Dissertação MI Setembro 2011 - Cópia.pdf - RUN UNL
Dissertação MI Setembro 2011 - Cópia.pdf - RUN UNL
Dissertação MI Setembro 2011 - Cópia.pdf - RUN UNL
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Vidas Secas e Os Flagelados do Vento Leste: Veredas da seca e da fome<br />
proximidade com a posição uterina, mas também uma aproximação do estado animal negando a posição<br />
erecta que distingue o homens dos outros animais. Na vida áspera da catinga, os seres humanos nivelam-<br />
se aos demais ―viventes‖: bois, cavalos, o papagaio, a cachorra Baleia; a natureza constitui o referencial<br />
dos homens, por isso é reiterativa a comparação, a qual é motivo de orgulho para o homem quando<br />
significa resistência, luta contra a adversidade:<br />
― Você é um bicho. Isto para ele era um motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de<br />
vencer dificuldades‖ (p.18); ―Era um bicho resistente‖ (p.91); ―Precisavam ser duros, virar tatus. Se não<br />
calejassem, teriam o fim do seu Tomás da bolandeira‖ (p. 23).<br />
Mas essa semelhança com os animais, num ambiente social urbano, surge como inferioridade: ―<br />
Na catinga ele às vezes cantava de galo, mas na rua encolhia-se.‖ (p.27).<br />
A identificação com o reino animal é, como afirmámos, recorrente em VS, Fabiano ―vivia longe<br />
dos homens, só se dava bem com animais‖ (p.19); neste processo de zoomorfismo encontramos a<br />
semelhança com vários animais na atitude:<br />
―Estava escondido no mato como tatu. Duro e lerdo como tatu‖ (p.23); ―cabra safado, mole‖<br />
(p.95); fugindo ―como bichos‖ (p.106), ou ―preso como novilho marrado a um mourão, suportando<br />
ferro quente‖ (p.33), mas desejando a liberdade de sair dali ― como onça,‖(p.33); famintos como bois ―<br />
então eles eram bois para morrer tristes por falta de espinhos?‖ (p.106) e, também como eles, de andar<br />
dorido ― pezunhavam nos seixos como bois doentes dos cascos. 21 ‖ (p.63); inúteis como cachorros<br />
‖…Eles dois velhinhos, acabando-se como cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia‖(p.110); com<br />
remorsos de ―coração grosso como um cururu‖ (p.98); o filho mais novo ―mexendo-se como um<br />
urubu‖ (p.45) e o pai anda ―direitinho um urubu‖ (p.47); Fabiano desajeitado e amolecido como um<br />
pato (p.89) ou desesperado, ―enroscando-se como uma cascavel assanhada‖ (p.95)<br />
Também na compleição física se regista a proximidade: ―os olhos azuis brilharam como olhos de<br />
gato‖ (p.29), sinha Vitória calçada para a festa, tem ―pés de papagaio” (p.38); Fabiano ― feio e bruto,<br />
com aquele jeito de bicho lerdo que não se aguenta em dois pés.‖ (p.59); as suas mãos ―grossas e<br />
cabeludas‖ (p.19); o corpo e o modo de andar de Fabiano lembram um macaco (p.19) e ― montado,<br />
confundia-se com o cavalo‖ (p.19).<br />
21 Várias são as referências a partes do corpo dos humanos como animais: Beiços: pp. 25, 43, 68,84,91,101,103; ventas: 27,30;<br />
cascos: 1,82,105.<br />
24