entre o singular eo coletivo o AColHIMENto DE - Instituto Fazendo ...
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Ao escolher uma canção para cantar ao bebê, o agente da função<br />
materna o faz a partir de um saber inconsciente, retomando os tempos<br />
em que ele mesmo foi ninado por sua mãe, as cantigas presentes em<br />
sua memória. dessa maneira,<br />
82<br />
“Quando é hora de dormir, comer ou mesmo de brincar, em geral,<br />
o bebê não fica sem uma cantiga suave, que embala ou anima. A<br />
mesma voz que o solicita por meio do ‘manhês’ muda o registro e<br />
atualiza um outro tipo de texto” (Belintane, 2006).<br />
comparece também nas cantigas de ninar e nas brincadeiras de colo<br />
uma aproximação <strong>entre</strong> o ritmo, a rima, a métrica e a situação vivida.<br />
Por exemplo, as cantigas de ninar evocarão a presença dos pais, e, nesse<br />
sentido, pode-se pensá-las como precursoras dos contos de fadas. As<br />
cantigas oferecem a possibilidade de representação do vivido a partir<br />
do laço estabelecido com o outro, introduzem um campo imaginário e<br />
ficcional que possibilitará a elaboração de conflitos. revelam, também,<br />
a ambivalência 33 dos adultos em relação ao bebê e ajudam a elaboração<br />
de tais sentimentos, situando-se como um anteparo tanto para aqueles<br />
quanto para a criança. Ainda nesse sentido de “anteparo”, podemos<br />
evocar a ideia de adormecer com as cantigas de ninar como uma possibilidade<br />
de o bebê <strong>entre</strong>gar seu corpo à voz do adulto cuidador.<br />
33 no dicionário houaiss, encontramos a definição da palavra “ambivalência”: “1. estado, condição ou caráter<br />
do que é ambivalente, do que apresenta dois componentes ou valores de sentidos opostos ou não. 2. existência<br />
simutânea, e com a mesma intensidade, de dois sentimentos ou duas ideias com relação a uma mesma<br />
coisa e que se opõem mutuamente. (...) 4. Psicn coexistência ou aparição simultânea, na relação com o<br />
mesmo objeto, de tendências, atitudes e sentimentos opostos, basicamente amor e ódio.” (p. 183) com o auxílio<br />
dessa definição, situamos os adultos como ambivalentes em relação aos bebês, ora desejando-os e ora<br />
não os desejando; sentem ao mesmo tempo prazer, satisfação, amor e também ódio, frustração em relação<br />
a eles. As cantigas de ninar pontuam os sentimentos ambivalentes, abrindo-lhes um campo de expressão.<br />
“nana neném / que a cuca vem pegar ...” é um dos exemplos da ambivalência revelada nessas canções. Por<br />
isso, é um anteparo: o ódio, difícil de ser nomeado em palavras, pois carrega consigo a culpa, é explicitado<br />
nas cantigas, apoiando e “protegendo” a relação dos adultos com as crianças.