamentos, ou pela gestão coletiva do uso das áreas, po<strong>de</strong> ter<<strong>br</strong> />

18<<strong>br</strong> />

Produtores(as) assentados(as) <strong>de</strong> reforma agrária ou beneficiários(as) do Programa Nacional <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Crédito Fundiário<<strong>br</strong> />

19<<strong>br</strong> />

Produtores(as) egressos(as) do grupo A ou do Procera<<strong>br</strong> />

88


esultados muito positivos em <strong>pro</strong>jetos <strong>de</strong> assentamentos e, em alguns casos, ser<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>cisivo para seu sucesso. A organização leva a diminuição <strong>de</strong> custos, a<<strong>br</strong> />

potencialização dos recursos naturais, e gera <strong>sistemas</strong> mais <strong>pro</strong>dutivos que ampliam<<strong>br</strong> />

as alternativas econômicas no meio rural (BITTENCOURT et al., 1998).<<strong>br</strong> />

As cooperativas e associações agrícolas po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificadas enquanto<<strong>br</strong> />

fator <strong>de</strong> organização econômica e <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> do setor agrário e dos<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutores sob bases <strong>de</strong>mocráticas, contribuindo para o êxito dos <strong>pro</strong>jetos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvimento local (MARTÍNEZ e PIRES, 2002), e são, portanto, indispensáveis<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ntro do contexto da <strong><strong>pro</strong>dução</strong> agroflorestal.<<strong>br</strong> />

Pontes e Osterne (2004) afirmaram ainda, que a incorporação do princípio da<<strong>br</strong> />

cooperação e da solidarieda<strong>de</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mecanismos para sua<<strong>br</strong> />

operacionalização como estímulo ao espírito empreen<strong>de</strong>dor autogestionário, <strong>de</strong>vem<<strong>br</strong> />

assegurar um horizonte econômico, que inclua outras variáveis orientadoras da vida<<strong>br</strong> />

em socieda<strong>de</strong>: a realização pessoal, o lazer, a felicida<strong>de</strong> e o potencial <strong>de</strong> inovação e<<strong>br</strong> />

criativida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />

Complementarmente a associação e a cooperação, os mecanismos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

agregação <strong>de</strong> valor ao <strong>pro</strong>duto por meio <strong>de</strong> beneficiamento representam uma<<strong>br</strong> />

importante estratégia para viabilizar os <strong>sistemas</strong> agroflorestais.<<strong>br</strong> />

Na caatinga, on<strong>de</strong> o componente florestal tem especial atenção, além do<<strong>br</strong> />

beneficiamento <strong>de</strong> frutas, a comercialização e beneficiamento dos <strong>pro</strong>dutos<<strong>br</strong> />

agroflorestais arbóreos não ma<strong>de</strong>ireiros, po<strong>de</strong>m significar geração <strong>de</strong> renda extra a<<strong>br</strong> />

partir do extrativismo <strong>de</strong> óleos, cascas, fi<strong>br</strong>as, taninos, palhas entre outros.<<strong>br</strong> />

A associação e a cooperação entre os agricultores po<strong>de</strong>m estimular a<<strong>br</strong> />

instalação <strong>de</strong> agroindústrias, e <strong>de</strong>ssa forma, com a agroindustrialização dos <strong>pro</strong>dutos<<strong>br</strong> />

agroflorestais na própria região é possível agregar valor a estes <strong>pro</strong>dutos, gerar<<strong>br</strong> />

empregos e <strong>pro</strong>mover melhorias sociais no meio rural.<<strong>br</strong> />

89


CONCLUSÕES<<strong>br</strong> />

Consi<strong>de</strong>rando-se o universo amostral, e tendo-se como base a elaboração <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estratégias que visem a transição <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> convencionais para <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

agroflorestais agroecológicos em Ibimirim, a partir do levantamento <strong>de</strong> informações<<strong>br</strong> />

acerca dos grupos estudados, foi possível concluir que:<<strong>br</strong> />

1) Os <strong>sistemas</strong> rurais <strong>pro</strong>dutivos em Ibimirim são caracterizados pela<<strong>br</strong> />

incorporação <strong>de</strong> múltiplas ativida<strong>de</strong>s com exceção da apicultura.<<strong>br</strong> />

2) O grupo <strong>de</strong> agricultores tradicionais e extrativistas florestais são os que<<strong>br</strong> />

integram o maior número <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s agrárias <strong>pro</strong>dutivas, seguido dos<<strong>br</strong> />

pescadores e agricultores irrigantes.<<strong>br</strong> />

3) Os apicultores seguidos dos agricultores irrigantes possuem melhores<<strong>br</strong> />

condições socioculturais quando comparados com os agricultores<<strong>br</strong> />

tradicionais e extrativistas florestais e com os pescadores.<<strong>br</strong> />

4) A capacitação dos agricultores e a assistência técnica na região são<<strong>br</strong> />

insuficientes, contudo, um <strong>pro</strong>grama <strong>de</strong> assistência técnica e extensão rural<<strong>br</strong> />

no município po<strong>de</strong>ria contribuir diretamente para a melhoria das ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>senvolvidas e na incorporação <strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los <strong>pro</strong>dutivos.<<strong>br</strong> />

5) Os <strong>sistemas</strong> apícolas e os <strong>sistemas</strong> agrícolas tradicionais são os que<<strong>br</strong> />

menos impactam os ecos<strong>sistemas</strong> naturais por estarem fortemente<<strong>br</strong> />

adaptados as condições ambientais locais, configurando-se, portanto, como<<strong>br</strong> />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> baixo impacto ou até mesmo conservacionistas, como no<<strong>br</strong> />

caso da apicultura.<<strong>br</strong> />

6) Os <strong>sistemas</strong> agrícolas irrigados adotam práticas não ecológicas,<<strong>br</strong> />

contribuindo assim para os <strong>pro</strong>cessos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação do solo e dos<<strong>br</strong> />

recursos hídricos, além <strong>de</strong> apresentarem gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> insumos<<strong>br</strong> />

químicos industriais, o que diminui assim, a autonomia <strong>pro</strong>dutiva dos<<strong>br</strong> />

agricultores.<<strong>br</strong> />

7) A ativida<strong>de</strong> florestal extrativista e o manejo florestal constituem uma<<strong>br</strong> />

alternativa importante para a manutenção da família nos períodos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estiagem, bem como um incremento da renda familiar. A extração <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutos florestais para suprir a <strong>de</strong>manda familiar não tem sido responsável<<strong>br</strong> />

90


pelo <strong>de</strong>smatamento da caatinga na região, apesar da ativida<strong>de</strong> gerar<<strong>br</strong> />

impactos so<strong>br</strong>e os recursos naturais.<<strong>br</strong> />

8) A pesca artesanal é uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância na região, que<<strong>br</strong> />

tem viabilizado renda e a manutenção do pescador no meio rural.<<strong>br</strong> />

9) A ativida<strong>de</strong> em si mais rentável é apicultura, seguida da agricultura irrigada<<strong>br</strong> />

e da pesca, embora não sejam consi<strong>de</strong>radas aqui as rendas não<<strong>br</strong> />

monetárias. A agricultura tradicional é prioritariamente para o<<strong>br</strong> />

abastecimento familiar, e o extrativismo florestal, <strong>de</strong>sempenha um papel<<strong>br</strong> />

fundamental para garantia <strong>de</strong> renda em períodos <strong>de</strong> estiagem.<<strong>br</strong> />

10) Com relação ao extrativismo dos recursos naturais da Caatinga, os<<strong>br</strong> />

agricultores da região tradicionalmente utilizam os recursos florestais<<strong>br</strong> />

nativos, seja para fins ma<strong>de</strong>ireiros, forrageiros, apícolas, frutíferos ou<<strong>br</strong> />

medicinais. O angico (Ana<strong>de</strong>nanthera colu<strong>br</strong>ina var. cebil) foi a espécie<<strong>br</strong> />

mencionada com o maior número <strong>de</strong> aplicações entre os entrevistados.<<strong>br</strong> />

É importante consi<strong>de</strong>rar que para os pequenos agricultores do município a<<strong>br</strong> />

diversificação das ativida<strong>de</strong>s e a integração <strong>de</strong> diferentes <strong>sistemas</strong> <strong>pro</strong>dutivos<<strong>br</strong> />

constituem uma estratégia <strong>de</strong> viabilização das unida<strong>de</strong>s <strong>pro</strong>dutivas, uma possibilida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

concreta <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda e a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<<strong>br</strong> />

Neste sentido, para se caminhar na transição agroecológica, <strong>de</strong>vem ser<<strong>br</strong> />

consi<strong>de</strong>rados para o município os <strong>de</strong> <strong>sistemas</strong> agroflorestais <strong>de</strong> uso múltiplo, que<<strong>br</strong> />

visem, so<strong>br</strong>etudo, a <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong> lenha, forragem e <strong>pro</strong>dutos alimentícios para o<<strong>br</strong> />

consumo familiar, com seleção <strong>de</strong> espécies nativas <strong>de</strong> uso e manejo relatados pela<<strong>br</strong> />

população local, bem como por espécies potenciais já <strong>de</strong>scritas na literatura.<<strong>br</strong> />

Por fim, um planejamento economicamente eficiente, que atenda às necessida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

dos atores sociais locais e a manutenção e geração <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s socialmente mais<<strong>br</strong> />

justas e ecológicas, rumo ao <strong>de</strong>senvolvimento rural sustentável, <strong>de</strong>ve contar com a<<strong>br</strong> />

iniciativa governamental mediante elaboração <strong>de</strong> políticas públicas que envolva a<<strong>br</strong> />

cooperação entre instituições, organizações e grupos com<strong>pro</strong>metidos com os<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>cessos <strong>de</strong> transformações sociais na região.<<strong>br</strong> />

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103


ANEXO<<strong>br</strong> />

104


Anexo 1: Roteiro para realização das entrevistas<<strong>br</strong> />

I<strong>de</strong>ntificação e<<strong>br</strong> />

localização da<<strong>br</strong> />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

A <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

rural<<strong>br</strong> />

A família e<<strong>br</strong> />

ocupação<<strong>br</strong> />

A história do<<strong>br</strong> />

estabelecimento<<strong>br</strong> />

Escolhas<<strong>br</strong> />

estratégicas e<<strong>br</strong> />

seus<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>terminantes<<strong>br</strong> />

Assistencia<<strong>br</strong> />

técnica e<<strong>br</strong> />

capacitação<<strong>br</strong> />

Relevo, solo e<<strong>br</strong> />

água<<strong>br</strong> />

Ambiente físico<<strong>br</strong> />

Sistemas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong><<strong>br</strong> />

Dimensão sociocultural<<strong>br</strong> />

Nome completo, ida<strong>de</strong>, município, localização, en<strong>de</strong>reço, distância da<<strong>br</strong> />

se<strong>de</strong>, escolarida<strong>de</strong>, naturalida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Terras: posse; área total, área cultivada, área com vegetação nativa, área<<strong>br</strong> />

ociosa<<strong>br</strong> />

Mem<strong>br</strong>os: nº <strong>de</strong> filhos, quantas pessoas da família vivem da UP,<<strong>br</strong> />

envolvimento com ativida<strong>de</strong>s agrícola, pessoas envolvidas com ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

não agrícolas; pessoas envolvidas com ativida<strong>de</strong>s não agrícolas e<<strong>br</strong> />

agrícolas<<strong>br</strong> />

Ativida<strong>de</strong>s complementar na <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> para aumentar renda, exerce ou<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>seja <strong>de</strong> exercer outras ativida<strong>de</strong>s;<<strong>br</strong> />

Operação ou serviço <strong>de</strong> terceiros (mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a contratada)<<strong>br</strong> />

Infraestrutura do lar: acesso a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto e água, banheiro, energia<<strong>br</strong> />

elétrica; equipamentos domésticos; veículos; acesso a informação;<<strong>br</strong> />

Acesso a serviços: saú<strong>de</strong>, escola, transporte;<<strong>br</strong> />

Antepassados na agricultura, terras pertencentes à família <strong>de</strong>s<strong>de</strong> outras<<strong>br</strong> />

gerações, terras como herança aos filhos; Anos na agricultura, anos da<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Os <strong>pro</strong>jetos, indicando os meios que o <strong>pro</strong>dutor conta para realizá-los e a<<strong>br</strong> />

que prazo; existência <strong>de</strong> algum <strong>pro</strong>jeto não realizado;<<strong>br</strong> />

Recebe assistência: recebe assistência, órgãos extensionistas,<<strong>br</strong> />

resultados assistências, o que pensa so<strong>br</strong>e assistência, acha que po<strong>de</strong>ria<<strong>br</strong> />

contribuir para a inovação e adoção <strong>de</strong> novas tecnologias e mo<strong>de</strong>los;<<strong>br</strong> />

O que pensa so<strong>br</strong>e cooperativismo e formas <strong>de</strong> organização conjunta<<strong>br</strong> />

Participação em cursos <strong>de</strong> capacitação, experiências por conta própria,<<strong>br</strong> />

adoção <strong>de</strong> inovações (relação entre inovação tecnológica e meio<<strong>br</strong> />

ambiente)<<strong>br</strong> />

Dimensão ambiental e material<<strong>br</strong> />

Declivida<strong>de</strong>s, tipo do solo, erosão, qualida<strong>de</strong> do solo;<<strong>br</strong> />

Água: fonte <strong>de</strong> água; tratamento ou cuidado; se sofre com escassez <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

água;<<strong>br</strong> />

Paisagem do entorno e a função para o agricultor; presença <strong>de</strong> animais<<strong>br</strong> />

silvestres;<<strong>br</strong> />

Sistemas <strong>de</strong> cultivo: tipo <strong>de</strong> sistema, culturas <strong>pro</strong>duzidas, origem das<<strong>br</strong> />

sementes e mudas; perda por doenças e pragas<<strong>br</strong> />

Itinerário técnico: Preparo do solo, uso <strong>de</strong> queimada, adubação<<strong>br</strong> />

kg/ha/ano (química, orgânica, mineral natural, mista), fonte <strong>de</strong> adubos,<<strong>br</strong> />

manejo (varieda<strong>de</strong> resistente, rotação, consórcio, plantas companheiras,<<strong>br</strong> />

adubação ver<strong>de</strong>, cobertura morta, estufa, outros), ervas espontâneas<<strong>br</strong> />

(forma <strong>de</strong> controle), pragas e doenças (forma <strong>de</strong> controle), tipo irrigação<<strong>br</strong> />

(manual, aspersor, gotejador...); <strong>pro</strong>blemas sanitários<<strong>br</strong> />

Pecuária: criação <strong>de</strong> animais, tipo, quantida<strong>de</strong>s, alimentação, usos,<<strong>br</strong> />

ambiente (confinado, solto), cuidados e vacinação, <strong>pro</strong>blemas sanitários<<strong>br</strong> />

(doenças);<<strong>br</strong> />

Ocorrência <strong>de</strong> perdas significativas na <strong><strong>pro</strong>dução</strong> <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>blemas sanitários<<strong>br</strong> />

Pesca ou piscicultura: nº <strong>de</strong> tanques re<strong>de</strong>; nº <strong>de</strong> peixes criados pesca<<strong>br</strong> />

artesanal (re<strong>de</strong>, linha anzol, tarrafa...); principais peixes; perdas;<<strong>br</strong> />

beneficiamento<<strong>br</strong> />

105


Manejo da<<strong>br</strong> />

Caatinga<<strong>br</strong> />

Renda<<strong>br</strong> />

Extrativismo da Caatinga: <strong>pro</strong>dutos <strong>de</strong> extrativismo, tipo, quantida<strong>de</strong> por<<strong>br</strong> />

ano, como é medida a quantida<strong>de</strong> extraída; comercialização dos recursos<<strong>br</strong> />

naturais, principais usos dos recursos pelo <strong>pro</strong>dutor (Lenha, estaca,<<strong>br</strong> />

mourões, frutos, caça);<<strong>br</strong> />

Carvão: tipo <strong>de</strong> forno; nº <strong>de</strong> fornos; capacida<strong>de</strong> do forno; nº <strong>de</strong> pessoas<<strong>br</strong> />

envolvidas na ativida<strong>de</strong>; <strong>de</strong>stino do carvão; itinerário técnico (corte da<<strong>br</strong> />

ma<strong>de</strong>ira; transporte até o forno; ensacamento; medição da ma<strong>de</strong>ira...)<<strong>br</strong> />

Ma<strong>de</strong>ira: como é extraída; quantida<strong>de</strong> extraída; nº <strong>de</strong> pessoas envolvidas<<strong>br</strong> />

na ativida<strong>de</strong>; <strong>de</strong>stino da ma<strong>de</strong>ira; principais compradores<<strong>br</strong> />

Comercialização: <strong>pro</strong>dutos comercializados; Produtivida<strong>de</strong> da cultura e<<strong>br</strong> />

preços; variações no rendimento entre anos, terrenos, etc; objetivo da<<strong>br</strong> />

<strong><strong>pro</strong>dução</strong> e canal <strong>de</strong> comercialização; quem <strong>de</strong>termina o preço; formas <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

agregar valor;<<strong>br</strong> />

Fonte <strong>de</strong> renda TOTAL, fonte <strong>de</strong> renda por ativida<strong>de</strong>, com ativida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

extra <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>;<<strong>br</strong> />

fontes <strong>de</strong> renda (ativida<strong>de</strong> rural, <strong>pro</strong>gramas governamentais,<<strong>br</strong> />

aposentadoria, ativida<strong>de</strong>s extra <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong>, etc.); receita total (mês/<<strong>br</strong> />

ano); principais <strong>de</strong>spesas (UP e família); recorrência à<<strong>br</strong> />

créditos/empréstimos financeiros (banco, amigos, família)<<strong>br</strong> />

Informações so<strong>br</strong>e os <strong>sistemas</strong> agroflorestais e o uso dos recursos florestais da Caatinga<<strong>br</strong> />

Conhecimento<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e <strong>sistemas</strong><<strong>br</strong> />

agroflorestais e<<strong>br</strong> />

seus métodos<<strong>br</strong> />

Espécies<<strong>br</strong> />

Florestais mais<<strong>br</strong> />

usadas<<strong>br</strong> />

Uso da Ma<strong>de</strong>ira<<strong>br</strong> />

Vegetação da<<strong>br</strong> />

caatinga<<strong>br</strong> />

Opinião pessoal<<strong>br</strong> />

Conhecimento so<strong>br</strong>e o termo agrofloresta e suas práticas; opinião do<<strong>br</strong> />

<strong>pro</strong>dutor so<strong>br</strong>e as práticas agroflorestais, agrossilvipastoris e silvipastoris<<strong>br</strong> />

(vantagens e <strong>de</strong>svantagens que percebe); vonta<strong>de</strong> do agricultor em<<strong>br</strong> />

implantar <strong>sistemas</strong> agroflorestais ou <strong>sistemas</strong> alternativos <strong>de</strong> uso da terra;<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> auxílio/capacitação na implantação <strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> uso<<strong>br</strong> />

da terra; tipos <strong>de</strong> SAF praticado pelo <strong>pro</strong>prietário, ou tipo <strong>de</strong>sejado para<<strong>br</strong> />

implantação; <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> experimentar SAF’s caso tenha auxílio técnico<<strong>br</strong> />

Espécies retiradas da UP usos conhecidos pelo agricultor<<strong>br</strong> />

Principais usos da ma<strong>de</strong>ira retirada; opinião so<strong>br</strong>e a retirada da ma<strong>de</strong>ira<<strong>br</strong> />

sem planejamento;<<strong>br</strong> />

Grau <strong>de</strong> conservação da vegetação nativa na <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong> e no entorno;<<strong>br</strong> />

preocupação em conservar (manter) a vegetação inserida na <strong>pro</strong>prieda<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

e no entorno<<strong>br</strong> />

Situação hoje na agricultura e satisfação com a ativida<strong>de</strong> exercida; o que<<strong>br</strong> />

consi<strong>de</strong>ra importante na ativida<strong>de</strong> exercida; satisfação com a qualida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> vida; situação <strong>de</strong> vida comparada a 10 anos; sonho <strong>de</strong> vida atual<<strong>br</strong> />

106


Anexo 2: Culturas anuais e permanentes, <strong>pro</strong>duzidas pelos agricultores/as irrigados e tradicionais em Ibimirim – PE e <strong>de</strong>stinos da <strong><strong>pro</strong>dução</strong>.<<strong>br</strong> />

SISTEMAS IRRIGADOS SISTEMAS TRADICIONAIS<<strong>br</strong> />

Culturas<<strong>br</strong> />

anuais<<strong>br</strong> />

Freqüência<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> cultivo<<strong>br</strong> />

Destino<<strong>br</strong> />

Culturas<<strong>br</strong> />

permanentes<<strong>br</strong> />

Freqüência<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> cultivo<<strong>br</strong> />

Destino Culturas anuais<<strong>br</strong> />

Freqüência<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> cultivo<<strong>br</strong> />

Destino<<strong>br</strong> />

Culturas<<strong>br</strong> />

permanentes<<strong>br</strong> />

Freqüência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

cultivo<<strong>br</strong> />

Destino<<strong>br</strong> />

milho 86,7% C; V; A banana 86,7% C; V feijão 100,0% C; V caju 55,2% C; V<<strong>br</strong> />

feijão 40,0% C; V manga 33,3% C; V milho 100,0% C; V manga 37,9% C; V<<strong>br</strong> />

coentro 40,0% C; V coco 33,3% C; V melancia 41,4% C; V palma 31,0% A<<strong>br</strong> />

alface 33,3% C; V goiaba 26,7% C; V macaxeira 41,4% C; V pinha 27,6% C, V<<strong>br</strong> />

melancia 26,7% C; V mamão 20,0% C; V abóbora 31,0% C; V mamão 24,1% C, V<<strong>br</strong> />

tomate 26,7% V pinha 20,0% C; V capim 24,1% A seriguela 17,2% C, V<<strong>br</strong> />

beterraba 20,0% C; V graviola 20,0% C; V bata doce 13,8% C; V banana 13,8% C, V<<strong>br</strong> />

capim 20,0% A acerola 6,7% C; V batata 13,8% C algodão 13,8% V<<strong>br</strong> />

melão 13,3% C; V caju 6,7% C; V; O tomate 10,3% C jaca 10,3% C<<strong>br</strong> />

cenoura 13,3% C laranja 6,7% C cana 10,3% C goiaba 10,3% C; V<<strong>br</strong> />

pepino 13,3% C limão 6,7% C coentro 10,3% C laranja 10,3% C<<strong>br</strong> />

quiabo 13,3% C leucena 6,7% A; AD sorgo 6,9% A mamona 10,3% V<<strong>br</strong> />

couve 13,3% C seriguela 6,7% C; V maracujá 3,4% C limão 6,9% C<<strong>br</strong> />

macaxeira 13,3% C; V feijão guandu 6,7% A abacaxi 3,4% C graviola 6,9% C; V<<strong>br</strong> />

cana 13,3% C cebola 3,4% C coco 6,9% C<<strong>br</strong> />

cebola 6,7% C berinjela 3,4% C; V maça 6,9% C<<strong>br</strong> />

alfafa 6,7% V pimenta 3,4% C guandu 6,9% C; AD<<strong>br</strong> />

berinjela 6,7% C; V babosa 3,4% O acerola 6,9% C<<strong>br</strong> />

maxixe 6,7% C; V erva cidreira 3,4% C pitomba 3,4% C<<strong>br</strong> />

pimentão 6,7% C; V Capim-santo 3,4% C sabiá 3,4% AD<<strong>br</strong> />

cebolinha 6,7% C; V girassol 3,4% C pitanga 3,4%<<strong>br</strong> />

abóbora 6,7% C; V pimentão 3,4% C moringa 3,4% O<<strong>br</strong> />

babosa 6,7% C; O beterraba 3,4% C jaboticaba 3,4% C<<strong>br</strong> />

batata 6,7% C cenoura 3,4% C abacate 3,4% C<<strong>br</strong> />

Capim-santo 6,7% C eucalipto 3,4% O<<strong>br</strong> />

xixiu 6,7% C; V algaroba 3,4% A<<strong>br</strong> />

maracujá 3,4% C<<strong>br</strong> />

C= consumo; V= venda; A= alimentação animal; AD = adubação do solo; O = outros usos<<strong>br</strong> />

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