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Dissertação MI Setembro 2011 - Cópia.pdf - RUN UNL

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Vidas Secas e Os Flagelados do Vento Leste: Veredas da seca e da fome<br />

Para concluir, podemos dizer que este sincretismo religioso associa rituais que derivam de uma<br />

sacralização da natureza, da religião católica e admite, ainda, a existência de bruxas e respectivas práticas<br />

como bem sintetiza esta fala:<br />

―- Aquela mulher é feiticeira – confidenciou ele [o guia de Miguel Alves]. Esqueci de fazer o<br />

pelo-sinal-de-santa-cruz quando passei à sua porta‖ (p. 73).<br />

3.5 Homem/ Natureza/ Destino<br />

―Homem em falta é diferente de homem na fartura‖<br />

(p.130)<br />

Em FVL os homens são criaturas telúricas ― Havia neles qualquer coisa de terroso, como se<br />

fossem raizes arrancadas à terra. Raizes insepultas que Deus, com toques de varinha mágica, tivesse<br />

transformado em homem, mulher e filhos…‖ (p.78,79).<br />

A terra, sustentáculo de vida, reflecte-se no carácter e costumes dos homens, insinua-se no corpo<br />

e corre no sangue. Este sentimento de identificação projecta-os num apego, numa fidelidade à terra-mãe,<br />

que em FVL é fatal; qual Anteus, é na terra que alimentam o corpo e o ânimo, esse contacto dá-lhes<br />

segurança e abre-lhes um caminho:<br />

―Aspirou o ar, impregnado de um cheiro gordo e bom a terra saturada. Sentiu-o penetrar-lhe o<br />

sangue como uma comida substancial entrando num estômago faminto. Não havia para ele melhor<br />

perfume que este; o cheiro a suor da terra, que penetrava o corpo e o espírito do homem, alimentava-lhe<br />

os músculos dos braços e a vontade de viver, e abria-lhe uma certeza e um caminho‖ (p.34).<br />

O ilhéu surge como um homem isolado, silencioso, apreensível, envergonhado da sua situação<br />

com a ―expressão fechada‖, norteado pela ansiedade, o medo, mas também a persistência, a esperança e<br />

a coragem, sentimentos ancestrais, uma vez que ―Já estavam habituados. Vinha de trás, de longe, esta<br />

luta‖(p.14).<br />

Ainda no plural, caracterizando o homem cabo-verdiano, o narrador identifica-o com a<br />

esperança ‖Esperança sempre…‖ é esta a resposta de José da Cruz que esperou até para lá do último<br />

momento, mas há outras respostas diferentes, porque cada criatura tem ―um pensar diferente‖, ― cada<br />

homem tem o seu tino‖ e ―cada um agia segundo o impulso do seu coração‖.<br />

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