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Dissertação MI Setembro 2011 - Cópia.pdf - RUN UNL

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Vidas Secas e Os Flagelados do Vento Leste: Veredas da seca e da fome<br />

― […] como não tinha roça e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e<br />

milho, comia da feira[…]‖ ( p.81).<br />

Curiosa nota histórica apresentasse-nos como pertinente neste trabalho que visa um paralelo<br />

entre obras cabo-verdiana e brasileira: em 1534, as primeiras cabeças de gado a chegarem à capitania de<br />

São Vicente, Brasil, foram oriundas de Cabo Verde, por iniciativa de Ana Pimentel de Souza, esposa do<br />

donatário vicentino, Martim Afonso de Souza, que governou a capitania por procuração do seu marido,<br />

entre 1534 e 1536. O donatário da capitania de Pernambuco, Duarte Coelho Pereira (1485-1554),<br />

quando tomou a posse da capitania, em 1535, levou na sua expedição quase uma centena de cabeças de<br />

gado de Cabo Verde. Tomé de Sousa (1503 - 1579) quando assumiu o cargo de governador-geral do<br />

Brasil, enviou ao rei de Portugal, D. João III, uma carta datada de 18 de Junho de 1551, solicitando o<br />

envio de gado para a colónia, sendo imediatamente atendido. Existem outras informações como a<br />

publicada em 1935 por Paulino Cavalcanti, de ter sido levado gado da Holanda para o Brasil entre 1530 e<br />

1535. Por solicitação de Tomé de Souza, a caravela ―Galga‖ foi autorizada a fazer várias viagens a Cabo<br />

Verde, e ao arquipélago dos Açores, transportando muitas cabeças de gado, que desembarcaram em<br />

Salvador, na época a capital do Brasil. Num primeiro momento, o gado foi criado no próprio engenho,<br />

sendo utilizado como força de tracção, transporte e alimento. Mas a exigência cada vez maior de terras<br />

para o cultivo da cana-de-açúcar e a invasão deste espaço pelos bovinos (criados em liberdade) estiveram<br />

na origem da imposição régia que determinava outros limites para a criação de gado. Os fazendeiros<br />

conduziram, então, os animais para longe, avançando para o interior nordestino, ao longo do rio de São<br />

Francisco. Deste modo, a actividade pecuária cumpriu um duplo papel: complementar a economia do<br />

açúcar e iniciar o desbravamento, conquista e povoamento do interior do Brasil, principalmente do<br />

sertão nordestino.<br />

Desde o século XVII até meados do século XVIII, a pecuária ocupou diversas regiões do interior<br />

do nordeste, tendo como centros de irradiação as capitanias da Baía, onde o gado ocupou terras do<br />

"sertão de dentro" e de Pernambuco, ocupando as terras do "sertão de fora", sempre através dos rios<br />

que serviram como canais de integração entre o litoral, onde se concentrava a maioria da população da<br />

colónia, e as novas terras habitadas: as regiões do Ceará, Piauí e Maranhão, e as terras da Paraíba, e Rio<br />

Grande do Norte.<br />

O vaqueiro surge, assim, como novo elemento da sociedade colonial: era um homem livre, não -<br />

proprietário de terras, que se encarregava da criação de gado, quase sempre pelo sistema de "partilha",<br />

recebendo certo número de reses, como pagamento pelo serviço prestado aos proprietários - em geral o<br />

acordo era feito na base de um quarto do número total de cabeças, após cinco anos de serviço.<br />

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